Lula e Alckmin dando um aperto de mãos

Lula viaja para a China pela quarta vez como presidente e Alckmin assume seu posto

Ricardo Stuckert/PR
S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) precisa aperfei�oar a parceria do Brasil com a China nos pr�ximos anos, caso o pa�s queria aproveitar o momento atual da economia chinesa, de crescimento baseado em setores de ponta, segundo a vis�o de especialistas ouvidos pela reportagem.

 

No in�cio de mar�o, a China estabeleceu uma meta de cerca de 5% para o crescimento econ�mico em 2023. � a menor em mais de tr�s d�cadas, e a economia chinesa j� havia tido um desempenho mais fraco, crescendo 3%, no ano passado ap�s ser pressionada por tr�s anos de uma pol�tica dura de controle da Covid-19.

 

O governo chin�s refor�ou a necessidade de estabilidade econ�mica e expans�o do consumo, definindo uma meta de criar cerca de 12 milh�es de empregos nos centros urbanos neste ano, acima da meta do ano passado (de 11 milh�es) e alertou para os riscos que permanecem presentes no setor imobili�rio.

 

 

Para Elias Jabbour, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e especialista em China, a meta mais modesta n�o � um sinal negativo, e um pa�s com as dimens�es chinesas mirar em um crescimento na casa dos 5% traz certezas em um momento incerto para a economia mundial.

 

"O crescimento vai ser menor, mas isso n�o vai se refletir em queda de investimentos ou de produtividade do trabalho. � menor do ponto de vista quantitativo, n�o qualitativo", diz. Os resultados maiores v�o ser substitu�dos por um crescimento mais sustent�vel, amparado em transi��o energ�tica, investimento em setores de alt�ssima tecnologia e voltado para a distribui��o de renda, diz.

 

Jabbour, que � autor do livro "China: o Socialismo do S�culo 21", argumenta que os chineses constru�ram um arcabou�o financeiro e comercial que permite que o pa�s possa escolher quanto e quando crescer e que o Brasil pode aprender a mobilizar sua intelig�ncia usando a capacidade da China.

 

"A China entrega uma tend�ncia de exportadora de bens p�blicos, enquanto o Brasil tem um problema s�rio de infraestrutura. Uma parceria para a entrega de trens de alta velocidade, com tecnologia que pode ser uma porta de entrada para a reindustrializa��o do Brasil, pode ser um caminho. � preciso ir al�m das commodities e passar para um est�gio de coopera��o", diz ele.

 

No m�s passado, o presidente Lula viajaria para a China, em visita ao l�der chin�s, Xi Jinping. Lula, no entanto, desmarcou a viagem, ap�s ser diagnosticado com uma pneumonia. O Pal�cio do Planalto remarcou a ida do mandat�rio ao pa�s para esta ter�a-feira (11).

 

A comitiva deve partir de Bras�lia para Xangai e chegar a Pequim dois dias depois. A visita de Lula ocorre logo ap�s a ida da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para o NDB, banco do Brics (bloco formado por Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul).

 

A presen�a da ex-presidente na institui��o � considerada pelo governo como um sinal de fortalecimento do pa�s nos Brics e de oportunidades de investimentos. � Folha de S.Paulo, o ministro da Agricultura e Pecu�ria, Carlos F�varo (PSD), disse que o governo pretende estabelecer uma parceria com a institui��o, ampliando a oferta de cr�dito a juros baixos para produtores rurais.

 

 

 

"O Brasil tem um bom momento para captar. Pega dinheiro com os Brics, e o BNDES e o Banco do Brasil emprestam para investidores, compra de tratores, m�quinas colheitadeiras, constru��o de armaz�ns. Investimentos de cinco, seis, sete anos com taxas mais reduzidas. � uma opera��o segura para todos."

 

Na avalia��o dos analistas, a China pode deixar o papel de uma das beneficiadas da desindustrializa��o do Brasil para se tornar aliada na reindustrializa��o, agora com foco em economia verde.

 

Lula deve aproveitar a visita para firmar com a China um acordo de coopera��o em semicondutores, 5G, 6G e as pr�ximas gera��es de redes m�veis, intelig�ncia artificial e c�lulas fotovoltaicas.

 

A BYD, fabricante de �nibus 100% el�tricos em Campinas (SP), poder� contar em breve com a sua primeira f�brica nacional de carros de passeio.

 

Ap�s a visita de Lula, o governo tamb�m promete mobilizar esfor�os para retomar as obras de infraestrutura, com o novo PAC (Programa de Acelera��o do Crescimento) --o plano de investimentos deve reunir concess�es, aportes diretos do governo e parcerias com estados e munic�pios.

 

 

 

Em mar�o, Xi Jinping garantiu um in�dito terceiro mandato, durante uma sess�o parlamentar na qual refor�ou seu controle sobre a segunda maior economia do mundo.

 

Segundo o analista de um "think tank" norte-americano, o l�der chin�s vai precisar se concentrar na retomada econ�mica em seu terceiro mandato.

 

Para L�vio Ribeiro, pesquisador associado do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia, da Funda��o Getulio Vargas) e tamb�m especialista no pa�s asi�tico, analistas j� falavam que um crescimento chin�s em torno de 6% exigiria muito est�mulo e causaria desequil�brios, como a aloca��o inadequada de capital.

 

"As pessoas olham muito para o curto prazo, mas se esquecem de ver o todo. A meta pode ser mais razo�vel, mas ainda vai exigir esfor�os na fronteira daquilo que � poss�vel", avalia ele.

 

Ribeiro tamb�m refor�a que os planos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tamb�m dever�o levar em conta a perda de f�lego das commodities e que os pa�ses exportadores de gr�os e prote�nas animais, como o Brasil, devem ver uma estabiliza��o dos pre�os.

 

"S� estou moderadamente otimista com o comportamento dos pre�os do min�rio de ferro, que pode ser positivo para o Brasil. A China d� sinais de avan�o nos investimentos em infraestrutura. Para apresentar um crescimento, vai precisar fazer um leve impulso fiscal."

 

O coordenador do Grupo de Pesquisa de Competitividade e Economia Internacional da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Marcos L�lis, lembra que 2023 ser� um ano dif�cil para a economia mundial --e a China n�o deve escapar disso, j� que reabriu o pa�s, com o fim das restri��es da pol�tica de Covid Zero, em um momento de desacelera��o global.

 

"Aquele ciclo robusto de commodities acabou na d�cada passada e n�o deve voltar. Mas Lula est� tentando buscar investidores para ajustar a formata��o da infraestrutura do Brasil. Se h� empresas s�lidas chinesas, com apetite de investir no Brasil, j� � uma outra quest�o."

L�lis concorda que o pa�s passa por uma mudan�a de patamar produtivo, em que as grandes exporta��es de cal�ados, t�xteis e revestimentos cer�micos v�o dar cada vez mais lugar a setores de ponta, com mais tecnologia agregada.

 

 

 

"Para o Brasil, a melhor forma de aproveitar esse momento chin�s � se aproximar ainda mais deles e tentar fazer mais trocas de alto padr�o tecnol�gico, para captar alguma coisa desse salto. Mas n�o � algo t�o f�cil. Os chineses j� investiram mais no Brasil no passado e � preciso reconquistar isso."

 

Apesar de distante de patamares de d�cadas anteriores, um relat�rio do Conselho Empresarial Brasil-China apontou que os aportes do pa�s asi�tico no Brasil somaram US$ 5,9 bilh�es em 2021, um aumento de 208% ante 2020 em termos nominais (recuperando a queda causada pela pandemia).