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Estado de Minas

Pode faltar diesel no Brasil no segundo semestre?

Al�m da alta nos pre�os, fornecimento do combust�vel tornou-se preocupa��o global desde que san��es contra a R�ssia levaram a uma redu��o dos estoques no mundo


25/05/2022 17:09 - atualizado 25/05/2022 18:14


Caminhões em estacionamento
No Brasil, produtos dependem do transporte que utiliza diesel para chegar � popula��o (foto: Getty Images)

O fornecimento de diesel tornou-se uma preocupa��o global desde que as san��es contra a R�ssia levaram a uma redu��o dos estoques no mundo.

A informa��o divulgada pela ag�ncia Reuters de que o agora ex-presidente da Petrobras, Jos� Mauro Ferreira Coelho, teria alertado o Minist�rio de Minas e Energia sobre a possibilidade de falta de diesel no Brasil pouco antes de ser demitido ampliou ainda mais os temores no pa�s.

Segundo a ag�ncia de not�cias, na semana passada a estatal teria apresentado um documento ao governo em que previa um cen�rio de desabastecimento em pleno auge da colheita da soja no segundo semestre, caso a empresa n�o venda combust�vel a pre�os de mercado.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a Petrobras disse que a empresa e outros importadores podem ter dificuldades para garantir o diesel em meio � redu��o dos estoques mundiais.

Ap�s a demiss�o de Ferreira Coelho da estatal — empossado h� pouco mais de um m�s —, o governo indicou Caio Paes de Andrade para substitu�-lo.

A Federa��o �nica dos Petroleiros (FUP) expressou a mesma preocupa��o na ter�a-feira (24/05).

Em nota, os petroleiros afirmaram que "o Brasil corre o risco de desabastecimento de �leo diesel no in�cio do segundo semestre deste ano, em fun��o da prevista escassez de oferta no mercado internacional e do baixo n�vel dos estoques mundiais".

Analistas consultados pela BBC News Brasil concordam com a avalia��o da Petrobras e da FUP, mas afirmam que a defici�ncia deve ser pontual e s� se concretizar� se os fatores causadores da crise permanecerem ativos.

"Pode faltar diesel pontualmente no Brasil", afirma Pedro Shinzato, analista de derivados da consultoria Stonex. "N�o devemos ver um desabastecimento generalizado, mas em postos espec�ficos, de bandeira branca, ou em regi�es do pa�s mais afastadas, � bem poss�vel falar em faltas espor�dicas."

Para Maur�cio Can�do, professor da Escola Brasileira de Economia e Finan�as da Funda��o Getulio Vargas (FGV-EPGE) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), existe a possibilidade de car�ncia pontual caso a pr�pria Petrobras n�o aumente seu ritmo de importa��o.

"Uma escassez pontual � mais prov�vel do que uma falta generalizada de diesel nos postos ou no transporte de carga. Pode haver atrasos no despacho ou faltas espor�dicas por conta de problemas de log�stica de mudan�a de fornecedor diante do problema global", diz.

Entre os principais fatores apontados pelos especialistas para a concretiza��o do cen�rio futuro est� a defasagem do pre�o do diesel em rela��o ao mercado internacional, que pode desencorajar a compra do combust�vel no exterior por importadores privados.

As san��es e bloqueios impostos � R�ssia por conta da guerra na Ucr�nia, que levaram os estoques internacionais para m�nimos hist�ricos, tamb�m s�o um grande fator de peso.


Barris de petróleo
A R�ssia � atualmente um dos maiores produtores de petr�leo do mundo, e conflito envolvendo a Ucr�nia afeta de forma significativa o mercado (foto: Getty Images)

O que est� por tr�s dos temores de escassez?

A preocupa��o com um desabastecimento de diesel n�o � exclusiva do Brasil.

Desde que a R�ssia invadiu a Ucr�nia, Estados Unidos e Uni�o Europeia impuseram san��es contra o pa�s, que � o segundo maior produtor e exportador de petr�leo do mundo.

Com isso, a oferta da commodity diminuiu globalmente e os seus pre�os dispararam.

"V�rios pa�ses est�o com os estoques de diesel e outros combust�veis bastante baixos para os padr�es usuais. Se essa situa��o continuar por muito tempo, o mundo inteiro corre o risco de sofrer com algum tipo de problema de oferta", diz o economista Maur�cio Can�do.

"A grande quest�o que definir� se vai haver desabastecimento ou aumento ainda maior do pre�o do diesel no mercado internacional � a velocidade e a escala com que a Europa vai cortar seu fornecimento da R�ssia", afirma Felipe Perez, estrategista de downstream para a Am�rica Latina da S&P global.

Mas segundo os especialistas consultados pela BBC News Brasil, o Brasil pode ainda enfrentar um componente adicional de risco, que � a queda nas importa��es por conta da defasagem do pre�o do diesel em rela��o ao mercado internacional.

O Brasil produz mais petr�leo do que consome e se declara "autossuficiente". Por�m, devido ao tipo de petr�leo extra�do e � insufici�ncia na capacidade de refino, ainda precisa importar tanto petr�leo cru quanto derivados como a gasolina e o diesel.


Refinaria Presidente Bernardes da Petrobras em Cubatão, estado de São Paulo
Refinaria Presidente Bernardes da Petrobras em Cubat�o, no Estado de S�o Paulo (foto: Getty Images)

Segundo a ANP (Ag�ncia Nacional de Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis), o Brasil bateu recorde de importa��o de diesel em 2021 — foram 14,4 milh�es de metros c�bicos de diesel A (puro, sem biodiesel), volume 20,4% maior do que no ano anterior.

Ainda de acordo com a ANP, a participa��o do diesel vendido no pa�s com origem estrangeira passou de 20,9% em 2020 para 23,2% em 2021.

A Petrobras adotou o chamado pre�o de paridade de importa��o (PPI) em 2016, durante o governo de Michel Temer. O PPI vincula o valor dos derivados de petr�leo ao comportamento dos pre�os dos produtos em d�lares no mercado internacional.

Recentemente, por�m, os reajustes para acompanhar o valor internacional se tornaram mais espa�ados. Segundo o G1, em reuni�es internas do governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tamb�m teria dito a auxiliares que n�o quer novos reajustes no diesel, gasolina e g�s de cozinha at� a elei��o, em outubro.

"No momento o pre�o do diesel no Brasil est� at� bem alinhado com o internacional, mas porque o mercado caiu nas �ltimas duas semanas e o valor global tamb�m caiu um pouco", diz Pedro Shinzato.

"Mas sabemos que o atual presidente est� buscando a reelei��o e que o aumento nos pre�os de combust�vel pode ser uma pol�tica impopular."

Diante da defasagem do pre�o do diesel, importadores particulares, n�o vinculados � Petrobras, podem deixar de comprar o combust�vel no exterior para evitar preju�zo ao revend�-lo internamente.

"Ningu�m vai importar o diesel caro para vender mais barato no Brasil", resume Can�do.

Essa foi exatamente a preocupa��o que teria sido exposta pela Petrobras na apresenta��o ao governo.

Segundo as informa��es da Reuters, o documento afirma que "sem sinaliza��o de que os pre�os de mercado ser�o mantidos adiante, h� um risco concreto de escassez de diesel no auge da demanda, durante a temporada de colheita, afetando o PIB do Brasil".

Os especialistas afirmam ainda que a temporada de furac�es no Atl�ntico, que se estender� nesse ano de junho a novembro, tamb�m pode representar problemas para o fornecimento de diesel brasileiro.

"As refinarias americanas s�o a principal origem das importa��es do Brasil e boa parte delas est� concentrada na regi�o da Costa do Golfo dos EUA, que costuma ser uma das mais atingidas pela temporada de furac�es", diz Pedro Shinzato, da Stonex.

"Com as refinarias dos EUA em capacidade alta, um furac�o ou condi��es clim�ticas mais dif�ceis podem parar o refino ou a produ��o de petr�leo e fazer com que o mercado fique ainda mais justo", afirma Perez.


Refinaria Phillips 66 em Nova Jersey, Estados Unidos
Refinaria Phillips 66 em Nova Jersey, Estados Unidos (foto: Getty Images)

Vai faltar diesel mesmo?

Para os analistas consultados pela BBC News Brasil, uma falta pontual pode ser observada caso os fatores de risco se mantenham e n�o se encontrem alternativas vi�veis para o fornecimento.

Para Maur�cio Can�do, a possibilidade pode ser contornada caso a Petrobras decida buscar alternativas para a importa��o do diesel no mercado global e supra a demanda n�o atendida pelas importadoras privadas.

"Temos levantado que a Petrobras j� est� procurando fontes alternativas de oferta na �sia e �frica para driblar a diminui��o da oferta nos Estados Unidos", diz.

O especialista explica que esse processo seria mais custoso e demorado. Tamb�m significaria que a estatal precisaria arcar com os poss�veis preju�zos de vender o diesel no Brasil a pre�os mais baixos do que os praticados no mercado internacional.

"Mas acho improv�vel que a Petrobras decida n�o fazer isso diante de um risco de escassez, pois o maior acionista da empresa ainda � a Uni�o", afirma Can�do.

J� Felipe Perez acredita que a defasagem dos pre�os far� com que os estoques das refinarias nacionais acabem primeiro, mas n�o afetar� de imediato o ritmo de importa��es.

"As empresas que t�m a vantagem log�stica, competitiva, contratual e estrutural devem negociar primeiro com os refinadores brasileiros. Mas no final das contas o balan�o tem que ser fechado com as importa��es e esse pre�o vai ser o pre�o de mercado", diz.

Problemas de falta de suprimento foram relatados em Minas Gerais e no Distrito Federal entre mar�o e abril deste ano, mas os sindicatos que representam os revendedores de combust�veis nas duas regi�es afirmam que a situa��o j� se normalizou.

Ainda assim, Paulo Tavares, presidente Sindicombust�veis-DF, teme problemas no segundo semestre caso o consumo mundial de petr�leo russo permane�a abalado e a Petrobras mantenha sua pol�tica de pre�os.

"A manuten��o do pre�o do diesel em n�veis mais baixos do que os do mercado internacional pode fazer com que falte produto para as distribuidoras, porque elas n�o v�o importar o produto mais caro", diz.

"N�o creio que vai haver escassez geral, mas podemos ter novos relatos de falta em algumas regi�es e o pre�o certamente vai subir muito."


Caminhão
Problemas de falta de suprimento foram relatados em Minas Gerais e no Distrito Federal entre mar�o e abril deste ano (foto: Getty Images)

O presidente-executivo da Associa��o Brasileira dos Importadores de Combust�veis (Abicom), S�rgio Ara�jo, afirma que qualquer falta deve ser pontual.

"Em alguns munic�pios pode haver descontinuidade no suprimento por alguns dias, porque com a defasagem do pre�o, os importadores e as distribuidoras regionais n�o est�o importando tanto", diz.

"Nesse cen�rio, redes de postos de bandeira branca e outros consumidores menores ficam mais vulner�veis a eventual falta de produto."

Em resposta aos rumores, a ANP afirmou em nota que monitora o abastecimento nacional de combust�veis de forma sistem�tica, por meio do acompanhamento dos fluxos log�sticos em todo o territ�rio brasileiro.

"Na presente data, o abastecimento com diesel aos consumidores se mant�m regular", diz a ag�ncia.

Procurados, a Petrobras e o Minist�rio de Minas e Energia n�o responderam aos pedidos de coment�rio.

E o pre�o?

Os especialistas concordam que, com a continuidade nos problemas com a oferta mundial de diesel, o pre�o do produto nas bombas do Brasil pode continuar subindo.

"O pre�o pode aumentar sim na bomba em algumas regi�es. � o que acontece toda vez que a demanda corre por cima da oferta", explica Maur�cio Can�do.

"A primeira resposta a tudo que tem acontecido s�o os pre�os mais altos — algo que j� estamos vendo desde outubro, na verdade", pontua Pedro Shinzato.

Segundo analistas, o aumento afeta mais os consumidores finais principais do diesel — como caminhoneiros, operadores de servi�os de log�stica e transportadores de passageiros em coletivos.

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