Apesar de ver nos �ltimos anos suas receitas dispararem, impulsionadas por fus�es, alta nas mensalidades e pela amplia��o do Financiamento Estudantil (Fies), os grandes grupos educacionais de ensino superior com a��es na bolsa t�m direcionado propor��o cada vez menor de recursos para a principal mat�ria-prima: os professores. A remunera��o dos docentes em rela��o � receita l�quida passou de 45% em 2010 para 35% no ano passado, na m�dia dessas empresas.
A Kroton, por exemplo, gastou no ano passado 29% da sua receita com os professores - em 2010, esse porcentual era de 52%. A Ser Educacional manteve esse gasto est�vel no per�odo e em 2014 gastava 26%.
Os dados foram extra�dos dos balan�os financeiros e notas explicativas divulgadas ao mercado pelas empresas. As informa��es foram processadas e analisadas pela consultoria de Oscar Malvessi, professor da Funda��o Getulio Vargas (FGV), a pedido da Federa��o dos Professores do Estado de S�o Paulo (Fepesp). A an�lise abordou as quatro �nicas empresas que t�m capital aberto e, por isso, s�o obrigadas a manter a transpar�ncia de seus dados.
Como compara��o, Malvessi analisou os mesmos crit�rios de outras duas institui��es, cujos dados eram p�blicos. O gasto com professores no Mackenzie responde por 67% da receita. Na Unicsul, empresa particular de capital fechado, � de 52%. Nas p�blicas, esse porcentual quase sempre supera 70%.
Questionado, o Sindicato das Mantenedoras (Semesp) informou que, entre 2008 e 2011, o porcentual de gasto com professores estava aumentando nas institui��es privadas. Levantamento do Semesp com 2 mil institui��es mostra que, desde 2008, a tend�ncia era de aumento do gasto. Em 2011, ele representava 40% da receita.
Custo
A queda no gasto com docentes veio a reboque de uma diminui��o do custo total dos servi�os prestados. Passou de 62% em 2010 para 47% em 2014, na m�dia das empresas.
Autor do estudo, Malvessi indica que, economicamente, os resultados s�o excelentes. "Houve um contexto de oportunidade que foi muito bem aproveitado pelas empresas. E o Fies foi muito importante, viabilizou o acesso dos alunos. Como contrapartida, veio receita e crescimento", diz. "Mas a educa��o merece uma aten��o especial das empresas, entidades, do governo e da sociedade. Se n�o, os interessados no neg�cio de educa��o ficam restritos aos ganhos financeiros."
As quatro empresas concentram 23% de 1,9 milh�o de contratos do Fies firmados at� o ano passado. Na Kroton, cerca de 60% dos alunos t�m Fies. Na Anima s�o 39%.
Com o avan�o do Fies, as empresas passaram a ter repasses garantidos do governo, diminuindo o risco de inadimpl�ncia - mesmo cobrando mensalidades maiores. Entre 2010 e 2014, o valor m�dio das mensalidades no ensino superior privado aumentou 13%, como revelou reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" em fevereiro. J� o gasto do governo com o Fies, desde 2011, saltou 647%, enquanto o n�mero de contratos cresceu 374%.
O presidente da Fepesp, Celso Napolitano, diz que h� um descompasso entre os lucros e os investimentos com os professores. "Essa grande lucratividade resultou em enxugamento dos gastos com corpo docente, em detrimento das condi��es do trabalho e da qualidade do ensino", diz ele. "� um tipo de gest�o em termos massificados que, com rela��o � educa��o, � arriscada para a qualidade."
Melhoria
O diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, afirma ser natural que o porcentual de gasto com professores seja menor em empresas maiores. "Isso se deve ao ganho de escala e n�o � precariza��o da m�o de obra", diz ele, que defendeu melhoria na qualifica��o dos docentes no setor privado.
"Quando se tem um volume maior de alunos, obviamente, pode-se otimizar a quantidade de professores. Isso at� melhora a qualidade, pois o docente fica exclusivo daquela institui��o, uma vez que ela tem turmas e aulas suficientes para preencher todo o tempo."
As institui��es de ensino afirmam que houve investimentos nos docentes e melhoria de qualidade dos cursos. A diretora da Associa��o Brasileira para o Desenvolvimento da Educa��o Superior (Abraes), Elizabeth Guedes, diz que a folha salarial vem aumentando nos �ltimos anos. "Se ela cresce menos do que a receita, isso se deve a um planejamento cada vez mais eficiente dos recursos utilizados", diz. "Estamos obtendo resultados e elevando a qualidade acad�mica." A Abraes representa as empresas de capital aberto, al�m dos grupos Devry e Laureate.
Ap�s as mudan�as no Fies do fim de 2014, houve press�o por parte do setor na negocia��o salarial dos docentes. A data-base era em mar�o e a defini��o do reajuste saiu em junho. "Conseguimos a duras penas um aumento real de 0,57%, mas o resto das melhorias na carreira ficou parado", afirma Napolitano. A Fepesp pretende ainda reivindicar participa��o de lucro e resultados. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.