
Baixos sal�rios, falta de progress�o na carreira e reflexos de problemas sociais dentro da escola tornam pouco atrativa uma profiss�o essencial para o desenvolvimento do pa�s: a de professor. A �ltima estimativa divulgada pelo Minist�rio da Educa��o (MEC) d� conta de que faltem 170 mil docentes nos n�veis fundamental e m�dio no pa�s. Por�m, mesmo quando est�o nas salas de aula, muitos deles n�o t�m a qualifica��o necess�ria para a forma��o dos estudantes. Em Minas, cerca de 29 mil professores n�o t�m licenciatura, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Educa��o. Nas universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de Ouro Preto (Ufop), parte das vagas ociosas decorre do baixo interesse pelos cursos de licenciatura, que formam docentes, principalmente na �rea de exatas, para disciplinas como matem�tica, f�sica e qu�mica. E recuperar esse tempo perdido pode levar d�cadas.
O especialista alerta para a gravidade do problema. “N�o ter�amos m�dicos, advogados, sem professor da educa��o b�sica. Mas esse profissional vem perdendo o status que tinha”, afirma. Segundo ele, o governo federal deveria fomentar um plano de carreira que pudesse atrair profissionais. Mas n�o � uma solu��o de curto prazo. O processo para reverter o quadro levar� pelo menos 20 anos, pelos c�lculos do especialista. “No Brasil, educa��o � um problema social. Como se vai conseguir que o professor se interesse, diante dos baixos sal�rios? Soma-se a isso o fato de que os alunos enfrentam diversos problemas sociais. N�o adianta apenas falar que o sal�rio vai dobrar”, diz.
Fernando conta como Cingapura, na �sia, conseguiu melhorar a educa��o a partir da valoriza��o do docente da educa��o b�sica. Houve um aumento na procura pelos cursos de licenciatura depois que o pa�s instituiu um programa de trainee. Os professores faziam uma prova para entrar no projeto e, depois de um ano, o desempenho era medido a partir do aprendizado dos alunos. “Se o educador passasse nessa prova, estaria habilitado a entrar em uma institui��o p�blica. Se, em um ano, os alunos tivessem um n�vel de profici�ncia mais elevado, o educador ent�o passaria a fazer parte da categoria e teria sal�rios equiparados aos profissionais liberais”, diz.

DESPREST�GIO Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a ociosidade de vagas chega a 10%, tendo o desinteresse pelos cursos de licenciatura como uma das causas. “A universidade faz o seu papel, no sentido de mostrar e divulgar os cursos. Mas a carreira de professor ainda � pouco reconhecida. N�o tem o destaque que deveria em termos salariais e de prest�gio”, pontua o pr�-reitor de Gradua��o, Marc�lio Sousa da Rocha Freitas. A universidade oferece 14 cursos de licenciatura.
A falta de professores no ensino b�sico faz com que muitos profissionais tenham que se desdobrar em mais de duas escolas. � o caso da professora L�dia Gon�alves Soares, de 50 anos, que trabalha nas redes p�blicas de Belo Horizonte e Contagem, na regi�o metropolitana. Ela lembra que, devido � falta de educadores, at� o ano passado n�o era poss�vel manter o hor�rio de planejamento de aulas. Agora, ela comemora o fato de ter tempo para preparar conte�do e se capacitar. “Tivemos avan�os. Hoje temos bons livros did�ticos, a escola em que trabalho tem boa infraestrutura, mas n�s, professores da educa��o b�sica, n�o somos reconhecidos. Ainda somos pouco valorizados”, diz.
A PUC Minas oferece 30 bolsas integrais para cada um dos cursos de licenciatura em 10 �reas. Desde o segundo semestre de 2013, foram realocadas, como incentivo, 30 bolsas integrais (de 100%) via ProUni para cada uma das gradua��es para educadores em f�sica, geografia, hist�ria, letras, matem�tica e pedagogia. “Oferecemos 60 vagas por entrada, ent�o as bolsas cobrem a metade delas”, afirma a diretora do Instituto de Ci�ncias Humanas, Carla Ferretti. Em sua avalia��o, desde 2013, quando o governo federal lan�ou programa para valoriza��o dos professores, houve melhora no quadro, mas ainda h� pouco interesse pela �rea. “� um processo. Ainda vivemos esse quadro, mas com perspectiva de revers�o. Sen�o, a educa��o no pa�s vai para o fundo do po�o”, avalia. Em 2013, diante do baixo interesse pelos cursos de forma��o de professores, a PUC iniciou programa para torn�-los mais atrativos. “Conseguimos reverter a demanda muito baixa que t�nhamos. O n�mero de alunos cresceu, mas os cursos n�o est�o plenamente ocupados.”
A coordenadora do curso de letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sueli Coelho, afirmou que h� muito interesse pelos cursos de l�nguas, que permitem que o professor lecione tanto na educa��o b�sica quanto em cursos livres de escolas de idiomas. O governo federal implementa, desde 2009, o Plano Nacional de Forma��o de Professores da Educa��o B�sica (Parfor). Neste ano, 51 mil professores frequentam os cursos e 12 mil se formaram.
O idealismo que move carreiras
Apesar dos sal�rios baixos, da falta de planos de carreira e de reconhecimento, h� estudantes que n�o abandonam o sonho com a doc�ncia. � o caso dos alunos do ensino m�dio Helena Arcanjo Tonelli Reis e Guilherme Rodrigues Otoni Alc�ntara, do Col�gio Padre Eust�quio, ambos de 17 anos. Guilherme pretende ser professor de hist�ria, e Helena, de portugu�s. “Tenho o compromisso com a educa��o de outras pessoas. Todo mundo precisa passar por um professor para se formar. S� teremos um pa�s melhor com investimento em educa��o”, diz Helena.
Ela se espelha no professor de reda��o Ad�lcio Ferreira Dias. “� o professor que eu gostaria de ser. Ensina coisas que vou levar para o resto da vida.” Outras refer�ncias s�o a av�, Maria da Concei��o, que cursou magist�rio, e a m�e, Cynthia Arcanjo, que, embora engenheira, atuou como professora de f�sica. “A quest�o salarial n�o me preocupa. � um problema real, mas o dinheiro n�o � o mais importante. O que adianta fazer algo que torna a pessoa rica, mas infeliz?”
Guilherme lembra que os cursos de licenciatura n�o s�o t�o valorizados devido ao fato de que os professores n�o costumam ser bem remunerados. “Teoricamente, curso bom � o que d� dinheiro. Mas n�o � o fator mais importante. Se voc� est� feliz com sua profiss�o, o dinheiro vem, aumentam a chances de ser bem-sucedido”, avalia o jovem. “Para mim, ser professor � ensinar para o aluno como vai ser o futuro. � muito mais importante do que ensinar conte�do. � ensinar cidadania.”