Aulas e mensalidades viram prova para escolas e pais em tempo de coronav�rus

Medida anunciada ontem pelo Planalto – possibilidade de cumprir o calend�rio escolar em menos de 200 dias letivos, desde que alcan�adas as 800 horas determinadas por lei – lan�a a escolas, pais e alunos mais uma prova nesse cen�rio de incertezas causados pela pandemia. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que valida o ensino a dist�ncia (EAD), abre a perspectiva do aumento da carga hor�ria di�ria, quando os estudantes voltarem � sala de aula, op��o dada como certa nos col�gios privados de Minas Gerais. Se na rede p�blica o prosseguimento da vida acad�mica segue em suspens�o, na rede particular da educa��o b�sica o embate � pela distribui��o de conte�dos.

 

Pais reclamam terem de arcar com mensalidades integrais sem a contrapartida da presta��o do servi�o. Em muitas escolas de Belo Horizonte, apenas atividades est�o sendo repassadas aos alunos, embora tenha sido dada a largada oficial para o ensino a dist�ncia desde a semana passada. Mas, recomenda��o do Procon � manter o pagamento, mesmo diante da crise.

 

A Medida Provis�ria 934, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Educa��o, Abraham Weintraub, tem car�ter excepcional e valer� enquanto durar a situa��o de emerg�ncia da sa�de p�blica. As 800 horas da educa��o infantil e dos ensinos fundamental e m�dio poder�o ser distribu�das em um per�odo diferente aos 200 dias letivos definidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o (LDB). O mesmo vale para o ensino superior. Uma das maneiras para se conseguir chegar ao n�mero de horas � pela educa��o a dist�ncia que, em Minas, desde o �ltimo dia 27 recebeu o aval do Conselho Estadual de Educa��o (CEE) para ser disponibilizada em 100% dos conte�dos.

 

Mas, considerando que essa op��o n�o � um complemento e sim substitui��o ao modelo habitual, resta o aumento do n�mero de horas no cotidiano das salas quando a via escolar for resta- belecida. “A medida serve para validar o EAD em todo o pa�s, onde, por exemplo, n�o h� delibera��o de estado ou munic�pio”, avalia a presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Estado de Minas Gerais (Sinep-MG), Zuleica Reis. “E, certamente, para cumprir as 800 horas, haver� aumento da carga na escola. N�o tem jeito”, afirma. “H� escolas que come�aram agora a enviar conte�do, mas, em momento algum, as institui��es (particulares) pararam. Desde o dia em que saiu a delibera��o do comit� (da COVID-19) pela paralisa��o, os col�gios come�aram a se adaptar”, garante.

 

Mas a inquieta��o por parte dos pais � grande. Muitos reclamam que os filhos recebem algumas atividades por meio de plataformas escolares, mas nada parecido com uma aula on-line. Outros se queixam de n�o receberem absolutamente nada. Professora da rede p�blica de ensino, Camila Gomes Pereira, de 40 anos, se v� entre dois mundos. No trabalho, sem not�cias de como se dar� a normaliza��o do ensino. Em casa, ontem, o filho Davi, de 12, aluno do 7º ano de tradicional col�gio de BH, come�ou a ter aulas a dist�ncia, gravadas pelos professores.

 

O quadro de hor�rios das mat�rias foi estabelecido para todos os dias da semana, bem como quando os docentes estar�o dispon�veis para os alunos tirarem d�vidas. “Os exerc�cios ser�o obrigat�rios e ter�o que ser apresentados no caderno. N�o � uma aula ao vivo, mas h� atividades e leitura para fazer no livro e as horas que o Davi ficar no computador fazendo exerc�cios ser�o computadas”, conta. Camila divide a responsabilidade das aulas em casa com o marido. “N�s dois estamos em teletrabalho e gostamos de fazer isso, o que facilita muito. Mas penso nos pais que n�o t�m essa possibilidade. Se o menino estiver sozinho em casa, com bab� ou empregada, ter� de ter disciplina. Penso ainda nos alunos da escola p�blica que n�o ter�o acesso a isso.”

Sem atividade

J� na casa da advogada Carolina (nome fict�cio), a situa��o � contr�ria. A filha de 4 anos, aluna do 2º per�odo de tradicional escola da Regi�o Centro-Sul de BH, n�o tem qualquer suporte pedag�gico e, assim como outros pais, ela questiona a cobran�a da mensalidade integral, que ultrapassa os R$ 2 mil. Ela faz parte um grupo de pais que est� negociando com a escola para tentar uma flexibiliza��o. “Delegar essa fun��o de ensino aos pais e ainda cobrar deles � uma quest�o delicada”, diz. “N�o queremos ver professor nem funcion�rio demitido, mas essa conversa deveria ter partido das escolas, e n�o de n�s. Propomos um reajuste para adequar � realidade atual”, afirma. “Muitos pais na escola da minha filha s�o empres�rios que est�o com os neg�cios afetados. Muita gente vai sofrer com a quarentena. Nem todo mundo � assalariado.”

 

Carolina � contra projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa de Minas propondo redu��o de 50% no valor das mensalidades. “Tem que ser olhado caso a caso. H� escolas com reserva, outras n�o. Propomos que a institui��o nos apresente sua planilha de gastos, para que possamos ratear o essencial deste momento. N�o h� alimenta��o das crian�as nem transporte de funcion�rios sendo custeado agora. Engessar dificulta a conversa. Acreditamos que, no nosso caso, redu��o de 30% seria sadio”, avalia. “N�o queremos inviabilizar atividade alguma. No caso de jud�, bal� e outros poder�amos ficar com cr�dito. Manter o pagamento,  mas com consci�ncia de que todo mundo tem que flexibilizar.”