
O ambiente corporativo agora �... diferente, para dizer o m�nimo. As maiores li��es que aprendemos sobre o mundo do trabalho em 2021 s�o dolorosas de um lado, mas animadoras de outro.
Se h� uma frase que ouvimos constantemente nos �ltimos dois anos, � esta: "O trabalho nunca ser� igual novamente". Com 2022 batendo � nossa porta, quem teria imaginado que ainda estar�amos tentando descobrir o que isso significa?
O ano de 2021 nos mostrou, acima de tudo, que a volta ao "normal" no mundo corporativo � um objetivo em constante transforma��o.

1. O g�nio do trabalho flex�vel saiu da l�mpada
N�o levou muito tempo para que funcion�rios que puderam fazer trabalho remoto percebessem como esse modelo pode ser ben�fico. Mas, em 2020, as mudan�as nos ambientes de trabalho ficaram sujeitas � pandemia e os empregados enfrentaram dificuldades para saber quais dessas mudan�as iriam permanecer.
Um ano depois, n�o importa mais o que era considerado tempor�rio. Os trabalhadores agora vivem em um mundo com semanas de trabalho com estruturas diferentes, comunica��o assincr�nica e, para alguns, trabalho remoto permanente. Agora, � improv�vel que os empregadores venham a revogar as mudan�as impostas pela pandemia (independentemente de quais fossem os seus planos iniciais).
Muitas empresas est�o concedendo aos seus funcion�rios muito mais liberdade de decidir onde eles ir�o trabalhar. Outras, como a Unilever da Nova Zel�ndia - e at� pa�ses inteiros, como a Isl�ndia -, est�o experimentando semanas de trabalho de quatro dias.
Cada vez mais pa�ses e empresas privadas est�o desenvolvendo programas experimentais. Espera-se que a Espanha introduza sua semana de trabalho piloto de 32 horas em 2022.
Essas mudan�as e experi�ncias s�o boas para os trabalhadores. Muitos deles relatam melhor equil�brio entre o trabalho e a vida privada com sistemas de trabalho mais flex�veis - embora o dia de trabalho m�dio global tenha ficado mais longo durante a pandemia.
Existem trabalhadores que afirmam que ir�o pedir demiss�o se os empregadores os convocarem para trabalhar no escrit�rio de forma permanente. Al�m disso, nos pa�ses onde h� mais vagas de emprego que pessoas dispostas a preench�-las, os trabalhadores t�m no momento um poder superdimensionado que pode pressionar as empresas a manter esses sistemas indefinidamente.
� claro que existe a possibilidade de que alguns desses novos sistemas de trabalho n�o sejam mantidos, particularmente se o mercado de trabalho ficar mais restrito e os funcion�rios tiverem menos voz do que t�m atualmente. Mas um n�mero surpreendente de empresas j� se comprometeu com novas pr�ticas de trabalho para atender aos desejos dos trabalhadores - um sinal de que � cada vez mais improv�vel que o g�nio volte para dentro da l�mpada.
2. Empregadores est�o mudando para atender os desejos dos trabalhadores
Em 2021, uma express�o que virou not�cia � "A Grande Ren�ncia". O �xodo em massa de trabalhadores e a redistribui��o da m�o de obra foram mais extensamente documentados nos Estados Unidos, onde os trabalhadores continuam a abandonar o mercado de trabalho, batendo recordes a cada m�s.
Mas tend�ncias similares come�am a surgir no Reino Unido, onde os trabalhadores cada vez mais relatam seu desejo de mudar de emprego ou est�o mesmo tentando a sorte. J� em outros pa�ses, os dados sobre o fen�meno variam, mas, na Austr�lia, por exemplo, h� mais trabalhadores mudando de empregos do que pedindo demiss�o em massa.
Nos lugares em que os trabalhadores est�o pedindo demiss�o, planejando demitir-se ou transferindo-se para outros cargos, os empregadores est�o mais pressionados a oferecer melhores regalias para atrair e manter os funcion�rios talentosos.
E houve mudan�as nos anseios dos trabalhadores: eles relatam pedidos de benef�cios mais personalizados, acesso a servi�os de sa�de mental, assist�ncia no cuidado com os filhos, aux�lio para trabalho em casa e flexibilidade geral em seus sistemas de trabalho. Nos Estados Unidos, tamb�m cresceram os pedidos de melhores planos de sa�de e cobertura de tratamentos para engravidar.
Muitas empresas avan�aram a fim de atender a esses anseios, enquanto outras anunciaram planos para isso. No ver�o do hemisf�rio norte, empresas importantes como LinkedIn e a Nike concederam f�rias coletivas aos seus funcion�rios, para que eles tivessem dias ou semanas suficientes para recuperar sua sa�de mental - um movimento sem precedentes em uma sociedade capitalista, movida pela produtividade.
Mas existem ainda alguns redutos que n�o reconhecem ou reagem necessariamente aos novos pedidos de diferentes regalias e sistemas de trabalho. Certos setores, como o financeiro e o de consultoria, est�o for�ando a situa��o para retornar ao n�vel de neg�cios habitual de antes da pandemia.
Algumas dessas empresas adotaram medidas menos ortodoxas durante a pandemia - como o grupo financeiro Jefferies, que presenteou seus funcion�rios com bicicletas ergom�tricas da marca Peloton, e o grupo Goldman Sachs, que aumentou os pacotes de pagamento b�sico para os banc�rios de n�vel j�nior - mas os l�deres de algumas empresas j� est�o convocando seus funcion�rios para que retornem �s mesas de trabalho. Os empregadores est�o mudando para atender os desejos dos trabalhadores - ou a maioria deles.

3. O crescimento da desigualdade entre os trabalhadores
Os benef�cios que muitos trabalhadores conquistaram em 2021 e o crescimento da sua influ�ncia no mercado de trabalho n�o foram para todos. A pandemia exp�s - e criou - mais desigualdades.
Para os trabalhadores da linha de frente e de servi�os, o retorno ao trabalho em um mundo ainda incerto e ca�tico n�o foi uma op��o. Muitos est�o sofrendo as consequ�ncias do mau comportamento dos clientes - e est�o sob enorme press�o, j� que, em alguns pa�ses, as empresas est�o operando com poucos funcion�rios em meio � falta de m�o de obra em setores como os de hot�is e transportes, que ainda n�o se recuperaram totalmente devido � pandemia.
Tamb�m chama a aten��o o fato de que o acesso ao trabalho remoto de forma eficiente e confort�vel n�o � igual para todos os trabalhadores do conhecimento - aqueles que usam principalmente seu saber, informa��es e intelig�ncia para desenvolver seus trabalhos.
Recursos b�sicos como internet confi�vel de alta velocidade n�o est�o dispon�veis para todos, nem o espa�o para trabalhar com conforto e sil�ncio. Os trabalhadores mais jovens que est�o entrando agora no mercado de trabalho costumam dispor de espa�os muito apertados - uma das raz�es por que eles pedem para voltar ao escrit�rio, pelo menos alguns dias por semana.
As desigualdades que afetam as mulheres trabalhadoras tamb�m vieram � tona. Como ocorreu em 2020, a quantidade de mulheres no mercado de trabalho caiu desproporcionalmente neste ano. S� nos Estados Unidos, at� setembro de 2021, centenas de milhares de mulheres perderam seus empregos.
Embora haja alguns sinais de retomada dos empregos das mulheres em certos setores, o crescimento ainda n�o atingiu o mesmo n�vel dos homens. Al�m disso, o desemprego das mulheres negras supera o das mulheres brancas - nos Estados Unidos, ele � quase o dobro.
Existe tamb�m o receio de que as mulheres que retomam suas carreiras possam ser deixadas para tr�s por colegas homens que trabalham no escrit�rio com frequ�ncia, devido � cultura do comparecimento presencial e da proximidade - o que pode ampliar a dist�ncia entre os g�neros.
4. O alto custo do desequil�brio entre trabalho e vida privada
Alguns trabalhadores v�m relatando melhor equil�brio entre o trabalho e a vida privada no �ltimo ano - principalmente, devido ao trabalho remoto e flex�vel. Mas este nem sempre � o caso.
Sem o transporte di�rio nem portas divis�rias no escrit�rio, muitos trabalhadores est�o tendo mais dificuldades de tra�ar linhas claras entre a vida pessoal e a profissional. Eles passam o tempo todo de olho no telefone, respondendo mensagens logo ao acordar e enviando e-mails at� tarde da noite.
O problema existente antes da pandemia - de estar fisicamente presente no escrit�rio como trunfo para a produtividade - encontrou seu caminho no mundo digital. Em muitas situa��es, n�o est� claro se os chefes realmente esperam que seus funcion�rios permane�am online por todo o tempo ou se a press�o vem dos pr�prios trabalhadores.
Fato � que os dias de trabalho se estenderam e a desconex�o parece imposs�vel, independentemente de qual seja a causa.

N�o � surpresa que o burnout e as horas extras sem pagamento tenham se generalizado, especialmente entre certos grupos como os gerentes de n�vel m�dio e as mulheres. Em v�rios pa�ses, muitas empresas est�o operando com o m�nimo de funcion�rios em meio � falta de m�o de obra, o que vem causando imensa press�o sobre os trabalhadores que permaneceram nas empresas durante a Grande Ren�ncia.
Algumas empresas est�o tentando abordar as quest�es de equil�brio entre o trabalho e a vida privada e incentivando os funcion�rios a se afastar dos seus telefones, mas ainda � culturalmente dif�cil para muitos evitar a sobrecarga. Por isso, se o trabalho remoto permanecer - como parece que ir� acontecer para muitos -, n�o h� garantia de que os trabalhadores acionar�o o bot�o de desligar.
Reduzir as desigualdades � o primeiro passo para as mudan�as, mas n�o est� claro o que pode e o que ir� ser feito, tanto individual quanto sistemicamente - ainda mais nas condi��es atuais, em que as coisas ainda est�o se desenrolando.
5. Estamos longe de ser perfeitamente h�bridos
Em 2021, esperava-se que o mundo corporativo adotasse o trabalho h�brido com for�a total.
Funcion�rios e empregadores esperavam voltar a se reunir pessoalmente de alguma forma e assim concretizar um novo avan�o. Diversas empresas at� investiram em novos designs para seus escrit�rios, muitas vezes eliminando conjuntos de mesas e acrescentando mais espa�os colaborativos e cabines de isolamento - tudo para atender aos pedidos dos trabalhadores, agora que o escrit�rio assumiu novos prop�sitos.
Mas n�s ainda n�o atingimos um padr�o h�brido est�vel. O retorno ao escrit�rio tem ocorrido de forma fragmentada; algumas empresas trouxeram os trabalhadores de volta em per�odo parcial, mas essas pol�ticas apresentam ampla varia��o entre os pa�ses, as ind�strias e os empregadores. Elas n�o t�m sido consistentes devido � flutua��o natural cont�nua da pandemia.
Essa situa��o apresenta desafios. Em primeiro lugar, muitos funcion�rios ainda s�o mantidos no limbo, sem saber como o ambiente h�brido funcionar� - ou n�o - para eles. � um tipo de incerteza que vem prejudicando os trabalhadores, emocionalmente e em sua log�stica, h� cerca de dois anos.
Al�m disso, sem o trabalho h�brido em a��o, os empregadores n�o possuem os dados necess�rios para compreender os sucessos e fracassos das suas estrat�gias.
Por mais que continuemos a especular sobre o que funcionar� ou n�o para o trabalho h�brido, estamos fazendo exatamente isso: especulando. Nem os trabalhadores, nem as empresas, t�m ainda a experi�ncia real necess�ria, o que significa que o ambiente h�brido que estamos promovendo como o futuro do local de trabalho �, em grande parte, uma obra em andamento.
6. Voo cego para o futuro pr�ximo
Sabemos agora que provavelmente n�o teremos estabilidade no trabalho e na vida privada por algum tempo. � medida que surgem novas variantes de covid-19, � imposs�vel - ou quase absurdo - tra�ar planos s�lidos para o futuro.
Mudan�as circunstanciais v�m pressionando empresas - incluindo a Google, que chegou a ter planos concretos de trazer os trabalhadores de volta ao escrit�rio - a reverter o curso e anunciar diretrizes totalmente diferentes. Al�m disso, mesmo se a vida se estabilizar um pouco mais, ainda estamos debatendo a implementa��o de novas pol�ticas, como trabalho remoto e h�brido, que s�o essencialmente experi�ncias cujos efeitos e resultados ainda s�o desconhecidos.
Olhando para 2022 � nossa frente, parece que a mudan�a ser� uma constante, seja com rela��o �s pol�ticas das grandes empresas ou aos detalhes do dia-a-dia. Estamos muito longe de idealizar o "normal", mas esperamos ter em breve mais respostas do que perguntas.
- Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Worklife.
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