
O Brasil avan�a a passos lentos rumo � meta de ter, dentro dos pr�ximos quatro anos, pelo menos 90% de seus jovens de at� 19 anos com o ensino m�dio carimbado no diploma. Apenas dois ter�os deles terminaram a educa��o b�sica. Entre os que n�o conclu�ram, a maioria n�o est� mais na escola e metade nem chegou ao fim do 9º ano do fundamental. Os dados est�o sendo divulgados hoje pelo movimento Todos pela Educa��o e s�o mais um instrumento que comprova as disparidades Brasil afora e o abismo no qual se transformou a educa��o em territ�rio nacional.
Em Minas, a taxa de conclus�o � de 81,6%. Al�m do estado, apenas outras sete das 27 unidades federativas apresentaram taxas superiores a 80%. O monitoramento mostra ainda que as chamadas taxas de insucesso escolar (reprova��o e abandono) come�am a se intensificar j� no ensino fundamental: em 2017, 10,5% dos alunos do 3º ano n�o conseguiram avan�ar para o ano letivo seguinte. J� no 6º ano, esse �ndice salta para 15,5%.
No ensino m�dio, o cen�rio se agrava, com somente 63,5% dos jovens de 19 anos tendo j� conclu�do essa etapa escolar. Entre os que ainda n�o finalizaram, 62% j� nem frequentam mais a escola e, desses, mais da metade (55%) parou os estudos ainda no fundamental. Abandono e reprova��es chegam ao �pice na 1ª s�rie do ensino m�dio: de cada 100 estudantes, 23 n�o seguem para a 2ª s�rie no ano seguinte. Apesar do avan�o em todos os estados e no Distrito Federal, as taxas de conclus�o s�o baixas: somente oito t�m �ndices acima de 65% e nenhuma acima de 80%. A Bahia � o caso mais cr�tico e est� numa faixa cuja taxa varia de 35 a 50%. Dezesseis estados est�o entre 50% a 65%. E oito deles mais o Distrito Federal, na faixa que compreende entre 65% e 80%.

O levantamento mostra tamb�m que apesar de n�o concluintes, a maioria dos jovens de 16 anos frequenta a escola. Entre os que frequentam, 86,4% est�o no ensino fundamental e 13,3% est�o nessa mesma etapa da Educa��o de Jovens e Adultos (EJA). J� a an�lise do grupo de 19 anos que n�o concluiu o n�vel m�dio mostra que a maioria deles n�o frequenta a escola (62%). Desses, 39% desistiram quando estavam no ensino m�dio e 55% no fundamental. Entre quem est� na sala de aula, 66,6% est�o no ensino m�dio e 9,8% no fundamental, devendo concluir a escolaridade b�sica ainda mais tarde.
“� um desastre para o ensino m�dio como um todo e um fracasso do ponto de vista de todo o sistema educacional brasileiro. O aluno que chega ao n�vel m�dio vem carregando defasagem de outras etapas. Apesar de avan�os em alguns estados, vemos que o Brasil n�o tem um projeto de pa�s para conseguir equacionar a quest�o. O ritmo de avan�o � muito lento e os resultados s�o desastrosos”, diz a coordenadora de projetos do Todos, Thaiane Pereira. Desde 2012, a taxa de conclus�o do fundamental avan�ou 7,2 pontos percentuais e a do m�dio, 11,8.
Reprova��o e abandono na transi��o
Abandono e reprova��o ajudam a explicar o cen�rio insatisfat�rio. Enquanto no 9º ano do fundamental esses dois itens atingem 10,4% dos adolescentes, na 1ª s�rie do n�vel m�dio encontram o �pice (23,6%). Thaiane explica que nessa composi��o a reprova��o supera o abandono e se destaca justamente nas fases de transi��o. “No 1º ano do m�dio, o aluno v� que n�o d� conta. Ele ter� 13 disciplinas obrigat�rias, muitas vezes enfrenta problema estrutural na escola, que tamb�m n�o � atrativa nem tem ader�ncia � vida dele. Sem projeto de vida, sai”, comenta. No 6º ano, o problema se deve � transi��o abrupta em rela��o ao 5º ano. “O estudante come�a a ter v�rios professores e o modelo de escola muda totalmente. Al�m disso, ele n�o est� completamente alfabetizado muitas vezes e as taxas de reprova��o acabam sendo altas”, diz.
Na opini�o da especialista, a meta 4 � o reflexo do sistema educacional: o aluno entra na escola, mas n�o h� uma estrat�gia articulada da base at� o ensino m�dio, o que exige um projeto para equacionar a quest�o. Essa sala de aula �s avessas compromete, diretamente, o trip� acesso, perman�ncia e aprendizagem. “Estamos conseguindo colocar a maioria dos alunos na escola, ainda que haja v�rios fora do sistema (muitos que n�o conclu�ram est�o fora). Depois, a quest�o vai piorando, pois o estudante precisa permanecer e esse n�mero, de modo geral, est� muito ruim, porque n�o est�o conseguindo concluir”, relata Thaiane. “Quando se olha a nota do Saeb (Sistema de Avalia��o B�sica) e do Ideb (�ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica), a situa��o fica ainda mais feia. Pode at� estar na escola, mas os que est�o sobrevivendo n�o conseguem aprender os n�veis adequados.”
E em mais uma meta, o Brasil vai deixando o tempo passar. Longe de superar os objetivos postos at� 2022, resta a esperan�a de n�o apenas resolver o problema do ensino m�dio, mas tamb�m dar aten��o ao que vem sendo gestado desde a primeira inf�ncia, quando as quest�es de acesso � creche � pr�-escola s�o apenas o in�cio de uma sequ�ncia de transtornos, que culminam em n�veis de aprendizagem ruins, que se alastram at� o fim da educa��o b�sica. “Pa�ses que est�o avan�ando mudaram j� o modelo do ensino m�dio. O nosso � muito arcaico, pouco flex�vel, em que o jovem n�o tem protagonismo nem possibilidade de escolha. Os pr�ximos governantes t�m papel importante para assegurar que a implementa��o da base (nacional comum curricular) seja coerente para n�o regredirmos ainda mais. � preciso assegurar que os jovens n�o s� tenham mais tempo na escola, mas tenham mais possibilidade de escolha e desenvolvam seus projetos de vida.”