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Estado de Minas ECONOMIA

D�lar, infla��o, petr�leo: os impactos do conflito na Ucr�nia para o Brasil

O primeiro grande impacto sentido no pa�s foi positivo, com a queda do d�lar, mas press�o sobre combust�veis e outros aspectos devem afetar brasileiros


22/02/2022 21:42 - atualizado 22/02/2022 21:42

Homem fardado faz guarda em frente a trem, com duas mulheres caminhando atrás
Militante da autoproclamada Rep�blica do Povo de Donetsk monitora evacua��o de cidade; tens�o sobre poss�vel guerra aumentou depois que Vladimir Putin anunciou o reconhecimento da independ�ncia da regi�o (foto: Reuters)
Os relatos sobre uma poss�vel invas�o da R�ssia � Ucr�nia despertam temores de efeitos negativos n�o s� na Europa e nos Estados Unidos, mas tamb�m entre outros pa�ses que mant�m parcerias pol�ticas e comerciais com as duas na��es. O Brasil est� nessa longa lista.

 

Mas o primeiro grande impacto sentido no pa�s foi positivo, com a queda do d�lar. A moeda americana registrou nesta ter�a-feira (22/02) sua quarta redu��o seguida frente ao real e fechou em 1,09%, sendo negociada a R$ 5,0511.

 

O movimento, segundo analistas, � consequ�ncia n�o s� do aumento da taxa Selic pelo Banco Central, mas tamb�m da entrada de capital estrangeiro no pa�s em tempos de alto risco.

 

Apesar da expectativa de economistas uma migra��o de ativos para mercados mais seguros, o Brasil se tornou atrativo por sua capacidade de se tornar um poss�vel fornecedor substituto para alguns dos bens agr�colas produzidos na R�ssia e na Ucr�nia.

 

"O atual conflito atinge pa�ses que s�o grandes produtores de insumos agr�colas, gr�os e min�rios, commodities que tamb�m podem ser encontradas no Brasil", diz Rachel de S�, economista da Rico Investimentos.

 

Mas os impactos indiretos no Brasil de uma poss�vel guerra n�o s�o apenas positivos. Segundo especialistas consultados pela BBC News Brasil, esses efeitos podem chegar � economia nacional tamb�m na forma de um aumento na infla��o e alta nos pre�os do petr�leo e seus derivados.

 

A crise pode ainda impactar a capacidade do Brasil de importar fertilizantes e insumos agr�colas, que est�o atualmente no topo da lista de produtos importados da R�ssia, e prejudicar o setor agr�cola nacional.

 

Politicamente, o Brasil ser� afetado pela posi��o que tomar nas discuss�es no Conselho de Seguran�a das Na��es Unidas, onde o pa�s ocupa um assento n�o-permanente desde o in�cio do ano.

 

O aumento da infla��o, impulsionado n�o s� pela crise no leste europeu mas tamb�m por outros fatores externos e internos, ainda pode influenciar o resultado das elei��es presidenciais marcadas para outubro.

D�lar e mercado financeiro

Notas de dólar
Nos �ltimos dias, pre�o do d�lar teve queda em rela��o ao real brasileiro (foto: Reuters)

 

O impacto da crise na Ucr�nia no mercado financeiro � o primeiro a ser sentido de forma direta no Brasil.

 

Segundo Rachel de S�, conflitos geopol�ticos costumam elevar a incerteza na economia global e, consequentemente, levam um aumento da avers�o ao risco.

 

Isso significa que muitos investidores podem preferir migrar seus ativos para mercados mais seguros, como o americano, japon�s ou chin�s, e abandonar os emergentes, como brasileiro.

 

"Pa�ses emergentes, como o Brasil, tendem a sofrer mais em cen�rios de maior avers�o ao risco, com reflexos na taxa de c�mbio, na bolsa e em outros ativos", diz a economista.

 

Apesar disso, o que se observa no Brasil atualmente � um movimento grande de fluxo de capitais estrangeiros. Segundo Rachel, isso acontece primeiramente por conta da alta da taxa Selic, impulsionada pelo Banco Central para tentar frear o aumento de pre�os, que garante maior perspectiva de lucro aos investidores.

 

Ao mesmo tempo, por ser um grande mercado produtor de commodities, o Brasil tamb�m j� est� atraindo empresas e investidores que procuram alternativas � R�ssia.

 

"O Brasil produz muitos bens que podem ser substitutos imediatos para os bens produzidos na R�ssia e at� na Ucr�nia, especialmente na �rea agr�cola", diz a economista.

 

Tudo isso levou nos �ltimos dias a uma queda no pre�o do d�lar em rela��o ao real brasileiro. Consequentemente, a divisa americana encerrou o dia nesta ter�a no menor valor desde 1° de julho de 2021, quando fechou em R$ 5,0448.

Petr�leo

Para al�m do impacto no mercado financeiros, economistas ouvidos pela reportagem afirmam que o principal efeito imediato da escalada das tens�es tende a ser a alta nos pre�os do petr�leo e seus derivados.

 

A R�ssia � atualmente um dos maiores produtores de petr�leo do mundo, com capacidade de produ��o de mais de 10 milh�es de barris por dia. O pa�s � ainda o maior fornecedor de g�s natural da Europa, respons�vel por cerca de 40% do abastecimento total do continente.

 

Al�m da pr�pria possibilidade de um confronto militar, a imposi��o de san��es contra bancos, empresas e empres�rios russos poderia paralisar a produ��o e a exporta��o de commodities.

 

Os Estados Unidos anunciaram nesta ter�a-feira san��es contra a R�ssia. As medidas atingem duas institui��es financeiras russas - os bancos VEB e PSB, incluindo 42 subsidi�rias - e impedem a negocia��o de novos pap�is da d�vida p�blica russa no mercado.

 

O Reino Unido j� havia anunciado mais cedo penaliza��es contra cinco bancos e tr�s bilion�rios da R�ssia, e outras pot�ncias ocidentais amea�aram tomar a��es semelhantes nos pr�ximos dias.

 

"Uma invas�o deve ser respondida com san��es mais graves do que as que j� est�o sendo aplicadas atualmente. Isso impacta diretamente na subido dos pre�os do petr�leo e, consequentemente, no aumento dos pre�os dos combust�veis no Brasil", afirmou o economista e ex-ministro da Fazenda, Ma�lson da N�brega, � BBC News Brasil.


Barris de petróleo
A R�ssia � atualmente um dos maiores produtores de petr�leo do mundo, e conflito envolvendo a Ucr�nia pode afetar de forma significativa o mercado (foto: Getty Images)

Na manh� desta ter�a-feira, ap�s o an�ncio da decis�o de Moscou de reconhecer a independ�ncia dos territ�rios separatistas ucranianos de Donetsk e Luhansk, o pre�o do barril de Brent j� se aproximava dos US$ 100 (R$ 509).

 

"No Brasil, o aumento do pre�o do barril de petr�leo n�o significa apenas pagar mais caro pela gasolina, mas tamb�m por derivados do petr�leo como o etanol e o g�s de cozinha", diz Rachel de S�, chefe de economia da Rico.

Infla��o

O aumento no pre�o do petr�leo impacta diretamente na infla��o mundial e, consequentemente, na brasileira, que j� vem sofrendo uma alta desde o ano passado.

 

"A alta nos pre�os dos combust�veis no Brasil impacta na infla��o e dificulta o trabalho do Banco Central de conduzir os pre�os para as metas de infla��o", diz Ma�lson da N�brega. Para o economista, isso pode exigir tamb�m a ado��o de taxas de juros mais altas por um longo per�odo de tempo.

 

Rachel de S� lembra que, al�m do petr�leo e derivados, a R�ssia tamb�m � o polo de explora��o e produ��o de diversas outras commodities, como min�rios e gr�os.

 

A exporta��o desses bens tamb�m deve ser dificultada pelas san��es, causando ainda mais danos �s j� abaladas cadeias globais de produ��o. Isso pode, ao mesmo tempo, pressionar os pre�os pela oferta limitada e refor�ar a onda de infla��o global.

 

"J� vivenciamos h� cerca de um ano um movimento forte de infla��o global, impulsionado por um grande est�mulo comercial do come�o do fim da pandemia. Esse movimento se fortalece ainda mais com as incertezas em rela��o � crise na Ucr�nia e crescimento constante dos pre�os do barril de petr�leo", diz Rachel.

 

Para o ex-ministro da Fazenda, o efeito final da eleva��o da infla��o � uma redu��o do ritmo de crescimento da economia brasileira. "A economia provavelmente n�o crescer� este ano e pode at� cair um pouco. E o quadro pode piorar ainda mais com o aumento dos pre�os de petr�leo e da infla��o", diz.

Tudo isso pode ainda impactar diretamente no resultado das elei��es presidenciais, marcadas para outubro.

 

"Um ambiente de grave infla��o pode atingir de maneira muito negativa a campanha do presidente Jair Bolsonaro, porque n�o importa a origem da infla��o, aqui ou em qualquer lugar, ela � sempre imputada ao chefe de Governo", diz Ma�lson da N�brega.

Agroneg�cio e mercado nacional

Trator perto de plantação sob céu azul
Trator carrega fertilizante para planta��o de soja perto de Bras�lia (foto: Reuters)

 

Economistas apontam ainda que a imposi��o de san��es contra a R�ssia pode prejudicar indiretamente o mercado nacional, em especial o agroneg�cio brasileiro.

 

Em 2021, o Brasil foi o sexto maior destino das exporta��es russas. Os fertilizantes e adubos dominaram a lista de produtos importados, correspondendo por cerca de 60% (US$ 3,5 bilh�es) dos US$ 5,6 bilh�es totais.

 

A R�ssia � ainda a mais importante origem de fertilizantes para o Brasil, tendo sido respons�vel, em 2021, por em torno de 25% do volume total importado. Com os bloqueios econ�micos, a compra desses produtos se tornar� consideravelmente mais dif�cil.

 

"Com as san��es ou at� a perda de capacidade de exporta��o russa, os fertilizantes se tornam mais caros e a rentabilidade dos produtores brasileiros cai, afetando sua capacidade de continuar a ampliar a oferta nos pr�ximos anos", avalia Ma�lson da N�brega.

 

Segundo Igor Lucena, economista e membro da Chatham House - The Royal Institute of International Affairs, o mercado interno em geral tamb�m pode ser atingido, ainda que de maneira bastante discreta.

 

"Todas as rela��es econ�micas com a R�ssia devem diminuir. Os russos respondem por apenas 0,6% das exporta��es brasileiras, o que � pouco, mas em um cen�rio complexo como o atual o Brasil n�o pode arriscar perder nenhum tipo de mercado consumidor", diz

 

Lucena lembra ainda que as san��es tamb�m podem impedir que o Brasil atue como entreposto comercial para navios e embarca��es russas na Am�rica do Sul.

 

"Assim como aconteceu com embarca��es do Ir� ap�s a imposi��o de san��es pelos Estados Unidos, os navios russos n�o poder�o mais parar para abastecer e comprar suprimentos nos portos brasileiros, sob risco de penaliza��o", afirma.

Pol�tica externa

Em termos pol�ticos, o Brasil assume uma posi��o secund�ria na disputa. Apesar disso, ganhou mais destaque desde que assumiu um assento n�o-per

manente no Conselho de Seguran�a das Na��es Unidas no in�cio de janeiro.

 

"A tradi��o brasileira em casos como esse sempre foi de manter uma posi��o 'neutra', ent�o a princ�pio imaginar�amos que o Brasil n�o se posicionaria de maneira clara apesar da atua��o russa obviamente representar uma viola��o do direito internacional e da soberania da Ucr�nia", diz o professor de Rela��es Internacionais da Funda��o Getulio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel. "Por�m, como membro do Conselho de Seguran�a, o pa�s n�o pode ficar de fora do radar."

 

Segundo o analista, a posi��o que o Brasil adotar a partir de agora influenciar� muito mais sua percep��o pela comunidade internacional do que qualquer coment�rio feito pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua visita a Moscou na semana passada.

 

Em pronunciamentos ap�s seu encontro com Putin no Kremlin na �ltima ter�a-feira (16/02), Bolsonaro evitou mencionar a Ucr�nia, mas enfatizou o compromisso do Brasil e da R�ssia com a paz.

 

"Pregamos a paz e respeitamos todos aqueles que agem dessa maneira, afinal de contas esse � o interesse de todos n�s: paz para o mundo", disse. Em outro momento, o presidente brasileiro ainda ressaltou a proximidade de valores cultivados pelas duas na��es.

 

As declara��es de Bolsonaro foram na contram�o de governos como o dos Estados Unidos e, segundo analistas, a pr�pria visita em um momento de tanta tens�o pode ter causado desconforto.

 

Na sexta-feira (18/2), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, chegou a afirmar que o Brasil "parece estar do lado oposto � maioria da comunidade global" em rela��o ao conflito entre R�ssia e Ucr�nia.

 

Para Oliver Stuenkel, por�m, o Brasil ter� novas chances de se posicionar agora que a amea�a de invas�o se tornou ainda mais urgente. "Tudo vai depender do comportamento do Brasil nas vota��es no Conselho de Seguran�a", diz.

 

A expectativa do especialista � que o Brasil adote a postura mais neutra poss�vel, se abstendo de mo��es contra a R�ssia, assim como fez ap�s a invas�o � Crimeia em 2014. "Mas diante da gravidade da viola��o, poderemos sofrer mais cr�ticas e press�o por parte dos Estados Unidos", avalia.

 

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