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Estado de Minas COM�RCIO ARRISCADO

Pre�o elevado do g�s de cozinha estimula furto de botij�es na Grande BH

Revendedores do insumo na capital e entorno relatam ao Estado de Minas aumento dos casos de perda da carga, inclusive sob a mira de rev�lveres


18/03/2022 21:54 - atualizado 19/03/2022 00:31

Trabalhador com botijão de gás ao lado de caminhão
Temor acompanha o comerciante Amarildo Andrade, quer reclama do preju�zo com botij�es suprimidos da carroceria do caminh�o, a qualquer momento (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Debaixo de chuva forte ou mesmo aos feriados, a menor desaten��o ao estacionar na rua pode significar menos botij�es de g�s de cozinha na carroceria do caminh�o do comerciante Amarildo Ronei de Andrade, de 54 anos. H� casos em que a perda da carga ocorre sob a mira de armas de fogo. "Revendedor e entregador de g�s, agora, v�o precisar de escolta armada", ironiza. "O valor que o g�s atingiu vai piorar ainda mais os bandidos que nos infernizem", desabafa Amarildo, que est� na profiss�o h� quase 35 anos, entregando o insumo a clientes de Belo Horizonte e de Contagem, na Grande BH.

 

Furtos (quando o bem � levado sem viol�ncia) e roubos (quando h� uso de viol�ncia ou amea�a em um assalto) sofridos pelo com�rcio e entregadores t�m crescido com a disparada dos pre�os do G�s Liquefeito de Petr�leo (GLP), o popular g�s de cozinha, sobretudo na capital e entorno.

 

Na �rea metropolitana de BH, com o aumento de 16,1% anunciado no �ltimo dia 10 pela Petrobras para as distribuidoras, o botij�o de 13 quilos passou a ser vendido a at� R$ 135, com muita gente demandando das revendas a forma de pagamento em tr�s vezes no cart�o de cr�dito. Antes do reajuste, os pre�os variam entre R$ 100 e R$ 110. A pol�cia n�o disp�e de estat�sticas, mas a reportagem do Estado de Minas ouviu empreendedores do setor que reclamam da multiplica��o dos casos de furtos e roubos. O medo se espalha no com�rcio especializado e entre os entregadores.

 

Para o transportador, o botij�o levado pelos ladr�es custa mais caro do que o pre�o pago por quem compra o g�s de cozinha. A despesa, considerando-se o valor do vasilhame, pode alcan�ar R$ 300. O preju�zo vai direto para o bolso do transportador, que vende o produto consignado e devolve o que n�o foi comercializado para a distribuidora. Essa � a situa��o de Amarildo Andrade.

 

Na rota que ele cumpre, de Contagem a BH, pela Regi�o Oeste da capital, sofreu na mira de rev�lveres de bandidos v�rias vezes. "Geralmente, eles se aproximam em carros pequenos, em duplas ou trios, nos abordam, tiram dois a tr�s botij�es pequenos e somem. N�o adianta pegar a placa. O carro � roubado e a pol�cia n�o consegue fazer mais nada depois. O preju�zo fica para mim", lamenta. Apesar da recorr�ncia dos crimes de que Amarido foi v�tima, ele diz que a viol�ncia dos assaltos n�o o far� esquecer de nenhum dos epis�dios.

 

 

"Uma vez foi na comunidade da Ventosa. A gente, parado, desceu para levar para o cliente e foi roubado, assim como numa na rua do Bairro Nova Suissa, j� me pararam e roubaram com rev�lver. Aconteceu tamb�m em duas ruas do Salgado Filho. Nesses casos, a gente tem de contar com Deus. Tenho orado muito e a situa��o s� melhora para quem tem f�", afirma Amarildo.

 

T�ticas

Os furtos tamb�m t�m sido frequentes, de acordo com o comerciante. Ele observa a frequ�ncia de dois tipos de ladr�es. Um deles age usando carros pequenos, e acompanham os caminh�es de longe. Quando o ve�culo contendo a carga estaciona, os bandidos agem, geralmente em dupla, levando dois botij�es da carroceria. Em seguida, eles fogem.

 

"Eles estacionam em lugares um pouco afastados, em esquinas e procurando onde n�o h� c�meras para os registrar. Uma vez, na Rua Jos� Alencar (Nova Suissa), levei o g�s para dentro da casa do cliente e deixei o caminh�o estacionado. Quando voltei, tinha uma luva no passeio, ao lado da carroceria. Ali, j� soube que tinha sido roubado, porque a luva ficava em cima dos cilindros. Levaram dois botij�es de 13 quilos cheios. Devem ter sido dois ladr�es, porque uma pessoa, sozinha, n�o leva dois botij�es", observa.

 

O outro tipo de furto frequente que Amarildo diz enfrentar � realizado pelos usu�rios de drogas. "Esses n�o disfar�am muito, contam com a sorte e sabem que n�o ficam presos. Um deles a gente teve de cercar correndo na Avenida Campos Sales (Calafate), gesticulando e falando para ele largar o botij�o que a pol�cia estava vindo at� ele soltar e ir embora. Outra vez, debaixo de chuva, no Jardim Am�rica, um n�ia (usu�rio de entorpecentes) aproveitou a gente na casa do cliente e pegou o botij�o, conseguimos ir atr�s dele e ele tamb�m soltou. J� teve at� nos paradeiros de feriados. Voc� acha que n�o tem ningu�m na rua, deixa o caminh�o e quando volta perdeu um botij�o", lamenta Amarildo.

 

Crime tamb�m lesa os clientes

 

O consumidor pode contribuir para a repress�o ao roubo e � recepta��o de botij�es de g�s de cozinha, desconfiando da oferta de pre�os muito baixos pelo produto. Se da viol�ncia n�o h� muitas formas de os transportadores e revendedores se defenderem, no caso dos furtos algumas estrat�gias podem retardar a a��o dos bandidos.

 

Os receptadores de botij�es roubados s�o encontrados, com frequ�ncia, por um distribuidor de BH que prefere n�o se identificar. A �ltima vez, h� uma semana, eles se depararam frente a frente no Bairro Belvedere, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, e a situa��o quase acabou em trag�dia. "O cliente me comprou dois cilindros de 45 quilos, por R$ 480 cada. Quando cheguei l�, os piratas j� tinham entregado para esse cliente e recebido o valor que eu tinha acertado antes, por que saem de casa em casa oferecendo, e dessa vez coincidiu de ser em uma casa que tinha pedido g�s para minha distribuidora. Acharam que os piratas eram eu. Fui argumentar e os tr�s vieram para cima de mim, um deles grandalh�o, me amea�ando com uma chave de gripo (chave-inglesa), dando socos na minha pick-up", lembra o distribuidor.

 

O cliente, ent�o, entendeu que se tratava de golpe, e teve preju�zo, porque um dos cilindros dos piratas continha apenas a metade do conte�do do botij�o em g�s. "D� para ver que s�o criminosos. Eles n�o t�m nem plotagem nos carros, ou endere�o fixo do dep�sito e isso � proibido, mas ningu�m fiscaliza. Desse jeito, al�m de roubarem os botij�es, ainda os vendem para clientes que poderiam comprar outro de quem trabalha dentro da lei. E a gente sabe que eles v�o migrando. Se venderem hoje no Belvedere, no outro dia v�o para o Sion e descem at� o Centro e os bairros para baixo", afirma.

 

O aumento da viol�ncia e dos casos de entregadores e distribuidores de g�s de cozinha roubados e furtados fez com que o comerciante Ant�nio Morais, de 44 anos, tomasse uma s�rie de medidas de seguran�a na sua revenda na Vila Leonina. "Instalei c�meras, comprei cachorros, fechei tudo com grades e cadeados. Na moto, mesmo, fecho o botij�o com corrente e cadeado. N�o deixo a moto sozinha com o botij�o na rua. Tem de estar sempre onde eu possa ver. Gra�as a Deus ainda n�o me levaram nada, mas h� colegas que j� foram roubados at� no centro de BH, onde voc� acha que tem muito movimento e isso iria afugentar o ladr�o. Acaba � fazendo ele se misturar na multid�o", conta o comerciante.

 

Antônio Morais com botijão de gás protegido por cadeado
Ant�nio Morais adotou medidas de seguran�a, como instala��o de c�meras e cadeados (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 

 

Os receptadores agem de v�rias formas. Segundo Ant�nio Morais, nas comunidades mais pobres, vendem o botij�o a menos de R$ 100. "Ali, tem um mercado forte, porque as pessoas n�o t�m condi��o de comprar pelo pre�o do mercado", avalia. Nos bairros onde a popula��o tem maior poder aquisitivo, a diferen�a � pequena entre os pre�os do botij�o receptado e aquele vendido pelas empresas formalizadas.

 

Atrativos

 

"Se tirar demais do pre�o, o cliente desconfia, ent�o fazem uns pequenos descontos, vendendo g�s de 45 quilos de R$ 480 por R$ 470 ou um pouco menos. Fica disfar�ado de desconto", observa um distribuidor. "J� os noias (usu�rios de drogas) vendem para o receptador baratinho, por R$ 30 a R$ 50, porque querem vender r�pido e precisam comprar a droga do dia com esse dinheiro", observa o comerciante Amarildo Andrade. Segundo o presidente da Associa��o Brasileira dos Revendedores de GLP, Alexandre Jos� Borjaili, a viol�ncia de outros crimes que j� ocorrem no Brasil est� sendo sentida pelos revendedores de g�s de cozinha devido ao alto pre�o do produto. "O botij�o � um atrativo, porque o gasto � alto e o g�s tem encarecido ainda mais. Acrescentou-se a isso a viol�ncia que tem ocorrido no pa�s e que o setor teme piorar. Muitas quest�es de inseguran�a poderiam ser resolvidas com a rastreabilidade do botij�o de g�s, o que dependeria da ANP (Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis)", afirma Borjaili. (MP)

 

Estrat�gias

 

Veja como agem os bandidos, atra�dos pelo aumento dos pre�os do g�s de cozinha

 

 

  • No encal�o das cargas: Usando, em geral, carros pequenos, dois ou tr�s bandidos seguem os caminh�es e motos que entregam os botij�es. Quando motoristas e carregadores deixam o ve�culo estacionado para atender clientes nas resid�ncias, condom�nios e comerciantes, os bandidos aproveitam para saquear a carga  

 

 

  • Abordagem e assalto: Quando os motoristas dos caminh�es de g�s ou motoqueiros de entrega estacionam ou param em cruzamentos ou sinais de tr�nsito, s�o abordados por ocupantes de carros armados que os rendem e levam quantos botij�es conseguirem colocar no carro. Em geral, o ve�culo usado na a��o criminosa � roubado 

 

 

  • Alvo de usu�rios de drogas: Sob chuva, em �reas consideradas vazias e mesmo quando os motoristas e entregadores est�o por perto, os usu�rios de drogas tentam furtar os botij�es. S�o de m�ltiplas tentativas at� acertar, pois geralmente n�o acabam presos 

 

 

  • Oferta de casa em casa: Receptadores e integrantes das quadrilhas oferecem pelos bairros os cilindros que levaram, tocando os interfones de condom�nios e casas. Fingem, muitas vezes, trabalhar para distribuidoras que foram mesmo chamadas pelos consumidores. Nem sempre os botij�es ofertados est�o cheios 

 

 

  • Distribuidores clandestinos: S�o donos de revendas que aceitam receptar os produtos roubados ou furtados, oferecendo pre�os menores, sobretudo, nas comunidades carentes

 

 

Fonte: Distribuidores e entregadores de g�s de cozinha

 


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