
Em n�meros percentuais, significa 6,2% das pessoas de 15 anos ou mais sem qualquer letramento, um pouco abaixo do observado para o Brasil (7,2%). Essa taxa, segundo a Pnad, apresentou rela��o direta com a faixa et�ria, aumentando � medida que a idade avan�ava at� atingir 19,1% entre os mineiros com 60 anos ou mais. Os resultados da pesquisa s�o referentes a 2016.
Eles mostram ainda que a popula��o com idade superior a 15 anos tem, em m�dia, 7,8 anos de estudo. No Brasil, o tempo m�dio � de oito anos. “Esse n�mero � menor que a quantidade de tempo que se passa no ensino fundamental (nove anos), o que significa que os alunos evadem antes. Por isso, s�o importantes projetos para trabalhar a corre��o de fluxo e deixar o aluno com idade e s�rie adequados”, afirma a analisa educacional na Diretoria de Ensino Fundamental da Secretaria de Estado de Educa��o, M�nica de Oliveira Ribeiro Couto.
Quando considerados g�nero e ra�a, tamb�m h� distor��es. No estado, a taxa de analfabetismo para os homens com 15 anos ou mais de idade foi de 6,1%; e para as mulheres, 6,3%. Analisando por cor ou ra�a, verifica-se que a taxa de analfabetismo para as pessoas pretas ou pardas � quase duas vezes maior que entre as brancas – 7,7%, frente a 4,2%. Ano passado, 97,7% das crian�as e adolescentes de 6 a 14 anos estavam frequentando o ensino fundamental em Minas, enquanto no pa�s essa propor��o era de 96,5%.
FORA DO TEMPO No estado, na etapa inicial, que idealmente deve ser cursada dos 6 a 10 anos de idade, 96,8% dos alunos tinham a idade correta para a s�rie em que estavam, ou seja, 3,2% dos meninos estavam fora da s�rie padr�o. Na fase seguinte, do 6º ao 9º ano (11 a 14 anos), a propor��o come�a a se inverter e o percentual de estudantes atrasados sobe para 9,7%, seja por reprova��o ou evas�o.
A explos�o ocorre na passagem para o ensino m�dio: 29% dos estudantes de 15 a 17 anos est�o na s�rie inadequada para a idade. Distor��o que permanece no ensino superior, no qual apenas um quarto dos universit�rios mineiros (25,9%) percorreram o trajeto escolar sem atrasos e chegaram � gradua��o no tempo regular. A m�dia do pa�s � de 23,8%.
O desafio da volta e da perman�ncia
O auxiliar administrativo Giovanni Delamare Passos, de 28 anos, abandonou a escola quando estava no 1º ano do ensino m�dio, aos 17 anos. Todo ano o des�nimo falava alto e ele nem chegava a concluir o per�odo letivo. Sa�a antes da escola. At� o dia em que deu o adeus que pensava ser definitivo. “Eu n�o gostava de estudar, a metodologia dos professores e o conte�do das aulas n�o eram interessantes e eu j� trabalhava na �poca. Tudo isso somado ao meu desinteresse me fez desistir”, conta. Mas, 11 anos depois ele voltou � sala de aula, desta vez na Educa��o de Jovens e Adultos (EJA), por meio da qual tentar� concluir a educa��o b�sica em tr�s semestres. “� medida que vamos ficando mais velhos, vamos vendo a necessidade de certas conquistas que s� se tem com o estudo e sentindo o peso do mundo nas costas na condi��o financeira, por n�o ter uma profiss�o”, diz o jovem, que sonha agora com o curso superior de tecnologia da informa��o.
Assim como Giovanni Passos, mais da metade da popula��o mineira concluiu apenas o ensino fundamental, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua (Pnad Cont�nua), divulgados ontem. A professora de pedagogia e p�s-gradua��o do Centro Universit�rio Uni-BH Ver�nica Figueiredo chama a aten��o para as consequ�ncias do analfabetismo ou do baixo grau de instru��o da popula��o. “Quanto menor o desenvolvimento acad�mico de um povo, menor ser� o desenvolvimento cient�fico e em v�rias outras �reas. Interfere tamb�m na cultura e na forma��o do sujeito. A conviv�ncia faz parte dos quatro pilares preconizados pela Unesco em rela��o ao aprender”, diz. “Se nossos cidad�os n�o frequentam a escola ou a frequentam pouco, ser�o pouco desenvolvidos”, ressalta.
A analisa educacional na Diretoria de Ensino Fundamental da Secretaria de Estado de Educa��o, M�nica de Oliveira Ribeiro Couto, diz que a pasta promove v�rias a��es que favorecem n�o s� a inser��o de crian�as, jovens e adultos, mas tamb�m a perman�ncia deles. Entre elas est� a oferta de vagas na educa��o integral e integrada. Dois projetos servem como ant�doto da evas�o. Um deles � o acompanhamento pedag�gico diferenciado para alunos do 4º ao 9º anos, num trabalho que envolve letramento e c�lculo. Este ano, foram atendidos 18.999 estudantes diagnosticados com alguma defasagem no processo de alfabetiza��o.
O outro s�o circuitos de aprendizagem em l�ngua portuguesa e matem�tica. H� tamb�m programas para corrigir a defasagem de idade e s�rie, al�m daqueles voltados para reinserir alunos que est�o fora da escola. “Um dos grandes gargalos da educa��o � a evas�o. Por isso, a import�ncia de tornar a escola mais atrativa por meio de professores e de outras metodologias de ensino que fa�am a crian�a e o jovem permanecerem”, ressalta M�nica.
Tr�s perguntas para
Andrea Ramal, educadora, consultora em educa��o e doutora em educa��o pela PUC-Rio
Ainda somos um pa�s de semianalfabetos?
Isso n�o se aplica totalmente. Os n�meros da Pnad em Minas refletem, de um modo geral, o crescimento do acesso � educa��o b�sica que ocorreu nas �ltimas d�cadas. Ao contr�rio do que acontecia h� 40 anos, hoje temos no Brasil um n�mero significativo de crian�as entre 6 e 14 anos na escola (em Minas, 99,3%), mas n�o era assim h� algumas d�cadas, o que explica que uma parcela importante da popula��o com 25 anos ou mais tenha apenas o ensino fundamental (em Minas, 54,5%).
O que explica essa varia��o de adequa��o da idade/s�rie e esses saltos de uma etapa para outra da forma��o escolar?
Mesmo tendo mais gente na escola, os n�meros mostram que o problema est� no processo de aprendizagem. A distor��o idade/s�rie se acentua ao longo dos anos, mostrando que os alunos repetem de ano e a escola vai se tornando um funil. A responsabilidade disso n�o � s� da escola, claro, mas das condi��es sociais e culturais em que os estudantes vivem. Um conjunto de fatores resulta no quadro que a Pnad retrata. N�o podemos falar necessariamente de analfabetos funcionais nem de semianalfabetos, mas sem d�vida podemos comprovar um quadro de baixa escolaridade e de alto risco de n�o aprendizagem.
Qual a consequ�ncia desses n�meros na educa��o formal brasileira?
Podemos inverter a pergunta: na verdade � a educa��o formal brasileira que est� causando esses n�meros. Seja porque a escola n�o � eficaz como deveria, seja porque os estudantes n�o encontram as condi��es necess�rias (sociais, econ�micas e culturais) para aprender e evoluir naturalmente, ao longo dos anos, na s�rie adequada para a idade. O fato � que uma parte importante da popula��o estudantil enfrenta o fracasso escolar, com a repet�ncia de um ou mais anos, ou os baixos indicadores de aprendizagem. A Pnad � um sinal de alerta: temos uma educa��o pela metade.