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Luiz Ribeiro/EM/D.A Press

Eu durmo e acordo pensando em vencer

Kely Cristina Oliveira Miranda, m�e de duas filhas, artes�, salgadeira e doceira em Montes Claros



Gr�vida pela primeira vez aos 13 anos, Kely Cristina Oliveira Mirandan�o teve alternativa. Sem contar com a ajuda de um companheiro, deixou a escola para encarar as dificuldades de ser m�e precocemente, agravadas pela situa��o de extrema pobreza. Foi empregada dom�stica, fez bicos na distribui��o de panfletos, trabalhou em padaria, caiu e se levantou v�rias vezes at� dar um passo decisivo 12 anos depois, quando retomou os estudos no projeto de Educa��o de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Filomeno Ribeiro, em Montes Claros. Al�m concluir o ensino m�dio, ela aproveitou bem as aulas de incentivo ao empreendedorismo ministradas pelo educand�rio, diversificou o artesanato que fazia desde os 22 para sustentar as filhas e ainda come�ou a fazer salgados, doces e bolos para festas.
 
“Sou muito criativa e descobri um dom para fazer as coisas. Acho que sou do tipo “mil e uma utilidades”, afirma Kely, que integra o vasto grupo de empreendedoras de �reas carentes mineiras que atuam por conta pr�pria para sustentar os filhos. Hoje aos 34 anos, Kely tem origem em uma fam�lia humilde, de tr�s irm�os e pais analfabetos, do Bairro Alto S�o Jo�o, em regi�o carente de Montes Claros, no Norte de Minas, inclu�da na pesquisa Empreendedorismo nas Favelas de Minas Gerais, realizada pelo Sebrae Minas em parceria com o Data Favela /Instituto Locomotiva. O levantamento apontou que 70% das mulheres que t�m o pr�prio neg�cio nessas �reas s�o tamb�m m�es.
 
Como Kely, m�e de Maria Clara e Bianca Emanuelly – que nasceu quando a empreendedora tinha 16 anos – muitas enfrentaram a gesta��o precoce, que responde por 13,61% dos partos no pa�s, de acordo com os dados do Minist�rio da Sa�de referentes a 2021 – ainda preliminares. Naquele ano, segundo a pasta, 363.795 brasileiras com idade entre 10 e 19 anos eram gestantes. Em 2020 – �ltimo ano de informa��es consolidadas pelo minist�rio –, foram registrados no Brasil 381.653 casos de gravidez na adolesc�ncia, que representaram 13,98% do total de gesta��es.
 
Kely come�ou a trabalhar como empregada dom�stica quando a primeira filha, Maria Clara, ainda era beb�. “Consegui um emprego em uma casa, onde eu podia levar minha filha e dormir. Mas foi muito sacrificante”, recorda. Antes da segunda gravidez, ela deixou o servi�o dom�stico e at� conseguir o primeiro emprego com carteira assinada, aos 18, como auxiliar de servi�os gerais, fez “bico” na distribui��o de panfletos de propaganda de uma cl�nica odontol�gica. Foi ainda atendente em uma padaria at� os 22, quando se viu obrigada a deixar o emprego.
 
“Como m�e solo, tive que parar de trabalhar para cuidar de minhas filhas, pois queria dar um melhor caminho para elas, longe de coisas ruins do mundo, como as drogas”, justifica. A decis�o, entretanto, a colocou no que descreve como um dos momentos mais dif�ceis de sua vida. “Na minha casa, v�rias vezes, faltou comida. �s vezes, s� tinha arroz ou arroz com ovo. At� hoje me d�i lembrar o que � uma filha pedir uma bala, um picol� e um sorvete e a gente n�o ter como comprar”, relembra.
 
H� quem diga que s�o nas dificuldades que descobrimos nossas verdadeiras for�as. Kelly colocou isso na pr�tica, se valendo da criatividade e do empreendedorismo para vencer as barreiras. Primeiro, tentou ganhar algum dinheiro “fazendo unhas”. Mas o trabalho de manicure n�o deu certo. Foi a� que come�ou a tirar o sustento da produ��o de pequenas pe�as artesanais como chaveirinhos, im� de geladeira e porta-bombom. “Coisas baratinhas”, resume.  A vida melhorou um pouco e, aos 25, ela p�de retomar os estudos que lhe abriram as possibilidades de empreender com mais profissionalismo, adicionando ao trabalho artesanal a atividade de salgadeira e doceira.
 
Em 2020, no pico da pandemia da COVID-19, ela se mudou para a comunidade de Canoas, na zona rural de Montes Claros, junto com o atual companheiro, Nivaldo Francisco Alves da Silva, que trabalha em uma fazenda da regi�o. Kely levou as duas filhas, hoje com as idades de 20 e 17 anos, que consideram Nivaldo como um pai.
 
Mesmo na zona rual ela continuou a empreender e atende encomendas de moradores da �rea urbana da cidade, especialmente em datas comemorativas, como o Dia das M�es. Para isso, recorre �s redes sociais para divulgar seus trabalhos e fazer contato com a clientela urbana.
 
Crescimento e supera��o s�o as palavras de ordem de Kely. “Eu durmo e acordo pensando em vencer. Nunca durmo sem nada em mente sobre o que vou fazer no futuro”, afirma. “A pessoa n�o pode se acomodar e ficar satisfeita com o que est� vivendo em determinado momento. Precisa ter for�a de vontade e acreditar naquilo que est� fazendo”, avalia a polivalente artes� e empreendedora.