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Estado de Minas

Matr�culas em faculdades � dist�ncia devem superar as presenciais em 4 anos

Enquanto matr�culas presenciais recuam, educa��o a dist�ncia avan�a, j� representa mais de um quarto dos novos universit�rios e tende a superar modelo convencional. Falta de tempo ou dinheiro levam a aumento da procura por EAD


postado em 03/06/2019 06:00 / atualizado em 03/06/2019 07:51

Além do custo reduzido e da flexibilidade de horário, a modalidade é uma solução para quem tem problemas de locomoção, como Júnio Carlos Silva, que estuda administração na Faculdade Arnaldo (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Al�m do custo reduzido e da flexibilidade de hor�rio, a modalidade � uma solu��o para quem tem problemas de locomo��o, como J�nio Carlos Silva, que estuda administra��o na Faculdade Arnaldo (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


Se a tecnologia dita cada vez mais os rumos das carreiras do futuro, a sala de aula n�o pode ficar de fora. No mundo inteiro, o lugar de forma��o dos profissionais j� reflete novos meios de vida e as adapta��es necess�rias �s exig�ncias do mercado. Em meio a essas transforma��es, o ensino ganha cada vez mais terreno na plataforma digital. No Brasil, enquanto as matr�culas nos cursos presenciais registraram decr�scimo por dois anos seguidos, nas gradua��es a dist�ncia elas explodiram. Em Minas Gerais, o maior crescimento da Regi�o Sudeste de acordo com os �ltimos dados dispon�veis, os registros feitos para cursos on-line j� respondiam por mais de um quarto das matr�culas da educa��o superior. Por tr�s do computador, as mudan�as na forma de estudar encontram hist�rias de pessoas que conseguiram superar barreiras financeiras, de tempo, idade e at� de locomo��o para dar asas ao sonho do diploma universit�rio.


A previs�o � de que em 2023 a forma��o on-line j� responda por mais alunos do que aquela feita em sala de aula. A explos�o da modalidade coincidiu ainda com a expans�o de polos de ensino, mas h� quem acredite que esse movimento n�o seja sustent�vel. A tend�ncia seria de consolida��o e redu��o, restando apenas aqueles que t�m uma base significativa de estudantes. “A virada pode ocorrer dentro dos pr�ximos quatro anos, mas � preciso considerar que o ensino presencial pode retomar o crescimento”, informa o presidente da Associa��o Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e do F�rum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, Celso Niskier.

Entre 2010 e 2017, ano do �ltimo censo da educa��o superior, a taxa de novas matr�culas presenciais e a dist�ncia em institui��es p�blicas e particulares de Minas Gerais cresceu em m�dia 3,4% ao ano. No Rio de Janeiro, o avan�o foi de 3,1% no per�odo; no Esp�rito Santo, de 3%; em S�o Paulo, 2,9%. Os dados fazem parte da pesquisa Educa��o Superior em Minas Gerais – Contexto e perspectivas, encomendada pela Abmes e feita pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights.

O levantamento mostra que, no per�odo, o maior crescimento se d� no setor particular, que saltou de pouco mais de 157 mil novas vagas, em 2010, para quase 250 mil novas vagas ao ano, em 2017, crescimento m�dio anual de 6,8%. No mesmo per�odo, o setor p�blico de ensino superior cresceu somente 3%, saindo de pouco mais de 46 mil novas vagas, em 2010, para cerca de 57 mil novas vagas, em 2017.

De acordo com o estudo, a educa��o a dist�ncia em Minas Gerais tem fatia expressiva do setor particular. Em 2010, o ensino presencial correspondia a 81% das matr�culas mineiras, contra 19% de EAD. Em 2017, o n�mero de matr�culas presenciais recuou sete pontos percentuais (74%), enquanto a modalidade EAD registrou crescimento dos mesmos sete pontos percentuais, encerrando o ano com 26% de todas as matr�culas do mercado privado de educa��o superior.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


A perspectiva das institui��es � aumentar o p�blico presencial e ainda mais o da educa��o a dist�ncia. No m�dio prazo, a previs�o � de que os alunos com mais dificuldade financeira migrem para a EAD, principalmente diante do cen�rio desfavor�vel do financiamento estudantil, e permane�am na sala de aula convencional aqueles com mais disponibilidade de tempo e recursos. E, diante dessa “concorr�ncia” com o ensino on-line e antevendo uma altera��o no perfil, os estabelecimentos de educa��o superior est�o mudando metodologias e buscando inovar com a did�tica da EAD, na inten��o de captar um grupo mais diverso de alunos.

Nesse contexto, as fronteiras entre presencial e a dist�ncia est�o se tornando menos n�tidas. Atualmente, na chamada sala de aula invertida, que tem sido adotada em universidades e faculdades, os alunos estudam antes em casa e v�o para a escola desenvolver a pr�tica sob orienta��o do professor. “Nesse modelo, o conhecimento pode ser obtido onde o aluno estiver, com apoio de metodologia e materiais oferecidos a dist�ncia. Sala de aula � pr�tica. Em um modelo h�brido, a pr�tica � presencial e a teoria � a dist�ncia, como ocorre no mundo inteiro”, diz Celso Niskier. No fim do ano passado, portaria do Minist�rio da Educa��o (MEC) dobrou o limite para aulas a dist�ncia nos cursos de gradua��o, de 20% para 40%.

“O mundo caminha para o modelo misto, que combina presencial e a dist�ncia de acordo com a necessidade de cada aluno e de cada curso. Para algumas gradua��es, como as da �rea de sa�de, ningu�m defende o curso totalmente a dist�ncia. O mercado saber� encontrar o caminho que combine interesse do aluno com diretrizes do curso. Tecnologia n�o � mais op��o, mas uma diretriz”, afirma o presidente da Abmes. Assim, cada institui��o estabelece seu modelo dentro dos limites das diretrizes nacionais curriculares. Alguns cursos podem ser feitos on-line dentro ainda do que estabelecem os respectivos conselhos profissionais.

No Brasil, apenas quatro cursos n�o t�m a modalidade EAD, por proibi��o legal: direito, odontologia, medicina e psicologia. “Alguns conselhos t�m se oposto � EAD como um todo, com o pretexto de cursos oferecidos 100% a dist�ncia. Mas n�o podem negar a realidade. Al�m disso, todos os cursos regularizados e autorizados funcionam sob a fiscaliza��o do MEC. Fora disso, � querer andar para tr�s. Toda �rea tem potencial para EAD, mas nunca 100%. O debate que deve ser travado via Conselho Nacional de Educa��o (CNE) � o quanto se pode ter de EAD e o quanto estamos abertos a ela”, afirma Celso Niskier.

Perfis da EAD

 

Acessibilidade

J�nio Carlos Silva, 47, aposentado, 8º per�odo de administra��o da Faculdade Arnaldo

Ele se aposentou depois de um acidente de carro, em 1997. Aos 25 anos, J�nio Silva ficou tetrapl�gico devido � les�o na cervical. Mas n�o se deixou abater: voltou a estudar em 2007. Terminou o ensino m�dio e come�ou a fazer concurso. Mas, para poder almejar cargos melhores e considerando suas limita��es f�sicas, escolheu a educa��o a dist�ncia.

“Minha inten��o sempre foi voltar a trabalhar e n�o ser visto como algu�m incapaz. Sempre gostei muito de direito. Em 2013, fiz Enem (Exame Nacional do Ensino M�dio) e tentei vaga na faculdade. Administra��o foi o que consegui. N�o era minha vontade, mas passei a gostar muito durante o curso. Era para ter terminado ano passado, mas tive dificuldades por causa de minha les�o. Fiquei internado durante quatro meses e n�o tinha como fazer as provas. Deixei o TCC (trabalho de conclus�o de curso) para este semestre. Quero voltar a fazer concurso ou trabalhar na minha �rea em empresa privada. A EAD foi a alternativa que tive para fazer gradua��o, com tudo igual a uma faculdade convencional, por�m, com mais comodidade. Tenho todo o material em formato digital e vou � faculdade fazer provas. Minha cr�tica � em rela��o aos pr�prios alunos, que ficam se enganando e n�o valorizam a EAD. Estudam s� para as provas, pegam os testes com turmas anteriores e n�o entram no ambiente virtual para se aprofundar. Hoje recebo um sal�rio m�nimo de aposentadoria. Quem cuidou de mim a vida inteira foi minha m�e. Mas eu envelheci, e ela tamb�m. A necessidade de pagar algu�m que me ajude � a motiva��o para ter uma renda melhor. H� nuances da EAD que precisam ser melhoradas, inclusive, o entendimento do que � e o fato de ela ter que ser mais respeitada.”

 

Congresso


Belo Horizonte sedia de quinta-feira at� s�bado a 12ª edi��o do Congresso Brasileiro da Educa��o Superior Particular (Cbesp). Promovido pelo F�rum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular (F�rum) e pela Linha Direta. As discuss�es ser�o pautadas pelo tema “Educa��o superior: inova��o e diversidade na constru��o de um Brasil plural”. S�o esperadas cerca de 500 pessoas entre reitores, mantenedores, autoridades, educadores e formuladores de pol�ticas p�blicas para educa��o de todo o Brasil. As inscri��es podem ser feitas no site do evento (https://cbesp.com.br/).

 

 

EAD: o desafio da reputa��o

 

Ensino a dist�ncia demanda sobretudo disciplina dos estudantes, que aderem ao modelo pela comodidade e por ser mais acess�vel. Esfor�o e qualidade v�m vencendo resist�ncias

 

De um lado, a corda bamba da economia fez dispararem as matr�culas na educa��o a dist�ncia. De outro, a mudan�a no financiamento estudantil foi determinante para a mudan�a de perfil do universit�rio brasileiro. Mas a tend�ncia que impulsiona a EAD vai al�m de fatores socioecon�micos. Tem a ver tamb�m com a flexibilidade de se poder estudar a qualquer hora, n�o importa onde; com a capilaridade dos polos (presentes em pequenos munic�pios, onde n�o h� universidades ou faculdades); e com a nova gera��o de estudantes com familiaridade com a tecnologia. Aliadas a isso, as caracter�sticas do estudante – disciplinado, que estuda sozinho e tem determina��o – t�m ganhado espa�o no mercado de trabalho, reduzindo um preconceito que ainda existe.

“H� ainda um desconhecimento de alguns setores sobre o perfil do profissional formado a dist�ncia. O diploma � exatamente igual ao presencial. Acreditamos que s�o alunos que, por vencer tantos obst�culos nos estudos, t�m essa capacidade de supera��o. J� ou�o algumas empresas testemunharem sobre esse diferencial de gradua��o”, conta o presidente da Associa��o Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e do F�rum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, Celso Niskier.

Apesar de atualmente o estudante ser preponderantemente mais velho e de a EAD atingir, muitas vezes, quem j� estava no mercado e n�o tem como voltar a estudar, � notada a ascens�o gradual de um outro grupo: o de alunos rec�m-formados no ensino m�dio. O perfil tamb�m � bem espec�fico: jovem, com habilidades para a tecnologia, que j� quer ou precisa trabalhar e tem dificuldade financeira e, por isso, quer um diploma mais acess�vel.

Embora sejam muitas as raz�es, as quest�es econ�micas continuam pesando na escolha. E, por isso, o aumento nas matr�culas em EAD, que em Minas Gerais representam pouco mais de um quarto da fatia desse mercado no setor privado, tem a ver com o fato de ela ser op��o economicamente mais vi�vel para muita gente. Essa motiva��o pega, principalmente, o p�blico que teve de parar de estudar e encontrou no ensino on-line a possibilidade de cursar a gradua��o a pre�o mais acess�vel. Enquanto nos cursos presenciais o pre�o m�dio da mensalidade varia de R$ 529 a R$ 5.269, na EAD vai de R$ 127 (gest�o comercial) a R$ 270 (servi�o social).

O crescimento da EAD coincide, ali�s, com o per�odo de redu��o no n�mero de vagas e de mudan�as nas regras do Programa de Financiamento Estudantil (Fies). Em 2015, quando come�aram as dificuldades com o Fies, as matr�culas presenciais sa�ram de 486.924 para 468.821, em 2017. No mesmo per�odo, a EAD subiu de 127.060 para 167.060 novos alunos.

Por isso, a base da interlocu��o das associa��es com o governo passa pelo resgate da ideia do cr�dito estudantil, presente no mundo inteiro, e fazer isso n�o levando em conta crit�rios financeiros, mas o valor social do programa. “O retorno desse aluno para a sociedade vai muito al�m do financiamento. Depois de formado, vai pagar impostos e ter renda. Esse estudante est� no melhor momento para adquirir compet�ncias, mas no pior momento em termo de caixa. N�o � um investimento financeiro. � social.”

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
 

 

Palavra de especialista

 

Luiz Cl�udio Costa – presidente do Observat�rio de Rankings Acad�micos e de Excel�ncia (IREG, na sigla em ingl�s), ligado � Unesco, e vice-reitor do Instituto de Educa��o Superior em Bras�lia

 

Tend�ncia sem volta

“Discutimos em um congresso em Bolonha (It�lia) e � preocupa��o do mundo inteiro a necessidade de se trabalhar a reputa��o da EAD, porque, culturalmente, at� pouco tempo, educa��o era presencial. H� muitos aspectos a serem vencidos para mostrar a import�ncia, seriedade e capacidade de ela atender demandas da sociedade. Organiza��es europeias e norte-americanas est�o trabalhando nisso. Os Estados Unidos est�o come�ando os primeiros cursos de educa��o a dist�ncia – l�, � para atender ao pessoal mais velho, que j� tenha tido algum cr�dito numa institui��o superior. A partir do ano que vem, as chamadas big leagues, as universidades famosas, v�o come�ar a oferecer ensino a dist�ncia. Quando bem-feita, a EAD pode contribuir para forma��o do estudante, mas � preciso responsabilidade das institui��es para buscar professores que saibam fazer e material e mecanismos adequados, pois o estudante tem que ter muito mais que autonomia e disciplina. No Brasil, as provas s�o feitas presencialmente. No exterior, h� mecanismos que verificam se o entorno do estudante sentado em frente ao computador, para onde ele est� olhando, se est� com uma fonte extra de consulta. Devemos falar em educa��o em diferentes n�veis de presencialidade e, n�o tenho d�vida, a do futuro ser� assim. Temos tecnologia dispon�vel, mas a mudan�a � cultural.”

 

Perfis da EAD

 

Malabarismo

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)


K�nia Cristina Cristo Silva Freitas, de 33 anos, 5º per�odo de pedagogia da Faculdade Pit�goras

Ela come�ou o curso dos sonhos em fevereiro de 2017. Faz todo dia a gin�stica de estudar, trabalhar, ser dona de casa e m�e de tr�s filhos de 13, 9 e 8 anos.

"O curso EAD foi a minha �nica op��o, por quest�o de valor e tempo. N�o tenho condi��es de pagar a mensalidade do curso presencial e nem de arcar com passagem. Com fam�lia, � complicado ficar fora de casa por muito tempo. Mas conciliar tudo � um verdadeiro malabarismo. Estudo em casa � noite e tenho aulas presenciais aos s�bados. Eu me considero muito disciplinada. Tenho conseguido adquirir os conhecimentos necess�rios de maneira qualitativa. Por�m, �s vezes, � irritante n�o ter um tutor ou professor para atender sua demanda no momento. E � a� que entra a quest�o do computador, pois uma d�vida que voc� tem leva at� 48 horas para ser sanada. Ent�o, requer paci�ncia tamb�m. Na atual conjuntura, prefiro a EAD, porque consegui me adequar. Terei mais tempo com minha fam�lia, pois, mesmo estudando em casa, estou presente numa eventual emerg�ncia. Pretendo terminar a gradua��o em dezembro de 2020 e j� iniciar, no mesmo formato, uma p�s em tutoria e gest�o escolar em fevereiro do ano seguinte. Para uma mulher parda e pobre como eu, a educa��o � a �nica sa�da pra almejar uma vida melhor."

 

 

Aplica��o

(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
(foto: T�lio Santos/EM/DA Press)


Darcy Campos Maciel, de 58 anos, 8º per�odo de ci�ncias econ�micas da Faculdade Arnaldo

Ele sempre trabalhou com contabilidade. Est� quase se aposentando e quase se formando ao mesmo tempo. Pai de cinco filhos, dos quais quatro j� formados e um prestes a entrar no curso superior, decidiu cursar EAD para futuramente abrir o pr�prio neg�cio.

“Eu precisava de mais conhecimento para desenvolver o que o mercado exige. Vinha trabalhando em escrit�rio para conseguir fazer curso superior, primeiro pelo fator financeiro e tamb�m por ser arrimo de fam�lia. Fiz ci�ncias da religi�o, sou bacharel em teologia, mas precisava fazer economia ou contabilidade. Economia era mais completo para a minha atividade. Fa�o an�lises, balancete, mas aprendi tudo na pr�tica. Com o curso de economia, passei a entender o porqu� de cada documento e sua import�ncia. Antes, apenas classificava, sem saber o motivo. O sucesso do curso a dist�ncia � a disciplina. Tem que abrir m�o de ver televis�o, da internet e outros atrativos para se aplicar aos estudos. Reparei que essa modalidade de ensino exige muita pesquisa, muito mais do que a aula presencial. � sabe ou n�o sabe. N�o tem professor em sala para te dar dois pontinhos e um empurr�ozinho. Se perder m�dia, perdeu mesmo. � gratificante o curso. E eu n�o podia ficar para tr�s. Tive que entrar tamb�m para ajudar meus filhos e incentiv�-los.” 


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