
Elza Campos Silva, de 64 anos, s� se lembra de uma vida: a que passou em institui��es psiqui�tricas. Era beb� quando foi abandonada pela fam�lia em um hospital de Oliveira, na Regi�o Centro-Oeste de Minas. De l�, foi para Barbacena, onde passou 56 anos pulando de um sanat�rio a outro. “Eles falavam que eu vim do Cear�. Mas nem sei. Minha fam�lia me deixou no sanat�rio. Tinha choque, cela... N�o gostava de l�”, repete v�rias vezes, com o olhar perdido. Quando, em 2003, recebeu alta, nem acreditou e hoje o que mais gosta � de comprar suas pr�prias coisas.
Veja a galeria de fotos
O piauiense Adelino Ferreira, de 64, foi um dos que relutaram em deixar o hospital, onde “morou” por mais de cinco d�cadas. Mas n�o se arrepende da decis�o de sair e est� casado com a mineira Nilta Pires Xavier, de 51, tamb�m egressa do sanat�rio. Os dois se conheceram l�. “Eu n�o queria saber de namorar. Mas ela come�ou a lavar minhas roupas e n�s fomos nos aproximando e acabamos casando na igreja e tudo”, conta Adelino.
O casal vive com uma renda mensal de R$ 1,7 mil, oriunda da pens�o do governo e dos bicos de Adelino, e faz o que mais gosta: viajar. “Avi�o � bom demais. A gente vai para todos os cantos, mas o mais bonito � Aparecida”, diz Nilta, que aos 17 anos foi abandonada pela m�e no Hospital Raul Soares, em BH.
Outro que come�ou a viver � Bento M�rcio da Silva, 47. Durante anos, foi andarilho. Caminhava pa�s afora para “ficar longe da fam�lia que me perturbava”. “Cheguei a ir tr�s vezes a p� a Porto Alegre (RS). Eu ficava muito euf�rico, come�ava a andar, cantar, dan�ar. Perdi a conta de quantas vezes fui internado.” S� no Hospital da Funda��o Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), em Barbacena, o antigo e temido Hospital Col�nia, foram 25 vezes. Recebeu tratamento tamb�m em institui��es de S�o Paulo e do Paran�. “A pol�cia me achava e me levava para o manic�mio. Lembro que vagando pelas rodovias sempre achavava um jornal e lia as not�cias do Cruzeiro. Hoje, vou ler uma not�cia de mim”, brinca.
Companheiro de Bento na casa, Rog�rio Roma, de 47, tem uma das hist�rias mais intrigantes. Foi largado pela fam�lia em Nova York e parou em Barbacena. Um pouco confuso, tenta explicar o epis�dio e sua grande preocupa��o � voltar para a m�e, internada em um asilo norte-americano. “Fui visit�-la, mas meus tios me largaram. Fui achado de cueca na rua, sozinho, e me transferiram para c�. Mas eu quero morar com minha m�e. S� que � preciso R$ 1 mil para ir aos Estados Unidos”, desabafa com l�grimas nos olhos.
Enquanto Rog�rio tenta se habituar � nova realidade, M�rcio Rocha, de 43, diz estar no c�u. Ele ainda est� na fase de transi��o entre a resid�ncia terap�utica e o hospital psiqui�trico, onde tem que passar pelo menos um dia da semana. Mas diz que n�o v� a hora de voltar a viver. M�rcio passa o dia fazendo o que mais gosta: escrever e rezar. E escreve sempre a mesma coisa em todas as p�ginas do insepar�vel caderno – “M�rcio Rocha que est� no c�u; Hosana nas Alturas… Ave Maria cheia de gra�a….” E desfila uma lista de nomes de santos, express�es e ora��es religiosas. “Rezo. Gosto de todos os santos. Sou o major da lei celestial e quero falar de Deus para todos”, diz vestindo um uniforme do �x�rcito.
No andar de baixo da mesma casa mora o matogrossense Sebasti�o Margarido, de 51. “Preferi ficar aqui embaixo porque l� em cima s� tem doido”, brinca ele, que passou cinco anos no Manic�mio Judici�rio Jorge Vaz, em Barbacena, acusado de assassinar duas pessoas. Com fama de namorador, ele chegou a engravidar uma companheira de manic�mio, mas diz estar mais sossegado. “Nem sair eu saio mais. O pessoal de Barbacena n�o gosta muito de mim. Prefiro ficar em casa ajudando na arruma��o ou namorando a Marcilene. Acho que vamos nos casar, porque hoje eu posso viver de verdade”, diz Ti�o.