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Estado de Minas

Por que h� escassez mundial de diesel e como isso pode te afetar

Falta desse combust�vel, destilado do petr�leo bruto, fez com que seu pre�o disparasse para n�veis recordes e amea�a desacelerar diferentes setores da economia, desde ind�stria e transporte de carga at� agricultura.


20/06/2022 14:13 - atualizado 20/06/2022 16:14


Pessoa abastecendo com óleo diesel
Escassez de �leo diesel amea�a desacelerar diferentes setores da economia, desde ind�stria e transporte de carga at� agricultura (foto: Getty Images)

O aumento do pre�o da gasolina, como resultado da invas�o russa da Ucr�nia, tem gerado preocupa��o em todo o mundo e est� aprofundando o problema inflacion�rio que afeta v�rias economias do planeta.

Mas h� outro combust�vel derivado do petr�leo que ficou ainda mais caro — em junho atingiu seu pre�o m�ximo hist�rico — e est� causando dores de cabe�a ainda maiores do que a gasolina.

Trata-se do �leo diesel.

No fim de maio, o pre�o m�dio do litro do �leo diesel comum chegou a quase R$ 7, o maior valor registrado na s�rie hist�rica da Ag�ncia Nacional de Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis (ANP).

Isso causou grande insatisfa��o entre caminhoneiros, que criticam a pol�tica de pre�os da Petrobras.

Nesta sexta-feira (17/06), a Petrobras anunciou novas altas, valendo a partir do s�bado (18/06), nos pre�os da gasolina (aumento de 5,18%) e do diesel (aumento de 14,26%) vendidos �s distribuidoras. Com isso, o pre�o m�dio de venda de gasolina para as distribuidoras passou de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. Para o diesel, o pre�o m�dio de venda da Petrobras para as distribuidoras passou de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro.

O valor cobrado nas bombas depende de impostos e das margens de lucro dos distribuidores e revendedores.

E a crise na Petrobras ganhou um novo cap�tulo nesta segunda-feira (20/6), com o an�ncio da ren�ncia do presidente da Petrobras, Jos� Mauro Coelho. A informa��o foi confirmada pela estatal em um comunicado ao mercado. Coelho foi o terceiro executivo a comandar a Petrobras na gest�o do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas deixou a presid�ncia da empresa e o seu Conselho de Administra��o ap�s duras cr�ticas feitas por Bolsonaro e pelo presidente da C�mara, Arthur Lira, no fim de semana.

Bolsonaro chegou a defender at� mesmo a cria��o de uma CPI para investigar os diretores e conselheiros da Petrobras depois do novo reajuste no fim de semana.

Na semana passada, o plen�rio da C�mara dos Deputados havia aprovado de novo o projeto de lei que limita a 17% a cobran�a de ICMS (Imposto sobre Circula��o de Mercadorias e Servi�os) sobre combust�veis. A proposta j� havia sido aprovada na noite de ter�a-feira, mas teve de ser refeita ap�s o painel do plen�rio apresentar problemas t�cnicos. O texto tamb�m limita o imposto para energia el�trica, transporte coletivo e telecomunica��es.

Como o projeto de lei j� havia sido aprovado na segunda-feira no Senado, ele seguir� agora para san��o do presidente Jair Bolsonaro (PL), defensor da proposta.

O governo vem pressionando a Petrobras para evitar aumentar o pre�o do �leo diesel — a estatal, por outro lado, alertou recentemente sobre o risco de desabastecimento do combust�vel se n�o houver reajuste.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, no entanto, afirmam que n�o h� garantias de que essa medida possa, de fato, reduzir o pre�o dos combust�veis.

O que mais preocupa � que a subida do pre�o do �leo diesel se deve ao fato de existir uma escassez global desse combust�vel, algo que, asseguram, dificilmente ser� revertido a curto prazo.

E os efeitos disso afetam o bolso de todos, mesmo que seu carro n�o seja movido a diesel.


Filas para abastecimento de diesel em Colombo, capital do Sri Lanka, um dos locais afetados.
Filas para abastecimento de diesel em Colombo, capital do Sri Lanka, um dos locais afetados. (foto: Reuters)

Por qu�?

Porque o �leo diesel � o combust�vel utilizado pela maioria dos ve�culos de carga, dos caminh�es que transportam os nossos alimentos, medicamentos e at� a gasolina que abastecemos nos postos, aos navios que transportam mercadorias pelo mundo.

� tamb�m o que muitos �nibus e trens usam.

E � desse combust�vel que muitas ind�strias dependem para alimentar suas m�quinas — e que produtores agr�colas precisam para operar seus tratores e poder semear e colher.

Por isso, a falta de diesel est� gerando s�rios problemas em todo o mundo, que amea�am se espalhar se a demanda continuar superando a oferta.

Crise global

A escassez deste combust�vel est� causando problemas de mobilidade em lugares t�o dispersos como Sri Lanka, I�men e v�rios pa�ses africanos.

Al�m do Brasil, o aumento dos pre�os do diesel tamb�m gerou protestos de comunidades ind�genas e camponeses no Equador.

Outra regi�o onde a crise causou enorme preocupa��o � a Europa.

Isso porque — ao contr�rio do que acontece em muitas outras partes do mundo — no velho continente muitos dos motoristas de carros particulares usam diesel, porque � uma fonte de energia mais eficiente e menos poluente do que a gasolina.

Antes da guerra na Ucr�nia, a Europa importava da R�ssia cerca de dois ter�os do petr�leo bruto que refinava para produzir diesel.

Mas, ap�s as san��es econ�micas impostas a Moscou pelo Ocidente, a Europa passou a depender dos Estados Unidos para grande parte desse combust�vel.

Embora isso tenha evitado a escassez, o impacto nos bolsos foi not�rio, com pre�os recordes nos dois lados do Atl�ntico.

Enquanto os brit�nicos hoje pagam mais de 100 libras (US$ 125 ou R$ 629) para abastecer seu carro — no valor de cerca de US$ 2,30 por litro — os caminhoneiros nos EUA pagam US$ 1,50 o litro, o valor mais alto j� registrado naquele pa�s.


Caminhões em estrada da Califórnia (EUA)
Aumento do diesel est� afetando transporte de carga nos Estados Unidos. (foto: Getty Images)

"Os aumentos de pre�os s�o t�o altos em alguns Estados que os caminhoneiros est�o tendo que pagar do pr�prio bolso para fazer o transporte de mercadorias, e muitos est�o sendo mais seletivos sobre as viagens que fazem", informou a revista Fortune em meados de maio.

"Algumas empresas de transporte rodovi�rio menores est�o lutando para pagar os sal�rios e est�o considerando reduzir ou at� fechar as opera��es devido aos altos custos."

Por sua vez, o jornal americano Wall Street Journal observou que "os custos est�o afetando particularmente as frotas de caminh�es menores que comp�em a maior parte do mercado de caminh�es dos EUA altamente fragmentado".

Escassez na Argentina

No outro extremo do continente americano, a escassez de diesel tamb�m est� gerando caos nos vizinhos do Brasil.

Nas rotas do centro e norte da Argentina, h� longas filas de caminh�es esperando para abastecer com esse combust�vel, cuja venda foi limitada em muitos lugares a 20 litros por ve�culo (uma pequena fra��o do tanque).

Dezenove das 23 prov�ncias argentinas t�m problemas de abastecimento, segundo um estudo realizado no in�cio de junho pela Federa��o Argentina de Entidades Empresariais de Transporte de Carga (Fadeeac).

"A falta de diesel amea�a prejudicar um dos momentos mais importantes para a debilitada economia argentina: a colheita e posterior plantio de gr�os e oleaginosas, como soja, milho e girassol, que s�o o maior bem de exporta��o do pa�s", diz Veronica Smink, correspondente da BBC News Mundo, o servi�o de not�cias em espanhol da BBC, em Buenos Aires, a capital argentina.

Smink explica que a falta de diesel se agravou na Argentina porque fatores locais se somaram � escassez de oferta em todo o mundo, o que complicou ainda mais o quadro.


Trator em campo de trigo na Argentina
�leo diesel � essencial para colher e semear na Argentina (foto: Getty Images)

"Quase um ter�o do diesel consumido no pa�s � importado e as empresas petrol�feras n�o s� t�m mais dificuldade de obter (o combust�vel), devido aos efeitos da guerra na Ucr�nia, como tamb�m import�-lo a pre�os correntes n�o � lucrativo para elas, devido aos baixos pre�os locais impostos pelo governo", diz.

Causas da crise

Mas a invas�o russa n�o � a �nica raz�o pela qual o diesel est� faltando.

Mesmo antes de Vladimir Putin ordenar a ofensiva russa, no fim de fevereiro, a demanda mundial por diesel j� superava a oferta.

O principal motivo desse descompasso, segundo especialistas, foi a pandemia do coronav�rus.

A paralisa��o econ�mica causada pelas quarentenas em 2019 e 2020 fez com que o uso de combust�vel despencasse, levando as refinarias a reduzir sua produ��o de diesel.

Algumas at� fecharam as portas permanentemente e outras decidiram converter-se para refinar combust�veis renov�veis, como parte de uma transi��o do setor energ�tico para fontes mais limpas e ecol�gicas.

� medida que o mundo se reabriu, a partir de 2021, a demanda por diesel rapidamente ultrapassou a oferta.


Caminhões fazem fila para carregar diesel em Caracas, em março de 2021
Venezuela foi um dos primeiros lugares a sofrer com falta de diesel (foto: Reuters)

Al�m disso, houve a r�pida retomada dos voos comerciais, j� que o combust�vel de avia��o � feito da mesma quantidade de petr�leo bruto que o diesel.

O analista de mercado da Reuters John Kemp alertou que esse aumento da demanda levou muitos pa�ses da Am�rica do Norte, Europa e �sia a esgotar grande parte de seus estoques de diesel.

Na Europa e nos EUA, as a��es ca�ram para seus n�veis mais baixos desde a crise financeira de 2008, assinala ele.

Um funcion�rio do governo dos Estados Unidos disse a jornalistas no fim de maio que o presidente americano Joe Biden est� discutindo a possibilidade de usar um estoque emergencial de diesel, criado no nordeste do pa�s h� mais de duas d�cadas, e at� agora s� usado uma vez para aliviar os efeitos do furac�o Sandy, em 2012.

O objetivo seria aumentar a oferta de combust�veis para baixar os pre�os, o que contribuiu para os EUA registrarem sua maior infla��o em quatro d�cadas, algo que pode manchar o desempenho do governista Partido Democrata nas elei��es parlamentares de novembro.

No entanto, analistas alertam que os efeitos da libera��o da reserva de emerg�ncia do Nordeste ser�o limitados, j� que os milh�es de barris de diesel despejados no mercado n�o seriam suficientes para impactar os pre�os.

Impacto econ�mico

Para Kemp, a falta global de diesel "anuncia uma desacelera��o econ�mica iminente".

"A escassez global de diesel indica que o ciclo econ�mico est� chegando ao seu pico e que um per�odo de crescimento mais lento ou mesmo de recess�o � iminente para trazer o consumo de volta � produ��o", diz ele.

O �ltimo relat�rio econ�mico do Banco Mundial, apresentado nesta semana, confirma que o mundo passa por "uma forte desacelera��o do crescimento", e alerta que isso poder� gerar "estagfla��o", a combina��o de baixo crescimento econ�mico e infla��o elevada.

"Para muitos pa�ses ser� dif�cil evitar a recess�o", diz o americano David Malpass, presidente do Banco Mundial, ao lan�ar o relat�rio em 7 de junho.

O Banco Mundial estima que o crescimento da economia mundial em 2022 ser� de 2,9%, cerca de metade do que atingiu em 2021 (5,7%). Para o Brasil, a previs�o � de crescimento de 1,5%.

Por sua vez, a Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE) reduziu sua previs�o de crescimento econ�mico global para este ano de 4,5% para 3%, e estimou que em seus 37 pa�ses membros haver� uma infla��o m�dia anual de 8,5%.

'Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61842567'

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