
No “momento certo”. Assim a secret�ria municipal de Educa��o de Belo Horizonte, Angela Dalben, classifica o timing para defini��o do prazo para que o ano letivo de 16,4 mil alunos matriculados no 9º ano do ensino fundamental e na Educa��o de Jovens e Adultos (EJA) na rede municipal de Belo Horizonte seja conclu�do. A data � 28 de fevereiro de 2021 e foi determinada por meio de portaria publicada na quarta-feira e vista “tardia” por v�rios pais de alunos.
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, a secret�ria afirmou que, antes da publica��o da portaria, um mapeamento dos alunos foi montado pelas escolas, procurando saber da situa��o de cada um, como a presen�a de computador em casa, acesso � internet, entre outros. Dessa forma, de acordo com Angela Dalben, grupos de alunos ser�o montados de acordo com as necessidades de cada um. Por exemplo: em vez de turmas convencionais, um grupo ser� formado por pessoas com acesso aos livros impressos, enquanto outro, por estudantes que t�m computador e internet dispon�veis. A secret�ria garante que nenhum aluno ser� prejudicado na vida acad�mica nos anos seguintes.
“Estamos mais maduros para dar continuidade ao processo, porque ensinar � algo muito importante. Escola � uma institui��o muito importante. N�o � qualquer coisa. N�s n�o queremos qualquer coisa. Acreditamos que agora, com essa portaria, com essa formalidade, podemos dar uma resposta para a cidade, para os pais e estudantes, com mais maturidade e seguran�a. N�o � uma coisa que foi precipitada, mas tamb�m n�o � fora de hora”, disse.
As aulas presenciais permanecem sem previs�o de retorno, mas Angela Dalben afirma que os processos de ensino em Belo Horizonte, como a portaria publicada na quarta-feira, ser�o observados, podendo ser ajustados para que nenhum aluno fique para tr�s.
“Vamos oferecer �s pessoas aquilo que for poss�vel para elas. O que a gente vai fazer � frente? Vamos observar, ver o que d� certo, vamos melhorando e, aos poucos, oferecendo o que der. Vamos trabalhando para aquilo que est� dando certo com determinados grupos, a gente tentar favorecer aos outros que n�o t�m condi��es.”
Secret�ria, o texto da portaria publicada ontem (na quarta-feira), que especifica o esquema de aulas para alunos em situa��o de “terminalidade”, foi criticado por pais, que consideram que a prefeitura demorou a adotar a medida. Na avalia��o da senhora, a decis�o foi tardia ou foi tomada no momento certo?
Acreditamos que foi tomada no tempo certo. Estamos vivendo uma pandemia e ningu�m experimentou nada como ela. Qualquer tomada de decis�o antes de se pensar e refletir sobre as condi��es das pessoas seria precipitada. Estamos tomando uma decis�o depois de termos conversado com todos os professores e diretores que entraram em contato com os estudantes. Constru�mos um mapa socioeducacional. Cada escola construiu. Quando eu falo “n�s constru�mos”, nossa ideia n�o � ter uma orienta��o �nica para a rede. Nossa ideia � que cada escola entre em contato com os estudantes - desde junho fazem isso - por diferentes formas (telefonemas, WhatsApp, redes sociais ou question�rios impressos enviados). Foi constru�do um mapa socioeducacional. Esse mapa traz para n�s informa��es sobre o estudante na ponta: a condi��o de vida dele, se ele tem computador em casa e se o equipamento est� dispon�vel para ele, a que horas que est�, se ele n�o tem nada disso, se ele tem Wi-Fi… Essa portaria vem no tempo em que n�s temos condi��es de dizer como vamos acessar o aluno e qual seria a forma de acesso desse aluno. E a� a gente construiu uma proposta mais sistematizada. As pessoas v�m trabalhando e n�s n�o t�nhamos dado um start na formaliza��o maior pois cada um estava tentando fazer experi�ncias e buscar respostas mais concretas. Agora estamos mais maduros para darmos continuidade ao processo, porque ensinar � algo muito importante. N�s n�o queremos qualquer coisa. A gente acredita que agora, com essa portaria, com essa formalidade, podemos dar uma resposta para a cidade, para os pais e estudantes com mais maturidade e seguran�a. N�o � uma coisa que foi precipitada, mas tamb�m n�o � fora de hora. Na hora certa.
"Agora podemos come�ar um momento novo. Ainda n�o tem retorno presencial, mas a gente j� pode dizer que temos maior consci�ncia do que estamos fazendo"
Um temor por parte de alguns pais � que alunos n�o fiquem na mesma situa��o que as demais, como aqueles da rede estadual, por exemplo. Os tutores avaliam que os filhos ficar�o prejudicados. Como a SMED v� essa quest�o?
N�s n�o vamos prejudicar ningu�m. Estamos com essa responsabilidade de tentar oferecer a cada um aquele direito de aprendizagem que ele tem. Por isso, estamos fazendo algo praticamente personalizado. Eu poderia, como secret�ria, dizer: “Agora todo mundo vai fazer isso”, mas n�o estou fazendo isso. Estamos estudando em cada escola qual o melhor formato para cada grupamento de alunos. Ent�o, a gente n�o tem aquelas turmas de antigamente. Agora estamos reagrupando, olhando as condi��es que esse aluno vai ter. Tem gente falando em “ensino h�brido”. S�o palavras. N�o estou querendo ficar dando nomes, mas o que estamos fazendo � algo quase que personalizado para grupos. Ent�o, se h� um grupo que pode estudar melhor utilizando o livro did�tico e uma orienta��o de estudos por meio de roteiros, vamos fazer isso. Outro grupo, no qual vamos poder utilizar uma plataforma virtual da prefeitura. Desde o in�cio est� disponibilizado um sistema para as escolas, porque temos esse contrato anterior, mas n�o queremos falar agora, porque quem n�o tem condi��es n�o vai acessar. Vamos oferecer �s pessoas aquilo que for poss�vel para elas. O que a gente vai fazer � frente? Vamos observar, ver o que d� certo, vamos melhorando e, aos poucos, oferecendo o que der. Vamos trabalhando para aquilo que est� dando certo com determinados grupos, a gente tentar favorecer aos outros que n�o t�m condi��es. Tem toda uma an�lise de grupos intersetoriais junto com outras equipes.
Em uma entrevista recente, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) disse que "aula remota � agress�o � pobreza". A portaria publicada prev� aulas remotas. Foi uma mudan�a de posicionamento da prefeitura?
N�o � uma mudan�a. Acho que foi um entendimento diferente da fala do prefeito. Aula remota para n�s n�o � aula virtual. O grande problema que temos � justamente esse: quando falamos de educa��o a dist�ncia, acreditamos que seja virtual, mas n�s tivemos educa��o a dist�ncia nos anos 1960 pelo r�dio. A hist�ria da educa��o a dist�ncia come�a no r�dio. O contexto em que o prefeito foi questionado naquela �poca, era porque o estado tinha decidido um sistema �nico de aulas virtuais, que tamb�m � uma coisa v�lida quando voc� est� trabalhando com jovens adultos, ensino m�dio, mas n�s trabalhamos com crian�as, trabalhamos com ensino fundamental e educa��o de jovens e adultos que n�o dominam a internet. Aula remota para n�s envolve tanto o digital quanto o impresso, anal�gico, o uso do Correio para encaminhar (o material) quando tem dificuldade. Por isso estamos tomando essa decis�o agora. Um tempo para que cada escola pudesse saber, exatamente, qual � a condi��o do aluno para construir o formato adequado. Em BH, temos muitas escolas - s�o 323 s� da rede pr�pria, fora as redes parceiras que atendem creches, que s�o 211 - e elas s�o localizadas em territ�rios muito diferentes. Em alguns territ�rios, voc� pode usar a internet, mesmo dentro das escolas, porque ali � uma coisa usual.
Como foi feito esse mapeamento?
N�s experimentamos com a distribui��o das cestas b�sicas para os estudantes se todos acessariam, mas nos dois primeiros meses foi dif�cil, ficamos experimentando, tentando. Tivemos um prazo de pesquisa sobre como atingir e chegar � casa do estudante, pois celular muda. Quando muda o n�mero, voc� tem que descobrir. Tivemos um tempo para nos adaptar, assim como todas as �reas. Educa��o n�o � diferente. Agora podemos come�ar um momento novo. Ainda n�o tem retorno presencial, mas a gente j� pode dizer que temos maior consci�ncia do que estamos fazendo, mais maturidade, formulando uma proposta quase personalizada, ou seja, o aluno que puder usar o virtual, ele vai usar.
Quais s�o as formas de acesso previstas na portaria?
Na portaria, no artigo 4, h� quatro formas (de acesso ao aluno), como o impresso, correio, livros did�ticos, assistir a filmes… coisas pela TV, que voc� sabe que vai ter uma programa��o educativa. Tem um estudo orientado. Cada coisa que o aluno fizer, queremos que seja registrado por ele, que ele guarde como documento, que a gente vai fazer o portf�lio. A avalia��o ser� por meio do portf�lio. Esse foi um desenho adequado para este momento. Pode ser que a gente melhore e avance mais, mas o mundo todo est� aprendendo e n�s estamos aprendendo junto. � muito estudo para tentarmos acertar. Mas acho que agora a gente j� est� num caminho que podemos dizer: “Com essa portaria a gente formaliza para aqueles que v�o terminar”.
Por que foi escolhido esse grupo?
Veja bem: s�o mais de 150 mil (alunos) que v�o permanecer na rede (municipal), 16 mil v�o sair. E a� a gente tem um compromisso com esses. Se o aluno n�o aprendeu tudo at� fevereiro, voc� vai dando continuidade em massa, mas e aqueles que v�o sair? N�o os encontraremos mais. Ent�o a gente tem que garantir que at� 28 de fevereiro todo mundo tenha aprendido aquilo que precisa para ter sucesso em outra rede, com ensino m�dio. Essa portaria � para formalizar um prazo para terminar este ano letivo. Estamos contando com dezembro, janeiro e fevereiro. Estamos espichando mais um tempo para garantir e tentar fazer tudo certo.
Como ser� a log�stica de distribui��o de apostilas aos alunos que n�o t�m internet?
Cada escola que vai criar esse mecanismo. Como eu disse, n�o estamos assumindo uma proposta que seja localizada no �rg�o central. Ela est� localizada na escola, com os alunos, como sempre �. Em uma sala de aula, a rela��o � entre professor e aluno. Vamos dar todo o apoio, todas as orienta��es, conversamos permanentemente com os professores, temos reuni�es virtuais com os diretores regionais toda semana. Vamos dando apoio, mas quem toma a decis�o sobre a melhor forma de acessar o aluno � a escola, junto com os professores.
Como � a proposta da conjuga��o de dois anos em um na educa��o municipal?
A proposta n�o � voc� concentrar tudo em um ano s�, n�o. � assim: estamos trabalhando este ano. Os alunos que v�o permanecer na rede municipal ter�o uma continuidade. A ideia � continuidade e ensino personalizado, porque os pais entendem melhor. Temos uma matriz feita, tamb�m, agora, que toma por base o curr�culo mineiro, e organizamos essa matriz com aquilo que � essencial. A� a gente vai trabalhando item por item com os estudantes e se, porventura, um grupamento chegou at� o item 8 - s�o 10 - em fevereiro, esses alunos n�o s�o reprovados e voltam. Voc� para de onde est� e d� continuidade no ano que vem. Isso significa que voc� vai terminar o que era de direito de um ano e dar continuidade no outro. � um processo cont�nuo, ininterrupto, em que n�o h� uma parada para o aluno voltar para tr�s. Sempre partimos do estudante. O estudante que est� aprendendo e tem direito de continuar. Ele vai para frente. Como se fosse dominando fases em um jogo: voc� domina uma fase, passa para a seguinte e vai continuando. Isso significa que o ano de 2021 ser� um cont�nuo, garantindo ao aluno aquilo que � de direito na fase de desenvolvimento e aprendizagem, se � do 5º ano para o 6º, se � do 4º para o 5º… isso a gente chama de cont�nuo. S�o dois anos que n�o t�m interrup��o. At� f�rias e recessos estamos imaginando que n�o ser�o f�rias e recessos. Ser�o tempos em que o professor apresenta ao estudante o roteiro a ser seguido e ele vai fazendo. N�o existe uma interrup��o, n�o tem f�rias escolares para come�ar outro ano. Estamos trabalhando o tempo todo para atender quem deve.
"Constru�mos um mapa socioeducacional. Cada escola construiu. Nossa ideia n�o � ter uma orienta��o �nica para a rede"
N�o h� risco para um “congestionamento”? Exemplo: alunos do 1º ano do fundamental retornam no ponto em que pararam. Por�m, crian�as do ensino infantil avan�am ao 1º ano sem que os jovens que deveriam passar para o 2º, tenham passado…
Isso j� est� planejado. Todos os alunos que s�o nossos e v�o permanecer na rede municipal da educa��o infantil para o ensino fundamental j� t�m uma matr�cula autom�tica no ano seguinte. J� temos essa previs�o. O que n�o temos previs�o - e por isso a portaria - � para os novatos. No caso dos nossos estudantes que v�o para outras redes, a gente precisa garantir (que eles concluam o conte�do). � como se fosse um passaporte para outra rede - estadual ou privada - para o ensino m�dio. O cadastro de estudantes novos que v�m para rede ser� feito em outubro ou novembro. Ainda n�o tem a data certa. S�o alunos novos que passam a ficar conosco. Mas quem j� � da rede e permanece nela j� tem a garantia da matr�cula autom�tica. N�s � que somos respons�veis por desenvolver o ensino de qualidade para eles. Essa � a nossa preocupa��o.
H� alguma possibilidade de acordo com o estado para receber esses meninos de 5 anos no fundamental?
Est� havendo uma discuss�o. N�s ainda temos decis�es a tomar. Essas decis�es est�o no tempo certo. N�o existe nada diferente disso que estou falando. O cadastro escolar ainda vai acontecer, mas uma coisa � certa: os alunos de cada rede t�m as suas matr�culas garantidas.
Segue sem previs�o o retorno das aulas presenciais?
Sim. N�s n�o temos nenhuma previs�o de retorno presencial. Aguardamos os n�meros da cidade. Para que haja esse retorno, a sa�de tem pesquisas e �ndices de transmissibilidade da doen�a para definir se pode ou n�o pode retornar. � isso que aguardamos.