Com o recente aumento do pre�o da gasolina, os moradores dos munic�pios mais pobres e isolados do estado, situados no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, est�o pagando mais caro pelos derivados de petr�leo do que a popula��o de cidades mais ricas como Nova Lima, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, que tem o maior �ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas Gerais, de 0,813. O custo elevado dos combust�veis nos munic�pios de baixa renda, mostrado pelo Estado de Minas, tem peso maior ainda para os respons�veis por levar alimentos � mesa dos moradores desses lugares: os pequenos produtores. Criado pelo Programa das Na��es Unidas para o Desenvolvimento, o IDH � baseado nos indicadores de educa��o, sa�de e renda.

Os agricultores familiares s�o impactados pelo aumento dos combust�veis por v�rias vezes: quando deslocam at� a �rea urbana para vender a produ��o ou para fazer compras; e tamb�m com o reajuste dos pre�os dos insumos agr�colas, que t�m em sua composi��o mat�ria-prima oriunda do petr�leo. Por serem perec�veis, os hortifrutigranjeiros necessitam ser enviados rapidamente para o mercado consumidor, n�o podendo ser estocados, o que eleva o custo da log�stica. A alta dos combust�veis dificulta a vida dos pequenos produtores dos munic�pios de baixo IDH e tamb�m do Projeto Ja�ba, maior per�metro irrigado da Am�rica Latina, situado no munic�pio hom�nimo, no Norte de Minas.
Um dos que sofrem na pele o problema � Jos� Pedro Aguilar Viana, de 51 anos, agricultor familiar de Coronel Murta (9,2 mil habitantes), cujo IDH � 0,627, no Vale do Jequitinhonha, onde o Estado de Minas encontrou a gasolina mais cara no estado: em um posto, R$ 8,49, um real a mais do que valor comum cobrado em Belo Horizonte; e em outro, a R$ 8,59. Na semana passada, um dos postos da cidade “baixou” o pre�o da gasolina para R$ 8,29 o litro, numa “promo��o”. O litro do �leo diesel em Coronel Murta est� custando R$ 7,59.
Jos� Pedro tem uma pequena propriedade na localidade de Lorena, distante sete quil�metros da �rea urbana de Coronel Murta. Ele n�o possui carro pr�prio: “S� tenho uma motinha”, diz. Por isso, precisa pagar o frete de um ve�culo particular toda vez que se desloca at� a cidade para vender seus produtos, comprar mat�rias-primas ou cuidar de outros compromissos.
“O pre�o do combust�vel aumentou demais. Quase todo o dinheiro que a gente fatura est� indo embora no frete”, reclama o agricultor de Coronel Murta, que tamb�m fornece verduras e hortali�as para a merenda escolar, por meio do Programa de Aquisi��o de Alimentos do governo federal. Ele disse que depois do �ltimo reajuste dos combust�veis est� pagando em torno de R$ 70 pelo transporte entre Lorena e a sede de Coronel Murta.

“Antes, eu pagava de R$ 25 a R$ 30 de frete”, afirma Jos� Pedro, que tem um terreno de 10,24 hectares e faz o plantio de feij�o, hortali�as e frutas em uma �rea de 3 hectares. O cultivo � viabilizado pela �gua de uma nascente na propriedade do pequeno agricultor, recuperada h� poucos anos em programa ambiental apoiado pelo Servi�o de Aprendizagem Rural (Senar).
Planejamento Outro pequeno produtor que sofre os efeitos da alta dos derivados de petr�leo � Manoel Lopes de Oliveira, de 60, morador de Bonito de Minas, de 11,5 mil habitantes , munic�pio norte-mineiro que tem o terceiro pior IDH (0,537) de Minas Gerais. O litro da gasolina est� sendo vendida a R$ 7,85 na cidade, enquanto o pre�o do litro de �leo diesel � R$ 7,35.
Manoel tem uma propriedade de 14 hectares, na localidade de Barreiro Mato, a oito quil�metros da �rea urbana de Bonito de Minas. Ele se desloca at� � cidade, em m�dia, tr�s vezes por semana e faz entregas de casa em casa, vendendo frango caipira, mel, verduras, folhas verdes e outros produtos.
Os deslocamentos s�o feitos em uma motocicleta, adaptada para o transporte dos hortifrutigranjeiros. “Eu estava pensando em comprar um carro. Mas acabei desistindo da ideia. A gasolina est� cara demais”, afirma o agricultor familiar.
Manoel tamb�m � apicultor e usa moto para outras atividades do seu dia a dia, como na captura de abelhas no campo. Ele disse que “n�o tem no��o de quanto desembolsa no posto de combust�veis. Mas calcula que gasta em torno R$ 40 por semana com gasolina. “Mas sempre eu vou a Janu�ria (48 quil�metros de Bonito de Minas). A�, a gente tem que gastar mais ainda com o combust�vel”, acrescenta o pequeno produtor.

“Com a alta da gasolina, toda vez que fazemos uma viagem para vender alguma coisa, a gente precisa planejar direito e aproveitar ao m�ximo a viagem para n�o ter preju�zo”, afirma Manoel de Oliveira. “Se o pre�o do combust�vel continuar subindo e n�o baixar, n�o vai ter como a gente trabalhar”, completa o agricultor familiar.
‘Sem sa�da’ O reajuste dos derivados de petr�leo tamb�m trouxe complica��es para os pequenos agricultores de Ibiracatu, de 5,4 mil habitantes e com IDH de 0,591. O litro de gasolina na cidade est� custando R$ 8,08, enquanto o pre�o do litro de �leo diesel � R$ 7,48.
“O impacto que a gente teve com o aumento do pre�o dos combust�veis foi alto demais. A renda nossa est� sendo muito pouca. Ficamos sem sa�da”, lamenta Valdineide Gon�alves Mendes dos Reis, de 52, pequena produtor da localidade de Bamburral, na zona rural de Ibiracacatu. Todas as sextas-feiras, ele se desloca de carro 15 quil�metros, do seu s�tio at� � cidade, para vender hortali�as na feira livre promovida pela prefeitura.

Ainda em Ibiracatu, o agricultor familiar Reinaldo Rodrigues Ferreira, de 33, da comunidade de Tabuas, vai at� � �rea urbana (distante 10 quil�metros de sua propriedade) uma vez por semana para vender mandioca, laranja, lim�o e outras “coisas da ro�a”. Nos deslocamentos, usa uma motocicleta, ve�culo mais econ�mico.
Mesmo assim, Reinaldo reclama da alta da gasolina. “A nossa margem de lucro com a venda dos produtos reduziu 50 por cento. Com o aumento do pre�o dos combust�veis, o custo das nossas viagens dobrou de seis meses pr� c�”, alega o sitiante.
Conta chega ao consumidor
Os impactos do reajuste dos combust�veis t�m efeito cascata, atingindo os comerciantes de frutas e verduras e chegando ao consumidor final. O reflexo � maior em produtos t�picos de determinadas regi�es do pa�s e que s�o transportados por longas dist�ncias at� chegar ao consumidor final em Minas – por isso, tem maior custo de frete. Isso ocorre com a ma�� (que vem do Rio Grande do Sul) e com o mel�o, produzido no Rio Grande do Norte, por exemplo.
O empres�rio Ricardo Nunes Costa, que trabalha com a venda de frutas e verduras no atacado e no varejo, em Montes Claros, afirma que depois do �ltimo reajuste dos combust�veis houve uma eleva��o de de 10% a 15% dos pre�os de v�rios produtos nos sacol�es. As maiores altas foram da cenoura, da beterraba, da batata inglesa e do mam�o.
O comerciante salienta que o reflexo do aumento dos combust�veis no pre�o das frutas e verduras � maior nas regi�es como o Norte de Minas, que n�o conseguem produzir o suficiente para atender a demanda e que dependem das mercadorias “importadas” de outras partes do estado e do pa�s.
A empresa dele faz o transporte em caminh�es pr�prios e reclama do aumento dos custos em decorr�ncia da disparada nos pre�os dos derivados de petr�leo. “H� meses, o frete da ma�� de Vacaria (RS) at� Montes Claros era R$ 5,80 e agora passou para R$ 10 a caixa. O frete da batata inglesa do Tri�ngulo Mineiro at� o Norte de Minas custava R$ 8 e passou para R$ 10.”
Ricardo Nunes afirma que, muitas vezes, os comerciantes do setor de frutas e verduras n�o conseguem repassar o aumento do custo do frete para o pre�o final das mercadorias. “Estamos em um mercado competitivo. Quando aumenta o pre�o dos combust�veis, os produtores, tanto os grandes quanto os pequenos, t�m um custo de produ��o elevado. N�s (comerciantes) tamb�m perdemos competitividade e margem de lucro. J� o consumidor tem reduzido o poder de compra. Ent�o, todos saem perdendo”, conclui o empres�rio de Montes Claros.
Ricardo Nunes Costa lembra que os alimentos in natura s�o perec�veis. Por essa raz�o, n�o podem ser estocados e precisam ser colhidos quanto atingem o ponto de matura��o e de colheita, devendo ser transportados imediatamente at� os pontos de venda. “Essa condi��o acarreta maiores deslocamentos e mais despesas com frete dos alimentos in natura, que s�o diferentes, por exemplo, de determinados produtos industrializados, que podem ficar meses estocados ou esperar meses para serem transportados”, explica o comerciante.