
As institui��es privadas concentram a maior quantidade de vagas ociosas – 2,89 milh�es (85,3% delas) –, enquanto nas p�blicas elas est�o na casa do meio milh�o (14,7% das cadeiras que foram deixadas). O Censo aponta motivos diversos para essa ociosidade: matr�culas trancadas, desvinculadas, transfer�ncia para outro curso na mesma institui��o e alunos falecidos. Mas os n�meros mais gritantes se referem �s matr�culas desvinculadas, que dizem respeito a estudantes desistentes e desligados, ou seja, alunos que por iniciativa da institui��o tiveram a vaga cancelada – por abandono, descumprimento de alguma condi��o ou desligamento volunt�rio (quando sai da faculdade, mas n�o formaliza o cancelamento).
No Brasil, as desvinculadas somaram 2.029.687 (17,7%) do total de 11,4 milh�es de alunos matriculados. Dessas, 86% estavam na rede privada. Em Minas, o percentual tamb�m � alto: dos 1,07 milh�o de estudantes, 176.080 abandonaram o curso (16,4% do total de matr�culas), sendo 83,4% deles na rede privada. Os n�meros tiveram um salto nos �ltimos cinco anos. Em 2012, as vagas ociosas no Brasil somavam 2,4 milh�es, sendo 82,5% nas institui��es particulares. Em Minas Gerais, estavam em menos de 200 mil (21,2% dos universit�rios). H� cinco anos, as matr�culas desvinculadas giravam em torno de 1,4 milh�o no pa�s e de 133 mil nas institui��es localizadas em territ�rio mineiro.
O atleta Matheus Menezes Sim�es Queiroz, de 19 anos, entrou nas estat�sticas. Ele come�ou o curso de jornalismo da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais (PUC Minas), mas decidiu, na metade do 1º per�odo, deixar os estudos para perseguir seu sonho de se tornar jogador de v�lei profissional. “Este era meu �ltimo e decisivo ano. Apostei todas as fichas. Como passei a treinar de manh� e teria de estudar � noite, preferi sair”, conta o atleta do Ol�mpico. Ele pensa em retomar a gradua��o no ano que vem, mas, desta vez, no curso de educa��o f�sica.
O jovem Lucas Rezende Lima, de 26, tamb�m deixou a faculdade para tr�s, no 3º per�odo de jornalismo do Centro Universit�rio de Belo Horizonte (UNI-BH), ano passado, sem formalizar o cancelamento da matr�cula. “Foi um misto de motivos. Primeiro, por causa da crise financeira que se estabeleceu no pa�s e tamb�m porque o curso n�o estava atendendo t�o bem �s minhas expectativas. Imaginava outras coisas e quando percebi como era na pr�tica a profiss�o, n�o me interessei muito”, afirma.
A estudante Lorenna Narciso Costa, de 20, n�o teve tempo nem de trancar a matr�cula por causa de um problema de sa�de repentino. No in�cio do curso de odontologia do Centro Universit�rio Newton Paiva, ela descobriu uma trombose cerebral. A garota fez novamente o Enem para tentar outra vaga em 2017. “Estou bem de sa�de agora e � isso que importa.”
O Minist�rio da Educa��o (MEC) informou, por meio da assessoria de imprensa, que, no caso das institui��es federais, n�o pode medir os poss�veis preju�zos do abandono das vagas. Isso porque a efetiva ocupa��o das vagas do Sistema de Sele��o Unificada (Sisu) est� sob a responsabilidade das institui��es, no �mbito da autonomia conferida pela Constitui��o Federal, sendo a ades�o delas facultativa. Acrescentou que compete �s institui��es federais, que t�m autonomia para criar mecanismos pr�prios, preencher as vagas n�o ocupadas no processo regular. “Cada institui��o pode adotar uma metodologia pr�pria para a ocupa��o das vagas. O Sisu trabalha apenas com novos ingressos e n�o com vagas ociosas, sendo que tem m�dia de 86,9% de ocupa��o das vagas ofertadas, desde a sua cria��o, o que facilita e ajuda as institui��es a preench�-las”, diz o texto.
PESO DA ECONOMIA O diretor-executivo da Associa��o Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), S�lon Caldas, atribui boa parte das desist�ncias ao cen�rio econ�mico e �s mudan�as nas pol�ticas federais de bolsa e financiamento estudantil. “Os n�meros do censo mostram uma queda significativa nas matr�culas de novos ingressantes entre 2014 e 2015, e mais ainda de 2015 para 2016, quando tivemos um crescimento negativo no ensino presencial em decorr�ncia da falta de financiamento para os alunos que n�o t�m condi��es de arcar com o investimento em educa��o”, afirma.
Segundo ele, desde 2015, quando houve mudan�as nas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), a ades�o e o cumprimento dos crit�rios de acesso ficaram mais dif�ceis para os alunos. Para S�lon Caldas, as mudan�as ocorridas tamb�m deixaram de permitir que o aluno com dificuldades financeiras pudesse recorrer ao financiamento, o que fez a evas�o aumentar e deixar milh�es de alunos fora do sistema. “Com o agravamento da crise econ�mica e pol�tica que o pa�s est� passando, aliada ao aumento do desemprego, esse cen�rio fica cada vez mais dif�cil e, consequentemente, o sonho do ensino superior mais distante para muitos brasileiros.”
Palavra de especialista
Andr�a Ramal - Consultora em educa��o e doutora em educa��o pela PUC-Rio
“O principal motivo para esses n�meros � a evas�o, a desist�ncia. E, dentro disso, a falta de base do ensino m�dio para cursar a universidade. Na engenharia, por exemplo, s� 50% dos alunos se formam. Porque falta matem�tica. Como o estudante far� a disciplina de c�lculo sem base nessa mat�ria? H� tamb�m outros fatores associados: problemas relacionados a recursos financeiros e um financiamento do governo que n�o deixa o aluno tranquilo por causa de uma amea�a constante de descontinuidade. Mas, de longe, a evas�o por falta de base escolar � a principal. As faculdades est�o tomando medidas, como implementar curso de nivelamento com foco em portugu�s e matem�tica, disciplinas que os estudantes deveriam ter trazido do ensino m�dio. No caso da universidade p�blica, � um desperd�cio de recursos. N�o podemos tamb�m esquecer que o Brasil atravessa uma crise econ�mica s�ria, com 12 milh�es de desempregados. A pessoa faz uma faculdade para ter uma chance no mercado, mas acaba n�o tendo como pagar. Por isso, fica o alerta para o Brasil come�ar a olhar mais para a educa��o b�sica. Levantamento recente mostra que o governo gasta R$ 3 mil por ano com cada aluno nessa fase. Na universidade, esse montante vai para R$ 11 mil. Ou seja, a pir�mide est� totalmente invertida. N�o olha para o n�vel b�sico e perde recurso na educa��o superior por causa disso. N�o adianta encher as universidades se, depois, vai ocorrer esse esvaziamento.”