A hist�ria de um menino pobre, morador da Regi�o Metropolitana de BH, que enfrentou todas as barreiras para estudar e agora est� de viagem marcada para uma das universidades mais reconhecidas da Europa, � a prova de como, com esfor�o e vontade, oportunidade � a pessoa quem faz. O jovem William Teixeira Miranda, de 19 anos, teve a maior nota da �ltima edi��o do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) entre os estudantes da Regi�o Sudeste. Pelo feito, ganhou uma bolsa para estudar na Universidade de Salamanca, na Espanha. Aluno do Centro Federal de Educa��o Tecnol�gica de Minas Gerais (Cefet-MG), ele agora s� pensa em concluir projetos de pesquisa, antes de dar o grande salto em sua vida.
William faz o curso superior de engenharia de materiais no Cefet, mas se submeteu ao Enem em novembro para tentar a vaga de seus sonhos: engenharia qu�mica na UFMG. At� segunda-feira, quando recebeu a not�cia do Minist�rio da Educa��o (MEC) sobre a premia��o, o plano era desistir do curso atual e fazer matr�cula na UFMG. Na engenharia qu�mica, ele foi o primeiro colocado entre os cotistas que se declararam negros ou pardos e com renda familiar per capita inferior a um sal�rio m�nimo e meio – eram apenas tr�s vagas nessa modalidade.
No segundo dia, ele n�o desistiu, mesmo sabendo que j� estava desclassificado. O jovem tirou 890 pontos na reda��o (num total de 1 mil) e errou apenas uma quest�o em matem�tica. Como passou no vestibular no Cefet, preferiu continuar. No ano passado, nova tentativa. Dessa vez, fechou a prova de reda��o e garantiu notas altas em todas as outras �reas.
No ensino t�cnico e no superior, William se dedicou a projetos de inicia��o cient�fica e tecnol�gica. Parte deles foram premia��es da Olimp�ada Brasileira de Matem�tica das Escolas P�blicas. Fora as conquistas nas olimp�adas de outras disciplinas. At� para a Argentina ele viajou para disputar campeonatos acad�micos.
PERSIST�NCIA As conquistas de William s�o marcadas pela luta. Criado pela av�, de 64 anos, costureira e vendedora de salgados, se tornou orgulho ainda maior ao ser o primeiro da fam�lia a fazer um curso superior. Entrar no Cefet foi um desafio ao menino que estudava na Escola Estadual Imperatriz Pimenta, em Ibirit�. “Os professores me diziam que eu tentaria o Cefet, mas eu nem sabia o que era isso”, lembra.
A saga come�ou no 9º ano do ensino fundamental, quando n�o p�de se inscrever por n�o ter carteira de identidade. O menino come�ou o n�vel m�dio na Imperatriz Pimenta, e no ano seguinte, uma professora tratou de fazer a inscri��o e o orientou na escolha do curso. A prepara��o se deu refazendo provas e pedindo aos antigos mestres que o ajudassem nas quest�es que n�o conseguia resolver.
Vieram a primeira e a segunda chamadas e nada. A solu��o foi se inscrever em um edital para ocupar vagas remanescentes do 2º ano, com base apenas no hist�rico escolar. Mas, no dia de se matricular em uma das duas vagas de eletrot�cnica, William recebeu um telefonema, o convocando em terceira chamada para estudar qu�mica. Ele at� pensou ser trote. “Depois de entrar para o Cefet, vi que n�o podia estar em outro, pois esse � o curso da minha vida”, diz.
Foi preciso apoio da assist�ncia estudantil, uma ajuda de custo para passagens, refei��es e livros. “Logo que passei minha av� ficou feliz, mas preocupada porque n�o sab�amos como fazer. Pode parecer bobagem, mas n�o teria conseguido, porque n�o teria dinheiro nem para comprar os livros”, conta
Agora � a vez de cruzar o mundo. Ele viaja em mar�o e ter� aulas de espanhol at� julho, quando far� o teste de profici�ncia em l�ngua espanhola. Ter� uma bolsa da Coordena��o de Aperfei�oamento de Pessoal de N�vel Superior (Capes) e, depois da matr�cula, ser� custeado pelo Santander e a Universidade de Salamanca. “Nunca esperava receber essa not�cia. Vou aproveitar cada oportunidade que tiver.”