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Estado de Minas "ECONOMIA PUJANTE"

Fome, infla��o e informalidade desafiam discurso de Bolsonaro

A infla��o, que ficou na casa dos dois d�gitos de setembro de 2021 a julho deste ano, corroeu o poder de compra dos brasileiros ao longo do �ltimo ano


10/09/2022 09:41 - atualizado 10/09/2022 10:00

Jair Bolsonaro
Discurso do presidente Jair Bolsonaro n�o condiz com a realidade dos dados da economia real (foto: EVARISTO SA / AFP )

Fome, precariedade no mercado de trabalho e corros�o do poder de compra provocada pela infla��o, que se manteve em dois d�gitos durante quase um ano, ainda desafiam o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL), em campanha pela reelei��o, sobre o Brasil ressurgir com uma economia pujante.

Apesar de dois meses seguidos de defla��o (queda de pre�os) puxada pela redu��o das al�quotas de ICMS sobre combust�veis e energia el�trica, o IPCA (�ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo) acumula alta de 8,73% em 12 meses.

O aumento no custo da alimenta��o no mesmo per�odo chegou a 13,43%, embora o ritmo de eleva��o tenha perdido for�a em agosto (0,24%).

Comida cara castiga sobretudo os mais pobres. Nem sempre o card�pio do almo�o ou do jantar vai al�m do prato de arroz e feij�o na casa de Francisca Maria do Nascimento Bezerra, a Dona Ca�ula.

"�s vezes, a gente acha [carne] na lixeira e come, mas quando � para comprar, s� de m�s em m�s, compra um frango, toucinho. Carne vermelha n�o d� para comprar, n�o", conta a mulher que vive em situa��o de vulnerabilidade e desinfeta o alimento tirado do lixo com lim�o e vinagre antes do consumo.

Ca�ula paga R$ 200 mensais em um apartamento em um conjunto de baixa renda em Bras�lia. Para trabalhar como catadora de materiais recicl�veis, no entanto, acaba vivendo com o marido ao lado de outras fam�lias em uma ocupa��o no Noroeste.

Aos 55 anos, ela ganha at� R$ 350 por m�s com o que recolhe de bicicleta pelas ruas. Como seu marido recebe o BPC (Benef�cio de Presta��o Continuada), que paga um sal�rio m�nimo a idosos de baixa renda e pessoas com defici�ncia –caso do marido de Ca�ula–, ela n�o tem direito ao Aux�lio Brasil.

"O rapaz que compra o material est� falando que vai baixar cada vez mais, as coisas v�o ficar mais dif�ceis, tudo subindo, arroz, �leo e feij�o s�o muito caros" diz a catadora.

A hist�ria de Ca�ula e seus vizinhos mostra uma realidade diferente da expressa por Bolsonaro, que disse que n�o existe "fome para valer" no Brasil.

Em discurso nas comemora��es do dia 7 de Setembro em Bras�lia, o presidente chegou a dizer: "Quando parecia que tudo estaria perdido para o mundo, eis que o Brasil ressurge, com uma economia pujante, com uma gasolina das mais baratas do mundo, com um dos programas sociais mais abrangentes do mundo, que � o Aux�lio Brasil, com recorde na cria��o de empregos, com infla��o despencando".

O 2º Inqu�rito Nacional sobre Inseguran�a Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Seguran�a Alimentar e Nutricional), indicou que 33 milh�es de pessoas passam fome no pa�s.

"A inseguran�a alimentar, que � um problema de sa�de p�blica e compromete o futuro da sociedade, est� relacionada a diversas causas. O desemprego, a queda do rendimento m�dio das fam�lias e a infla��o est�o entre elas", afirmou o soci�logo Rog�rio Baptistini, professor do CCSA (Centro de Ci�ncias Sociais e Aplicadas) da Universidade Mackenzie.

A comida cara tem levado a classe m�dia a mudar seus h�bitos de compra. Elis Regina Dias de Assis, servidora p�blica, est� sempre atenta a promo��es e n�o se apega a marcas na hora de escolher os produtos.

Com a alta dos pre�os, diminuiu o consumo de carne vermelha, tem evitado comprar feij�o e passou a fazer p�o caseiro. Vez ou outra, leva para casa uma caixa de leite.

O or�amento mais apertado levou Elis Regina a mudar o plano na academia, a deixar o carro pr�prio encostado na garagem e ir ao trabalho de transporte p�blico. Buscou um apartamento com aluguel mais barato, ainda que mais distante.

"Seis sal�rios m�nimos antigamente era algo bom, j� n�o � mais. Meu padr�o de vida diminuiu, sim. Agora, a gente tem de pensar bem antes de comprar muita coisa", afirma.

O economista Heron do Carmo, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administra��o da Universidade de S�o Paulo), ressalta que, "mesmo que a infla��o d� um certo al�vio daqui por diante, n�o d� para [o consumidor] esquecer o saldo dos aumentos anteriores".
A infla��o, que ficou na casa dos dois d�gitos de setembro de 2021 a julho deste ano, corroeu o poder de compra dos brasileiros ao longo do �ltimo ano.

Os pre�os dos alimentos est�o indiretamente ligados aos dos combust�veis. O litro da gasolina ficou mais barato no Brasil em meio ao corte de ICMS. O movimento de baixa, contudo, n�o foi acompanhado no mesmo ritmo pelo diesel, afetado por um descompasso entre oferta e demanda mundial em decorr�ncia da Guerra da Ucr�nia.

Fl�vio Console, no ramo de transporte de cargas desde 1994, sofre com a queda da sua margem de lucro nos �ltimos meses. Est� decidido a vender sua "segunda casa", um caminh�o que o acompanha h� 12 anos.

"Tempos atr�s, o nosso custo de combust�vel por viagem era em torno de 40%. S� de combust�vel, hoje chega a 60% do valor do frete", disse o motorista, ao preparar-se para pegar a estrada rumo a Araguari (MG), levando soja para exporta��o.

Em m�dia, ele faz duas viagens por semana. "Uma viagem de R$ 4.400 de frete, ida e volta s�o 740 km, o custo � na faixa de R$ 2.600 s� de �leo [diesel]", detalhou. "Isso sem contar pneu, desgaste de ve�culo, trabalho do motorista, comida, ped�gio. Est� ficando dif�cil trabalhar nesse ramo."

O aux�lio distribu�do pelo governo aos caminhoneiros em seis parcelas de R$ 1.000 mensais at� dezembro n�o � suficiente para fazer Console desistir de abandonar as estradas.

Na vis�o de especialistas, outro ponto sens�vel politicamente para a gest�o Bolsonaro � a precariza��o do mercado de trabalho.

Embora a taxa de desemprego tenha recuado para 9,1% no trimestre encerrado em julho, o n�mero de trabalhadores informais chegou a 39,3 milh�es, de acordo com a Pnad Cont�nua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua), divulgada pelo IBGE.

Caio Cardoso, nos �ltimos meses, tem feito bicos de pintor ao lado do pai, atuado como ajudante de pedreiro e participado da montagem de tendas para eventos, servi�o que lhe rende R$ 120 por dia.

Ele trabalhou durante tr�s anos na limpeza e mais um na jardinagem, como operador de micro trator, em uma empresa de servi�os gerais. Viu a carga de trabalho aumentar ap�s corte de 50% do pessoal durante a pandemia at� ter seu contrato rescindido.

"Moro de aluguel, tenho minha esposa, meu filho. A gente vai fazendo do jeito que consegue", afirma. Em agosto, recebeu a �ltima parcela do seguro-desemprego de R$ 1.200. A queda da renda nos pr�ximos meses preocupa Cardoso, pai de um menino de 2 anos.


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