
Depois de enfrentar dois anos de pandemia de COVID-19, a ind�stria brasileira v� agora a guerra provocada pela R�ssia � Ucr�nia reavivar uma crise que se esperava superada, com desarranjo das cadeias globais de suprimentos, infla��o global pressionando custos de produ��o e taxas de juros em alta.
Com esse quadro, a Confedera��o Nacional das Ind�strias (CNI) reduziu a proje��o de crescimento econ�mico do Brasil este ano, de 1,2% previsto no fim de 2021 para 0,9% agora, com proje��o de um tombo de 2% na ind�stria de transforma��o. Para o presidente da CNI, o cen�rio de elei��o presidencial polarizada entre esquerda e direita, com pouco tempo para surgimento de um nome da terceira via, � mais um fator no cen�rio de dificuldades do setor.
Com esse quadro, a Confedera��o Nacional das Ind�strias (CNI) reduziu a proje��o de crescimento econ�mico do Brasil este ano, de 1,2% previsto no fim de 2021 para 0,9% agora, com proje��o de um tombo de 2% na ind�stria de transforma��o. Para o presidente da CNI, o cen�rio de elei��o presidencial polarizada entre esquerda e direita, com pouco tempo para surgimento de um nome da terceira via, � mais um fator no cen�rio de dificuldades do setor.
“Com todas essas dificuldades este ano, dificilmente a gente poderia esperar um cen�rio melhor do que esse que est� previsto. Acredito v� ter mesmo um cen�rio um pouco pior do que este, com um crescimento menor ainda da ind�stria brasileira”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Mesmo com a polariza��o nas elei��es, a CNI est� elaborando um conjunto de propostas do setor para apresentar aos candidatos � Presid�ncia da Rep�blica, com prioridade para a reforma tribut�ria e medidas para reduzir o Custo Brasil, que, segundo ele, suga R$ 1,5 trilh�o da economia, e para estimular o setor.
“O problema que n�s enfrentamos no Brasil � a falta de uma pol�tica industrial de longo prazo”, ressalta Robson Andrade, em entrevista ao Estado de Minas. Leia abaixo os principais trechos.
Mesmo com a polariza��o nas elei��es, a CNI est� elaborando um conjunto de propostas do setor para apresentar aos candidatos � Presid�ncia da Rep�blica, com prioridade para a reforma tribut�ria e medidas para reduzir o Custo Brasil, que, segundo ele, suga R$ 1,5 trilh�o da economia, e para estimular o setor.
“O problema que n�s enfrentamos no Brasil � a falta de uma pol�tica industrial de longo prazo”, ressalta Robson Andrade, em entrevista ao Estado de Minas. Leia abaixo os principais trechos.
Como a ind�stria est� vendo o cen�rio e expectativas em ano de elei��es, com infla��o alta e guerra na Ucr�nia. A CNI refez as expectativas de um crescimento do PIB de 1,2% no fim de 2021 para 0,9% agora. A expectativa � que isso possa se deteriorar ainda mais ou que possa melhorar? O que a ind�stria brasileira espera do ano de 2022?
A gente est� vivendo no mundo inteiro um momento de muita dificuldade. A gente j� vinha com o sistema de produ��o, as cadeias globais desorganizadas por causa da pandemia da COVID-19 e a� veio essa guerra da Ucr�nia, que est� tendo um impacto muito grande tamb�m nas cadeias de valores e na infla��o no mundo inteiro. Hoje a gente v� que a infla��o � mundial, � global, e nenhum pa�s est� isento desse processo, principalmente agora por causa da guerra na Ucr�nia, uma vez que a pandemia, de uma certa forma, tem um controle maior, as pessoas est�o vacinadas e a vacina��o est� se mostrando efetiva. A ind�stria brasileira convive com essa situa��o de infla��o alta, elevada, e que at� nos surpreendeu nesse m�s passado, com uma infla��o maior do que o previsto. Por outro lado, um aumento de juros, que faz com que o consumo das fam�lias, das pessoas, caia bastante. E o que mais impacta, na realidade, � a incerteza que esse conjunto de problemas traz tanto para a economia quanto para a vida das pessoas. Voc� convive com uma situa��o em que as pessoas est�o preocupadas com a economia, com COVID, com a guerra, at� onde essa guerra vai chegar, isso faz com que haja uma redu��o grande no consumo e consequentemente nos investimentos.
E as elei��es...
O Brasil ainda tem agora este ano uma elei��o que est� polarizada entre esquerda e direita e acho que a possibilidade de aparecer uma terceira via que se falava est� cada vez mais distante. N�s vamos ter que discutir programas e projetos de dois extremos. Eu n�o estou dizendo que � extrema esquerda nem extrema direita, mas s�o dois projetos completamente diferentes. A ind�stria brasileira, que tem investido muito em tecnologia, em inova��o, est� procurando cada vez mais se inserir num mercado global, buscando alternativas para sua produ��o, para seus neg�cios, com todas essas dificuldades e eu acho que este ano dificilmente a gente poderia esperar um cen�rio melhor do que esse que est� previsto. Acredito que a gente vai ter mesmo um cen�rio um pouco pior do que este, com um crescimento menor ainda da ind�stria brasileira.
''As pessoas est�o preocupadas com a economia, com COVID, com a guerra, at� onde essa guerra vai chegar. Isso faz com que haja uma redu��o grande no consumo e consequentemente nos investimentos''
O senhor acha que a polariza��o nas elei��es pode gerar dist�rbios e amea�a institucional no Brasil hoje?
N�o. N�o vejo n�o. Acho que o Brasil � um pa�s maduro e, mesmo com as discuss�es que existem, � um pa�s que tem bases s�lidas na democracia, as discuss�es s�o naturais e acho que o povo brasileiro tem que entend�-las, procurar pensar nas elei��es, porque agora, tanto na quest�o da C�mara, do Senado, governador e presidente da Rep�blica, n�s temos que pensar que o que decidirmos vai impactar os nossos pr�ximos quatro anos. Ent�o, a gente tem que pensar bem.
Na apresenta��o do Semin�rio dos 200 anos da Independ�ncia, o senhor fez men��o a demandas da ind�stria que pareceram as mesmas de 20 anos, do tempo do governo FHC, como reforma tribut�ria, redu��o do custo Brasil. Ainda � essa a agenda da ind�stria? A ind�stria vai apresentar uma agenda aos candidatos?
A princ�pio parece que a agenda � a mesma, mas na realidade, nesses �ltimos anos, n�s avan�amos muito e em muitas coisas. Posso citar, por exemplo, para voc� a independ�ncia do Banco Central, que era uma das demandas da ind�stria, o Marco Regulat�rio do G�s, de energia, o Marco Regulat�rio do Saneamento, as privatiza��es e as concess�es. Ent�o houve um avan�o e a gente tem que dar o cr�dito ao Congresso Nacional, porque o Congresso realmente trabalhou muito nessas agendas, por exemplo, da Reforma Trabalhista, da Reforma da Previd�ncia, e aconteceram muitos avan�os. � claro que a gente ainda continua com a quest�o da reforma tribut�ria na pauta como sendo uma das quest�es mais urgentes que o Brasil precisa. Essa sim, vem desde a �poca do Fernando Henrique Cardoso (presidente do Brasil entre 1995 e 1998 e de 1999 a 2003). E nos lan�amentos das agendas legislativas, desde a �poca do Fernando Henrique Cardoso que a gente tem recebido o compromisso do Congresso com a aprova��o de uma agenda, mas ela nunca aconteceu. � claro que a reforma tribut�ria � uma agenda dif�cil, n�o � f�cil porque impacta todos os setores e ningu�m quer perder, todos querem ganhar e a� n�o tem solu��o. Mas acho que avan�amos muito. Hoje a PEC 110, que est� no Senado, j� est� muito bem assimilada por todos os setores e existe um acordo pr�vio. Continuo com a expectativa de que ela possa ser votada no Senado este ano ainda, mesmo com esse processo das elei��es. O presidente Rodrigo Pacheco tem dado diversas sinaliza��es de que essa reforma ainda vai ser analisada e votada no Senado nesta legislatura. N�s temos trabalhado e esse seria o principal avan�o este ano, uma vez que entendemos que num per�odo de junho at� outubro e novembro os parlamentares estar�o muito voltados para as quest�es das elei��es e a atividade legislativa vai ser de pouco resultado. Mas estamos esperando que essa reforma seja aprovada no Senado.
E em rela��o ao Custo Brasil, o que ainda precisa ser feito para que a ind�stria possa competir globalmente. O que se precisa fazer em termos de reduzir o custo Brasil?
No in�cio do governo Bolsonaro, no segundo ano do governo do presidente Jair Bolsonaro, a Secretaria de Produtividade e Competitividade do Minist�rio da Economia, junto com algumas associa��es setoriais da ind�stria elaboraram um estudo, com apoio de algumas consultorias, voltado para identificar alguns pontos do Custo Brasil e foram identificados a� 12 pontos principais que trazem um custo adicional de R$ 1,5 trilh�o para a ind�stria sem que isso represente nenhum ganho para o setor p�blico ou que traga algum benef�cio. Esse estudo aborda alguns itens como o problema da burocracia, o problema tribut�rio, a inseguran�a jur�dica... algumas quest�es. A partir da�, com o apoio da CNI, foi criada tamb�m uma Frente Parlamentar do Custo Brasil, conduzida pelo deputado Alexis Foteyne (Novo-SP), que tem trabalhado nesses pontos espec�ficos que fazem com que nossos produtos, os nossos bens e os nossos servi�os fiquem com um custo mais elevado sem que traga benef�cio para nenhum setor. Por exemplo, a burocracia tem um custo elevado para n�s e n�o traz benef�cio nem para o setor p�blico nem para o setor privado. A inseguran�a jur�dica que n�s temos na formula��o de leis e de propostas e a��es da Justi�a que a cada momento impactam tamb�m no custo das empresas de todos os setores da economia � outro problema. Ent�o, estamos trabalhando nesses itens do Custo Brasil e temos hoje o apoio da Frente Parlamentar para reduzir exatamente essas quest�es. Agora, muitas delas dependem apenas do Executivo e algumas dependem do Legislativo. Ent�o, a gente continua trabalhando tanto com o Legislativo quanto com o Executivo pra melhorar essa quest�o. Acho que a gente est� avan�ando, mas n�o na rapidez que o mercado exige ou que a iniciativa privada gostaria.
Tem algum ponto espec�fico que se avan�ou?
A pr�pria reforma tribut�ria avan�ou um pouco. N�o est� conclusa ainda.
Esses avan�os j� se fazem sentir no dia a dia das empresas depois desses dois anos, j� � percept�vel do ponto de vista de resultado, de al�vio?
Acho que muitas coisas avan�aram, tanto na parte de cr�dito, na libera��o de recursos que ajudaram a micro e pequena empresa, a m�dia empresa, na parte de garantias teve muitos avan�os sim e temos que reconhecer que avan�amos. Tamb�m o Minist�rio da Economia tomou algumas decis�es que foram importantes para as empresas atravessarem esse per�odo dif�cil nessa parte de libera��o de cr�dito, redu��o recente do IPI em 25% para todos os setores. Por exemplo, esse do IPI foi um ponto importante, ainda estamos trabalhando para que essa redu��o do IPI seja at� mais forte e chegue a pelo menos 50% de redu��o no IPI
''Precisamos retomar essas premissas de ter uma pol�tica industrial e isso se faz com o Executivo e o Legislativo atrav�s de propostas que realmente possam ser implantadas no longo prazo''
Essa redu��o de imposto com infla��o de custo alta para a ind�stria, at� que ponto ela vai chegar ao consumidor considerando que a ind�stria com uma infla��o alta est� apertada para repassar pre�os, como custo de energia e de petr�leo, e pode usar o imposto para recompor margem.
Primeiro, essa crise energ�tica � uma crise global tamb�m. O mundo inteiro passa por uma crise de energia. O problema � que temos no Brasil hoje, talvez, a energia mais cara do mundo. Mesmo com essa redu��o agora dos 20% por causa da bandeira tarif�ria, a gente ainda continua com um custo de energia muito elevado. Por outro lado, o Brasil � um dos poucos pa�ses que tem uma energia limpa e tem condi��es de aumentar muito a produ��o de energia limpa, tanto na parte e�lica e solar, quanto na energia verde, com o hidrog�nio verde. Acontece que esses investimentos n�o s�o r�pidos, quando a gente pensa em energia, os investimentos s�o projetados para seis anos, 10 anos e voc� n�o tem condi��es no setor energ�tico de fazer investimentos de curto prazo. O mundo inteiro n�o tem uma solu��o r�pida de substitui��o de energia f�ssil por energias renov�veis. O Brasil tem esse custo elevado de energia devido a carga tribut�ria que os governos estaduais colocaram em cima da energia. Uma vez que � f�cil a cobran�a, todos os estados aumentaram muito a cobran�a das tarifas e os impostos sobre a energia. Agora, com rela��o ao impacto no pre�o final para o consumidor, voc�, quando tem a redu��o de impostos, como foi o caso agora com o IPI, uma parte chega sim ao consumidor, eu n�o posso te afirmar que � a totalidade, mas o que acontece � que como n�s estamos num momento de baixa demanda, exatamente pela infla��o, pelas inseguran�as, pelas incertezas que o mundo est� nos impondo agora, e nessa baixa demanda a tend�ncia � que voc� procure reduzir o pre�o de venda para participar de um mercado melhor e maior, ent�o uma parte disso, a ind�stria faz um esfor�o para que chegue ao consumidor. Temos que considerar que o desejo da camada mais carente da popula��o, pessoas de baixa renda, � de consumo de bens, n�o de servi�os. Querem consumir casa pr�pria, autom�vel, fog�o, geladeira, vestu�rio e cal�ados, s�o bens. Ent�o, para participar desse mercado, vendo que os consumidores est�o retra�dos, a possibilidade que existe para a ind�stria � reduzir os pre�os no mercado consumidor. Claro que tem tido aumentos significativos, principalmente nos produtos voltados para alimenta��o. Mas esse custo adv�m de importa��es, de combust�vel, de energia e tem subido muito ultimamente, principalmente devido ao mercado global.
O mercado externo � sempre uma porta para a ind�stria colocar os seus produtos. Como a queda do d�lar est� afetando, porque o d�lar caro mascara esse custo Brasil, essas inefici�ncias existentes na pr�pria estrutura da economia brasileira? At� que ponto a queda do d�lar vai afetar a exporta��o das ind�strias?
Olha, � claro que voc� tem mais conforto para exportar quando tem um d�lar mais elevado. Quando voc� tem a� uma paridade cambial elevada, voc� fica mais competitivo. Por outro lado, acho que a ind�stria hoje, o setor industrial hoje, � respons�vel por 70% das exporta��es brasileiras, porque quando voc� pensa, por exemplo, no agroneg�cio, uma grande parte dele � da ind�stria. As exporta��es de carnes processadas, de alimentos processados, isso tudo est� no bolo da ind�stria brasileira. Ent�o, voc� tem mercados que s�o j� bem consolidados, consumidores que s�o bem consolidados e independentemente do d�lar voc� continua exportando. N�s temos uma competitividade pr�pria, principalmente nesse setor da agroind�stria, que continua a exportar bastante, independente do pre�o do d�lar. Outros setores da economia, como minerais, o pr�prio petr�leo tamb�m n�s continuamos com uma exporta��o bastante elevada. As dificuldades s�o mais com os produtos semimanufaturados. Esses, sim, ficam com mais dificuldades por dois motivos: primeiro pela queda do d�lar e segundo porque o mercado mundial tamb�m est� reduzindo, est� em uma fase de.. eu n�o digo de recess�o, mas uma fase de baixo consumo. Ent�o essa ind�stria manufatureira � a que mais tende a perder com o d�lar baixo. Por outro lado, o d�lar baixo tamb�m facilita as importa��es de insumos, ent�o � tudo uma compensa��o, voc� tem a importa��o de certos insumos, principalmente para o setor de medicamentos, que voc� reduz muito o custo. Acredito que vamos continuar exportando, setores da ind�stria como eu te falei, o setor mineral, a agroind�stria, esses setores v�o continuar exportando bastante.
E o impacto da guerra?
A guerra, pelo posicionamento no mercado internacional, � realmente muito dura, n�o � simples. Al�m de ter havido uma redu��o no mercado internacional pela compra de produtos, os pa�ses todos est�o investindo muito nas suas ind�strias. Por exemplo, voc� v� os Estados Unidos incentivando muito a ind�stria local para que seja menos dependente de compras internacionais. E outros pa�ses est�o tomando o mesmo rumo. A Alemanha, por exemplo, tem investido mais na sua ind�stria. S�o pontos diferentes. Por outro lado, isso est� mostrando que o que � importante na economia hoje, no mundo, pelo menos nos principais pa�ses, � exatamente a industrializa��o, o aumento da capacidade industrial de cada um. A Alemanha quer fazer isso, a Fran�a j� est� fazendo, protegendo e incentivado a ind�stria local e os Estados Unidos j� vinham e continuam fazendo, continuam investindo muito no aumento da sua capacidade industrial.
O Brasil tem condi��es de fazer isso? O senhor citou que a ind�stria de transforma��o perdeu participa��o no PIB ao longo dos anos. Alguns especialistas da USP j� discutem e falam em uma desindustrializa��o no Brasil Como o Brasil pode fortalecer a ind�stria num mundo que est� cada vez menos globalizado.?
N�o s�o solu��es simples nem r�pidas, mas o que acontece � que o Brasil, desde a �poca do Fernando Henrique Cardoso, do Itamar Franco, nunca teve uma pol�tica industrial de fato e at� alguns presidentes, como o pr�prio presidente Fernando Henrique, ele acreditava que n�o precisava haver uma pol�tica industrial. Ele at� falava: 'Bom, se uma ind�stria fechar vem outra'. O que n�o � verdade. Ent�o, acho que esse � o problema que n�s enfrentamos no Brasil: a falta de uma pol�tica industrial de longo prazo. N�s trabalhamos muito, estamos trabalhando com todos os setores, tanto do Executivo quanto do Legislativo, sobre a necessidade de termos uma pol�tica industrial de longo prazo, uma pol�tica que permita que os investidores voltem a ter um olhar para os investimentos industriais, produtivos, sejam eles micro, pequenas e startups, que hoje est�o tendo muito sucesso. Ent�o essa pol�tica industrial � que vai fazer com que o Brasil possa realmente voltar a ter uma ind�stria que seja relevante e importante no mundo inteiro. Temos hoje uma ind�stria muito diversificada, � verdade que a gente continua no cen�rio mundial ainda estando a� entre as oito principais parques industriais do mundo, mas temos uma capacidade de aumentar muito isso, deixar de exportar produtos in natura para exportar produtos manufaturados. Mas dependemos dessa pol�tica industrial de longo prazo, que passa por quest�es como investimento em inova��o e tecnologia, forma��o e qualifica��o de trabalhadores, linhas de cr�dito de longo prazo para investimentos compat�veis com os resultados industriais, porque na ind�stria as margens s�o muito menores �s vezes do que em outros setores da economia. Ent�o, tudo isso faz parte de um projeto que estamos discutindo, apresentando para os candidatos para que se possa fazer com que o Brasil volte a ter uma ind�stria importante. Precisamos retomar essas premissas de ter uma pol�tica industrial e isso se faz com o Executivo e o Legislativo atrav�s de propostas que realmente possam ser implantadas no longo prazo. Agora, por outro lado, quando a gente olha a participa��o da ind�stria no PIB no in�cio dos anos 1990, de l� para c� houve muita mudan�a tecnol�gica que deixou de classificar determinadas atividades como industriais e passou a classific�-las como servi�os industriais. Analisar simplesmente o n�mero de que a ind�stria tinha uma participa��o no PIB de 33% e caiu para 21% n�o � s� o fato da desindustrializa��o, a desindustrializa��o � o mais importante, mas tamb�m tem outras quest�es a serem levadas em conta.
Como a ind�stria brasileira se posiciona hoje na agenda de ponta, que dizer ind�stria 4.0, na transi��o energ�tica ou seja, como est� o setor hoje do ponto de vista de tecnologia e inova��o e onde ele pode chegar?
A parte de inova��o e tecnologia � uma das principais agendas da CNI, por meio da Mobiliza��o Empresarial para Inova��o, onde reunimos mais de 400 CEOs de grandes empresas inovadoras e grandes empresas que investem em inova��o e tecnologia. O objetivo que temos na CNI � fazer com que a inova��o e tecnologia estejam no centro do planejamento estrat�gico das empresas industriais brasileiras de tal forma que a empresa brasileira tenha consci�ncia clara de que o caminho do sucesso de longo prazo tem que ser atrav�s da inova��o e da tecnologia e a gente tem conseguido isso; cada vez mais as empresas est�o investindo em inova��o e tecnologia. Para voc� ter uma ideia, hoje 70% dos investimentos em inova��o e tecnologia � o setor industrial privado que tem feito. Infelizmente, temos no Brasil poucos recursos governamentais para investimento em inova��o e tecnologia. At� o ano passado, para voc� ter uma ideia, os recursos do FNDCT, que � o fundo de desenvolvimento tecnol�gico e cient�fico, havia a possibilidade de contingenciamento e a partir do ano passado foi aprovado no Congresso Nacional um projeto para que esse fundo n�o possa mais ser contingenciado. Ent�o, isso j� vai ser um facilitador Este ano, por exemplo, vamos ter no Or�amento perto de R$ 8 bilh�es para investimentos em ci�ncia e tecnologia, enquanto em anos anteriores o valor total ficava pr�ximo de R$ 1 bilh�o. E investir em tecnologia e inova��o � caro para as empresas, porque nem sempre voc� tem sucesso no seu processo de inova��o e de mudan�as tecnol�gicas, ent�o precisa ter financiamentos de longo prazo, condizentes com as condi��es de mercado. Por outro lado, tamb�m o Senai investiu no Brasil mais de R$ 4 bilh�es em institutos de inova��o e institutos de tecnologia. Hoje, temos no Brasil a maior rede de institutos de inova��o da Am�rica Latina. S�o 26 institutos de inova��o e 62 institutos de tecnologia espalhados no Brasil com parcerias internacionais, as melhores que voc� pode imaginar, com o IMT, com o Instituto Fraunhofer, com universidades de Israel, do Reino Unido, da Fran�a. Ent�o, acho que essa quest�o come�a a ser sedimentada no planejamento das empresas e dos empres�rios de que investir em inova��o n�o � uma op��o � uma necessidade.
Hoje se fala muito em economia circular. A CNI tem alguma agenda para disseminar esse conceito pelos setores industriais?
Quem come�ou todo esse processo de economia circular no Brasil foi a CNI, junto com grandes empresas e come�amos isso a tr�s ou quatro anos e estamos trabalhando com muitas empresas e muitos setores espec�ficos, desenvolvendo metodologias e processos para que a economia circular seja uma realidade em setores em que voc� tem mais possibilidades, como os de bebidas, alimentos, cimento. Ent�o, em algumas �reas temos trabalhado muito com esse conceito de economia circular e est� avan�ando muito no Brasil essa possibilidade da economia circular. Agora, estamos trabalhando muito nas empresas com a quest�o da sustentabilidade, de realmente a gente cumprir as metas dos acordos internacionais de redu��o de gases do efeito estufa, preserva��o de florestas, negocia��o no mercado de carbono, quer dizer, essa tamb�m � uma agenda nossa.
E a quest�o do emprego na ind�stria
N�s temos hoje uma dificuldade que � a quest�o do emprego. Muito se fala no Brasil de um n�vel de desemprego a� de 13 milh�es, 12 milh�es, 11 milh�es de pessoas. O Brasil tem muitos paradoxos. Estamos pesquisando por que voc� n�o acha trabalhador, por que determinados setores que est�o querendo contratar, precisando contratar, n�o encontram pessoas interessadas. Por exemplo, a constru��o civil, no Brasil inteiro, o setor est� precisando contratar e n�o encontra pessoas interessadas. Onde est� o desemprego? O setor de alimentos, eu vou te falar, por exemplo, o Mato Grosso do Sul tem dificuldade enorme para contratar pessoas para o setor de alimentos. Algumas empresas de Santa Catarina, do setor de alimentos tamb�m est�o deixando de fazer investimentos, produtivos, n�o s� da ind�stria, mas da �rea de servi�os, porque n�o acham trabalhador, porque n�o encontram gente disposta a trabalhar
E por qu�? Os senhores est�o pesquisando e descobriram o qu�?
Tenho uma teoria que n�o est� comprovada. Mas o que acontece � o seguinte: hoje voc� tem o Aux�lio Brasil, que d� R$ 400; muitas pessoas conseguem o aux�lio Brasil e, �s vezes, na mesma fam�lia duas pessoas conseguem o aux�lio Brasil j� vai para R$ 800. Quando voc�, em vez de voc� trabalhar, por exemplo, trabalha como diarista, com um servi�o aut�nomo, fazendo algum servi�o, ent�o voc� acaba tendo uma remunera��o maior do que se tiver um trabalho fixo. Essa � uma possibilidade que estamos analisando, at� para informar para o governo porque eu sei que � verdade, alguns estados brasileiros, principalmente do Norte e do Nordeste, as pessoas n�o t�m, �s vezes, muita oportunidade de trabalho e dependem realmente do Aux�lio Brasil para ter um m�nimo de condi��o de sobreviv�ncia. Mas em regi�es do Sul, do Sudeste e algumas do Centro-Oeste voc� tem disponibilidade de emprego e n�o acha quem queira trabalhar. A realidade � essa. E olha, no setor agr�cola tenho conversado tamb�m com muitas pessoas e voc� n�o acha a pessoa disposta a trabalhar numa fazenda e numa produ��o agr�cola. No Brasil se fala muito do desemprego, mas voc� n�o acha as pessoas com vontade de ter um emprego fixo porque hoje voc� tem muita pol�tica social que garante um resultado maior do que ter um emprego fixo.
Mas isso n�o � porque o sal�rio � baixo?
N�o � verdade, porque, por exemplo, no Mato Grosso do Sul, em uma ind�stria do Mato Grosso do Sul, o menor sal�rio � R$ 1.600 l�quidos. Se duas pessoas de uma mesma fam�lia recebem o Bolsa-fam�lia j� s�o R$ 800 e se essas duas pessoas fazem servi�os de diarista, de bico, eles v�o ganhar mais. Agora um sal�rio de R$ 1.600, R$ 1.800, voc� fala � baixo, mas tamb�m a ind�stria n�o tem condi��o de pagar um sal�rio maior. Ent�o, se as coisas fossem f�ceis, qualquer um de n�s resolveria, mas as solu��es s�o complexas.
Tem programa de qualifica��o de m�o de obra, como o Senai est� atuando?
Temos mais de 3 milh�es de pessoas por ano se qualificando no Senai no Brasil inteiro. Temos tamb�m 1,7 milh�o de trabalhadores em programas do Sesi, que v�o desde educa��o at� sa�de e seguran�a. E 85% das pessoas que v�o para o Senais saem quase que com um emprego garantido, mas isso n�o � suficiente.
E para o futuro, o que esperar?
Temos avan�ado sempre, estamos fazendo semin�rios para discutir os 200 anos da Independ�ncia e se olharmos para tr�s vemos que vai avan�ando. A gente gostaria de avan�ar mais r�pido e espero que a gente n�o leve 200 anos para resolver nossos problemas. Independentemente dessas discuss�es da pandemia, temos o melhor sistema de sa�de do mundo, universalizado para todos. Tirando a quest�o da COVID dessas an�lises, porque ficou muito ideol�gica essa quest�o, mas o sistema � excelente. Precisamos muito, muito ter como prioridade nossa ter investimento na educa��o. Temos que ter prioridade zero, porque s� atrav�s de uma sociedade educada com conhecimento com forma��o com possibilidade de melhoria de vida, porque o importante � voc� ter um sistema que d� as mesmas oportunidades para todos.