
As raz�es para isso s�o a falta de qualidade no ensino dessas cidades e a dificuldade de transporte entre BH e as cidades que circundam a capital mineira. Neste ano, por exemplo, apenas 400 (6,8%) alunos nasceram numa das cidades da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O total � menor do que os matriculados que vieram do interior do estado de Minas Gerais e que somaram 1.402, e inferior at� ao n�mero dos que vieram de outras unidades da Federa��o e que chegaram a 719 (12,22%). A capital mineira ainda responde por mais da metade dos estudantes da UFMG, com 3.336 matriculados, �ndice de 56,71%.
O estudante de teatro Thiago Rosado, de 25 anos, sentiu grande dificuldade quando se mudou de Inhapim, no Vale do Rio Doce, para Betim, e depois para Contagem, na RMBH, para estudar, trabalhar e morar com a m�e. “Primeiro me mudei pra Betim e depois de algum tempo para Contagem. Escolhi a UFMG por ser a �nica universidade que oferta o meu curso”, conta.
Com o aprendizado de escola p�blica toda vida, o estudante passou por institui��es em Inhapim e S�o Domingos das Dores, tamb�m no Vale do Rio Doce, e Betim. “O ensino era �timo. Recentemente, vi uma not�cia de que a escola onde estudei em S�o Domingos das Dores foi classificada entre as 10 melhores do Brasil. Os professores eram excelentes e a infraestrutura tamb�m. Em Betim, senti o ensino um pouco aqu�m se comparado com as escolas anteriores. Talvez eu tamb�m tenha dificuldades por estar em uma turma nova”, disse.
“Pelo que eu vivi, posso dizer que grande parte da popula��o oriunda do interior v� na universidade a �nica forma de ascens�o financeira. No interior, a m�o de obra predominante est� na agricultura, e os trabalhos em geral exigem muito esfor�o f�sico, com sal�rios relativamente baixos. Quando eu estudava no interior, a conversa entre mim e meus amigos era de sair de l� e tentar uma vida melhor em alguma cidade maior, como BH, Juiz de Fora, Ipatinga”, concluiu Thiago.
DEDICA��O
Luana Moreira Fonseca, de 22, tamb�m deixou a vida interiorana para cursar nutri��o. Ela saiu de Divin�polis, na Regi�o Centro-Oeste do estado, h� 3 anos. A estudante conta que, apesar de haver outras faculdades mais pr�ximas, como a Universidade Federal de Alfenas e a Universidade Federal de Lavras, seu foco foi a UFMG por causa da qualidade do ensino. “Passei em outros vestibulares, mas preferi optar por BH. � uma faculdade muito renomada”, disse.
Ela avalia que o ensino na escola onde concluiu o ensino m�dio � muito ruim e que s� conquistou a vaga se dedicando muito. “A escola de Divin�polis � muito ruim. O que me ajudou foi conseguir uma vaga em um cursinho, que foi uma parceria da prefeitura da cidade com um col�gio particular. Tamb�m estudei muito sozinha”, afirma a jovem. Ela conta que � muito comum entre seus amigos deixar a cidade natal e se mudar para a capital.
As desvantagens dos vizinhos
O professor adjunto de geografia e diretor de pesquisa do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), doutorando em an�lise ambiental na UFMG, Paulo Eduardo Borges, v� duas formas principais de avaliar a maior penetra��o dos alunos do interior e de outros estados na institui��o em rela��o aos estudantes da Grande BH.
O primeiro aspecto � a facilidade de acesso trazida por a��es como o Reuni, programa do governo federal de apoio a planos de reestrutura��o e expans�o das universidades, e os investimentos da institui��o em moradias estudantis, que facilitaram a perman�ncia dos alunos do interior e de outros estados em BH.
“Essas condi��es aumentaram a possibilidade de alunos de fora do estado e do interior ingressarem na UFMG. Entram com um sistema nacional – as notas no Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) –, o que facilita a possibilidade de virem de fora. E isso vai al�m de uma cr�tica aos pontos positivos e negativos desses programas, � apenas a avalia��o de que foram fundamentais para receber os alunos de fora da Grande BH”, afirma.
VAGAS As boas moradias universit�rias tamb�m auxiliam na vinda de mais interessados de fora da Grande BH e hoje garantem 632 vagas em dois edif�cios na Regi�o da Pampulha – um terceiro est� sendo constru�do –, pr�ximos ao c�mpus da universidade. “S�o apartamentos espa�osos e muito perto da institui��o. A melhora do acesso � renda nos �ltimos anos facilitou o investimento de quem vem para BH, ao passo que para as pessoas da Grande BH morar na capital pode n�o ser uma vantagem”, avalia.
O segundo ponto seria a condi��o estrutural dos alunos. “A migra��o pendular di�ria desgastante, longa e num sistema de transportes ruim faz com que muitos potenciais candidatos da Grande BH nem sequer tentem uma vaga na UFMG. Uma pessoa de Confins, Baldim ou Pedro Leopoldo, por exemplo, pode preferir cursar o Instituto Federal de Sete Lagoas, onde pode chegar em 20 minutos de viagem”, compara o professor de geografia do IFMG.
“At� para o acesso a bolsas e aux�lios, os alunos da Grande BH perdem, porque uma pessoa pobre, advinda do ensino p�blico e apta ao sistema de cotas perderia na avalia��o da Funda��o Mendes Pimentel quando comparada a um candidato em mesmas condi��es que mora mais longe, porque a dist�ncia em quil�metros de BH conta como fator de qualifica��o”. Outro ponto importante, na an�lise do especialista, � a qualidade do ensino. “Os alunos do interior e de outros estados est�o chegando mais bem preparados do que os estudantes da Grande BH”, afirma.