
O risco de encolhimento do programa Ci�ncia sem Fronteiras deixa em alerta a comunidade acad�mica. Apesar de o governo federal ter institu�do o slogan P�tria Educadora, o ministro da Educa��o, Renato Janine Ribeiro, em audi�ncia no Senado na �ltima semana, anunciou perdas de R$ 9,4 bilh�es no Or�amento da Uni�o para a �rea. O impacto deve ser inevit�vel no Ci�ncia sem Fronteiras, no Programa Nacional de Ensino T�cnico e Acesso ao Emprego (Pronatec) e no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
O Ci�ncia sem Fronteiras contribui para para o processo de internacionaliza��o das universidades brasileiras, dando oportunidade para que muitos estudantes, principalmente os de baixa renda, fa�am interc�mbio. Aluno do 3º per�odo de matem�tica, Leonardo Saud, de 20 anos, planeja fazer interc�mbio nos EUA ou na Inglaterra. No entanto, sem o aux�lio do programa, n�o ser� poss�vel realizar o sonho. “O programa � muito bom, porque cobre todas as nossas despesas no exterior. Mas n�o tenho condi��es de custear um interc�mbio”, diz.
Como ele � aluno de inicia��o cient�fica, a experi�ncia contribuiria para sua forma��o como pesquisador na �rea de mec�nica celeste. “H� cr�ticas ao programa direcionadas �s pessoas que usam a bolsa para outros fins. Mas muitos estudantes aproveitam bem para ampliar o conhecimento. A possibilidade de cortes � muito ruim, porque tira a oportunidade de quem leva a s�rio.”
Aluno do curso de f�sica, Jo�o Guilherme Lara Cond�, de 22, lamenta o fato de que outros colegas possam ter mais dificuldade para conseguir a bolsa. Ele estudou no exterior em 2013 e considerou a experi�ncia fundamental para sua forma��o. “� importante para vermos como outras universidades funcionam. Vamos sentir os efeitos negativos dos cortes a m�dio e longo prazo”, disse. Na sua avalia��o, a redu��o no or�amento do MEC j� � sentida nas universidades p�blicas. “Fico insatisfeito, mas, diante da crise, o programa parece uma preciosidade. Nos laborat�rios j� somos orientados a economizar at� papel nas impress�es. Fica at� dif�cil falar quando j� faltam coisas b�sicas”, reclama.
PRIORIT�RIOS
As engenharias lideram o ranking entres os cursos apontados como priorit�rios pelo governo brasileiro para o Ci�ncia sem Fronteiras. Da 78.173 bolsas concedidas no Brasil para todas as �reas, cerca de 34,6 mil foram para as engenharias. A UFMG est� na frente quando o assunto � engenharia aeroespacial, sendo a institui��o que mais enviou estudantes para o exterior. Dos 373 interc�mbios da �rea aeroespacial, 71 s�o de estudantes da institui��o mineira, superando outras universidades de refer�ncia, como Instituto Tecnol�gico de Aeron�utica (ITA), com 37. O diretor da Escola de Engenharia da UFMG, Alessandro Fernandes Moreira, diz que ainda n�o � poss�vel saber o tamanho do programa frente aos cortes or�ament�rios.
Segundo ele, a �rea conta com outros programas que permitem interc�mbio. No entanto, os cortes certamente trazem impactos negativos. “Teremos um n�mero menor de beneficiados. Reconhecemos a import�ncia do interc�mbio e incentivamos os nossos alunos”, afirma. O diretor pontua que, como o ensino e conhecimento s�o cada vez mais globalizados, n�o se pode falar da forma��o dos alunos sem pensar na experi�ncia internacional. “Nas engenharias � fundamental. Trabalhamos com interc�mbio h� muito tempo, muito antes do Ci�ncia sem Fronteiras, mas o programa faz muito sucesso.”
Os cortes surpreenderam o estudante do 4º per�odo de engenharia qu�mica Daniel Scussel Grippe, de 20. A maior parte de seus colegas de turma est� saindo para a experi�ncia internacional. Como a inscri��o � feita um ano antes, eles fizeram quando estavam no 2º per�odo. Como estava muito no in�cio do curso, Daniel achou melhor esperar, mas agora teme n�o conseguir. “Quando ouvi falar dos cortes do MEC, achei que n�o teria mais o programa. Fica sempre a d�vida no ar. Arrependi demais de n�o ter feito antes”, lamenta. Quando as novas inscri��es para o programa abrirem, ele pretende se candidatar a uma bolsa em uma universidade italiana.
READEQUA��O
Os cortes no programa dever�o levar a uma readequa��o dos crit�rios de sele��o dos alunos e de avalia��o. O professor titular do Departamento de Engenharia Mec�nica Marcos Pinotti Barbosa faz uma avalia��o sobre a postura do MEC . “Pelo hist�rico de metodologia adotado pelo MEC e por quest�es democr�ticas, dever� ser aplicado um corte linear. O governo afirmou que os cortes s�o transit�rios. � o que esperamos”, ponderou.
Pinotti lembra que os cortes atingem toda a produ��o acad�mica, pois o programa concede bolsas para a gradua��o e p�s-gradua��o. Para o professor, o Ci�ncia sem Fronteiras � de grande relev�ncia para universidade, apesar de algumas cr�ticas feitas terem proced�ncia. Entre as obje��es est�o a falta de acompanhamento do aluno no exterior e a n�o presta��o de contas do aprendizado com a experi�ncia. Segundo ele, os cortes dar�o oportunidade para melhorar os crit�rios de sele��o e avalia��o dos alunos. “O Brasil ganha muito com o programa. Os resultados que est�o sendo feitos agora ser�o percebidos em 10 anos”, diz. Em sua avalia��o, como contribui para melhor forma��o dos alunos, quando eles estiverem empregados, haver� maior produtividade da ind�stria brasileira.
DE MINAS PARA O MUNDO
Programa Ci�ncia sem Fronteiras em Minas
Bolsas concedidas - 12.366
UFMG 2º lugar no ranking nacional
As cinco primeiras no estado
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - 3.601
Universidade Federal de Vi�osa (UFV) - 1.498
Universidade Federal de Itajub� (Unifei) - 1.062
Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais (PUC Minas) - 789
Universidade Federal de Uberl�ndia (UFU) - 789
Bolsas por modalidade
Gradua��o sandu�che - 3.045
Doutorado sandu�che - 327
Doutorado exterior - 65
Atra��o de jovens talentos - 13
P�s-doutorado no exterior - 122
Pesquisador visitante especial - 28
Mestrado no exterior - 1
Fonte: Data Mart do Ci�ncia sem Fronteiras (consolida dados de bolsas do CNPq e Capes) - Dados atualizados at� mar�o de 2015