
Bras�lia – A guerra na Ucr�nia vem afetando os pre�os das chamadas commodities negociadas no mercado global e acendeu o alerta para a volta das press�es inflacion�rias, tanto dos alimentos quanto dos combust�veis — que t�m pesos importantes nos indicadores que medem a carestia. Analistas da economia salientam que o ambiente se tornou mais prop�cio aos aumentos. Antes do confronto no Leste europeu, eles previam um recuo maior no �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) — que mede a infla��o oficial do pa�s — neste ano devido � recente queda do d�lar. A desvaloriza��o da moeda norte-americana vem ocorrendo em raz�o da forte entrada de capital estrangeiro em busca de a��es baratas e da taxa b�sica de juros de dois d�gitos pagos pelo governo aos detentores de t�tulos p�blicos.
Depois da eclos�o do conflito entre russos e ucranianos, esses mesmos analistas refazem os c�lculos do IPCA para incluir a recente disparada dos pre�os. A alta das cota��es das commodities pode se disseminar, elevando o custo do consumidor com o p�ozinho, o macarr�o, a carne, al�m da gasolina e do diesel nas bombas, encarecendo o frete das mercadorias em geral. Segundo eles, o IPCA dever� encerrar o ano acima de 6%, podendo ultrapassar 6,5%, al�m da mediana das previs�es do mercado — hoje, em 5,6% para 2022.
As novas estimativas para o �ndice s�o preliminares, pois n�o se sabe a dura��o da guerra e o estrago que far� nos pre�os das commodities. Os pre�os do trigo, do milho e da soja tamb�m dispararam. De acordo com especialistas, a cada 10% de alta no pre�o do milho, por exemplo, h� 2% de aumento do custo dos produtores de carne animal. O economista Andr� Braz, coordenador do n�cleo de pre�os ao consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (FGV Ibre), destacou que � cedo para saber o impacto no IPCA, mas reconheceu que “n�o haver� tr�gua na infla��o neste ano”. Por ora, ele eleva de 5,8% para 6,2% a previs�o para a infla��o oficial de 2022.
“� dif�cil estimar o impacto dessa guerra, porque o efeito � muito disseminado. Come�a no pre�o do petr�leo, passa para o combust�vel nas bombas, vai para toda a cadeia de derivados, como resinas pl�sticas, que afetam grande parte da ind�stria. Depois, temos que considerar os gr�os: milho, soja e trigo dispararam e isso afeta a cadeia de alimentos em uma propor��o que os analistas do mercado n�o haviam considerado”, explicou Braz.
O cen�rio para a economia brasileira j� era desafiador diante das elei��es no Brasil, e os efeitos da guerra na Ucr�nia trouxeram, agora, prov�veis danos que ser�o dif�ceis de superar ao longo do ano. “J� come�o a imaginar um cen�rio com infla��o acima de 6,2% para a acomoda��o dos impactos do conflito na Ucr�nia. Mas ainda n�o sabemos se pode piorar", alertou.
Piora Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC), disse que, recentemente, com a valoriza��o do d�lar — que chegou a ficar abaixo de R$ 5 —, tinha reduzido as proje��es do IPCA no fim deste ano para algo entre 5% e 5,5%. “Fizemos um c�lculo preliminar do impacto da guerra sobre os pre�os das commodities. Deve dar um impulso no IPCA de, pelo menos, 0,50 ponto percentual e voltamos a prever 6% de alta no indicador no fim do ano”, disse. Para ele, “a guerra deve acabar logo”, mas ele admite que se o conflito se estender, o impacto inflacion�rio poder� ser bem maior.
Diretor de Estrat�gias P�blicas do Grupo Mongeral Aegon (MAG), Arnaldo Lima lembrou que, al�m de ser uma cat�strofe humanit�ria, o conflito deve “gerar efeitos danosos sobre a economia mundial e a brasileira”. “No caso dos alimentos, R�ssia e Ucr�nia exportam quase um ter�o do trigo no mundo (28%) e um quinto do milho (18%). Apesar de o Brasil importar a maior parte do trigo da Argentina, ainda assim poderemos sofrer impactos diante de uma interrup��o do fornecimento global e da queda nas exporta��es russas e ucranianas. At� o p�ozinho pode ficar mais caro”, destacou Lima, que ainda prev� alta de 5,6% para o IPCA deste ano. “Estamos aguardando os desdobramentos para fazermos atualiza��es”, salientou.
Tempor�ria Diante da disparada das commodities com a guerra na Ucr�nia, cresce a certeza de que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, n�o conseguir� cumprir a meta de infla��o em 2022 pelo segundo ano consecutivo. Por isso, analistas n�o descartam uma revis�o, que poder� ocorrer em junho. Entre as apostas, cresce a da ado��o de uma meta tempor�ria, para evitar um tranco maior na atividade por conta dos juros elevados. Mesmo antes da guerra, as previs�es do mercado para o IPCA estavam em 5,60% — acima do teto, de 5%. No ano passado, o �ndice foi de 10,06%, quase o dobro do limite superior da meta anterior, de 5,25%.
Foi a sexta vez que o BC falhou na condu��o da pol�tica monet�ria e descumpriu o objetivo desde o in�cio do regime, em 1999. E como o IPCA come�ou o ano acelerando, a mediana das proje��es do mercado para a taxa b�sica de juros (Selic), atualmente em 10,75% anuais, est� em 12,25%.