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Estado de Minas

Rios de sujeira invadem Belo Horizonte

Falta de conscientiza��o faz de c�rregos da capital dep�sito para todo tipo de lixo, incluindo m�veis e eletrodom�sticos suficientes para encher mais de mil caminh�es


postado em 18/01/2012 06:00 / atualizado em 18/01/2012 07:53


Restos de eletrodoméstico e de sofá são arrastados pelo cinzento e assoreado Cercadinho, que deságua no Arrudas(foto: cristina horta/EM/D.A Press)
Restos de eletrodom�stico e de sof� s�o arrastados pelo cinzento e assoreado Cercadinho, que des�gua no Arrudas (foto: cristina horta/EM/D.A Press)
Fog�es, televisores, geladeiras, tanquinhos, sof�s, guarda-roupas e colch�es contados aos milhares, em quantidade suficiente para encher uma frota de caminh�es. O volume impressiona, principalmente porque n�o saiu de alguma grande liquida��o de eletrodom�sticos e m�veis, mas dos c�rregos que cortam Belo Horizonte. Parece mentira, mas o problema � bem real e, al�m de transparecer nas enchentes que castigam a capital a cada temporada chuvosa, pode ser medido em n�meros. Somente no ano passado, foram recolhidos pelo menos 13.222 metros c�bicos de material dos cursos d’�gua da cidade. Para se ter uma ideia, com esse volume daria para encher 1,1 mil caminh�es-ca�amba.

O levantamento foi feito pelo Estado de Minas nas regionais de BH. Mas o volume real � ainda maior, j� que, entre as nove, a Noroeste n�o respondeu at� o fechamento desta edi��o e, na Leste, ningu�m foi encontrado para comentar o assunto. Al�m de informar o volume de lixo recolhido das �guas, a Centro-Sul e a Norte detalharam o tamanho da sujeira. Na primeira, que abriga alguns dos bairros mais nobres da cidade, foram retirados dos c�rregos 623 pneus, 70 sof�s, 36 fog�es, 24 caixas-d’�gua e 95 malas de viagem, entre outros itens. O recolhimento ocorreu  em 10 cursos d’�gua que passam por �reas da Vila Cafezal (no Aglomerado da Serra), da Vila Acaba Mundo (no Bairro Sion) e da Barragem Santa L�cia (no aglomerado de mesmo nome).

J� na Regional Norte foram encontrados 838 colch�es, 4.870 restos de guarda-roupas, 709 televis�es e at� vasos sanit�rios e banheiras ao longo do ano passado. A Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU) informou que n�o tem o balan�o de toda a cidade, nem quis comentar a situa��o. No entanto, dados de janeiro a outubro divulgados em 2011 pela pr�pria SLU mostram que foram retiradas 3,2 mil toneladas de lixo e entulho dos cursos d’�gua durante os 10 meses. A quantidade de res�duos � praticamente a mesma enviada diariamente ao aterro sanit�rio Maca�bas, em Sabar�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.

O gerente de Limpeza Urbana da Regional Centro-Sul, Den�lson Freitas, diz que parte do problema � causado pela popula��o, que precisa se conscientizar. “As pessoas ainda n�o t�m ideia do risco que isso representa para elas pr�prias. Todos os anos limpamos cada c�rrego quatro vezes , em m�dia, e sempre nos deparamos com eles lotados de lixo. A primeira coisa que ocorre quando chove � o entupimento das bocas de galeria e a inunda��o das casas. Em determinados locais � comum tirarmos de cinco a seis geladeiras de uma vez”, relata. Ele acrescenta que ap�s a limpeza � feito um trabalho de mobiliza��o, para tentar evitar que mais lixo seja jogado nos c�rregos.

Diques

Professor do Departamento de Engenharia Hidr�ulica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilo de Oliveira Nascimento destaca que os res�duos n�o necessariamente causam enchentes, mas agravam a situa��o. “Objetos grandes como esses podem ficar agarrados embaixo da estrutura de canaliza��o, em um pilar ou em uma curva de curso d’�gua, deixando a cheia pior. Isso � tamb�m um tipo de polui��o e causa dano ambiental, al�m de contribuir para o desenvolvimento de vetores, como ratos e baratas”, afirma.

Agente comunit�rio do Aglomerado da Serra, na Regi�o Centro-Sul da capital, Gilmar Jos� da Cruz, de 41 anos, nem havia terminado de contar tudo que j� viu jogarem �s margens do C�rrego Primeira �gua, quando testemunhou mais um flagrante de falta de conscientiza��o. Em plena tarde de ontem, um menino de 11 anos, a pedido do pai, descarregou um carrinho de m�o lotado de mato e entulho, aumentando a montanha de imund�cie � beira do afluente do C�rrego Cardoso.

A sujeira foi se juntar, na encosta �ngreme, a restos de m�quinas de lavar, bicicleta ergom�trica, boneca, ventilador e muito, muito entulho da constru��o civil. Para a prefeitura, o lugar � conhecido como Parque da Primeira �gua. Para quem anda por l�, a �rea n�o passa de um bota-fora. “Jogam at� cachorro morto aqui. O problema � que o  material vai acumulando e a dengue entra em a��o. J� limpamos a encosta e encontramos ratos, escorpi�es e cobras. Depois de uma semana, j� estava tudo sujo de novo”, afirma Gilmar.

O servi�o de limpeza urbana das regionais recolheu tamb�m, no ano passado, 4.057 metros c�bicos de lixo e entulho que sujavam as ruas e acumulavam �gua, contribuindo para a prolifera��o do mosquito Aedes aegypti. Durante os mutir�es de combate � dengue, tamb�m foram recolhidos pneus, sof�s, fog�es, geladeiras e pratos de vasos de plantas, entre outros.

 
Palavra de especialista

Maria Giovana Parizzi,
professora do Departamento de Geologia da UFMG e doutora em �rea de risco

Um processo de inunda��o n�o � ocasionado s� pelo lixo jogado nos cursos d’�gua, mas, quando h� um quadro suscet�vel, a��es negativas podem agrav�-lo. �s vezes, as pessoas n�o fazem por mal, simplesmente n�o t�m ideia de que aquilo pode prejudicar. Esse processo contribui para a polui��o. O lixo de modo geral pode aumentar a sujeira na �gua. O n�vel de part�culas suspensas prejudica a flora e a fauna aqu�tica. Na �rea urbana, tudo isso est� canalizado, mas esse rio vai sair da cidade e desaguar em outro, prejudicando tudo. As part�culas diminuem ainda a luminosidade (a entrada de raios de sol) e modificam a temperatura. A profundidade do leito do rio tamb�m fica comprometida e isso a altera o equil�brio do ambiente. � um trabalho enorme para uma esta��o de tratamento de esgoto (ETE). J� n�o h� esta��es suficientes e, quanto mais sujeira chegar, mais ineficaz ser� o tratamento, pois s� se consegue garantir uma parte dele. Lixo � para ser jogado no lugar certo. Se n�o, para que servem o aterro e a coleta?


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