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Estado de Minas MERCADO DE TRABALHO

�vidos por chances, jovens embalam rotatividade no mercado de trabalho

Empregados com menos de 30 anos puxam os quase 500 mil pedidos de demiss�o mensais no pa�s, diz estudo. Quadro � risco para a produtividade, alerta consultor


25/04/2022 04:00 - atualizado 24/04/2022 22:35

'Minha pretensão é crescer na empresa e ela permite isso', destaca Jonathan Felipe, que trocou de emprego em busca de oportunidades
"Minha pretens�o � crescer na empresa e ela permite isso", destaca Jonathan Felipe, que trocou de emprego em busca de oportunidades (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Insatisfa��o com as condi��es de trabalho, possibilidade de plano de carreira e busca por melhores sal�rios. Esses tr�s fatores foram determinantes para que o jovem Jonathan Felipe, de 25 anos, se arriscasse ao pedir demiss�o do restaurante em que trabalhava para atuar em outro emprego. A mudan�a surtiu efeito e permite que ele agora sonhe com voos mais altos. Ex-auxiliar de cozinha, Jonathan se tornou cozinheiro e recebe um pouco mais para atuar em outra empresa do ramo, desta vez no interior da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O belo-horizontino n�o � um caso isolado em meio a tantos trabalhadores que procuram qualidade de vida e melhor remunera��o. Num cen�rio em que cerca de 12 milh�es de pessoas est�o desempregadas, outro fen�meno recente vem colocando enormes desafios na retomada gradual da economia brasileira. Segundo estudo revelado pelo instituto de dados de intelig�ncia Lagom Data, quase 500 mil pessoas com carteira assinada pedem demiss�o no pa�s mensalmente, mesmo sem embolsar recursos a que teriam direito pelo Fundo de Garantia por Tempo de Servi�o (FGTS) caso fossem demitidos sem justa causa . As informa��es foram baseadas na an�lise de quase 188 milh�es de registros de movimenta��es trabalhistas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre 2016 e novembro de 2021, dado mais recente dispon�vel para a conclus�o do levantamento.

Jonathan est� desde o in�cio do ano no novo emprego, o que j� o faz projetar crescimento profissional: “Hoje estou mais satisfeito com tudo. Minha pretens�o � crescer na empresa e ela permite isso. Quero sempre mostrar meu esfor�o para crescer mais. Isso � merecimento”. No trabalho antigo, ele recebia em torno de um sal�rio m�nimo e agora seu novo ganho mensal permite sonhar com aquisi��es, como casa e carro. “Necessitava de condi��es financeiras mais altas e meu emprego n�o oferecia isso. Logo, busquei novo emprego.”

Quem tamb�m abandonou um trabalho com carteira assinada foi Pauliana Pereira, de 32, ex-atendente de padaria. Longe de estar satisfeita com o sal�rio que ganhava, pediu demiss�o e come�ou a trabalhar como diarista. 

“O que eu ganhava antes era muito baixo, n�o dava para nada. Tentei conversar, mas optei por sair. Consegui um valor m�nimo de rescis�o”, diz ela, que ampliou o n�mero de casas atendidas no pico da pandemia, no ano passado.

A pesquisa da Lagom Data constatou tamb�m que, em um ano, os pedidos de demiss�o representaram uma rotatividade de 15% nas vagas com carteira assinada. O fen�meno teve in�cio nos Estados Unidos, onde mais de 7,5 milh�es de trabalhadores deixaram os empregos voluntariamente em 2021, ganhando o nome ‘great resignation’ (grande demiss�o). O perfil dos profissionais � semelhante ao dos brasileiros: de trabalhadores majoritariamente jovens – com menos de 30 anos – e do setor de servi�os.

Pauliana Pereira se demitiu para virar diarista: 'O que eu ganhava antes não dava para nada. Tentei conversar, mas optei por sair'
Pauliana Pereira se demitiu para virar diarista: "O que eu ganhava antes n�o dava para nada. Tentei conversar, mas optei por sair" (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

“Os l�deres empresariais devem cada vez mais procurar entender o momento para n�o prejudicar os neg�cios com a alta rotatividade, que gera baixo ritmo de produ��o. A gente entende que as empresas antigas s�o mais resistentes � mudan�a de paradigma, mas diante do poder da tecnologia, que � onipresente, a prepara��o de l�deres deve ser um fator preponderante para que possam encarar os desafios e se faz mais do que necess�ria”, explica o especialista em gest�o empresarial e empreendedorismo Paulo Junior, diretor-executivo da PJI Consulting.

EMPREENDEDORES 


Muitos brasileiros pedem demiss�o para viver do pr�prio neg�cio. Segundo dados do Sebrae nacional, cerca de 44 milh�es de brasileiros s�o ou desejam ser empreendedores. Outro estudo feito pelo GEM 2020 (Global Entrepreneurship Monitor) diz que o Brasil tem a 7ª maior taxa de empreendedorismo inicial do mundo.

Paulo Junior diz que quem est� firme no mercado de trabalho busca qualidade de vida: “Os profissionais do mundo atual desejam trabalhar com menos estresse, trabalhar em casa, o chamado home office, ou no sistema h�brido. � importante refor�ar que todo esse processo, que j� existia, foi acelerado pela pandemia. E quem n�o se viu com medo de encarar o desconhecido, de tentar superar os pr�prios desafios, que buscou alternativas atrav�s do pr�prio neg�cio, se lan�ou no mercado”.

Do ponto de vista de alguns que t�m um neg�cio h� anos, a alta rotatividade nas empresas e o elevado n�mero de demiss�es volunt�rias se devem � falta de qualifica��o dos candidatos �s oportunidades de emprego.

 “O funcion�rio hoje almeja algo maior e quer ganhar mais. Mas tenho enxergado no mercado que a nova gera��o � imediatista, n�o quer estudar ou fazer cursos profissionalizantes e buscar qualifica��o. H� uma proposta salarial, com benef�cios e premia��es. No entanto, muitos n�o ficam durante o per�odo da experi�ncia, pedem demiss�o e saem em busca de novas oportunidades. Certamente n�o v�o encontrar nada melhor”, afirma Augusto C�sar Duarte, de 44 anos, dono da financeira Cred Cash, que alega n�o conseguir preencher 12 vagas para operadores de vendas e de cobran�a justamente por falta de qualifica��o.

Rendimento m�dio em recuo

Em meio � enorme quantidade de demiss�es volunt�rias, quem j� se reposicionou no mercado de trabalho nem sempre vai encontrar melhores ofertas. De acordo com o �ltimo levantamento da pesquisa Pnad Cont�nua divulgada no fim de mar�o pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o rendimento m�dio do Brasil vem em queda, principalmente no auge da pandemia do coronav�rus.

A renda m�dia do trabalhador brasileiro foi estimada em R$ 2.511 e apresentou estabilidade em rela��o ao terceiro trimestre de 2021, embora tenha ca�do 8,8% em rela��o ao �ltimo trimestre de 2020. Trata-se do menor resultado j� registrado em um trimestre encerrado em fevereiro desde o in�cio da s�rie hist�rica da pesquisa, em 2012. “Observamos desde o ano passado um crescimento do emprego, mas que vem sendo de qualidade inferior, com remunera��o mais baixa. Calculamos que o rendimento m�dio do trabalhador vem caindo desde o fim do ano passado ou mesmo em todo o ano de 2021. Temos que pensar sempre n�o s� na quantidade, mas na qualidade dos empregos”, afirma Alexandre de Lima Veloso, analista do INBG.

Segundo o IBGE, pelo menos 38,5 milh�es de brasileiros atuam na informalidade, o que ajuda a derrubar o sal�rio do brasileiro. “Vemos redu��o da informalidade, mas os postos que t�m surgido no mercado permitem remunera��o menor para o trabalhador. O desafio do Brasil em 2022 � justamente passar por toda a turbul�ncia pol�tica e que a economia deixe para tr�s os efeitos da pandemia para que possamos criar mais quantidade de emprego e com maior qualidade”, frisa Veloso. (RD)

Disparada de motoristas de aplicativo

Bras�lia – A ascens�o dos aplicativos de entrega e de transporte individual criou uma classe de trabalhadores "aut�nomos" que rodam todos os dias pelas estradas do pa�s. A fim de driblar o desemprego, esses profissionais encaram a inseguran�a das ruas e a falta de suporte enquanto a infla��o sobe. Com o fechamento de bares e restaurantes durante os per�odos de pico da pandemia, a demanda por esses trabalhadores nos �ltimos dois anos aumentou. Al�m disso, o temor do cont�gio nos transportes coletivos ajudou a aquecer a procura por carros individuais.

O n�mero de brasileiros que trabalham para aplicativos de entrega de mercadorias cresceu 979,8% entre 2016 e 2021, apontou o Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea). Na categoria dos profissionais que trabalham com transporte de passageiros, o crescimento foi de 37% no mesmo per�odo, de 840 mil, em 2016, para 1 milh�o em 2018, e chegando ano terceiro trimestre de 2019 a 1,3 milh�o de pessoas.

Atualmente, pelo menos 1,4 milh�o de brasileiros t�m como fonte de renda o transporte de passageiros por aplicativos, apontou o Ipea. Esse quadro em meio � crise fez com que o trabalho nos aplicativos fosse procurado tanto para complementar quanto para reaver uma fonte de renda. Em 2020, a taxa de desocupa��o caiu 14,2%, para 11,1% em 2021, fechando o ano anterior com 12 milh�es de pessoas sem uma ocupa��o com carteira assinada, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

Marcelo Neri, diretor da FGV Social, nota um paralelo entre o desemprego e a ader�ncia dos trabalhadores pelos aplicativos, principalmente quando se olham aqueles com alto grau de escolaridade. "Existe essa forma de se manter tendo renda utilizando seu ativo (carro, bicicleta e moto)", disse. "Esse � um paliativo para um emprego com carteira assinada. O pa�s tem um problema de desemprego desde a grande recess�o [2014-2016] e aumentou com a pandemia", afirmou. Neri observa que h� ainda o agravante do aumento do pre�o da gasolina, no geral: "um choque adverso no curto prazo".

Essa "nova profiss�o" tamb�m abriu ampla discuss�o no direito trabalhista, j� que o prestador de servi�o fica subordinado a um algoritmo, como explica o advogado trabalhista Domingos S�vio Zainaghi. “Ele (trabalhador) tem uma liberdade e uma certa subordina��o.”

“Para o direito, � uma situa��o nova. N�o existe unanimidade. A avalia��o que os usu�rios fazem do motorista d� esse v�nculo, j� que uma p�ssima nota pode acarretar puni��es, e s� quem pode aplic�-las � o patr�o. Quem pune � a empresa, e n�o o usu�rio, e por isso estamos diante de uma rela��o de trabalho”, disse. "� uma zona cinzenta", observou.

De acordo com Camilo Onoda Caldas, advogado trabalhista e s�cio do escrit�rio Gomes, Almeida e Caldas Advocacia, os direitos dos entregadores por aplicativos s�o discutidos mundialmente. "N�o h� d�vida de que diversas cr�ticas surgem contra este modelo de neg�cio e outros semelhantes, tanto que a express�o 'uberiza��o' se tornou sin�nimo de precariza��o do trabalho", explicou.

"O Legislativo precisa se posicionar sobre esse tema, definindo claramente se os trabalhadores de aplicativos s�o ou n�o empregados e estabelecendo direitos", reiterou. (Deborah Hana Cardoso)

12 milh�es
N�mero estimado de brasileiros desempregados atualmente

500 mil
M�dia mensal de pedidos de demiss�o volunt�rias no mercado formal, ou seja, com carteira assinada

15%
Percentual dos pedidos de demiss�o no total da rotatividade no emprego formal

R$ 2.511
Renda m�dia do trabalhador brasileiro

38,5 milh�es
Total de brasileiros que atuam na informalidade

Fontes: Lagom Data e Pnad Cont�nua do IBGE




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