Tela de telefone celular com aplicativo do Pix

O novo golpe tamb�m � chamado de 'golpe das pequenas tarefas' ou 'golpe dos R$ 20'

Marcello Casal Jr/Ag�ncia Brasil
SGolpistas t�m usado o Pix para enganar v�timas nas redes sociais ao oferecer dinheiro f�cil em troca de tarefas simples. Trata-se do golpe da renda extra. Tamb�m chamado de "golpe das pequenas tarefas" ou "golpe dos R$ 20", a pr�tica n�o � nova. Os criminosos oferecem uma renda extra para quem curtir v�deos em plataformas como TikTok, ou avaliar estabelecimentos no Google, por exemplo.

 

 

 

Segundo os relatos ouvidos pela reportagem, os golpistas abordam a v�tima pelo WhatsApp e dizem ser de uma empresa que presta o servi�o de avalia��o e curtidas. Caso aceite saber mais sobre a proposta, a v�tima � levada a grupos no Telegram, que t�m milhares de membros e relatos falsos de experi�ncias bem-sucedidas.

 

No grupo, a v�tima come�a a receber os pedidos dos golpistas. As tarefas incluem curtir v�deos, seguir perfis e fazer avalia��o de estabelecimentos. Em troca, os usu�rios recebem entre R$ 10 e R$ 20 ap�s cumprirem certa quantidade de tarefas.

Dali em diante a mec�nica muda. O usu�rio recebe uma mensagem solicitando um "investimento" para que siga cumprindo os objetivos. Os valores demandados variam de R$ 120 a R$ 1.000, com promessas de retorno de 30% a 100% sobre o valor investido, segundo informou uma das v�timas � reportagem. A partir do momento em que a v�tima transfere o dinheiro por Pix, perde contato com o grupo e � bloqueada pelos administradores.

 

O advogado especialista em direito digital Luiz D'Urso afirma que os criminosos podem obter os contatos de telefone em bancos de dados que foram expostos. "S�o milhares de n�meros, eles escolhem alguns aleatoriamente e disparam mensagens", diz.

 

Um auxiliar de escrit�rio de 27 anos, que pediu para n�o ser identificado, diz que, no �ltimo domingo (10/9), recebeu o contato de supostos representantes de uma empresa chamada Nustream, que se denominava "especialista em criptomoedas". "Me colocaram em um grupo no Telegram com mais de 2.000 pessoas, mas todas eram rob�s. Eu n�o conhecia ningu�m."

 

Sem suspeitar, executou as tarefas em troca de pequenas quantias, entre R$ 10 e R$ 16. Segundo o auxiliar, eram exigidas 18 tarefas di�rias, com 30 minutos de intervalo entre elas. Criminosos prometiam um faturamento de R$ 800 por dia.

 

Ap�s cumprir cinco tarefas, come�aram os pedidos de "investimentos". "S� aceitei porque estava precisando de renda extra para cobrir os gastos do m�s", afirma. Ele diz que, depois de ter transferido aos golpistas R$ 1.728, foi alertado pela suposta representante da empresa de que, caso n�o conclu�sse a �ltima tarefa, todo seu dinheiro desapareceria. Em seguida, foi solicitado um novo investimento, no valor de R$ 2.800.

 

Segundo o relato, ele teria dito aos golpistas que n�o poderia realizar a opera��o. Como resposta, conta que recebeu uma mensagem que o pressionava: "Voc� precisa encontrar uma maneira de conclu�-la e recuperar seu principal [sic], juntamente com sua comiss�o, e somente depois de concluir essa �ltima tarefa voc� poder� prosseguir com a opera��o de retirada."

 

Como n�o tinha mais dinheiro, ele diz que foi removido do grupo. Depois, registrou um boletim de ocorr�ncia e uma reclama��o no site Reclame Aqui contra o banco que recebeu o dinheiro transferido.

 

A institui��o financeira orientou, por�m, que ele procurasse o seu banco.

 

O que fazer se cair no golpe da renda extra

Para solicitar o estorno de um Pix realizado, o usu�rio deve acionar o Mecanismo Especial de Devolu��o (MED), criado pelo Banco Central (BC) para que v�timas de golpes financeiros recebam seu dinheiro de volta.

 

Para usar o MED, n�o � necess�rio fazer boletim de ocorr�ncia. � preciso telefonar ou entrar em contato pelo chat do aplicativo do banco e relatar o ocorrido para que seja feito o pedido de estorno. A partir da an�lise feita pelas institui��es, que pode levar at� sete dias corridos, o valor bloqueado ser� devolvido em at� 96 horas ap�s a confirma��o de golpe ou crime.

 

Luiz D’Urso recomenda comunicar os bancos imediatamente, tanto a institui��o de onde o dinheiro saiu quanto a que recebeu a quantia. "Existe a responsabilidade dos bancos nesse tipo de fraude, eles s�o obrigados a ressarcir os consumidores, principalmente pela falta de seguran�a em fiscalizar essas fraudes no sistema banc�rio", diz.

 

Para Ione Amorim, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), � preciso registrar reclama��es n�o apenas contra as institui��es financeiras, mas tamb�m contra as empresas respons�veis pelas m�dias sociais.

 

"Os golpistas desaparecem para n�s, usu�rios, mas n�o para quem det�m as redes. � preciso fazer uma reclama��o para que as companhias rastreiem essas falsas empresas e contas-laranjas criadas", diz. "Precisamos de maior crit�rio na abertura de contas e cria��o de perfis nas redes."

 

Amorim diz que as pessoas devem desconfiar de supostas oportunidades de ganhar dinheiro facilmente. "Esse tipo de fraude sempre existiu e agora se modernizou, como todas as nossas rela��es de neg�cio, migrando ao digital", explica.

 

"A v�tima deve se certificar de que, nesse esquema, emite avalia��es falsas sobre estabelecimentos ou produtos, algo anti�tico e que pode prejudicar outros consumidores. Impulsiona um com�rcio que n�o existe."

 

O jogo virou 

O banc�rio Pedro Monteiro, 45, afirma que conseguiu enganar os golpistas. Ele recebeu tr�s contatos em dias diferentes com o mesmo tipo de abordagem.

 

Ele diz que aceitou participar e decidiu checar at� onde conseguiria levar as tarefas sem desembolsar seu pr�prio dinheiro. Ele conta que foi inclu�do nos chamados "grupos de trabalho" e come�ou a fazer postagens simples e receber valores via Pix.

 

Ap�s finalizar quatro tarefas, come�aram as demandas pelos "investimentos". Monteiro negou. Uma suposta gestora da empresa afirmou que ele teria o valor de suas avalia��es reduzido de R$ 5 para R$ 2. Depois de mais algumas negativas, os golpistas pararam de realizar as transfer�ncias.

 

No dia seguinte, conta que outras pessoas o procuraram, desta vez para avaliar positivamente e comentar em p�ginas de estabelecimentos no Google Maps. "Fizeram apenas um Pix de R$ 10 para me incluir no grupo e logo de cara pediram os investimentos para come�ar as tarefas", conta.

 

A tabela de pre�os dos investimentos era dividida em planos que iam de A a D e valores que variavam de R$ 120 a R$ 1.000, diz. Ao recusar o pedido de transfer�ncia, recebeu seguinte mensagem da suposta administradora. "Ent�o voc� vai perder esse emprego."

 

O banc�rio afirma que registrou uma den�ncia o grupo ao Telegram, mas que nada aconteceu. "N�o houve nenhuma a��o da plataforma para tratar dessa den�ncia. O grupo continuou ativo, at� que eu tomei a iniciativa de sair", diz.

 

Procurado pela reportagem na noite de quarta (13/9), o Telegram n�o respondeu at� a publica��o desse texto.

 

Ao final do processo, Pedro afirma que lucrou com R$ 80 dos golpistas.

 

O golpe da renda extra se enquadra como estelionato e est� previsto no artigo 171 do C�digo Penal, com possibilidade de um a tr�s anos de reclus�o.