(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas APORTES

Presidente da CEF: 'Caixa vai fazer o microcr�dito por todo o Brasil'

Ap�s viagem a Bangladesh e o Qu�nia, Pedro Guimar�es garante que banco estatal vai apostar na modalidade de empr�stimos


09/03/2022 08:37 - atualizado 09/03/2022 12:24

Presidente da Caixa, Pedro Guimarães
(foto: ED ALVES/CB/D.A.Press)

Rec�m-chegado de uma viagem a Bangladesh, o presidente da Caixa Econ�mica Federal, Pedro Guimar�es, traz na bagagem aprendizados e insights para o lan�amento de um programa nacional de microcr�dito. O pa�s asi�tico possui iniciativas semelhantes desde os anos 1970, e, por isso, traz expertises que inspiram a Caixa Econ�mica. Al�m de Bangladesh, o presidente e sua equipe visitaram o Qu�nia para observar a aplica��o da modalidade de cr�dito.

Em entrevista ao Correio, Guimar�es destacou processos que observou nas �ltimas semanas, e reiterou os ganhos que um programa de microcr�dito brasileiro poder� trazer para a popula��o — com o adendo de contar com tecnologias j� adotadas pelo banco que n�o foram vistas nos pa�ses visitados.


"O Caixa Tem n�s desenvolvemos para pagar o Aux�lio Emergencial em 20 dias pagando 50 milh�es de pessoas. Atualmente, 109 milh�es de pessoas t�m o aplicativo, e n�s pagamos por m�s ao redor de 30 milh�es de pessoas. Ent�o, em rela��o ao Caixa Tem, j� h� comunica��o", explicou Guimar�es, que define como pr�ximo passo compreender de que maneira a aprova��o do microcr�dito � realizada nesses pa�ses.

Cr�ticos ao programa, observou o executivo, costumam alegar que haveria maior endividamento da popula��o com a libera��o dessas faixas de cr�dito. O presidente, no entanto, detalha: essas pessoas j� tomam cr�dito a taxas muito maiores. "Eu n�o consigo entender por que isso n�o havia acontecido antes. Porque s�o dezenas de milh�es de pessoas que n�o t�m alternativa. Uma coisa que eu ouvia muito era, "Ah essas pessoas v�o ficar com excesso de alavancagem", ou seja, elas v�o tomar um cr�dito… Isso n�o � verdade. Porque elas j� tomam cr�dito a taxas de 15% a 20%", argumentou.

O presidente da Caixa Econ�mica Federal faz um balan�o positivo dos tr�s anos de gest�o, com destaque para as economias de mais de R$ 10 bilh�es geradas ao banco pelo Caixa Mais Brasil. Para 2022, Guimar�es planeja, al�m de seguir delineando a trajet�ria do microcr�dito no Brasil, uma aproxima��o com o agroneg�cio. Confira mais detalhes na entrevista exclusiva concedida ao Correio.


Viagem para Bangladesh: qual foi o impacto?

Foi muito importante, porque, a partir da viagem para Bangladesh e para o Qu�nia, a gente teve um entendimento mais profundo sobre o microcr�dito. Fomos conhecer os clientes do Grameen Bank. Em uma das reuni�es, tinha 77 mulheres. E entre as 77 mulheres, n�s vimos a l�der, que faz a cobran�a. E tem uma pessoa, que era como se fosse um gerente de contas. H� centenas de vilas. O Grameen Bank tem 9 milh�es de clientes, dos quais seis milh�es s�o clientes ativos. Foi muito importante, porque a gente viu que � tudo manual. Eles t�m tudo anotado no papel, t�m um caderno, e eles fazem a cobran�a semanal.


E os juros cobrados?

Eles t�m juros semanais, ao redor de 25% ao ano, para uma taxa de infla��o ao redor de 5% ao ano. Ent�o eles j� conseguiram ter uma taxa de juros relativamente baixa, e existe press�o para reduzi-la. A press�o � dada pela competi��o, porque s�o mais de 20 bancos focados no microneg�cio em Bangladesh. O que � importante � que eles n�o t�m uma quest�o de tecnologia. Ent�o, a gente est� conversando at� para uma potencial joint venture, utilizando o Caixa Tem para poder ajudar l�.


Como funciona um sistema complexo como esse, que envolve tanta gente, sem o uso da tecnologia?

Eles fazem isso h� 50 anos. Ent�o, o primeiro ponto: eles n�o come�aram de agora. � um processo de d�cadas. Na vila que visitamos, o maior cr�dito era de 550 mil moedas locais, que d� mais ou menos 35 mil reais; e o menor, que estava ainda para ser aprovado, era de 10 mil moedas locais. O que acontece? Conforme voc� vai pagando, voc� vai tendo um volume maior de cr�dito. Isso � muito importante. Por qu�? Porque quem paga bem consegue ter um volume maior; quem n�o paga sai. � um processo de sele��o a partir do qual quem tem o pagamento correto continua no programa.


Mas h� diferen�as em rela��o aos bancos brasileiros, n�o?

Naturalmente, um grande problema desses bancos, tanto em Bangladesh quanto no Qu�nia, � a falta de funding, e falta de capital. N�s estamos muito � frente, porque temos um volume de funding e um volume de capital muito grandes. E temos uma tecnologia que j� funciona. Mas esse programa deles � mais focado, em especial, no interior agr�cola. Essas vilas s�o basicamente agr�colas. A maior tomadora de cr�dito, com 550 mil moedas locais, tem nove vacas. Tem outra, por exemplo, que faz quitute, faz alguma coisa para vender. Ent�o � todo um programa. Nesta quest�o, 97% dos clientes s�o mulheres. A maior devedora do Grameen Bank tem nove vacas, e o marido trabalha com ela e os filhos.


Por que as mulheres tomam mais cr�dito?

O que o pessoal do Grameen Bank me falou � que elas t�m uma responsabilidade maior, pois t�m envolvimento familiar. De novo, eles est�o fazendo isso h� 50 anos. � uma an�lise emp�rica deles. A quest�o � que, na lideran�a feminina, o resultado � melhor. S� que esse programa deles fica no campo. Qual � o desafio? Na cidade. N�s fomos a Daca antiga, capital de Bangladesh, e l� voc� tem o pessoal, por exemplo, de com�rcio, de venda de comida tamb�m no meio da rua. A� � mais dif�cil. Voc� n�o vai ter 77 pessoas.


� esse enfoque mais agr�cola que o senhor est� pensando em seguir?

N�o. Penso em fazer v�rias coisas. Qual � a grande vantagem da Caixa? N�s temos um sistema de celular que funciona. Isso permite que consigamos falar com mais pessoas. Para fazer um programa que atinja cinco milh�es de pessoas em meses, tem que ser pelo celular. Em Bangladesh eu senti uma maior evolu��o tecnol�gica em alguns bancos, mas n�o chega perto do Caixa Tem. Por qu�? Porque n�s desenvolvemos o Caixa Tem para pagar o aux�lio emergencial em 20 dias, pagando 50 milh�es de pessoas. Atualmente, 109 milh�es de pessoas t�m o aplicativo, e n�s pagamos por m�s ao redor de 30 milh�es de pessoas.


J� existe um canal, ent�o.

Sim, em rela��o ao Caixa Tem, j� h� comunica��o. Para nossa opera��o, a grande quest�o � a aprova��o das pessoas. � entender exatamente. Fizemos uma primeira reuni�o e, daqui a tr�s semanas, dois times est�o voltando, um para Bangladesh, outro para o Qu�nia. Teremos reuni�es com eles para entrar mais em detalhes.


Existe alguma pr�tica semelhante no Brasil?

Essa opera��o do Grameen Bank me lembra a do Crediamigo do Banco do Nordeste, uma opera��o mais olho no olho. S� que voc� tem outro banco, Brac, tamb�m em Bangladesh, que j� tem mais tecnologia. E a� j� empresta para pessoas, ao inv�s de grupos de pessoas. Na cidade, voc� tem mais conhecimento de uso de celular. Voc� vai ter uma rapidez. Em rela��o ao interior, eu acho que o modelo do Grameen Bank tem uma ader�ncia grande.


O senhor teve informa��es a respeito de inadimpl�ncia?

A inadimpl�ncia � baixa. As pessoas, normalmente, falam de inadimpl�ncia em rela��o ao total da carteira. O que a gente percebeu: os maiores tomadores de cr�dito t�m os maiores volumes, porque pagam h� muito tempo. Exemplo: nessa vila, a maior tomadora de cr�dito tomou 550 mil moedas locais. Quem est� entrando entrou com 10 mil. Ent�o, voc� n�o vai chegar a 500 mil se voc� for inadimplente. Quando voc� tem pessoas que est�o pagando h� mais tempo, a inadimpl�ncia vai ser muito baixa. Porque esses 10 mil da primeira tomadora s�o pouco relevantes se a que paga 550 mil continuar pagando. Agora, isso vem porque s�o 50 anos de conhecimento.


Como adaptar isso ao Brasil?

Como n�s come�amos h� cinco meses, j� temos um pouco do hist�rico, qual � o nosso desafio? Hoje estamos fazendo de uma maneira privilegiando a tecnologia. Mas queremos tamb�m fazer esse modelo de ter mais pessoas numa comunidade. Por qu�? Porque um grupo pressiona o outro. E porque, �s vezes, voc� vai saber se a pessoa pode ou n�o pagar, ou n�o est� pagando, mas pode. Ent�o esse � o modelo inteligente. Agora, de novo. Para replicar num n�mero muito grande, demora. E mais do que isso. Em alguns locais, eu tenho d�vida se � a maneira mais eficiente.

Que locais, por exemplo?

Dentro da cidade, voc� n�o vai ter, necessariamente, 50 pessoas na comunidade. Ent�o assim, por exemplo, voc� pode fazer o microcr�dito numa regi�o bem carente e para uma pessoa que est� vendendo bala. N�o precisa ter mais de 10 pessoas, porque ela vende bala, por exemplo, no sinal sozinha. Ent�o por que que ela precisa ter mais de dez pessoas juntas? N�o sei se precisa. Agora esse � um programa que a gente vai estudando. O Qu�nia � bem diferente de Bangladesh. A gente viu diferen�as entre bancos do mesmo pa�s, e entre pa�ses. No Qu�nia a gente n�o visitou o interior; esse pr�ximo grupo vai visitar. Mas a gente percebeu que tem muito microcr�dito focado nos MEIs. Ent�o, � mais focado em poucas pessoas.


Voc�s pensam em trazer para c� alguma linha de cr�dito para pequenos empreendedores?

Sim. Nosso objetivo � ver algo que j� funciona h� 50 anos. A gente conhece o CrediAmigo. Mas h� muita diversidade. E a gente quer fazer para milh�es de pessoas. Hoje a gente j� faz para centenas de milhares. E a gente fez isso muito r�pido.


A Caixa j� tem um programa de cr�dito agr�cola. Qual a diferen�a entre o que j� existe e o que o banco est� querendo fazer?

N�s temos, na agricultura, uma s�rie de opera��es. Temos para clientes m�dios maiores; para clientes m�dios menores, que se chama Pronamp; para pequenos produtores que se chama Pronaf. E tem um menor ainda, o de tr�s vacas. Esse de tr�s vacas seria o microcr�dito. Ent�o o Pronaf j� � um programa — a gente visitou v�rios — pessoas com 50 vacas. Ent�o assim, voc� tem um grupo menor, por exemplo, os assentados, que acabaram de ganhar o seu t�tulo da terra. E o governo Bolsonaro � o que mais est� dando t�tulo de terras. Essas pessoas n�o est�o no Pronaf, est�o abaixo. Ent�o o microcr�dito seria exatamente para parcela da popula��o brasileira ainda abaixo do Pronaf. Porque o Pronaf hoje j� tem valores maiores.


A tend�ncia � atender a um p�blico mais diverso.

Sim. Dentro desse agro, tem a pecu�ria, tem pessoa que colhe mel.. tem v�rios. Por isso a gente tem que ir l�, conversar. Eles fazem isso h� 50 anos, a gente faz isso h� seis meses. E a gente faz isso pelo celular. O nosso microcr�dito, hoje, � diferente. � para pessoas que, basicamente, t�m uma an�lise de cr�dito que permite essa opera��o. N�o � o que existe na �frica, no Sul da �sia, e mesmo no Banco do Nordeste. Isso � algo que n�s estamos estudando.


Como avalia os primeiros meses de microcr�dito?

A inadimpl�ncia � menor do que n�s esper�vamos, mas a gente ainda est� conhecendo. Por isso h� necessidade das viagens. Quem que vai na viagem? Vai o grupo de risco. Vai o grupo de produtos, o advogado geral, o financeiro, o diretor de produtos. Porque v�rias pessoas t�m que se envolver para que a gente entenda bem essa din�mica da opera��o.


A Caixa est� desbravando um segmento desconhecido. Como v� isso?

Eu penso que � fundamental. Eu n�o consigo entender por que isso n�o havia acontecido antes. Porque s�o dezenas de milh�es de pessoas que n�o t�m alternativa. Uma coisa que eu ouvi muito era, "Ah essas pessoas v�o ficar com excesso de alavancagem", ou seja, elas v�o tomar um cr�dito… Isso n�o � verdade. Porque elas j� tomam cr�dito. S� que elas tomam de institui��es que n�o fazem parte do sistema financeiro nacional. Ent�o o Banco Central n�o consegue captar que essas pessoas j� tomam cr�dito. E elas tomam a 15 a 20% ao m�s. H� um problema social aqui. O que a gente est� fazendo: emprestando para quem j� toma o cr�dito, s� que em vez de essa pessoa pagar de 15 a 20% ao m�s, come�a em 3, 3,5%.


Mas � um p�blico desconhecido para o sistema banc�rio.

Sim. Qual � a quest�o? N�s n�o temos informa��o. A gente est� emprestando para pessoas que n�o t�m hist�rico de cr�dito. E isso � uma quest�o fundamental para todo banco que faz empr�stimo: entender qual � o seu risco de cr�dito. Ou seja, pessoas com hist�rico de cr�dito melhor pagam menor taxa. Pessoas que t�m um hist�rico de cr�dito pior pagam uma taxa maior. Agora, quem n�o tem hist�rico nenhum, normalmente vai pagar uma taxa maior. Ent�o � da� que n�s estamos fazendo essa an�lise. E a gente est� avan�ando. Agora, sem d�vida nenhuma, essa primeira viagem foi muito importante, porque mostrou uma din�mica nova, � qual a gente n�o estava acostumado.


� cedo para falar em proje��es sobre microcr�dito?

A gente come�ou em setembro, estamos melhorando. Em seis meses, fizemos uma opera��o que acabou sendo menor do que a gente esperava. Por qu�? Porque a gente teve uma restri��o grande de quem poderia tomar. Por isso a gente precisa analisar, porque � esse equil�brio entre o banco social e o banco da matem�tica. Qual era a preocupa��o? Como n�s n�o t�nhamos o hist�rico dessas pessoas, emprestar para quem n�o tem hist�rico � sempre mais complicado. Ent�o a gente est� criando uma curva de inadimpl�ncia, e essa curva de inadimpl�ncia vai fazer com que a gente possa reavaliar as taxas e definir para quem a gente pode emprestar.


E, aparentemente, h� v�rias modalidades de microcr�dito.

De fato voc� tem v�rias maneiras de microcr�dito. Essa � uma conclus�o clara nossa. A gente tem a capacidade de oferecer pelo banco digital uma opera��o que Bangladesh e Qu�nia n�o t�m, e mesmo no caso do Crediamigo do Banco do Nordeste. A gente n�o tem problema de funding, n�o tem problema de capital, n�o tem problema tecnol�gico. A gente quer fazer uma opera��o maior ainda, mas tem que fazer com calma. Se n�o fizer com calma, tem um risco de inadimpl�ncia muito grande. N�s fazemos as coisas solidamente. Ao mesmo tempo, a gente sabe a relev�ncia que tem o microcr�dito para a popula��o mais carente.


Voc�s t�m os n�meros mais atualizados do microcr�dito?

Isso n�o estou falando ainda. Existem determinadas coisas que a gente est� discutindo que podem ser novidades ao longo das pr�ximas semanas. Mas avalio que tem sido um bom resultado. A gente j� tem uma an�lise de cinco milh�es de pessoas. Mas esta � an�lise de uma pessoa s�. A opera��o de microcr�dito � envolve cinco, dez, at� 77 pessoas. S�o opera��es complementares. N�o estamos fazendo ainda cr�dito em grupo. Mas queremos fazer.


Como avalia essa opera��o no contexto da economia brasileira?

Eu acho que a gente consegue chegar em dois por cento ao m�s. Com mais informa��o.


Em outra entrevista ao Correio, o senhor disse que as taxas de juros podem diminuir e o cr�dito aumentar. Isso seria um caminho natural a partir de agora?

Exatamente. Quanto mais a pessoa tem um hist�rico de bom pagamento, menos voc� precisa cobrar. Em Bangladesh, eles sabem muito bem quem consegue pagar e quem n�o consegue. A� voc� imagina o seguinte: taxa de juros local a 7%, a nossa est� em dez. Infla��o de 5%, a nossa est� um pouco maior, mas 4% � uma infla��o recorrente esperada pra c�. Ent�o d� pra fazer uma compara��o. Ou seja, voc� esperar que o microcr�dito, na hora de equil�brio, v� entre 20 e 25%, eu acho que essa � a taxa que a gente pode esperar para o Brasil, ao redor de 1,8% a 2% ao m�s. E l� eles pensam ao ano. A gente aqui fala ao m�s. E, na verdade, o pagamento do Grameen a maioria � semanal — algo que a gente n�o estava fazendo. Ent�o por exemplo o que que pode nessas regi�es agr�colas aonde voc� tenha mais uso do papel, ou no m�nimo uma rela��o, voc� pode e a gente tava discutindo fazer um pagamento semanal. Em opera��es nas cidades, com maior uso do celular, pode ser mensal. De novo, vamos conversar, entender, porque � uma opera��o que n�o tem volta. A Caixa Econ�mica vai fazer o microcr�dito e vai fazer por todo o Brasil. Vai utilizar a tecnologia, mas tamb�m vai utilizar a rela��o olho no olho.


Como surgiu a ideia da viagem?

Desde o meu discurso de posse, em janeiro de 2019, eu falei do microcr�dito. Isso vem desde sempre. Quando fui com o presidente Bolsonaro � �ndia, eu tinha marcado para mar�o, abril de 2020, uma volta �quele pa�s para falar com os bancos de microcr�dito. Mas a� veio a pandemia, e a gente n�o p�de. Este ano, Bangladesh e Qu�nia estavam mais abertos. Al�m desses dois lugares, tem a volta � �ndia. Devo ir ainda ao Paquist�o e, na �frica, a Uganda, Sud�o e Tanz�nia.


Somente para conhecer outras opera��es?

Tudo microcr�dito. A opera��o do microcr�dito � muito diversa. Bangladesh tem quase a popula��o brasileira, sendo 15 vezes menor do que o Brasil. Ent�o tem um tipo de racional. No Qu�nia, s�o 50 milh�es de pessoas, em um pa�s parecido em termos de tamanho com Bangladesh. Logo voc� tem muito menos concentra��o nas cidades, por exemplo, como tem em Bangladesh. Ent�o, s�o racionais diferentes. A �ndia � um pa�s com 1,5 bilh�o de pessoas. Ent�o, ela j� vai estar mais pr�xima de Bangladesh. E n�s temos o Brasil. Porque voc� tem, nas cinco regi�es, caracter�sticas totalmente diversas.


O que os bancos de Bangladesh podem aprender com nossa experi�ncia?

Tecnologia. A gente tem uma tecnologia que nenhum deles t�m. Essa � a nossa vantagem. A vantagem deles s�o 50 anos de expertise, e foi disso que a gente conversou. Conversei com os presidentes do Banco Central de Bangladesh e do Qu�nia. Ambos gostaram muito. E o Roberto Campos (presidente do Banco Central) tamb�m. Na volta, a gente se encontrou por uma coincid�ncia. Conversei bastante com ele, e ele ficou muito animado. Ent�o a gente tem tamb�m um alinhamento com o Banco Central do Brasil na promo��o do microcr�dito.


Na verdade, o sistema banc�rio brasileiro pode servir de refer�ncia para esses outros pa�ses.

Com certeza. O que faltava aqui era uma preocupa��o para esse microcr�dito, porque havia uma ideia de que n�o ganhava dinheiro. Como � que a gente v�? � um grupo muito grande de clientes, que v�o ser clientes do banco nos pr�ximos 20 anos. Ent�o � um investimento que n�s fazemos ganhando dinheiro — porque tem que ganhar dinheiro no curto prazo — mas eu vejo como um passo estrat�gico. Ent�o o microcr�dito, na minha opini�o, � um modo de a Caixa ter acesso a milh�es de clientes que v�o crescer ao longo dos pr�ximos anos, e a Caixa ajuda.


O senhor completou o terceiro ano � frente da Caixa. O que pretende em 2022?

Excelente pergunta. Nesses tr�s anos, sa�mos de um banco que tinha severos problemas de governan�a. O balan�o da Caixa tinha ressalva. O balan�o da Caixa Par, que era uma de holding de investimentos, tinha ressalva. O balan�o do FGTS, que s�o 89 milh�es de brasileiros, tinha ressalva. E o balan�o do fundo de investimento do FGTS tinha ressalva. O que significa uma ressalva? � quando o auditor fala: "Tem um problema muito grave'. Normalmente era problema por investiga��o do Minist�rio P�blico Federal, com pris�o de pessoas, perdas relevantes e investimentos mal sucedidos, de bilh�es de reais. Ou seja, todas as ressalvas diziam respeito a problemas graves de gest�o passada. N�s resolvemos todos, sem exce��o.


Foi uma mudan�a dr�stica.

Em 2021, a gente teve basicamente as melhores avalia��es pelo TCU, CGU, Banco Central, auditorias. A gente teve as melhores avalia��es de todas as estatais financeiras. Isso nunca tinha acontecido. A Caixa nunca tinha tido uma nota melhor do que a do Banco do Brasil, ou do BNDES. Nunca. Foi a �nica empresa estatal que ganhou os tr�s pr�mios da CGU. De 378 estatais analisadas pelo TCU, foi a terceira. Sendo que as duas primeiras eram empresas com 200 funcion�rios. E isso nunca aconteceu. Hoje a gente � um exemplo de governan�a. Ganhamos todos os pr�mios de governan�a.


H� um reconhecimento na �rea de ESG (sigla em ingl�s para meio ambiente, social e governan�a) tamb�m.

Em termos de auditoria, s� tem quatro bancos no mundo, pela Moody's, que tem a melhor nota em meio ambiente, � a Caixa, um banco da Irlanda, um banco da Su�cia e um banco da Su��a. Ou seja, a Caixa tem a melhor avalia��o de respeito ao meio ambiente do Brasil, da Am�rica do Sul, da Am�rica Latina, do Hemisf�rio Ocidental e do Hemisf�rio Sul. Em termos sociais, do ponto de vista da Fitch, � a melhor avalia��o do Brasil, a melhor avalia��o da Am�rica do Sul e, junto com o banco no M�xico, uma das duas melhores notas de social. Ent�o quando voc� fala de ESG, a Caixa � um exemplo — nesta gest�o. Nunca tinha sido. Ent�o, isso me deixa muito confort�vel e feliz.


E para 2022?

� um ano de consolida��o do crescimento do agro, de desenvolvimento do microcr�dito e a manuten��o de notas excepcionais de governan�a. Tem duas coisas que a gente precisa ainda avan�ar. O agro, que a gente saiu de oitavo para terceiro e at� maio a gente j� deve ser o segundo maior banco do agro, e o microcr�dito. E a� tem um racional. Quando a gente assumiu, a Caixa, que � o banco da habita��o, estava em quarto lugar. E por qu�? Porque n�o tinha capital e n�o tinha funding. Ent�o n�o � porque os empregados n�o sabiam emprestar. � porque voc� tinha problema de capital, ou seja, de �ndice de Basileia e de funding. Hoje, dos cinco maiores bancos, a gente � o que tem maior �ndice de Basileia. Ou seja, a gente � o que mais pode emprestar. E que tem maior base de dep�sitos podendo emprestar. Por isso � que a gente est� crescendo tanto no agro.


E esse fortalecimento do banco vai ao encontro do potencial brasileiro no agroneg�cio.

Qual � o �nico pa�s do mundo que pode crescer a oferta de de produtos do agro pelos pr�ximos 50 anos? O Brasil. Do ponto de vista de estrat�gia, olhando para os pr�ximos 50 anos, n�o faz nenhum sentido a Caixa n�o estar no ato. � uma quest�o matem�tica, uma quest�o de estrat�gia. Quando as pessoas perguntavam para mim: "Pedro, por que voc� est� crescendo no agro, na Caixa?" A minha resposta era simples: "Por que n�o estava?" Quando perguntavam sobre o microcr�dito, eu falava: por que que n�o estava?


O senhor devolvia a pergunta.

Sim. Por que emprestavam-se dez bilh�es para uma empresa e quinze bilh�es para outra? Um dos grandes orgulhos que tenho �: duas empresas tinham o mesmo volume de cr�dito e patrim�nio do que 500 mil micro e pequenas empresas hoje. Ou seja, a minha pergunta �: para um banco estatal, social, o que a sociedade prefere: que se empreste para quinhentas mil micro e pequenas empresas ou pra duas empresas? Que nenhuma dessas duas precisou na Caixa? E uma delas n�o pagou tudo. Ent�o assim, isso � uma outra quest�o b�sica de banco, de gest�o de banco. Voc� n�o empresta para quem acaba tendo um poder sobre voc�. Quando voc� empresta dez, 15 bilh�es de reais, a empresa passa a ter poder sobre voc�.

Outra transforma��o importante na Caixa � relativa �s mulheres. O que mudou?

Duas coisas n�o aconteciam aqui. N�o se valorizavam as mulheres e n�o se respeitavam as pessoas com defici�ncia. S�o fatos num�ricos. Quando assumimos, dos 50 vice-presidentes e diretores, todos eram homens. A partir do momento em que eu assumi, todas as escolhas foram merit�rias. Meritocraticamente. S�o 14. Ent�o, hoje, s�o 28% da lideran�a do banco.


O programa Caixa Mais Brasil est� com aproximadamente 130 edi��es. Quais decis�es foram tomadas a partir das visitas realizadas em todo o pa�s?

Por exemplo, n�s reduzimos em mais de dez bilh�es de reais nas despesas. Viajando pelo Brasil, sempre quis ver onde que as pessoas ficavam, tanto as ag�ncias quanto as pessoas fora das ag�ncias. E a gente viu muitos pr�dios que n�o tinham nenhum sentido. Ent�o n�s sa�mos de mais de cento e cinquenta pr�dios. Aqui em Bras�lia, a gente tinha 26 pr�dios. Fomos para seis, dos quais dois s�o de TI. Na Avenida Paulista, n�s est�vamos em dez pr�dios. Qual � a raz�o de voc�s estar em dez pr�dios na avenida Paulista? Hoje est� em um. Isso, s� se descobre viajando. Porque ningu�m me falou. Da mesma maneira, ningu�m tinha me falado dos PCDs, tinha. Como � que a gente descobriu? Viajando.


A viagem � �sia segue essa l�gica? Viajar para conhecer?

Sim. Essas visitas a Bangladesh e ao Qu�nia seguem o mesmo racional. A gente tem que conhecer para aprender. Eu n�o quero ningu�m sendo dono da verdade. Somos muito humildes para ouvir. No Caixa Mais Brasil, em 131 finais de semana, n�s visitamos 500 ag�ncias, falamos com 30 mil empregados e cem mil clientes. As cr�ticas s�o rapidamente analisadas e resolvidas. Ou s�o cr�ticas com as quais n�o concordamos, mas n�s ouvimos. Agora por exemplo, foi muito importante durante o pagamento do aux�lio ir para as ag�ncias. Em especial no come�o. Entendo que, hoje, no banco, existe essa clareza de que a gente precisa ficar um tempo aqui. Mas o mais importante � viajar, visitar e em todos os locais.


O programa, ent�o, trouxe benef�cios diretos?

A consequ�ncia mais direta do Caixa Mais Brasil foi uma redu��o de despesa superior a dez bilh�es de reais � o valor presente do que a gente terminou. Al�m disso, o microcr�dito se beneficiou muito, o agro se beneficiou muito porque n�s digitamos mais de cem fazendas. E, nessas visitas, a gente visitou de tudo, desde produ��o de arroz, caf�, soja, milho, aquicultura, carcinocultura. Ent�o, a gente acaba indo visitar e nestas visitas, por exemplo, a gente descobriu que tinham v�rias dessas opera��es que estavam proibidas. Eu n�o tinha a m�nima no��o.


Era uma maneira de sair da bolha.

A gente s� conseguia entender porque viajava e sa�a dessa bolha, porque l� na minha sala, s� tem not�cia positiva. Ningu�m me fala nenhum problema. � como se a gente estivesse na Goldman Sachs, o principal banco de investimento do mundo. Zero problemas. A� quando voc� vai l� no interior do Acre, a� o pessoal fala. A� voc� v�. Ent�o assim, tem que ter o equil�brio, tem que ir no interior do Acre, mas tem que ficar aqui, sen�o as coisas tamb�m n�o andam. Se eu ficar s� no interior do Acre, as coisas n�o andam aqui. Se eu ficar s� aqui, os problemas n�o chegam.

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)