Combust�vel consome at� 50% da renda nos motoristas de aplicativos

 

Quando esse servi�o por aplicativo come�ou a ser oferecido em Belo Horizonte, em meados de 2014, os motoristas dispunham de 15% do que arrecadavam num dia para abastecer seus ve�culos. Hoje precisam desembolsar 50% de tudo o que ganham s� para manter o autom�vel em movimento.

 

� uma situa��o desesperadora, classifica Paulo Xavier, presidente da Frente de Apoio Nacional ao Motorista Aut�nomo (FANMA).

"A situa��o que vinha se arrastando numa equa��o muito dif�cil para o motorista devido a tantas altas ao longo desses anos, agora piorou muito. No in�cio das opera��es do aplicativo o combust�vel significava no m�ximo 20% da receita. Hoje ultrapassa a 50%. Os motoristas tem selecionado melhor as corridas. � necess�rio crit�rio que considere valor do quil�metro rodado. Hoje, o condutor trabalha mais, alguns chegam a 15 horas por dia, n�o porque esteja ganhando mais, mas para diluir os custos", explica.

 

De acordo com Xavier, o principal custo � o combust�vel, mas tem outros a serem considerados, como pneu, troca de �leo mensal. "Sem contar o custo de vida, os alimentos b�sicos subiram muito. Um carro popular que h� tr�s anos era R$ 30 mil, hoje n�o se compra por menos de R$ 70 mil. Estamos lutando por reajuste nas tarifas das corridas, mas as operadoras s�o muito resistentes."

 

Morador de Contagem e motorista de aplicativo h� cinco anos, Veron Guilherme percorre uma jornada de 12 horas di�rias. "H� 5 anos  a gasolina era 25% da despesas,  hoje est� em 50%. As taxas de aplicativos podem chegar a 40%, dependendo das corridas. A gente depende do usu�rio, portanto a despesa n�o pode ser jogada ao consumidor. Se voc� faz R$200, R$ 100 v�o para gasolina, R$ 20 para o carro, R$ 15 alimenta��o e o que sobra � R$ 65. Usu�rio reclama de n�o encontrar carro dispon�vel, mas os motoristas est�o avaliando as corridas, quilometragem, deslocamento."

 

Jo�o Pedro Costa, de 26 anos, diz que por enquanto est� vendo o que vai fazer, porque do jeito que est� n�o est� valendo a pena. "A gente tem que selecionar muito as corridas. Para cada dez chamadas atende duas que valem a pena. Piorou muito, colocava R$ 50 de combust�vel, hoje s�o R$ 150. J� penso em mudar ramo."

 

Foi o que fez o motorista de aplicativo Farid Mothaw Granja, 36 anos. "Come�ava a trabalhar �s 8h, parava por volta de 21h, gastava em m�dia R$ 120 de gasolina, pagava R$ 50 de di�ria. Sobravam R$ 60 por 12 horas di�rias. Desisti de trabalhar com aplicativo de passageiros. Passei a trabalhar com Ifood, com moto. Corro mais risco, mas preferi porque com o aumento de combust�vel ficou impratic�vel. Trabalhava na In-Driver e agora estou no Ifood."

 

Situa��o n�o est� diferente para quem trabalha como motorista de t�xi auxiliar. Mailton Rog�rio Liberato, diarista, diz que seu carro gasta um litro de gasolina a cada 7,5 km e, no �lcool, 5km. "Atualmente, s� uso gasolina. Pago di�ria de R$ 80, abaste�o R$ 130, em m�dia, e ainda tem alimenta��o. Trabalho em m�dia 14 a 16 horas de domingo a domingo. Para ganhar R$ 50 a R$ 60 por dia. S� come�o a ganhar meu dinheiro a partir de R$ 250."

 

J�lio Cezar Barbosa Borges � concession�rio de um t�xi e diz gastar uma m�dia, que varia pelo dia da semana, entre R$ 80 e R$ 150. "Antes desses aumentos todos, eu gastava, em m�dia, 1/5 com combust�vel, hoje gasto quase a metade do que fa�o no dia abastecendo. Rodo uma m�dia de 100 quil�metros por dia. Hoje tem sido mais vantagem andar com gasolina. Saio de casa �s 7h vou at� as 19h  rodo de segunda a s�bado. Por m�s, tenho um gasto em torno de R$ 2.600 com combust�vel e manuten��o do carro."

 

A artes� Raquel Monteiro � us�ria frequente de aplicativo e mora em Nova Lima. Diz que nos �ltimos tr�s meses notou um aumento da demora. Quanto a valores diz que n�o notou muita diferen�a. "Apenas em hor�rio de pico os pre�os se elevam, a� eu aguardo uns 10 minutos e solicito novamente. Tem sido recorrente tamb�m o cancelamento de viagens. O motorista aceita e dois minutos depois cancela. Teve dia, em Nova Lima, que esperei por 25 minutos por um Uber."

Empresa afirma que cuida dos ganhos dos parceiros

 

Em nota, a plataforma POP 99 informou que est� atenta � situa��o do pa�s e tem investido esfor�os e recursos para reduzir o impacto da crise econ�mica global e os consequentes reajustes dos combust�veis que afetam os motoristas parceiros e a todos. "A prioridade � cuidar dos nossos parceiros e seus ganhos, para continuar oferecendo um transporte de qualidade, eficiente e financeiramente acess�vel. "

 

A empresa discorreu sobre medidas para atenuar a situa��o econ�mica junto a seus motoristas:"pacote Mais Ganhos 99, com diversas medidas como o Taxa Zero que oferece aos condutores 100% do valor das corridas em per�odos e cidades espec�ficas, al�m de mais ganhos com o recebimento por taxa de congestionamento, e taxa de deslocamento. H�, inclusive, casos em que � empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista � maior que o pago pelo passageiro e esta diferen�a � custeada pela empresa para democratizar o acesso das pessoas".

 

Em nota, a 99 informou que "passar� a oferecer uma compensa��o financeira pela nova escalada no valor dos combust�veis. O objetivo � anular o �ltimo aumento anunciado para o litro da gasolina e por isso reajusta em 5% o km rodado no ganho do motorista de todo o pa�s.  Este acr�scimo ser� implementado j� nos pr�ximos dias, em todas as 1.600 cidades onde a empresa opera no Pa�s".

 

Al�m disso, "paralelamente, a plataforma est�  testando uma solu��o de subs�dio para acompanhar automaticamente as flutua��es dos combust�veis, tanto para cima quanto para baixo. Ap�s os testes, o novo recurso teria o potencial de trazer ainda mais transpar�ncia e seguran�a aos parceiros".  

 

A plataforma Uber n�o respondeu � socilita��o da reportagem.