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Estado de Minas

Os 'voos-fantasma' mantidos pelas companhias a�reas mesmo quase vazios

Todos os meses na Europa decolam dezenas de avi�es basicamente vazios ou com menos de 10% da sua capacidade


02/09/2022 19:39 - atualizado 03/09/2022 08:33


Avião decolando
(foto: Getty Images)

Por que um avi�o que n�o leva ningu�m levantaria voo?

Por que uma companhia a�rea pagaria o piloto e a tripula��o, encheria o tanque de um avi�o comercial de combust�vel e decolaria sem transportar carga ou passageiros suficientes para justificar o gasto?

Isso realmente acontece?

Sim, todos os meses na Europa decolam dezenas de avi�es que est�o basicamente vazios ou com menos de 10% da sua capacidade — e que s�o conhecidos como "voos fantasmas".

H� anos, o fen�meno — que n�o ocorre na Am�rica Latina ou no Caribe — � uma realidade, mas com a chegada da pandemia de covid-19 e as restri��es �s viagens, o problema se tornou mais premente.


Aeroporto
(foto: Getty Images)

Muitos aeroportos exigem que as companhias a�reas realizem pelo menos 80% dos voos programados para manter seus direitos de pouso e decolagem em determinados hor�rios (slots).

Isso deixa as empresas com uma margem de cancelamento de 20%.

Se suas opera��es n�o atenderem a esses percentuais, elas s�o obrigadas a operar avi�es vazios para manter seus slots ou, no ano seguinte, correm o risco de perder os melhores hor�rios comerciais.

Decolar de Londres �s 6h da manh� n�o � o mesmo que decolar �s 8h ou 9h.

Tampouco � igual pousar em Madri �s 17h e � 1h da manh�, quando o metr� j� fechou e as conex�es de transporte com o centro da cidade s�o mais complicadas.

O pre�o tamb�m n�o � o mesmo.


Estação de metrô vazia
Muitos servi�os de metr� nas capitais europeias n�o funcionam � noite (foto: Getty Images)

'Use ou perca'

� por isso que, nos aeroportos mais congestionados, e para organizar todo o tr�fego a�reo, a Comiss�o Europeia e a Administra��o Federal de Avia��o (FAA, na sigla em ingl�s) dos Estados Unidos aplicam a regra "use [o slot] ou perca".

"Os voos fantasmas s�o definidos como aqueles operados voluntariamente pelas companhias a�reas exclusivamente para preservar os direitos hist�ricos sobre seus slots", explica o Conselho Internacional de Aeroportos (ACI, na sigla em ingl�s).

A entidade, que representa os interesses dos aeroportos perante os governos, acrescenta que "os voos fantasmas n�o s�o colocados � venda, n�o transportam passageiros e n�o geram receitas para as companhias a�reas".

Muitos acreditam que os voos fantasmas n�o beneficiam ningu�m — e que � uma pr�tica desnecess�ria e perdul�ria.

Outros creem que a distribui��o coordenada de slots nos aeroportos que est�o em sua capacidade m�xima poss�vel, garante a concorr�ncia entre as companhias a�reas e beneficia os consumidores.


Aeroporto com pouco movimento
As companhias a�reas novas enfrentam barreiras para entrar no mercado (foto: Getty Images)

"S�o voos que, a priori, n�o fazem sentido econ�mico e muito menos ambiental. Se queima muita querosene, o que tem um claro impacto nas mudan�as clim�ticas", diz Diego R. Gonz�lez, presidente da Associa��o Mundial de Advogados de Aeroportos.

Companhias a�reas tradicionais e 'low cost'

A chave est� justamente no aspecto comercial.

"Os slots s�o aqueles hor�rios ou turnos atribu�dos. Se n�o os utilizam, s�o penalizadas. No ano seguinte, a autoridade aeroportu�ria cede para outra empresa, e para as companhias a�reas, � uma forma de perder mercado", diz Gonz�lez.

Para o advogado, h� uma disputa entre as companhias a�reas tradicionais e as rec�m-chegadas ao mercado, o que incentiva as transportadoras a se esfor�arem ao m�ximo para cumprir com o regulamento, mesmo que seja voando vazias.

"As companhias a�reas que dominam o mercado fazem isso porque t�m os melhores hor�rios, que s�o os mais caros. S�o as rotas que chegam aos aeroportos no hor�rio central em termos de conveni�ncia", explica.

"Como h� uma transportadora dominante que n�o tem concorr�ncia em uma rota em determinado hor�rio, o que acontece � que ela n�o baixa os pre�os. H� um problema de concorr�ncia entre as companhias a�reas que lutam por um recurso escasso, como infraestrutura aeroportu�ria", acrescenta.


Fila em aeroporto
Fila em aeroporto (foto: Getty Images)

Willie Walsh, diretor da Associa��o Internacional de Transporte A�reo, argumenta que esse modelo de neg�cio incentiva as companhias a�reas a voar com baixa capacidade ou vazias para manter os slots.

"Se voc� voa entre dois aeroportos com capacidade regulada, precisa ter a permiss�o de ambos para n�o voar. Caso contr�rio, voc� tem que operar", explicou o diretor em um v�deo, ao mesmo tempo em que disse que n�o acredita que haja companhias a�reas adotando esta pr�tica de forma deliberada.

As companhias a�reas pedem maior flexibilidade na regra.

Mas o setor tamb�m aponta que antes de botar para voar um avi�o vazio, a companhia a�rea afetada poderia baixar os pre�os tentando atrair viajantes para o voo com problema.

Uma pol�tica rara de se ver.


Aeroporto de Miami
Aeroporto de Miami (foto: Getty Images)

Dano ambiental

A todo este fr�gil equil�brio da ind�stria de avia��o se somam os danos ambientais.

A avia��o � respons�vel por cerca de 2% das emiss�es globais de CO2, mas o setor como um todo responde por cerca de 3,5% do aquecimento global devido � atividade humana.

E � um setor que vai continuar crescendo.

Desde 2000, as emiss�es aumentaram cerca de 50%, e a expectativa � de que a ind�stria cres�a mais de 4% a cada ano nas pr�ximas duas d�cadas, segundo a Ag�ncia Internacional de Energia (AIE).

O dano ambiental dos "voos fantasmas na Europa", segundo o Greenpeace, � "equivalente �s emiss�es anuais de mais de 1,4 milh�o de carros".

E tudo isso em um momento em que a ind�stria da avia��o se comprometeu a zerar as emiss�es l�quidas de carbono at� 2050.


Aeroporto Benito Juárez no México
Aeroporto Benito Ju�rez no M�xico (foto: Getty Images)

N�o acontece na Am�rica Latina

A situa��o na Am�rica Latina e no Caribe � diferente.

Deve-se ter em mente que o sistema de slots est� em vigor nos aeroportos com capacidade no limite.

"Obviamente h� aeroportos congestionados em alguns pa�ses como Brasil ou M�xico e em determinados hor�rios no Peru e na Col�mbia, mas na regi�o isso n�o est� acontecendo porque a capacidade dos aeroportos n�o chegou a um ponto em que precisem de restri��es", diz Gonz�lez.

� que, embora ap�s a pandemia o volume de passageiros esteja se recuperando, o n�mero de movimentos de aeronaves n�o � t�o representativo a ponto de obrigar os aeroportos a tomar medidas.

"A Europa est� sofrendo, entre outras coisas, com uma demanda latente. Ou seja, gente que estava esperando tudo abrir para viajar. Tamb�m com os voos resgatados que n�o foram feitos durante a pandemia. Aquela passagem que voc� comprou e ficou l� at� tudo reabrir", avalia Rafael Echevarne, diretor geral da ACI para a Am�rica Latina e o Caribe.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62765232

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