
Para tentar driblar o custo mais alto do dinheiro nos empr�stimos dos bancos, financeiras e operadoras de cart�es de cr�dito, o brasileiro ter� de redobrar o f�lego e aprender a arte da negocia��o, diante da taxa b�sica de juros da economia superior a dois d�gitos, arrocho anunciado esta semana pelo Banco Central (BC) e que o pa�s n�o via desde meados de 2017.
� tarefa para ser cumprida tamb�m dentro de casa, num exerc�cio obrigat�rio de selecionar os gastos, e saber usar o cr�dito muitas vezes necess�rio para fechar as contas no fim do m�s sem alimentar compromissos que se tornem impag�veis mais � frente.
A corrida ser� por troca de d�vidas mais caras pelas op��es que oferecem os juros menores, convencer a fam�lia a limitar as despesas no cart�o de cr�dito e recorrer ao cheque especial apenas em per�odos curtos e emergenciais, evitando o uso desse perigoso instrumento nas compras � vista, como alertam especialistas ouvidos pelo Estado de Minas. � tarefa para ser cumprida tamb�m dentro de casa, num exerc�cio obrigat�rio de selecionar os gastos, e saber usar o cr�dito muitas vezes necess�rio para fechar as contas no fim do m�s sem alimentar compromissos que se tornem impag�veis mais � frente.
“Para quem est� numa posi��o devedora, vale a pena correr atr�s de tentar reduzir ao m�ximo esse passivo, seja renegociando ou tentando vender essa d�vida para um outro banco, corretora ou aplicativos de empresas financeiras, que est�o em abund�ncia no mercado. Logo, pode conseguir reduzir os juros do passivo para obter uma d�vida mais barata", afirma o economista e pesquisador Matheus Pe�anha, da Funda��o Getulio Vargas.
Outro problema est� na capacidade que a infla��o, hoje, elevada no Brasil, tem de corroer as parcelas dos financiamentos, destaca o economista F�bio Bentes, da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC). “Ningu�m quer infla��o alta, mas ela est� a�. Se o consumidor puder parcelar uma compra sem juros, preferencialmente, ou com juros baixos, � o melhor. Em algumas modalidades de cr�dito, isso � poss�vel, como no automotivo”, diz.
Sonho de consumo de milhares de brasileiros, comprar um carro se tornou necessidade para o motorista de aplicativo Wesley Silva Leite, de 33 anos. As op��es de modelos usados s�o fartas no mercado, mas ele n�o finalizou a compra em virtude dos altos juros cobrados pelas concession�rias ou financiadoras. Outros consumidores vivem o mesmo drama e adiam desejos, em virtude do momento de inseguran�a que o pa�s atravessa, reflexo direto da crise agravada pela pandemia do coronav�rus.
Nesta semana, o Comit� de Pol�tica Econ�mica (Copom), do BC, elevou a taxa b�sica de juros para 10,75% ao ano. O aperto j� era esperado, como rem�dio amargo para conter o aumento do custo de vida e da taxa de c�mbio. O efeito colateral � que a chamada Selic, que remunera os t�tulos do governo no mercado financeiro e serve de refer�ncia para as opera��es nos bancos e no com�rcio, inibe os investimentos no setor produtivo e o consumo, trazendo � tona o medo e a inseguran�a num cen�rio de desemprego tamb�m elevado.
“Imposs�vel”
O motorista Wesley Silva desejava trocar o carro por outro de modelo popular, a partir de R$ 40 mil, para realizar viagens di�rias por aplicativos de transporte. Com os juros mais altos, o ve�culo seria adquirido por valores acima de R$ 55 mil. Depois de verificar todas as formas de financiamento, ele optou por adiar o sonho.
“Estamos chegando a um ponto em que � praticamente imposs�vel financiar ve�culo. A taxa de juros est� muito alta. Antes da pandemia, consegu�amos comprar um carro com 10% ou 20% de entrada, al�m de pagar um valor justo. Trabalh�vamos e conseguimos viver. Mas, hoje, tudo est� muito caro, em virtude dos juros altos no financiamento, o pre�o do combust�vel e o custo de vida elevado”, afirma.
“Estamos chegando a um ponto em que � praticamente imposs�vel financiar ve�culo. A taxa de juros est� muito alta. Antes da pandemia, consegu�amos comprar um carro com 10% ou 20% de entrada, al�m de pagar um valor justo. Trabalh�vamos e conseguimos viver. Mas, hoje, tudo est� muito caro, em virtude dos juros altos no financiamento, o pre�o do combust�vel e o custo de vida elevado”, afirma.
De acordo com a �ltima pesquisa da Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas, Administrativas e Cont�beis de Minas Gerais (Ipead), vinculada � UFMG, o consumidor de Belo Horizonte pagou em janeiro encargo de 2,16% ao m�s, em m�dia, para financiar um carro por meio de bancos e financeiras.
Outras modalidades tamb�m aparecem com juros muito altos. No cart�o de cr�dito rotativo em atraso, o juro cobrado era de 12,74% ao m�s, em m�dia. No cheque especial, o consumidor pagou taxa de 7,66%, enquanto no cr�dito pessoal n�o consignado teve de pagar 4,15% mensais.
Outras modalidades tamb�m aparecem com juros muito altos. No cart�o de cr�dito rotativo em atraso, o juro cobrado era de 12,74% ao m�s, em m�dia. No cheque especial, o consumidor pagou taxa de 7,66%, enquanto no cr�dito pessoal n�o consignado teve de pagar 4,15% mensais.
“Em vias de regras, num ambiente de Selic alta, o consumidor n�o pode ter uma posi��o devedora. Se ele estava planejando fazer um consumo a longo prazo e necessitaria de um cr�dito mais oneroso e mais a longo prazo, n�o � o momento ideal. Para quem estava se planejando para fazer um consumo mais longo, como um carro ou apartamento, � bom adiar”, explica Matheus Pe�anha, da FGV/IBRE (Instituto Brasileiro de Economia).
A recomenda��o ser� seguida pela costureira Adriana Nice Rocha, de 47 anos, que preferiu aguardar cen�rio menos desfavor�vel dos juros para comprar um apartamento.
A recomenda��o ser� seguida pela costureira Adriana Nice Rocha, de 47 anos, que preferiu aguardar cen�rio menos desfavor�vel dos juros para comprar um apartamento.

Consumidor paga 45%, em m�dia, ao m�s
Antes mesmo da eleva��o da taxa b�sica de juros de 9,25% para 10,75% ao ano, o sufoco financeiro do consumidor j� era uma realidade. O encargo m�dio pago pelo brasileiro subiu de 37% em dezembro de 2020 para 45% em dezembro �ltimo, pelas estimativas com as quais trabalha o economista F�bio Bentes, da CNC. Ele observa que com a alta da Selic, qualquer nova d�vida que for contra�da tende a impactar ainda mais o or�amento nos meses subsequentes.
H� op��es de cr�dito mais barato, como microcr�dito e o empr�stimo consignado com desconto em folha de pagamento, mas o pressuposto b�sico da negocia��o � que o consumidor tenha no��o exata das condi��es de pagamento as quais poder� honrar.
A costureira Adriana Nice Rocha, de 47, desejava trocar de apartamento e depois de carro, mas preferiu fugir dos financiamentos. Por enquanto, a decis�o foi adiar a aquisi��o de bens at� que o panorama econ�mico tenha uma reviravolta. “Infelizmente, tive de adiar esses sonhos, j� que tudo est� mais caro. O que mais afeta a gente � o pre�o da gasolina e da luz. Negociei o aluguel do meu espa�o de trabalho durante a pandemia por causa dos altos pre�os, mas a situa��o continua complicada”, afirma.
O pesquisador Matheus Pe�anha, da FGV, acredita que a disparada da taxa b�sica de juros neste momento � uma tentativa de o governo antecipar cen�rio que pode ser pior a partir de julho: “No primeiro semestre, devemos ter um bom caminho para a infla��o esfriar bastante. No segundo semestre, por�m, entram outros fatores cr�ticos de press�o. A pr�pria corrida eleitoral pode impactar o c�mbio e isso pode respingar na infla��o. Nesse sentido, o motivo de o Banco Central elevar a Selic remete para tentar segurar o segundo semestre”.
Confian�a
A eleva��o dos juros decorre ainda de uma crise de confian�a que o Brasil enfrenta e que, em ano eleitoral, tende a se agravar. Os desequil�brios das contas p�blicas costumam levar � piora das expectativas dos invetidores sobre o desempenho do pa�s e comp�em a mistura ideal de ingredientes da receita que produz a desvaloriza��o do real frente ao d�lar.
Outro fator � que a infla��o, de fato, vem preocupando v�rios pa�ses e o Brasil fica em posi��o desfavor�vel quando outras na��es usam o mecanismo dos juros altos para atrair investidores aos seus t�tulos negociados no mercado financeiro. Enquanto os Estados Unidos e a Zona do Euro passam a conquistar esses recursos, pa�ses como o Brasil perdem a chance e t�m de pagar pr�mios bem maiores para manter ou ser a op��o desses d�lares.
PASSO A PASSO
- Verifique a sua capacidade de pagamento, quer dizer, o valor do qual pode dispor todo m�s, para propor acordo ao credor. � preciso, nesta hora, estabelecer prioridades, definindo os gastos que devem ser pagos ou renegociados inicialmente. Em geral, s�o as contas mais caras e que resultar�o em penalidades se n�o forem acertadas, a exemplo da taxa de condom�nio, contas de luz, �gua e telefone
- O objetivo na renegocia��o ser� refazer o parcelamento com presta��es baixas, sem juros ou com juros menores e, ainda, em condi��es de pagamento que possam ser cumpridas
- Compare or�amento, sal�rio e gastos. Mudan�as de h�bito podem ser necess�rias. Regras simples para a sa�de financeira podem ter sido negligenciadas, como n�o gastar mais do que se ganha, evitar ao m�ximo o uso de cheque especial e cair no rotativo dos cart�es de cr�dito
- Cheque especial s� deve ser usado por per�odos curtos e emergenciais, evitando o seu uso em pagamentos � vista. Em contr�rio, o melhor � fazer empr�stimo pessoal na institui��o financeira para liquidar essa modalidade
- H� op��es de cr�dito mais barato, como microcr�dito, penhor de joias da Caixa Econ�mica Federal, e cr�dito consignado com desconto em folha de pagamento
- Procure parcelar compras em menor tempo poss�vel para evitar juros compostos
- � prefer�vel adiar uma compra, poupar dinheiro e ent�o pagar � vista pelo respectivo produto ou servi�o