Nesta semana, a varejista comunicou ao mercado ter encontrado inconsistências nos balanços financeiros da ordem de R$ 20 bilhões

Nesta semana, a varejista comunicou ao mercado ter encontrado inconsist�ncias nos balan�os financeiros da ordem de R$ 20 bilh�es

Mauro Pimentel / AFP

Depois de admitir uma inconsist�ncia cont�bil de R$ 20 bilh�es em seu balan�o, a Americanas S.A. pediu uma tutela cautelar, ou seja, uma prote��o � Justi�a para evitar a antecipa��o de vencimento de d�vidas que, segundo a companhia, somam R$ 40 bilh�es. O n�mero corresponde � soma dos R$ 20 bilh�es expostos pelo agora ex-presidente da Americanas Sergio Rial e da d�vida bruta da companhia, que em setembro de 2022, �ltimo dado dispon�vel, era de quase R$ 20 bilh�es.

O �ltimo balan�o da empresa, antes da exposi��o do erro cont�bil de R$ 20 bilh�es, mostra que a Americanas fez um trabalho para alongar os prazos de suas d�vidas entre 2021 e 2022. O maior deles foi nos empr�stimos e financiamentos junto a bancos.

Em setembro de 2021, a Americanas tinha R$ 3,4 bilh�es em empr�stimos com vencimentos de at� 12 meses. Um ano depois, esse valor baixou para pouco menos de R$ 900 milh�es. Por outro lado, os empr�stimos e financiamentos de longo prazo quase dobraram, saindo de quase R$ 8 bilh�es para R$ 15,5 bilh�es. Esses contratos t�m vencimentos superiores a 12 meses.

O valor total desses financiamentos, somando todos os vencimentos, correspondem a quase 87% do valor total da d�vida bruta da Americanas ao final do terceiro trimestre, de R$ 19,3 bilh�es. Essa d�vida cresceu mais de 50% em 12 meses, j� que em setembro de 2021 estava em R$ 12,8 bilh�es.

D�VIDA L�QUIDA

Para medir a d�vida l�quida, a empresa apura o que tem de recursos dispon�veis em caixa, mais o que tem a receber em receb�veis de cart�o de cr�dito, no caso da Americanas e outras varejistas. 

A Americanas tinha, em setembro, R$ 8,8 bilh�es em caixa, mais R$ 5,2 bilh�es em receb�veis, j� descontados os que foram antecipados pela empresa junto a bancos. Um total dispon�vel de R$ 14 bilh�es, quase R$ 2 bilh�es a menos que 12 meses antes, quando as disponibilidades eram de R$ 15,8 bilh�es.

Assim, chega-se � d�vida l�quida da Americanas de R$ 5,3 bilh�es. Um ano antes, os recursos dispon�veis eram maiores que a d�vida bruta, e por isso a empresa tinha um caixa l�quido de R$ 3 bilh�es.

� a partir da� que as empresas fazem o c�lculo do que � chamado no mercado de alavancagem, que d� uma ideia da capacidade de pagamento dos compromissos de uma empresa. Ele � medido pela divis�o da d�vida l�quida pelo Ebitda, que � o resultado operacional da empresa medido antes de vari�veis puramente financeiras, como impostos, juros de d�vidas e outros indicadores cont�beis.

A Americanas terminou o terceiro trimestre de 2022, segundo seu balan�o, em uma rela��o d�vida l�quida/Ebitda de 1,7 vez, patamar considerado bastante saud�vel por analistas. Em alguns contratos, especialmente naqueles feitos com grandes credores, h� uma cl�usula que limita essa alavancagem, como forma de prote��o contra uma eventual dificuldade de pagamento dos valores devidos.

No caso da Americanas, segundo o time de an�lise da XP investimentos, uma pequena parte dos contratos com credores tem essa prote��o, que n�o pode ser maior que 3,5 vezes na rela��o d�vida/Ebitda.

Mas, ainda segundo a XP, se a Americanas admitir de uma s� vez em seus balan�os os R$ 20 bilh�es descobertos, a rela��o d�vida/Ebitda salta para oito vezes, o que justificaria o pedido de antecipa��o do vencimento dos contratos, para quem inseriu essa cl�usula.
N�o � poss�vel saber quantos contratos de financiamento da Americanas t�m essa cl�usula. � mais comum ela estar presente em emiss�es feitas no mercado de capitais, com deb�ntures, por exemplo. A Americanas tem R$ 4,3 bilh�es em t�tulos desse tipo a pagar, sendo R$ 1,3 bilh�o de curto prazo.

No balan�o patrimonial, a Americanas declarava tamb�m um passivo circulante, ou seja, pagamentos a serem feitos no curto prazo, de R$ 5 bilh�es com fornecedores. Nesse caso, esse � um item comum em balan�os de varejistas, j� que as grandes redes conseguem negociar prazos de pagamento dos produtos que compram, geralmente entre 30 e 90 dias. (Folhapress)

Justi�a reverte demiss�o de diretora

A Justi�a do Trabalho do Rio de Janeiro suspendeu, na ter�a-feira (10/1), a demiss�o da diretora comercial da B2W Digital, da Americanas.com, Anna Sotero. Segundo a a��o, ela estava afastada das atividades desde o fim de 2021 por burnout, recebeu alta do psiquiatra em 3 de janeiro e se reapresentou � empresa. Classificado pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) como doen�a ocupacional, o burnout � causado pelo esgotamento profissional e tem como principal sintoma o cansa�o excessivo. Segundo a a��o, ela foi demitida pela Americanas.com na mesma semana e procurou o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro no dia 6.

Procurada pela reportagem via e-mail e telefone, a empresa n�o respondeu. A reportagem tamb�m questionou o advogado Rafael Tavares Tomh�, indicado no despacho como representante da Americanas S.A. Ele afirmou n�o estar autorizado pelo cliente a comentar o processo.

liminar A Justi�a determinou, em decis�o liminar de primeira inst�ncia em janeiro, a reintegra��o imediata da diretora, sob pena de multa de R$ 50 mil. Tamb�m foi definido o restabelecimento dos benef�cios trabalhistas, o que inclui o plano de sa�de.

A Americanas.com n�o cumpriu a decis�o at� a �ltima ter�a e a ju�za titular, Monica de Almeida Rodrigues, determinou a amplia��o da licen�a da executiva at� a per�cia que ir� avaliar se h� incapacidade para o trabalho. No despacho, a magistrada afirma que apenas o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) pode avaliar se Anna Sotero se recuperou de doen�as ocupacionais e est� apta para retornar �s atividades profissionais.