(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Pesquisa: como o drag�o da infla��o obriga voc� a mudar de h�bitos

Brasileiros respondem como a atual alta de pre�os for�ou a redu��o de padr�es de uso de �gua, energia, eletrodom�sticos, ve�culos e at� alimenta��o


04/07/2022 04:00 - atualizado 03/07/2022 23:05

Júnia de Paula com contas e calculadora
A farmac�utica J�nia de Paula e a dif�cil tarefa de fechar as contas do m�s: mudan�as em casa come�aram pela eletricidade, passaram pelas compras no supermercado e chegaram � diarista (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Luiz Couto no Mercado Central de BH
O aposentado Luiz Curto diz que o tempo ensinou a lidar com crises que v�o e voltam: preservar alimenta��o e sa�de e cortar sup�rfluos. Mas lazer acaba sendo prejudicado (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

A alta dos pre�os de produtos e servi�os tem sido assunto recorrente no Brasil. Basta uma r�pida visita a um supermercado ou passar em frente a um posto de combust�vel para renovar o estoque de temas para debater sobre como est� caro viver no pa�s. Pesquisa elaborada pelo Departamento de Estat�stica da Euroconsumers em parceria com a Associa��o Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) d� n�meros a essa realidade ao revelar que mais de 90% dos brasileiros tiveram de alterar o comportamento de consumo para se adequar � realidade de infla��o em alta, agravada pela crise provocada pela guerra na Ucr�nia.
De acordo com a pesquisa, 91% dos brasileiros revelaram ter mudado a forma como gastam com moradia, energia, �gua e nutri��o desde o in�cio do ano. O padr�o de consumo com mobilidade, lazer e cultura tamb�m foi modificado para mais de 80% dos entrevistados.
 
arte sobre hábitos de consumo e inflação
Sinal de que a necessidade de economizar colocou os custos de bens e servi�os considerados essenciais na ponta do l�pis para uma ampla maioria de brasileiros. Nem mesmo os gastos com sa�de ficaram de fora dos cortes, j� que mais da metade dos entrevistados, 52%, relataram mudan�a de comportamento de consumo relacionados a esse aspecto.
 
Uma ampla gama de altera��es no dia a dia determinadas pela alta dos pre�os virou realidade na rotina da farmac�utica J�nia de Paula. Ela conta que a mudan�a come�ou dentro de casa, onde foi preciso vigiar os gastos com eletricidade. “A cada dia est� mudando mais. A conta de luz triplicou. Eu vi que teve um aumento bem grande, e tive que economizar. Diminu� o uso da fritadeira el�trica, do chuveiro, ainda mais no frio. Sempre falo com meu filho para tomarmos um banho mais r�pido e tirar tudo da tomada. Consegui ter uma redu��o, mas tive de fazer v�rias mudan�as”, conta.
 
J�nia, com um filho de 12 anos, conta tamb�m que a alta de pre�os afetou o or�amento desde o material escolar at� o lanche que precisa providenciar para ele todos os dias. “Material escolar, lanche, livros tiveram aumento e n�o foi pouco. As compras v�o embolando, e mesmo querendo manter um padr�o, n�o tem como. Supermercado tamb�m: se eu gastava R$ 100 numa semana com coisas b�sicas, hoje vou com R$ 200 reais e n�o consigo comprar mais. A quest�o de marca, tive que mudar algumas. Tem que ser o mais em conta, n�o d� pra ser s� pela qualidade. E tudo isso muda nossa qualidade de vida”, diz.

PLANEJAMENTO O economista M�rio Marques, coordenador dos cursos de p�s-gradua��o da Skema Business School, avalia que fazer cortes nas despesas � uma medida correta para lidar com um momento de crise. Segundo ele, � preciso planejar para evitar impactos em bens e servi�os essenciais. “Uma coisa � deixar de tomar uma cerveja no fim de semana, outra coisa � deixar de comer uma prote�na. A pessoa deixa de ir � academia, deixa de ir ao psic�logo, cancela o canal de streaming... Ela muda de h�bitos. S�o solu��es r�pidas, que recomendo para que se consiga equilibrar os gastos de forma imediata”, explica.
 
O economista avalia que os resultados apontados pela pesquisa atestam o impacto que a economia global ainda sofre com a pandemia, e que passou a sentir com a invas�o da R�ssia � Ucr�nia. Marques afirma que a infla��o nos Estados Unidos, por exemplo, foi maior que a do Brasil em mar�o e em maio, mas a diferen�a na renda das popula��es resulta em um impacto maior na vida dos brasileiros.
 
 “O brasileiro sente muito, porque nossa renda � menor do que a americana e a europeia. A gente gasta um percentual alto do que ganha com bens b�sicos, como alimenta��o, habita��o, despesas necess�rias. Elas representam muito mais do sal�rio de um trabalhador brasileiro do que de um norte-americano”, explica. � nesse contexto que a alta de pre�os traz impacto t�o amplo na vida no pa�s. Nas classes mais baixas, a infla��o � especialmente cruel, porque representa at� uma condi��o de inseguran�a alimentar.

Cesta pesada 

De acordo com levantamento da Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas, Administrativas e Cont�beis de Minas Gerais (Ipead), da UFMG, o valor da cesta b�sica em Belo Horizonte foi mais do que a metade de um sal�rio m�nimo em maio deste ano. Essa � uma conta que contempla os gastos de um trabalhador adulto com alimenta��o durante um m�s.

Setor de servi�os � o primeiro a sofrer

O setor de servi�os, que ensaia recupera��o ap�s ser especialmente afetado pela pandemia, � tamb�m comprometido pela infla��o acima dos dois d�gitos registrada nos �ltimos 12 meses no Brasil. Isso porque os primeiros cortes de gastos das fam�lias costumam ser feitos em atividades deste mercado.
 
“Meu seguro de carro triplicou de valor do ano passado para este ano. At� o rapaz da seguradora me disse que nunca viu isso. Eu pagava mais ou menos R$ 100 e a minha parcela veio maior que R$ 320. E nosso sal�rio n�o aumenta, ent�o estou tendo de economizar onde d�. Faxineira, por exemplo, � s� uma vez por m�s. Do esporte eu ainda n�o abri m�o, mas se continuar assim vou ter que escolher um lugar mais barato”, afirma a farmac�utica J�nia de Paula.
 
Para gerir as contas de casa, o aposentado Luiz Curto tamb�m come�ou seus cortes pelos gastos com servi�os. Ele explica que muda a forma como investe em lazer e cultura quando enfrenta um momento de crise. “Coisas como alimenta��o voc� n�o tem como economizar, porque � sa�de. Ent�o, o que procuro fazer – e fazia anteriormente tamb�m, porque a crise vai e volta –, � tirar as coisas que julgo sup�rfluas, como ir a um bar, por exemplo. A gente acaba indo com menos frequ�ncia ao cinema, se ia toda semana ao teatro, passa a ir uma ou duas vezes por m�s, por exemplo.”
 
Para o economista M�rio Marques, esse comportamento � mais imediato. Tanto que, na pesquisa feita pela Euroconsumers, 39% dos entrevistados disseram ter reduzido os gastos com lazer desde o in�cio de 2022. No entanto, o reflexo disso � o atraso no aquecimento do mercado.
“O setor de servi�os emprega muita gente. Quando se pensa na linha de sa�de, est�tica, s�o grandes empregadoras, e elas sentem o impacto da infla��o. Ou acaba diminuindo o n�mero de clientes ou at� leva a uma redu��o na oferta desse servi�o”, aponta o especialista.

Alternativa ao corte est� no endividamento

A mudan�a de comportamento � uma rea��o direta ao aumento dos pre�os. Por�m, quando o planejamento n�o � bem-feito ou o volume de renda esbarra em bens e servi�os essenciais que n�o podem ser substitu�dos ou cortados, o endividamento torna-se um obst�culo dif�cil de superar.
 
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimpl�ncia do Consumidor (Peic), feita pela Federa��o do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo de Minas Gerais (Fecom�rcio), 10,9% dos belo-horizontinos tiveram de recorrer ao cheque especial no m�s de maio. O �ndice aponta crescimento de mais de tr�s pontos percentuais em rela��o a maio de 2021, quando ficou em 7,7%.
 
Economista da Fecom�rcio, Gabriela Martins explica que o aumento do uso do cr�dito foi alavancado por fam�lias com renda superior a 10 sal�rios m�nimos por m�s, que voltaram a gastar com turismo e entretenimento ap�s as restri��es da pandemia. Ainda assim, ela n�o descarta que a infla��o tenha contribu�do para que a conta banc�ria de mais moradores da capital entrasse no vermelho.
 
“O aumento inflacion�rio tamb�m pode estar atrelado a esse comportamento, visto que as fam�lias est�o comprometendo uma parcela cada vez maior da sua renda para conseguir manter o consumo em um n�vel ideal, levando � busca do cr�dito para suprir a redu��o na renda”, explica.
 
A economista avalia que o endividamento na capital pode ser aliviado com medidas como o saque extra do FGTS, a antecipa��o do 13º sal�rio e o Aux�lio Brasil. Ainda assim, a perman�ncia da infla��o em alta seguir� afetando o padr�o de consumo.
 
“Apesar desses fatores, a infla��o permanece sendo uma realidade e deve afetar o perfil de compras do consumidor nos pr�ximos meses. As pessoas tendem a buscar alternativas mais baratas para a alimenta��o e para o transporte, e tendem a evitar gastos mais sup�rfluos, atingindo assim alguns setores do com�rcio e de servi�os”, aponta.

FUGA DAS D�VIDAS Para o aposentado Luiz Curto, o planejamento � importante exatamente para n�o cair no risco do endividamento. Ele conta que coloca os gastos imprevistos na ponta do l�pis, para ent�o tentar fazer cortes. O importante � n�o estourar o or�amento. “Tenho de viver dentro da minha renda, n�o posso gastar mais do que ganho, e precisamos sobreviver. Por exemplo: eu estava tomando um rem�dio gen�rico que n�o fez efeito. Agora vou ter que comprar a vers�o tr�s vezes mais cara. Meu barato saiu caro, mas depois a gente corta onde for poss�vel. Doen�a � a �nica coisa que n�o tem recurso, tem que tratar.”



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)