Ap�s perder 5 mil p�s de alface em fevereiro, o meeiro Eust�quio Andrade tratou a terra e faz novo plantio, como outros trabalhadores na regi�o de M�rio Campos (foto: Fotos: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Os tons de verde voltaram a colorir o cintur�o de plantio de hortali�as que atende os consumidores da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, ap�s as chuvas intensas do come�o do ano. Os temporais castigaram as pequenas e m�dias planta��es e provocaram altas in�ditas nos pre�os de verduras, legumes e frutas. Esses produtos j� voltaram a florescer nos canteiros, mas a demanda do consumidor ainda � maior que a oferta e a expectativa � de que o desequil�brio persista at� a pr�xima esta��o chuvosa, em setembro, mantendo alto o custo desses alimentos para as fam�lias. Outros dois fatores que pressionam a infla��o dos hortigranjeiros s�o os aumentos das despesas nas lavouras e a eleva��o dos pre�os dos combust�veis, encarecendo o frete do transporte das mercadorias.
No atacado da CeasaMinas, entreposto da companhia de abastecimento em Contagem, na Grande BH, os pre�os disparam, enquanto o volume de produtos oferecidos caiu, diante das planta��es ainda em recupera��o. Estudo feito pela CeasaMinas mostrou redu��o de 3,6% na oferta de hortigranjeiros em fevereiro. As chuvas destru�ram algumas lavouras, como as de cenoura. Entre as hortali�as, o pre�o m�dio aumentou 18%. Ovos ficaram 45% mais caros na negocia��o entre produtores e intermedi�rios devido tamb�m � aproxima��o do per�odo da quaresma.
A situa��o nas hortas de M�rio Campos, Ibirit�, Sarzedo e Brumadinho, cidades no entorno da capital mineira, � de intenso trabalho para recuperar os terrenos e acelerar os plantios. O servi�o come�a as 4h. Contudo, existe uma barreira, a do fornecimento de mudas para quem n�o tem produ��o pr�pria.
A regi�o tamb�m enfrenta dificuldades com o fornecimento de energia. Na �ltima ter�a-feira, diversas equipes da Companhia Energ�tica de Minas Gerais (Cemig) ainda trabalhavam na recupera��o e recomposi��o da rede el�trica. As chuvas encharcaram o solo, provocando muitas quedas de �rvores sobre as redes de fornecimento de eletricidade. Os ventos derrubaram postes em toda a zona rural da regi�o.
Ramon Rodrigues Campos, de 36 anos, � filho de um propriet�rio de sete hectares de plantio de hortali�as em M�rio Campos, Artur Campos Filho, de 71, que sempre trabalhou na produ��o local. O carro-chefe � o chuchu, seguido de br�colis. Cinco meeiros trabalham na �rea. Segundo Ramon, os dois primeiros meses do ano foram “dif�ceis”, at� mesmo para o chuchu, que necessita de muita irriga��o. “Perdemos grande parte da lavoura e o br�colis nem sequer chegou ao in�cio da produ��o, por ser mais sens�vel a grandes volumes de �gua.”
O produtor considera que a recupera��o tem sido positiva. As plantas mortas s�o arrancadas. Contudo, no cultivo do chuchu s�o necess�rios 4 meses entre o plantio e a colheita. “Nunca vi pre�o t�o alto como no in�cio do ano, quando chegou a R$ 100 a caixa de 20 quilos. Nesta semana caiu para R$ 20 a caixa.”, diz o produtor.
O pre�o do combust�vel pesa tamb�m, mas n�o tanto porque a propriedade tem transporte pr�prio, conta Ramon. “Se tiv�ssemos que pagar frete, a hist�ria seria outra”, pondera. Para administrar melhor as despesas, segundo ele, a solu��o � manter os caminh�es carregados tanto na ida quanto na volta do entreposto da Ceasa na Grande BH. “Tudo isso na ponta da caneta para que n�o fiquemos dependentes s� da lavoura.”
Os meeiros das terras de Ramon, Raul Herculano Martins de Souza, de 26, e Edir Catarino da Silva, de 46, come�am o trabalho por volta das 4h. Eles colhem, em m�dia, 100 caixas de chuchu por semana, cada um. Ambos falam do in�cio de 2022 como “o pior” de sua vida no campo. “A colheita foi p�ssima, mas estamos retomando aos poucos e os pre�os est�o muito bons, somados com o retorno de muitas atividades paralisadas pela pandemia.”
'Bate copo'
“Perdemos 85% de tudo o que produzimos”, conta o meeiro Josinei Andrade Faria, de 31, que arrenda uma �rea com outros quatro meeiros. Ele planta alfaces crespa, comum e americana, al�m de coentro, br�colis ninja e comum, e milho durante o per�odo em que o solo tem de ser renovado. A jornada dele come�a a partir de 6h, mas tem de ser antecipada quando o calor se torna intenso ou falta �gua.
Com agilidade, ele “bate copo”, como classifica o ato de proteger pequenas mudas de alface com um copo pl�stico para fazer a capina qu�mica ao redor da planta. A alface que come�a a brotar s� ser� colhida em dois meses, “se o clima estiver bom”, destaca Josinei. A melhor �poca ocorre por volta de junho, quando o clima frio e de pouca chuva ajuda no desenvolvimento da planta. A colheira pode ser feita em 30 dias e � menor a quantidade necess�ria de adubo.
Colhidas diariamente, as verduras s�o repassadas, diretamente, a sacol�es da regi�o metropolitana da capital, sem passar pela CeasaMinas. Segundo o produtor, uma caixa com 36 p�s de alface � vendida ao custo aproximado de R$ 20. “Mas tem variado a cada semana. Os melhores pre�os s�o em janeiro, mas n�o t�nhamos para oferecer.”
Eust�quio dos Santos Andrade, de 42, meeiro h� um ano e meio, planta alface e mostarda. “Em fevereiro, perdemos praticamente tudo. Quando estiou, tratamos a terra e, agora, plantamos de novo. S� de alface perdemos 5mil p�s. N�o tivemos como trabalhar", desabafou.
Nas terras em que Ramon Campos compartilha resultados, plantio de chuchu foi refeito, mas transporte tem custo alto
NO SUFOCO
3,6%
Foi a queda, em fevereiro, da oferta de hotifr�tis no atacado da Ceasa Minas na Grande BH
18%
Foi a remarca��o dos pre�os das hortali�as vendidas no atacado do entreposto de Contagem
No varejo, pre�os mais que dobram
O site de pesquisas de pre�os Mercado Mineiro e o aplicativo ComOferta apuraram significativa eleva��o de pre�os ao consumidor, neste m�s, em sacol�es de Belo Horizonte. As remarca��es foram identificadas em levantamento feito entre os dias 9 e 11 em 18 estabelecimentos da capital na compara��o com as tabelas de janeiro. O repolho comandou os aumentos, com a farta varia��o de 152%. O pre�o m�dio do quilo do produto subiu de R$ 2,51 para R$ 6,34.
O quilo da ab�bora passou a ser vendido a R$ 6,99, frente aos R$ 2,91 anteriores, diferen�a de 140%. Houve reajuste expressivo de pre�os tamb�m para o quilo da cenoura, que foi encontrado a R$ 10,95, em m�dia, 83% a mais que o custo verificado em janeiro, de R$ 5,96. Entre os produtos que tiveram menor aumento frente ao come�o do ano est�o o tomate, a cebola branca, a alface americana e a cebolinha, com altas que variaram de 20% a 30%, mas, ainda assim, apresentando valores expressivos.
O pre�o m�dio do quilo do tomate comum passou de R$ 7,93 para R$ 10,32, aumento de 30%. O quilo da cebola branca subiu de R$ 4,11 para R$ 5,14, acr�scimo de 24,95%. A alface americana ficou 31% mais cara, saindo de R$ 3,99 para R$ 5,24 a unidade. A cebolinha, que custava R$ 1,76, foi encontrada a R$ 2,32 neste m�s, ou seja, 32% mais cara. De acordo com a pesquisa, os �nicos itens que apresentaram queda de pre�os foram a banana-prata, de R$ 6,84 para R$ 5,16, redu��o de 24%, e o abacate, cujo pre�o m�dio do quilo caiu de R$ 12,20 para R$ 8,17, recuo de 33%.
Produtor de mudas, L�cio Oliveira diz que desequil�brio com demanda superior � oferta tende a se manter
Demanda de mudas supera a produ��o
Ap�s dois anos de pandemia de COVID-19, aumento de combust�veis e fretes de transporte, enchentes, tempestades e chuvas de granizo desorganizaram todo o sistema produtivo e de distribui��o. O momento � de preparar a terra e ordenar os plantios das mudas, setor com dificuldades para suprir a grande demanda.
L�cio Moreira de Oliveira, de 65 anos, empres�rio propriet�rio da LM Viveiros, fornece mudas, entre outras, de alfaces crespa, lisa, roxa e americana; acelga, br�colis comum e ninja(japon�s), couve, beterraba, repolho, cebolinha, salsa, coentro, r�cula, em M�rio Campos, Brumadinho, Sarzedo, Ibirit�, BH e Betim. Ele diz que a demanda est� acima da capacidade produtiva da mat�ria-prima.
“As chuvas de janeiro e fevereiro foram muito al�m dos limites. Houve enchentes e muita gente perdeu toda a produ��o. Quem tinha horta, precisou esperar secar para depois preparar a terra e agora adquirir mudas. Ent�o, houve um choque entre o estoque de mudas e a demanda, j� que tudo estava perdido. Os viveiristas n�o estavam preparados para tamanha perda. Se havia mil bandejas, o mercado precisava de 10 mil.”
Segundo o produtor, a expectativa � de que essa defasagem continue com o mercado aquecido. A empresa de L�cio Oliveira conta com oito estufas, cada uma comportando em torno de mil bandejas. Cada bandeja tem 200 c�lulas (mudas). Mesmo assim, a demanda n�o � atendida. Situa��o clim�tica semelhante Oliveira diz ter visto apenas em 1997, “quando as chuvas provocaram inunda��es, mas em menor espa�o de tempo e sem a anteced�ncia de uma pandemia”.
Acima da m�dia
De acordo com o boletim meteorol�gico do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), fevereiro foi um m�s chuvoso em Minas Gerais devido � atua��o de epis�dios da Zona de Converg�ncia do Atl�ntico Sul (ZCAS). As condi��es clim�ticas observadas nos per�odos de 7 a 12 e 18 a 21 do m�s passado, provocaram chuvas frequentes em grande parte do estado, com maiores acumulados na regi�o central mineira, Alto Parana�ba, na �rea metropolitana de Belo Horizonte e Zona da Mata. Os totais mensais variaram aproximadamente entre 100 e 500 mil�metros, tendo superado a m�dia hist�rica para fevereiro em quase todas as regi�es do estado.
Em janeiro, na Regi�o metropolitana de BH, o per�odo seco se deu apenas durante nove dias consecutivos. A precipita��o total mensal superou a m�dia hist�rica em quase todo o estado, situando-se no intervalo m�dio apenas no Leste e no Vale do Jequitinhonha. O final do primeiro dec�nio registrou n�veis superiores a 600 mil�metros na RMBH. (EG)