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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Como Pix virou bandeira eleitoral de Bolsonaro

Meio de pagamento instant�neo e gratuito superou desconfian�a inicial e j� tem uso maior que cart�o no pa�s.


24/08/2022 07:45 - atualizado 24/08/2022 09:50


O presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (PL) est[a em segundo nas pesquisas de inten��o de voto, atr�s de Lula (foto: Reuters)

"Criamos o Pix, tirando dinheiro de banqueiros, fazendo com que a popula��o pudesse se transformar, muitos, em pequenos empres�rios", disse o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na segunda-feira (22/08).

Primeiro dos quatro candidatos � Presid�ncia que foi entrevistado nesta semana pelo jornal de maior audi�ncia nacional, Bolsonaro aproveitou a audi�ncia de milh�es de brasileiros para repetir duas informa��es que t�m sido contestadas. Uma � a de que seu governo seria o respons�vel pelo novo meio de pagamento gratuito e instant�neo, que j� registrou mais de R$ 10 trilh�es em transa��es desde o in�cio da sua opera��o, em novembro de 2020. E outra � a de que o Pix teria causado grandes preju�zos aos bancos.

Essa �ltima j� foi desmentida at� pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. "Quero j� dizer que n�o � verdade que os bancos perdem dinheiro como Pix, inclusive a gente deve em algum momento soltar algum tipo de estudo mostrando isso" disse Campos Neto, h� duas semanas, em um evento da Federa��o Brasileira de Bancos (Febraban).

"Voc� tem uma perda de receita em transfer�ncia, mas por outro lado novas contas s�o abertas, novos modelos de neg�cio s�o gerados, voc� retira dinheiro de circula��o, que � um custo enorme para o banco, voc� aumenta a transa��o, o transacional aumenta", ressaltou, na ocasi�o.

Os resultados do setor tamb�m n�o indicam preju�zos: segundo levantamento da Economatica, os quatro maiores bancos do pa�s de capital aberto tiveram lucro l�quido somado de R$ 81,6 bilh�es em 2021, valor que foi 32,5% maior do que o de 2020.

J� um documento oficial do Banco Central desmente que o governo Bolsonaro seria o respons�vel pelo Pix. Foi em maio de 2018, ainda no governo de Michel Temer, que a portaria 97.909 do BC instituiu um grupo de trabalho com objetivo de "contribuir para a constru��o de um ecossistema de pagamentos instant�neos competitivo, eficiente, seguro e inclusivo".

Segundo servidores do Banco Central, foi a partir dessa iniciativa que o Pix continuou sendo desenvolvido pelo corpo t�cnico do BC no atual governo, independentemente do envolvimento de Bolsonaro.

O presidente, inclusive, manifestou desconhecer o novo meio de pagamento quando foi parabenizado por um apoiador na sa�da do Pal�cio da Alvorada, sua resid�ncia oficial, em outubro de 2020, pouco antes do in�cio do seu funcionamento.

Na ocasi�o, Bolsonaro se confundiu e achou que se tratava de algo relacionado � desburocratiza��o na avia��o civil. Ao ouvir a explica��o do apoiador de que o Pix era um novo meio de pagamento criado pelo Banco Central, respondeu: "N�o tomei conhecimento, vou conversar essa semana com o (presidente do BC) Roberto Campos".


Eleições 2022: Sua história pode virar reportagem da BBC
(foto: BBC)

De "sinal da besta" a principal meio de pagamentos

N�o � � toa que Bolsonaro tenta usar o Pix como trunfo eleitoral, ainda mais em meio a uma agenda econ�mica negativa devido � disparada da infla��o e do aumento da pobreza e da fome no pa�s.

Em pouco tempo, o Pix superou as desconfian�as iniciais e se tornou a principal forma de pagamento dos brasileiros. No �ltimo trimestre de 2021, um ano ap�s sua ado��o, atingiu a marca de 3,89 bilh�es de opera��es, superando pela primeira vez o uso do cart�o de cr�dito, que ficou como segundo meio preferido do brasileiro (3,7 bilh�es), seguido do cart�o de d�bito (3,59 bilh�es).


Fachada do Banco Central em Brasília
Documento do Banco Central desmente que o Pix tenha sido uma cria��o do governo Bolsonaro (foto: Marcello Casal Jr/Ag. Brasil)

J� em julho desse ano, o Pix acumulou desde seu in�cio 21,5 bilh�es de opera��es, chegando a R$ 10,945 trilh�es em valores movimentados.

Antes de cair no gosto popular, a facilidade enfrentou certa desconfian�a, seja por medo de golpes financeiros — problema que persiste — ou at� mesmo devido � divulga��o de teorias da conspira��o associando o novo meio de pagamento a uma iniciativa do "anticristo".

A ideia repercutiu principalmente no meio evang�lico. Seguindo uma interpreta��o b�blica para a profecia do Apocalipse, parte desse grupo religioso entendia que o Pix contribuiria para o fim do dinheiro f�sico e cria��o de uma moeda digital mundial, em mais um passo em dire��o a um governo �nico que seria um requisito para vinda do Anticristo e o fim dos tempos.

At� mesmo o fato de Pix ao contr�rio (Xip) se assemelhar ao som da palavra "chip" entrou como argumento dessa narrativa, j� que faz parte tamb�m dessa interpreta��o b�blica o entendimento de que, durante o governo do Anticristo, apenas pessoas que recebessem uma marca na testa ou na m�o direita ("a marca da Besta") poderiam comprar ou vender livremente. Foi dentro dessa interpreta��o que passou a circular a ideia de que Pix seria o "sinal da Besta".

Conte�dos que discutem essa teoria acumulam dezenas de milhares de visualiza��es no YouTube, como um v�deo do pastor e cantor Andr� Valad�o em que ele ironiza a pergunta que lhe foi enviada por um seguidor: "Ouvi Pr (abrevia��o para pastores) dizerem que Pix � sinal (da) besta. Concorda?".

"Besta � quem n�o receber dinheiro a�, n�? Transferir, ajudar a pagar conta, fazer neg�cio. Para com isso, gente, pelo amor de Deus", respondeu Valad�o.


Lula
O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas de inten��o de voto (foto: Reuters)

Novas fake news

Com o sucesso do Pix, a teoria apocal�ptica perdeu f�lego, mas outras informa��es falsas ou distorcidas passaram a circular, dessa vez promovidas por Bolsonaro ou seus aliados e apoiadores.

Uma delas � de que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), hoje l�der nas pesquisas eleitorais, iria acabar com o Pix, caso ven�a a elei��o presidencial. A campanha petista refuta essa acusa��o.

"A fam�lia Bolsonaro inventou que Lula quer acabar com o PIX. � fake! Quem n�o sabe sobre o PIX � o pr�prio Bolsonaro, que em 2020, quando o sistema era implementado, disse que nem sabia o que era. Espalhe #VerdadeNaRede. #EquipeLula", tuitou a conta oficial do ex-presidente no dia 28 de julho.

A fam�lia Bolsonaro inventou que Lula quer acabar com o PIX. � fake! Quem n�o sabe sobre o PIX � o pr�prio Bolsonaro, que em 2020, quando o sistema era implementado, disse que nem sabia o que era. Espalhe #VerdadeNaRede. #EquipeLula https://t.co/hhezuX7HHD pic.twitter.com/zkxgMppcc7

— Lula 13 (@LulaOficial) July 28, 2022

Outra informa��o que vem sendo divulgada nas redes bolsonaristas � a vers�o de que os bancos est�o contra a reelei��o do presidente devido a preju�zos bilion�rios que teriam sido causados pelo Pix. Segundo essa teoria, o novo meio de pagamento provocou perdas enormes ao setor porque os clientes deixaram de pagar tarifas cobradas nos meios transfer�ncias tradicionais, como TED e DOC.

A tese ganhou f�lego depois que a Federa��o Brasileira de Bancos (Febraban) decidiu aderir, no final de julho, ao manifesto p�blico de entidades em defesa da democracia, organizado pela Federa��o das Ind�strias do Estado de S�o Paulo (Fiesp).

Embora n�o mencione Bolsonaro, o manifesto se contrap�e diretamente �s d�vidas que o presidente tem levantado sobre a integridade das elei��es brasileiras, ao manifestar apoio � Justi�a Eleitoral.

"As entidades da sociedade civil e os cidad�os que subscrevem este ato destacam o papel do Judici�rio brasileiro, em especial do Supremo Tribunal Federal, guardi�o �ltimo da Constitui��o, e do Tribunal Superior Eleitoral, que tem conduzido com plena seguran�a, efici�ncia e integridade nossas elei��es respeitadas internacionalmente", diz o manifesto apoiado pela Febraban.

Em rea��o, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), disse em sua conta o Twitter que o Pix provocou perdas de R$ 40 bilh�es aos bancos, sem citar qual fonte usou para tal estimativa.

"O Banco Central independente coloca em pr�tica o PIX, que por ano transferiu mais de 30, 40 bilh�es de reais de tarifas que os bancos ganhavam a cada transfer�ncia banc�ria e hoje � de gra�a. Ent�o, presidente, se o senhor faz algu�m perder 40 bilh�es por ano para beneficiar os brasileiros, n�o surpreende que o prejudicado assine manifesto contra o senhor", compartilhou na rede social, no dia 26 de julho.

mas o Banco Central independente coloca em pr�tica o PIX, que por ano transferiu mais de 30, 40 bilh�es de reais de tarifas que os bancos ganhavam a cada transfer�ncia banc�ria e hoje � de gra�a.

— Ciro Nogueira (@ciro_nogueira) July 26, 2022

O valor n�o tem respaldo nos relat�rios de demonstra��o cont�bil dos bancos. Um levantamento do portal de checagem Aos Fatos com dados dos cinco maiores bancos do pa�s (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econ�mica Federal, Ita� e Santander) mostrou uma redu��o de R$ 2,69 bilh�es nas receitas com servi�os de conta corrente entre 2020, ano em que o Pix foi lan�ado, e 2021.

J� no primeiro trimestre de 2022, a queda foi de R$ 225 milh�es ante o mesmo per�odo de 2021. Esse n�mero, por�m, n�o reflete apenas a perda com a redu��o de opera��es de TED e DOC, pois o valor inclui outras taxas cobradas pelos bancos.

Procurada pela � reportagem, a Febraban disse que ainda n�o tem um levantamento do impacto do Pix nas receitas dos bancos com transfer�ncia.

Em entrevista � BBC News Brasil, Leandro Vilain, diretor executivo de Inova��o, Produtos e Servi�os Banc�rios da federa��o, disse que o valor � certamente muito inferior aos R$ 40 bilh�es citados por Ciro Nogueira.

Na sua avalia��o, o Pix est� substituindo muito mais as transa��es em dinheiro vivo do que as transfer�ncias banc�rias.

Os dados do BC mostram que o n�mero de TEDs (tipo de transfer�ncia mais usado) caiu pela metade desde a ado��o do Pix.

Foram realizadas, por exemplo, 294 milh�es de opera��es do tipo no �ltimo trimestre de 2022, contra 574 milh�es no mesmo per�odo de 2021 (momento em que o novo meio come�ou a operar).

J� o n�mero de transa��es do Pix passou no mesmo per�odo de 177,9 milh�es (final de 2021) para 3,892 trilh�es (final de 2022), superando em muito a queda do TED.


Mulher segura uma moeda de um real
(foto: Getty Images)

Bancos apontam ganhos com menos custo log�stico

A redu��o das opera��es em dinheiro era o grande interesse dos bancos no Pix, ressalta Leandro Vilain, j� que o setor tem um custo alto envolvido na distribui��o das c�dulas nas ag�ncias de todo o pa�s, inclusive com transporte por barco e avi�o para atender cidades afastadas.

Segundo um estudo da Febraban de 2015, o equivalente a 38% do PIB brasileiro era movimentado anualmente em transa��es em moeda viva e o custo somado dos bancos com log�stica para transportar o dinheiro f�sico era de R$ 10 bilh�es — estimativa que n�o inclui gastos com seguran�a.

"Esse era o gasto s� para trazer e levar dinheiro de um lado para o outro. � um valor que n�o mudou muito at� a implementa��o do Pix", diz Vilain.

Al�m disso, argumenta o diretor de inova��o da Febraban, o novo meio de pagamento tamb�m foi positivo para o setor e para a economia como um todo, ao aumentar a bancariza��o do pa�s, ou seja, elevando a quantidade de pessoas usando o sistema banc�rio e o volume de recursos circulando entre os bancos.

Segundo Vilain, isso traz novas possibilidades de neg�cios, por exemplo ao trazer para o sistema banc�rio trabalhadores informais.

"Voc� acaba podendo conceder cr�dito para um cara que, eventualmente, voc� n�o teria condi��o de conseguir informa��o (sobre a renda, para autorizar o empr�stimo)", explica.

A Febraban n�o quis comentar as acusa��es bolsonaristas de que a ades�o ao manifesto pela Democracia estaria relacionada a perdas pelo Pix.

Procurada pela BBC News Brasil, a Presid�ncia da Rep�blica n�o quis se manifestar para a reportagem.

J� o BC enviou uma manifesta��o destacando que "o Pix foi desenvolvido pelo Banco Central ao longo de um processo evolutivo. As especifica��es, o desenvolvimento do sistema e a constru��o da marca se deram entre 2019 e 2020, culminando com seu lan�amento em novembro de 2020", sem mencionar o grupo de trabalho criado em 2018.

"A agenda evolutiva do Pix � permanente e prev� o lan�amento de diversas novas funcionalidades, a serem entregues nos v�rios anos � frente", disse ainda o BC.

O Sindicato Nacional dos Funcion�rios do Banco Central (Sinal) enviou uma nota � reportagem para "repudiar o uso eleitoral do Pix por certos grupos pol�ticos".

"Tal sistema de pagamento instant�neo foi criado e implementado pelos Analistas e T�cnicos do Banco Central do Brasil — ou seja, por servidores concursados de Estado, n�o pelo atual governante ou por qualquer outro governo", diz ainda a manifesta��o do sindicato.

Na mensagem, o sindicato refor�a o in�cio do desenvolvimento do Pix ainda em 2018 e ressalta que a cria��o do novo meio de pagamento n�o constava nas promessas de campanha de Bolsonaro daquele ano.

"Desde a sua cria��o, o Banco Central do Brasil conta com servidores de alta qualifica��o e responsabilidade, e isso permitiu que diversos projetos considerados importantes pela Diretoria do BC, segundo crit�rios t�cnicos, pudessem ser conduzidos independentemente da vontade ou contrariedade pol�tica de governantes de plant�o", diz ainda a nota.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62654178

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