
Todas as quartas-feiras, ainda antes do nascer do sol, o movimento � intenso na Central de Abastecimento do Norte de Minas (Ceanorte). � o dia da feira livre na unidade, que permite aos pequenos produtores da regi�o a satisfa��o de vender a produ��o e voltar pra casa com algum trocado no bolso. Mas, com o �ltimo reajuste de combust�veis, a alegria deu lugar � preocupa��o e ao receio de preju�zos com o aumento do custo do transporte. Os agricultores reclamam da eleva��o do custo dos insumos, tamb�m consequ�ncia do reajuste dos derivados de petr�leo, por conta do efeito em cascata na cadeia produtiva.
“As despesas com transporte, adubo e outros insumos subiram demais. Se a gente tiver que repassar o aumento do custo para as mercadorias, o povo vai parar de comer”, afirma Gedeon Martins de Souza, pequeno produtor do Projeto Ja�ba (situado no munic�pio hom�nimo). Gedeon conta que transporta sua produ��o em um pequeno caminh�o, de sua propriedade, do Projeto Ja�ba at� Montes Claros (dist�ncia de 285 quil�metros).
A cada viagem, carrega batata doce, mandioca,lim�o e goiaba, entre outras verduras e frutas que produz numa �rea de 18 hectares no per�metro irrigado do Ja�ba. Na Ceanorte, vende as caixas dos produtos para atravessadores ou varejistas, que revendem os produtos para o consumidor final.
O assentado do Projeto Ja�ba salienta que o grande problema dos pequenos agricultores com a eleva��o do pre�o dos combust�veis sobe � que a categoria n�o consegue embutir, imediatamente, o aumento de custos do frete nos pre�os de venda dos seus produtos. “O aumento dos combust�veis foi muito ruim porque antes a gente tinha retorno. Agora, estamos praticamente pagando para trabalhar. Do jeito que as coisas est�o indo, aumentando os combust�veis e os insumos, dentro de alguns meses vai faltar mercadoria no mercado, pois os agricultores n�o v�o ter mais condi��es de plantar. As coisas est�o caras demais”, alerta.

A reclama��o de Gedeon � a mesma de Genilson Santos Pereira, outro pequeno agricultor da comunidade de Planalto Rural, do munic�pio de Montes Claros (distante 20 quil�metros da �rea urbana). Genilson explica que os pequenos produtores n�o conseguem repassar o aumento do frete para as frutas e verduras por causa da sazonalidade dos produtos agr�colas. Ou seja: nos per�odos de safra, os pre�os das mercadorias baixam em fun��o da lei da oferta e procura.
Queda no consumo “A gente tem que obedecer o pre�o de mercado. Se n�o baixar o pre�o e voltar com as mercadorias pra tr�s, o preju�zo � dobrado”, argumenta Genilson . Ele informou que gastava R$ 60 com combust�vel para ir at� a Ceanorte vender frutas e verduras. Agora, gasta R$ 100 em cada viagem, feita numa picape Saveiro, de sua propriedade.
“O custo de produ��o est� muito alto”, diz Gilmar Pereira Silva, outro pequeno produtor de Planalto Rural. Ele vai at� a cidade (dist�ncia de 20 quil�metros) em carro pr�prio para vender as verduras que produz. “Antes do aumento (da gasolina), eu gastava R$ 200 por semana. Agora, gasto R$ 300 por semana com o transporte”, descreve o pequeno agricultor.
Tamb�m de Planalto Rural, o agricultor Hugo Rafael Leal de Souza afirma que, al�m de serem “penalizados” pela alta dos combust�veis e dos insumos, os pequenos produtores tamb�m sofrem com a perda do poder de compra da popula��o, que, segundo ele, “ficou empobrecida e reduziu o consumo”. “Al�m disso, quando aumenta a oferta das verduras e frutas, mesmo com o aumento do custo de produ��o, a gente n�o consegue elevar o pre�o dos nossos produtos”, conclui.

Sem poder de barganha, pequenos sofrem mais
O agr�nomo e consultor Pierre Santos Vilela, do Sebrae Minas, afirma que o reajuste do pre�o da gasolina tem efeitos em toda a cadeia produtiva e pesa mais ainda para os pequenos agricultores. “O aumento de combust�veis impacta toda a cadeia produtiva, tanto antes da porteira, por causa do aumento dos insumos, como depois da porteira, quando os agricultores saem para comercializar a produ��o. Ent�o, h� aumento do custo de log�stica tamb�m”, observa Santos Vilela.
“Naturalmente, quando o pequeno agricultor sai de sua propriedade para transportar a produ��o, ou quando um comprador chega � sua propriedade para buscar a mesma produ��o, ele (o produtor) arca com o custo para que seus produtos cheguem at� o mercado consumidor. Este � um custo perverso, que acaba minando a lucratividade das pequenas lavouras”, observa o especialista.
O consultor do Sebrae Minas lembra que os pequenos agricultores s�o mais dependentes dos intermedi�rios e do mercado varejista dos munic�pios onde exercem a atividade. Por isso, t�m mais dificuldades em repassar o aumento de custos para os pre�os das verduras e frutas que produzem. Ele lembra que os agricultores familiares tamb�m pagam mais caro pelos insumos agr�colas por adquirir quantidade menores dos adubos e defensivos, sem ter o mesmo poder de barganha e de descontos obtidos pelos grandes produtores.

A professora e economista V�nia Vilas Boas, do �ndice de Pre�os ao Consumidor (IPC) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), salienta que a alta dos combust�veis “afeta todos os custos log�sticos”, sobretudo, em rela��o ao transporte. “Quando tratamos do agroneg�cio, vamos verificar que h� impactos em todas as camadas produtivas, desde os pequenos agricultores aos produtores de porte mais elevado. Al�m do transporte, sabemos que na produ��o agr�cola utiliza-se muito dos combust�veis no manuseio de m�quinas e equipamentos”, observa.
Cooperativas A economista assegura que, de fato, os pequenos produtores t�m dificuldades para repassar o aumento do custo do transporte para seus produtor por causa da sazonalidade. “Existem per�odos de grande produ��o de determinados produtos. Nesses per�odos, como tem muita oferta do produto no mercado, o pre�o cai. Neste caso, o pequeno produtor, que normalmente n�o tem diversifica��o da produ��o, acaba ficando no preju�zo, sem alcan�ar uma rentabilidade que possa cobrir os seus custos”, relata a coordenadora do IPC/Unimontes.
Ela diz ainda que uma estrat�gia para o pequeno produtor minimizar os custos do transporte e n�o ficar na depend�ncia de atravessadores � recorrer ao associativismo. “Os agricultores devem se filiar a uma cooperativa, onde possam entregar seus produtos sem a necessidade de deslocar para locais distantes e, assim, reduzir o custo log�stico”, recomenda a economista.