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Estado de Minas AS CONSEQU�NCIAS DAS URNAS

Elei��es 2022: impacto na Am�rica Latina vai da ideologia � economia

Vota��o � considerada decisiva na regi�o e deve ter efeitos sobre rela��es pol�ticas, economia, com�rcio, debate ideol�gico e em elei��es fora do Brasil


02/10/2022 17:55 - atualizado 02/10/2022 19:38


Homem manuseando urnas eletrônicas
Elei��es no Brasil poder�o refletir nas rela��es pol�ticas, na economia, no com�rcio, no debate ideol�gico e no voto dos eleitores que moram no exterior (foto: Ag�ncia Brasil)

A elei��o presidencial brasileira deve impactar os demais pa�ses da Am�rica Latina, na vis�o de analistas, pol�ticos e cidad�os ouvidos pela BBC News Brasil, e se refletir nas rela��es pol�ticas, na economia, no com�rcio, no debate ideol�gico e no voto dos eleitores al�m das fronteiras brasileiras.

A atual percep��o sobre o efeito da elei��o brasileira ocorre porque o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que lideram as pesquisas de inten��o de voto, s�o conhecidos dos eleitores dos pa�ses vizinhos que acompanham a corrida ao Pal�cio do Planalto.

Lula j� era renomado por ter governado o Brasil durante dois mandatos e, mesmo antes de ser presidente, entre sindicalistas e acad�micos por sua trajet�ria de vida. Bolsonaro passou a ser conhecido, principalmente, ap�s sua elei��o em 2018.

"O Brasil tem um peso maior do que o do M�xico e o da Argentina e n�o s� na Am�rica Latina. E o resultado eleitoral pode irradiar para toda a regi�o", diz o cientista pol�tico Juan Lucca, professor da Universidade Nacional de Rosario.


Cartaz que mostra Bolsonaro cochichando no ouvido de Lula
Cartaz que mostra Bolsonaro cochichando no ouvido de Lula � espalhado por ruas em Buenos Aires (foto: M�rcia Carmo/ BBC News Brasil)

Para Am�lcar Salas, professor de Ci�ncias Pol�ticas da Universidade de Buenos Aires (UBA), essa � uma elei��o "decisiva" no �mbito regional e tamb�m global.

Os que s�o simpatizantes de Lula acreditam que sua elei��o poderia consolidar um "giro � esquerda" da regi�o, especialmente a Am�rica do Sul e reaquecer o di�logo entre pa�ses com l�deres que fazem parte deste campo do espectro pol�tico.

Os que n�o o apoiam entendem que a reelei��o de Bolsonaro evitaria o fortalecimento dos movimentos pol�ticos definidos como de esquerda ou centro-esquerda e o presidente brasileiro se firmaria como uma refer�ncia para a direita na regi�o.

Em 22 de setembro, a elei��o e a recente hist�ria pol�tica brasileira foram tema de semin�rio, com sala lotada, na Universidade Nacional de San Mart�n (UNSAM), na Argentina.

"Em 2018, n�o vislumbr�vamos um Bolsonaro na Argentina. E, agora, com a radicaliza��o da direita, nada seria imposs�vel", comentou um dos presentes na plateia.

A percep��o � que, al�m das quest�es de geopol�tica, o resultado das urnas brasileiras poderiam ter influ�ncia no voto do eleitorado vizinho.

Uma fisioterapeuta da cidade de Buenos Aires, que se declarou avessa ao kirchnerismo, liderado pela ex-presidente e vice-presidente Cristina Kirchner, disse � reportagem que espera que o presidente Bolsonaro seja reeleito. E n�o porque ela seja bolsonarista.

"Se Lula for eleito, apoiar� Cristina. E n�o quero que ela volte a ser presidente. Temos uma s�rie de problemas aqui, como a infla��o alt�ssima, que o kirchnerismo n�o resolve e, al�m disso, Cristina tem v�rias den�ncias na Justi�a", disse.

Um assessor de uma das maiores entidades do agroneg�cio na Argentina observou que "n�o � que exista simpatia clara do ramo por Bolsonaro", mas que o problema, neste caso, � que os produtores rurais e o kirchnerismo vivem em "constante queda de bra�o" e, caso Lula seja eleito, esse movimento pol�tico poderia sair fortalecido.

Existe outro argumento, disse o assessor, o entendimento de que, apesar das dificuldades, a economia brasileira "vai bem melhor" do que a da Argentina.

A cientista pol�tica Dolores Rocca Rivarola, da UBA, recorda que Bolsonaro passou a ser conhecido na Argentina quando discursou, em 2016, e surpreendeu os argentinos. Naquele discurso, ele defendeu o coronel Brilhante Ustra, militar reconhecido pela Justi�a como torturador.

Ato por Lula

Em 24 de setembro, o pol�tico kirchnerista Axel Kicillof, governador da Prov�ncia de Buenos Aires, a maior do pa�s, participou de um ato de campanha, com artistas argentinos, na cidade de La Plata, em apoio � elei��o de Lula, em mais um sinal da influ�ncia direta do que ocorre no Brasil.

Defender, publicamente, o retorno do ex-presidente ao Planalto, passou a ser algo frequente nesta campanha, como se viu no semin�rio da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), realizado no m�s passado, em Buenos Aires.

"Que o Brasil regresse � Celac, com Lula, obviamente", disse a mexicana Alicia B�rcena, ex-secret�ria executiva da Comiss�o Econ�mica para Am�rica Latina e Caribe (Cepal).

Segundo ela, o combate � pobreza foi uma de suas pol�ticas, na Presid�ncia, que deve ser destacada e que esteve em sintonia com outros governos da regi�o, na �poca.

No mesmo encontro, o ex-primeiro-ministro da Espanha Jos� Luis Rodr�guez Zapatero disse que, caso Lula seja eleito, o Brasil e a Am�rica Latina como um todo ganhar�o maior peso no cen�rio internacional.

"Somente a Am�rica Latina n�o tem confrontos com outros continentes e possui rela��es amplas no �mbito comercial, incluindo Estados Unidos e China", declarou.

"Estes s�o ativos importantes para a reconstru��o do sistema multilateral. Mas est� claro que isso s� poder� ser feito depois da elei��o no Brasil. E o que esperamos � que o Brasil vote em Lula." A plateia aplaudiu e alguns gritaram: "Lula j�".

Na vis�o de pol�ticos de centro-esquerda e esquerda, o retorno de Lula � Presid�ncia ser� decisivo para a retomada da fluidez do di�logo regional. Nos bastidores do governo argentino, afirma-se que "ser� mais f�cil trabalhar com um (eventual) governo Lula".

O racioc�nio inclui o fato de pa�ses da Am�rica do Sul serem presididos por l�deres do espectro pol�tico de Lula, como Gabriel Boric no Chile, Gustavo Petro na Col�mbia, Luis Arce na Bol�via e Alberto Fern�ndez na Argentina.

Hoje, os presidentes pouco dialogam em rela��o a tempos passados. "O problema n�o � que Bolsonaro e Fern�ndez n�o se falam. O fato � que Bolsonaro n�o fala com ningu�m", disse o ex-chanceler do governo Lula, Celso Amorim.

'Bolsonaro faz excelente governo'

Ao contr�rio da elei��o de 2018, quando a extrema-direita estava praticamente ausente do debate pol�tico argentino, agora o nome de Bolsonaro � associado a este setor que passou a fazer parte das pesquisas de opini�o e prefer�ncias, ainda que t�midas em rela��o aos demais movimentos pol�ticos, do eleitorado argentino.

Em entrevistas, o pol�tico Javier Millei, que busca ser presidente e � amigo do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), tem elogiado e declarado respaldo � reelei��o do presidente brasileiro.

"Bolsonaro est� fazendo um excelente governo. � bom se ter consci�ncia do que est� acontecendo na economia brasileira, que registra defla��o. O problema � a esquerda", disse Millei.


Homem em cabine de votação
Resultado das elei��es, que devem ser decididas entre Lula e Bolsonaro, ter� impacto internacional (foto: Ag�ncia Brasil)

Em uma par�dia que fez recordar uma das m�sicas da Copa do Mundo, um "Jair" cantou em um quadro de humor pol�tico na emissora de televis�o TN: "Argentina, decime que se siente con inflaci�n del 90%" (Em tradu��o livre: Argentina, me diz como se sente com uma infla��o de 90%). A expectativa � que a Argentina registre este �ndice de aumento de pre�os neste ano.

Entre os analistas ouvidos pela BBC News Brasil sobre os poss�veis impactos da elei��o brasileira, Juan Lucca diz que o efeito � ineg�vel.

"Com Lula eleito, a expectativa � que a regi�o, como um todo, volte a crescer, especialmente se ocorrer um novo boom de commodities (como do in�cio do s�culo)", disse o cientista pol�tico.

"Se Bolsonaro for reeleito, j� sabemos o cen�rio que existe. Mas a influ�ncia pol�tica (direta), no caso da Argentina, que realiza elei��o presidencial no ano que vem, vai depender do desempenho do (eventual) governo Lula. As pessoas no Brasil ter�o pressa de resultados, e isso pode influenciar a elei��o argentina tamb�m."

Para o professor, a influ�ncia da elei��o brasileira poder� ocorrer em quatro pilares: pol�tico, econ�mico, comercial e ideol�gico.

Ele concorda de certa forma com Zapatero ao dizer que, caso Lula seja eleito, poder�o surgir debates internacionais como a amplia��o dos Brics, bloco de pa�ses emergentes formado por Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul. Setores da Argentina defendem a entrada do pa�s no grupo.

Salas tamb�m acredita que, com Lula na Presid�ncia brasileira, a Argentina poderia "consolidar" sua entrada no bloco. Al�m disso, afirmou, o Mercosul ganharia novo impulso.

Para ele, uma eventual elei��o de Lula "teria impacto positivo" na pol�tica interna de outros pa�ses, como Argentina e Paraguai, por exemplo.

'Di�logo presidencial esfriado'

Na vis�o dos analistas, o di�logo presidencial voltaria a ser mais constante na regi�o. "Com Bolsonaro, no Brasil, com Lacalle Pou, no Uruguai, e com Marito (Mario Abdo Ben�tez) no Paraguai, isto hoje n�o ocorre", diz Lucca.

Fontes dos governos do Uruguai e do Paraguai argumentam que a pandemia contribuiu para esfriar o di�logo, j� que cada um se voltou para cuidar de seus pr�prios problemas.

A elei��o brasileira, entende o analista, pode "irradiar" para o resto da regi�o, fortalecendo o centro-esquerda e setores da esquerda, como a Frente Ampla, no Uruguai.


Lula e Bolsonaro
Bolsonaro e Lula s�o motivos de atos, semin�rios e conversas na Argentina (foto: Getty Images)

Para Lucca, se Bolsonaro for reeleito, a "direita radical" o ter� como refer�ncia ainda mais forte.

"Neste caso, Javier Millei e outros que se definem como 'libert�rios' e os que defendem a ten�ncia de armas ter�o mais motivos para justificar seus discursos", afirmou.

E o amplo e hist�rico movimento peronista, hoje fragmentado, precisar� se unir, como op��o de centro-direita e at� � esquerda.

O analista venezuelano Luis Vicente Le�n, da consultoria pol�tica Datanalisis, o impacto da eventual reelei��o de Bolsonaro, em termos regionais, seria "menos relevante" que no caso da elei��o de Lula.

"Lula poderia, sem d�vida, representar a consolida��o de grupos mais de esquerda, com seus diferentes matizes, e acho que isso abriria portas para o fortalecimento dos grupos regionais com blocos, incluindo uma recoloca��o da Venezuela", disse.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63015632

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