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Estado de Minas COMBUST�VEIS

'Agora � quest�o de desespero', diz l�der caminhoneiro sobre alta de 25% no diesel

Petrobras tamb�m reajustou gasolina em 19% e g�s de cozinha em 16%. Com alta dos combust�veis, infla��o deve superar os 7% em 2022, estima economista da FGV.


10/03/2022 14:40 - atualizado 10/03/2022 17:36

Wallace Landim, conhecido como Chorão, líder de movimento caminhoneiro
Wallace Landim, conhecido como Chor�o, l�der de movimento caminhoneiro (foto: Reprodu��o/Facebook)
"Agora � uma quest�o de desespero", resume Wallace Landim, o Chor�o, presidente da Abrava (Associa��o Brasileira dos Condutores de Ve�culos Automotores) e um dos l�deres da greve de caminhoneiros de 2018.

 

 

 

A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10/3) reajuste de 25% para o diesel, de 19% para a gasolina e de 16% para o g�s de cozinha, repassando aos consumidores brasileiros a forte alta do petr�leo no mercado internacional em decorr�ncia da guerra da Ucr�nia.

 

Os novos valores passam a ser cobrados a partir da sexta-feira (11/3) nas refinarias e distribuidoras.

 

Somente em 2021, a gasolina acumulou alta de 47%, o diesel de 46% e o g�s de botij�o de 37%, bem acima do aumento de 10% da infla��o em geral, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica).

 

'Eu n�o decido nada'

 

A alta de pre�os dos combust�veis nesta quinta-feira acontece mesmo ap�s o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter criticado a pol�tica de pre�os da Petrobras e dito que buscaria solu��es para mitigar o reajuste.

 

"Se voc� for repassar isso tudo para o pre�o dos combust�veis, voc� tem que dar um aumento em torno de 50% nos combust�veis, n�o � admiss�vel voc� fazer. A popula��o n�o aguenta uma alta por esse percentual aqui no Brasil", disse Bolsonaro na segunda-feira (7/3).

 

Nesta quinta-feira, o presidente se eximiu de responsabilidade pelo reajuste.

 

"No mundo todo aumentou [o pre�o dos combust�veis]. Eu n�o defino pre�o na Petrobras. Eu n�o decido nada, n�o. S� quando tem problema cai no meu colo", disse a apoiadores.

 

Ainda nesta quinta, est� prevista a vota��o no Senado de dois projetos de lei que buscam minimizar a alta de pre�os dos combust�veis: o PLP 11/2020, que estabelece al�quota �nica e com valor fixo para a cobran�a de ICMS sobre combust�veis e permite a inclus�o de mais 5 milh�es de fam�lias no Aux�lio G�s; e o PL 1.472/2021, que cria uma conta para financiar a estabiliza��o de pre�os dos combust�veis.

 

Apesar da urg�ncia do tema em meio a escalada dos pre�os do petr�leo devido � guerra no leste europeu, tr�s tentativas de vota��o anteriores foram adiadas devido a dificuldades na negocia��o com o governo federal.

 

'Queremos o fim da paridade de pre�os internacional'

 

Para o presidente da Abrava, no entanto, as propostas em tramita��o no Senado s�o paliativas e n�o resolvem a dif�cil situa��o em que se encontram os caminhoneiros.

 

Segundo Landim, a promessa � de que as medidas em discuss�o gerassem uma redu��o de 30% no pre�o dos combust�veis, mas esse percentual j� estaria praticamente superado pela alta de 25% no diesel anunciada hoje pela Petrobras.

 

"A Petrobras foi criada para beneficiar o povo brasileiro. Ela hoje trabalha para o mercado", avalia o l�der caminhoneiro.

 

"O que n�s cobramos � que se retire o PPI, o pre�o de paridade de importa��o. N�s n�o ganhamos em d�lar, ganhamos em real, e somos autossuficientes [em petr�leo]. At� quando a popula��o vai ficar sofrendo?", questiona.

 

A Petrobras adotou o chamado pre�o de paridade de importa��o (PPI) em 2016, durante o governo de Michel Temer. O modelo foi estabelecido ap�s a empresa passar anos praticando pre�os controlados, sobretudo no governo de Dilma Rousseff (PT).

 

O controle de pre�os era uma forma de o governo mitigar a infla��o, mas causou grandes preju�zos � petroleira.

 

Em 2018, durante a greve dos caminhoneiros, o modelo de paridade passou a ser bastante questionado. Mas, naquela ocasi�o, o governo optou por manter a pol�tica de pre�os, subsidiando temporariamente o diesel atrav�s de um desembolso de R$ 4,8 bilh�es.

 

Agora, a paridade est� no centro do debate eleitoral com candidatos como Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) prometendo mudar a pol�tica de pre�os da Petrobras e Bolsonaro questionando o modelo adotado pela estatal, de olho na reelei��o.

 

Questionado se h� �mpeto para greve entre os caminhoneiros ap�s o reajuste desta quinta-feira, o presidente da Abrava lembra que diversas conquistas da categoria na paralisa��o de 2018 ficaram s� no papel.

 

Al�m disso, os caminhoneiros n�o querem ser responsabilizados por solu��es que repassem os custos � popula��o, j� muito afetada pela alta recente da infla��o.

 

"Conseguir mobilizar a gente consegue, mas a gente vai levar essa culpa?", questiona Chor�o. "Quem precisa se mobilizar � todo mundo que est� sofrendo."

 

Segundo o l�der caminhoneiro, mesmo que n�o haja greve, muitos caminhoneiros devem parar de rodar devido � alta do diesel. "A paralisa��o vai ser autom�tica, a categoria vai parar porque n�o tem mais condi��es de rodar", afirma.

 

'� infla��o na veia'

 

Andr� Braz, coordenador de �ndices de Pre�os na FGV (Funda��o Get�lio Vargas), estima que os reajustes anunciados nesta quinta-feira pela Petrobras devem acrescentar 1,52 ponto percentual � infla��o brasileira nos pr�ximos 30 dias.

 

Cerca de 1,05 ponto deve bater na infla��o j� em mar�o e outro 0,47 ponto, no IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo) de abril.

 

Com isso, Braz elevou sua estimativa para a alta do IPCA em mar�o de 0,7% para 1,6%, prevendo novo avan�o de 1% dos pre�os no m�s seguinte. Diante da nova alta dos combust�veis, o economista avalia que a infla��o em 2022 pode chegar a 7,5%.

 

"Temos que levar em conta que existem efeitos indiretos que acontecem a partir do aumento dos combust�veis", alerta Braz.

 

"� infla��o na veia, porque o diesel � usado no agroneg�cio, no frete, no transporte p�blico urbano, fora o aumento da gasolina. Isso pode desencadear novos reajustes em outros segmentos, ent�o esse 7,5% [e estimativa de infla��o para 2022] � at� meio ing�nuo, pois n�o estou levando em conta nenhum outro efeito indireto."

 

Mesmo antes do reajuste desta quinta-feira, economistas j� estavam elevando suas proje��es para a infla��o este ano, devido � alta de pre�os das commodities em decorr�ncia da guerra.

 

Na ter�a-feira, a XP Investimentos ajustou sua expectativa de infla��o para 2022 de 5,2% para 6,2% e o banco franc�s BNP Paribas subiu de 6% para 7%. Na quarta-feira, o Credit Suisse elevou sua proje��o para o IPCA esse ano de 6,2% para 7%.

 

Os bancos tamb�m j� come�am a ver a possibilidade de o Banco Central levar a Selic (taxa b�sica de juros da economia brasileira) acima dos 13% nos pr�ximos meses, para conter a escalada da infla��o.

 

'Dinheiro j� � pouco'

 

Enquanto os economistas debatem os rumos do IPCA e da Selic, os brasileiros n�o sabem como v�o chegar at� o fim do m�s.

 

"� um absurdo, fam�lias inteiras j� passam necessidade. Agora vai ficar muito mais dif�cil tanto para mim, quanto para as outras fam�lias", diz Ellen, de 38 anos.

 

M�e solteira de cinco filhos e av� de dois netos, que ela sustenta com R$ 800 em benef�cios sociais, a moradora de uma favela de Campo Grande (MS) ficou mais de uma semana sem g�s nesse in�cio de mar�o, at� conseguir um botij�o atrav�s de doa��es.

 

Agora, com o novo reajuste, ela avalia que comprar g�s vai ser ainda mais dif�cil nos pr�ximos meses.

Ellen se diz grata pelos benef�cios sociais que recebe do governo estadual e federal, mas afirma que as contas n�o fecham.

 

"Todo dinheiro � bem-vindo, mas n�o cumpre todas as necessidades. Fam�lias igual eu, que sou m�e sozinha, que somos m�e e pai, esse dinheiro n�o tira a gente do sufoco por mais de dois ou tr�s dias. A� n�o d� para comprar g�s, porque o g�s est� muito caro, R$ 120 aqui."

 

Ellen recebe R$ 300 do programa estadual Mais Social (antigo Vale Renda) e outros cerca de R$ 500 do Aux�lio Brasil (novo nome do Bolsa Fam�lia).

 

"S�o R$ 800 para sustentar a fam�lia toda. Eu n�o trabalho porque, h� um ano e quatro meses, eu infartei e n�o consigo mais faxina, nenhuma ex-patroa quer me dar trabalho, porque elas ficam com medo de eu ter outro infarto e acabar morrendo no servi�o", lamenta.

 

Vivendo apenas dos benef�cios sociais, Ellen (que preferiu n�o ter o sobrenome divulgado por medo de perder os aux�lios) se viu sem botij�o de g�s por mais de uma semana no in�cio desse m�s de mar�o.

 

"Eu consegui [um botij�o] atrav�s de doa��o, mas fiquei uma semana sem. Quando voc� compra o g�s, voc� chega no mercado e s� compra arroz e feij�o, porque est� aumentando tudo. Verdura, fruta, o dinheiro n�o chega para comprar nada disso para as crian�as, nem um leite direito", afirma.

 

A m�e de fam�lia lamenta o novo aumento do g�s de botij�o. "Al�m de pesar mais ainda no bolso, vamos passar mais necessidade, porque o dinheiro j� � pouco e as coisas continuam aumentando."

 

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