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A invas�o da Ucr�nia pela R�ssia fez com que diversos pa�ses disparassem uma s�rie de san��es econ�micas contra o governo do presidente russo, Vladimir Putin, mas tamb�m contra mega-empres�rios do pa�s conhecidos popularmente como "oligarcas".
Mas n�o � s� na Europa que alguns deles mant�m neg�cios e, em grande medida, obt�m lucro.
A BBC News Brasil identificou pelo menos quatro bilion�rios russos com la�os empresariais estreitos no Brasil. Um deles foi condecorado pelo presidente Jair Bolsonaro, recentemente.
Dois crit�rios foram seguidos nessa defini��o.
O primeiro � terem tido seus nomes inclu�dos em uma lista divulgada pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos em janeiro de 2018. A lista n�o previa san��es. Posteriormente, ela foi alvo de cr�ticas por ser muito similar � lista das pessoas mais ricas da R�ssia publicada pela revista Forbes.
O segundo crit�rio foi a inclus�o desses empres�rios na lista de san��es econ�micas impostas por pa�ses como os Estados Unidos, Reino Unido ou pela Uni�o Europeia.
Seus nomes s�o, segundo os dois crit�rios, Andrey Andreevich Guryev, Andrey Melnichenko, Dmitry Mazepin. Vietchslav Kantor foi inclu�do na lista americana, mas n�o foi alvo de san��es.
Todos atuam no mesmo ramo: fertilizantes agr�colas.
A BBC News Brasil procurou representantes dos quatro. A assessoria de imprensa das empresas de Mazepin e Guryev disse que n�o poderia fazer coment�rios sobre as san��es.
A assessoria das empresas de Melnichenko informou que, ap�s as san��es, ele se afastou do quadro de diretores e n�o � mais seu benefici�rio. Os representantes de Kantor n�o se manifestaram.
O que s�o oligarcas?
O termo "oligarca" vem do grego "oligoi", que significa "poucos", e "arkhein", que significa "governar". Em outras palavras: governo de poucos ou governo para poucos.
Mais recentemente, o termo vem sendo usado para designar um grupo de russos extremamente ricos e politicamente bem relacionados que acumularam suas fortunas ap�s a onda de privatiza��es que se seguiu ao fim do regime comunista, em 1991.
O ex-conselheiro da presid�ncia dos Estados Unidos sobre as rela��es com a R�ssia e co-fundador do programa de estudos de R�ssia, Europa Oriental e Eur�sia da Universidade de Yale, Thomas Graham, disse, em entrevista � CNN, que o termo "oligarca" � frequentemente usado para classificar os bilion�rios russos porque, diferentemente do que ocorreria em outras partes do mundo, esses empres�rios ficaram ricos por terem conex�es estreitas com o governo.
"Voc� pode ser um empres�rio rico nos Estados Unidos e n�o se preocupar com seus contatos no governo. � um pouco diferente na R�ssia. A cada decis�o empresarial que voc� toma, voc� precisa checar com seus contatos no Kremlin", disse.
Em 2018, um porta-voz do governo russo rebateu o uso do termo e disse que n�o h� oligarcas na R�ssia, "apenas representantes de grandes empresas".
Ao longo dos anos, esses bilion�rios come�aram a chamar aten��o ao investir parte de suas fortunas em pa�ses europeus como o Reino Unido, Fran�a, Espanha, It�lia, entre outros. Al�m de comprar mans�es, carros de luxo e mega-iates, alguns deles chegaram a adquirir clubes de futebol. � o caso do russo Roman Abramovich, que comprou o Chelsea e, mais recentemente, se afastou do seu comando.
Confira abaixo quatro bilion�rios russos com neg�cios no Brasil:
Andrey Andreevich Guryev
Andrey Andreevich Guryev, 39, � um dos oligarcas com maior liga��o com o Brasil. Ele � presidente do Conselho Empresarial R�ssia-Brasil. Em fevereiro deste ano, ele foi condecorado com a medalha da Ordem do Rio Branco dada pelo presidente Jair Bolsonaro, em uma cerim�nia realizada em Moscou.
Ele pertence � fam�lia Guryev, que controla a PhosAgro, uma das maiores empresas do mundo de fertilizantes � base de fosfato. De acordo com a revista Forbes, a fortuna estimada da fam�lia � de US$ 6 bilh�es, a 28ª maior da R�ssia.
O Brasil � considerado um dos mercados estrat�gicos pela empresa. Segundo relat�rios da companhia, a PhosAgro registrou um lucro de US$ 1,7 bilh�o em 2021.
Uma parcela desse resultado positivo ocorreu, segundo a pr�pria empresa, gra�as � alta demanda por fertilizantes de pa�ses como o Brasil.
O Brasil � o quarto maior importador de fertilizantes do mundo e 23% de tudo o que � importado vem da R�ssia, exportado por empresas como a PhosAgro. A empresa tem um escrit�rio em S�o Paulo.
No ano passado, a companhia chegou a fazer uma oferta de 50 mil doses da vacina russa Sputnik contra a covid-19 ao Minist�rio da Sa�de. O uso do imunizante no Brasil, no entanto, nunca foi autorizado pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa).
Guryev "Junior", como tamb�m � conhecido, foi um dos principais organizadores de um f�rum de empres�rios brasileiros e russos realizado em fevereiro, em Moscou. O evento contou com a presen�a de Jair Bolsonaro.
Na mesa do evento, ele estava a menos de dois metros de dist�ncia do presidente, separado apenas pelo ministro das Rela��es Exteriores, Carlos Fran�a.
O encontro aconteceu oito dias antes do presidente russo, Vladimir Putin, com quem a fam�lia Guryev tem proximidade, ordenar a invas�o da Ucr�nia.
E foi justamente a import�ncia do setor de fertilizantes para a economia russa que fez com que a Uni�o Europeia inclu�sse Andrey Guryev "Junior" na lista de san��es econ�micas publicada pelo bloco na semana passada.
De acordo com o bloco, a empresa estaria ligada ao governo russo e suas receitas contribuiriam com as a��es da R�ssia na Ucr�nia.
"Andrey Guryev, na sua qualidade de diretor executivo da PhosAgro, se beneficia das decis�es do Governo da R�ssia. A PJSC PhosAgro est�, em grande medida, ligada ao Governo russo e, por conseguinte, as receitas que gera constituem uma importante fonte de receitas para o Governo russo", diz a Uni�o Europeia.
As san��es impostas pela Uni�o Europeia preveem o congelamento de bens e ativos que estejam em seu nome ou que estejam � sua disposi��o nos pa�ses do bloco.
A medida foi tomada no dia 9 de mar�o. No dia seguinte, Guryev "Junior" renunciou ao posto de CEO.
Nesta ter�a-feira, Guryev "Junior" tamb�m foi inclu�do na lista de san��es do Reino Unido. Ele est� impedido de entrar no pa�s e seus bens por l� dever�o ser congelados.
A BBC News Brasil enviou questionamentos � sede da PhosAgro, mas a assessoria de imprensa da companhia disse que n�o se pronunciaria sobre o assunto.
Andrey Melnichenko
O empres�rio Andrey Melnichenko era o oitavo homem mais rico da R�ssia em 2021, de acordo com a revista Forbes. Seu nome tamb�m constava na lista de oligarcas russos divulgada pelo governo dos Estados Unidos em 2018.
Sua fortuna estava avaliada em US$ 17,9 bilh�es. O valor � US$ 1 bilh�o a mais que a fortuna do brasileiro mais rico do mundo, o investidor Jorge Paulo Lehmann, com seus US$ 16,9 bilh�es.
Melnichenko ficou bilion�rio atuando no ramo de fertilizantes agr�colas e carv�o mineral. Ele era o nome por tr�s da EuroChem Group, um conglomerado de empresas com neg�cios em diversos pa�ses, inclusive no Brasil.
Em 2016, a EuroChem comprou 51% das opera��es de uma empresa brasileira que operava no setor de fertilizantes. Em 2020, o grupo anunciou que compraria o restante da companhia. � �poca, a expectativa era de que o faturamento da empresa girava em torno de R$ 4 bilh�es por ano.
Atualmente, ela � uma das principais fornecedoras de fertilizantes � base de fosfato do Brasil.
De olho no agroneg�cio brasileiro, a EuroChem continuou a expandir suas opera��es no pa�s.
Em janeiro deste ano, o Conselho Administrativo de Defesa Econ�mica (CADE), aprovou a proposta feita pela EuroChem para comprar 51% das a��es da Heringer Fertilizantes, uma transa��o estimada em R$ 554 milh�es.
Melnichenko foi alvo de san��es impostas pelo Reino Unido e pela Uni�o Europeia. Ele teve seus bens e outros ativos financeiros congelados.
Ao justificar sua inclus�o na lista de san��es, a Uni�o Europeia destacou o fato de Melnichenko ter sido um dos 36 empres�rios convidados por Putin a participar de um encontro para discutir os impactos das a��es russas no dia 24 de fevereiro, quando Putin ordenou o avan�o de suas tropas sobre a Ucr�nia.
"O fato de ele ter sido convidado para esse encontro mostra que ele � membro do c�rculo mais pr�ximo de Vladimir Putin e que ele est� apoiando ou implementando a��es ou pol�ticas que enfraquecem ou amea�am a integridade territorial, a soberania e a independ�ncia da Ucr�nia", diz o texto.
Dois dias depois de ser inclu�do na lista da Uni�o Europeia, autoridades italianas apreenderam um mega-iate avaliado em US$ 578 milh�es (o equivalente a R$ 2,9 bilh�es) que estava na cidade de Trieste.
Na quarta-feira (10/03), a EuroChem Group divulgou um comunicado informando que Melnichenko renunciou ao seu cargo na dire��o da companhia. O an�ncio tamb�m disse que Melnichenko se retirou da condi��o de principal benefici�rio da empresa.
Procurada, a assessoria de imprensa da EuroChem Group refor�ou o conte�do de uma nota divulgada pela empresa no dia 10 de mar�o, na qual anunciado o afastamento de Melnichenko da companhia.
"A EuroChem Group, uma l�der global na produ��o de fertilizantes, anuncia que Andrey Melnichenko renunciou da sua posi��o como diretor n�o-executivo do quadro de diretores e se retirou como principal benefici�rio", diz um trecho da nota.
A nota continua afirmando que "o movimento segue a inclus�o do senhor Melnichenko na lista de san��es da Uni�o Europeia e foi tomada para assegurar que a EuroChem seja capaz de continuar fornecendo nutrientes para a agricultura a milh�es de pessoas ao redor do mundo ajudando a garantir seguran�a alimentar global".
Dmitry Mazepin
Dmitry Mazepin tem 54 anos e nasceu em Minsk, capital de Belarus, quando o pa�s ainda fazia parte da antiga Uni�o Sovi�tica. De acordo com a revista Forbes, Mazepin � dono de uma fortuna avaliada em US$ 1,5 bilh�o, o equivalente a R$ 7,7 bilh�es.
Em 1992, ele se formou em Economia em uma universidade de Moscou e come�ou a atuar no setor financeiro e petroqu�mico, em empresas que haviam surgido ap�s a onda de privatiza��es que se seguiu � queda do regime comunista.
Em 2007, Mazepin fundou a Uralchem, que depois se tornou uma das maiores produtoras e exportadoras de fertilizantes do mundo.
Assim como seus outros concorrentes, Mazepin tamb�m mant�m neg�cios com o Brasil. Al�m de exportar fertilizantes para o pa�s, o grupo Uralchem vem comprando ativos no pa�s ao longo dos �ltimos anos.
Em 2021, por exemplo, a Uralkali, uma das empresas sob o comando da Uralchem, anunciou a compra de 100% das a��es da UPI Norte, acionista da Fertgrow S.A, l�der na distribui��o de fertilizantes agr�colas no Brasil.
Mazepin se dedica, al�m dos neg�cios, ao esporte. Um dos seus principais investimentos na �rea vinha sendo o patroc�nio � escuderia Haas, da F�rmula 1, onde seu filho, Nikita Mazepin, era piloto.
Al�m disso, Mazepin se tornou uma figura p�blica influente na R�ssia, inclusive no meio pol�tico russo. Ele era frequentemente visto em eventos com o presidente russo, Vladimir Putin.
A proximidade com o Kremlin ficou ainda mais evidente no dia 24 de fevereiro, quando ele fez parte do grupo de empres�rios chamados por Putin ap�s o in�cio da invas�o russa � Ucr�nia.
Essa proximidade tamb�m foi mencionada pela Uni�o Europeia ao incluir Mazepin e seu filho na lista de san��es econ�micas. Seus bens nos pa�ses do bloco est�o congelados.
Dmitry e Nikita tamb�m foram inclu�dos na lista de san��es do Reino Unido, onde est�o proibidos de entrar e tiveram seus ativos bloqueados.
Um dia ap�s ser inclu�do nas san��es da Uni�o Europeia, a Uralchem anunciou que Mazepin vendeu 52% das suas a��es na companhia, ficando com 48% e, perdendo assim, o controle acion�rio da empresa.
Ele tamb�m renunciou ao cargo de CEO da Uralchem, num movimento que, segundo analistas, visa proteger a empresa das san��es impostas por conta da invas�o russa � Ucr�nia.
Por conta das san��es, Nikita Mazepin perdeu o posto de piloto da Haas.
Procurada pela BBC News Brasil, a Uralchem disse que n�o poderia fazer coment�rios sobre as san��es sobre os Mazepin. A companhia afirmou ainda que o Brasil tem sido "um mercado historicamente importante".
Vyacheslav Kantor
De acordo com a revista Forbes, Vyacheslav Kantor tem uma fortuna avaliada em US$ 4,9 bilh�es, o equivalente a R$ 25 bilh�es.
Diferentemente de Guryev, Melnichenko e Mazepin, Kantor n�o foi, at� agora, alvo de san��es da Uni�o Europeia, Reino Unido ou dos Estados Unidos. Ele tamb�m � considerado um empres�rio pr�ximo a Vladimir Putin.
A maior parte da sua fortuna veio da Acron, outra gigante russa do setor de fertilizantes.
Segundo a ag�ncia Bloomberg, em janeiro deste ano ele tinha 94% das a��es da empresa. De acordo com a companhia, ele exerce o cargo de presidente do conselho de coordena��o da Acron, um cargo n�o-executivo.
Kantor � judeu e tem nacionalidade russa, israelense e brit�nica. � em Londres, ali�s, que ele vive com sua fam�lia.
Assim como ocorre com suas concorrentes no setor, o Brasil � considerado um mercado estrat�gico para a Acron, que j� atua exportando fertilizantes produzidos em suas plantas na R�ssia para o pa�s.
A iniciativa mais recente da empresa no pa�s � a negocia��o com a Petrobras para a compra de uma f�brica de fertilizantes nitrogenados em Tr�s Lagos, em Mato Grosso do Sul.
No dia 4 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que a Petrobras havia fechado um acordo de venda da planta para a Acron. Analistas, no entanto, afirmam que o fechamento do contrato ainda depende da avalia��o da �rea de governan�a da Petrobras.
As obras da f�brica come�aram em 2007 e j� teriam consumido pelo menos R$ 3,8 bilh�es. O valor da venda ainda n�o foi divulgado. A estimativa � de que a unidade entre em opera��o em 2027.
Procurada, a Acron n�o respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.
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