
Depois de uma noite na farra, revezando idas a botecos para beber e o embarque de passageiros no caminho, o taxista embriagado n�o resistiu ao peso do sono e dormiu em pleno ponto, com o ve�culo atravessado atrapalhando a fila. Quando amanheceu, a cooperativa � qual o motorista era filiado foi alertada por telefone e enviou um de seus conselheiros para avaliar a situa��o. “Nosso fiscal foi l�, tomou a chave do ve�culo do rapaz b�bado e ele foi exclu�do. Nossa cooperativa n�o tolera embriaguez ao volante”, garante o diretor comercial da BH T�xi, Ed de Souza, ao comentar a mobiliza��o da categoria para fiscalizar e inibir os taxistas que consomem �lcool durante o trabalho, conforme o Estado de Minas denunciou ontem.
Das sete grandes cooperativas que operam em Belo Horizonte, pelo menos cinco se comprometeram ontem a ampliar a fiscaliza��o dos seus filiados para inibir o consumo de �lcool em bares da cidade. O grupo compreende as empresas e as cooperativas Ligue T�xi BH, BH T�xi, Unit�xi, Coomot�xi e Coopert�xi, que juntas representam 1.565 ve�culos, o equivalente a 26% da frota da cidade, que � de 5.950, e 2.888 motoristas, o que tamb�m significa 26% dos 11.194 condutores registrados pela BHTrans. “Agora, a vigil�ncia ser� maior ainda. Estamos pedindo aos pr�prios cooperados que denunciem quem bebe e pega passageiros. Al�m disso, nosso conselho fiscal, formado por 24 pessoas, vai para a rua flagrar quem estiver participando dessas atividades irrespons�veis”, afirma Waldir Hansen, diretor operacional da Coopert�xi.
N�o haver� qualquer toler�ncia a partir de agora, promete o diretor comercial da Ligue T�xi BH, Robson Pereira. Segundo ele, o regimento interno ser� mudado para que sejam exclu�dos n�o apenas os embriagados flagrados dirigindo e pegando passageiros, mas tamb�m quem frequentar bares e ingerir �lcool com o uniforme da cooperativa. “O taxista tem de fazer como as pessoas de bem e dar o exemplo. Se for beber, tem de deixar o carro em casa e n�o pode usar o uniforme, pois ele representa a institui��o quando est� com ele num bar”, afirma.
A BHTrans, que gerencia o servi�o de t�xis, e o Sindicato dos Taxistas (Sincavir) tamb�m afirmaram refor�ar esse movimento para fiscalizar o cumprimento da Lei Seca pelos motoristas. De acordo com a diretora de Atendimento e Informa��o da BHTrans, Jussara Bellavinha, come�aram a chegar den�ncias de locais onde taxistas abusam de �lcool no hor�rio de trabalho. “Foram passadas pra�as e ruas em alguns bairros. Vamos checar esses locais e ampliar nossa fiscaliza��o com cuidado para n�o entrar num jogo pol�tico, uma vez que todo condutor exclu�do abre uma vaga no mercado”, pondera. A diretora, contudo, frisa que o servi�o de t�xis de Belo Horizonte � confi�vel e que os usu�rios podem continuar acreditando nele. “Esses que bebem e trabalham n�o representam o segmento, s�o exce��es que ser�o combatidas com rigor”, alerta Bellavinha.
“Somos contra esse tipo de atitude e vamos apoiar essas a��es da BHTrans e das cooperativas, que t�m todo interesse em afastar os maus profissionais”, afirma o presidente do Sincavir, Dirceu Efig�nio. A Pol�cia Militar e a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informaram que as blitzes da Lei Seca t�m orienta��o de parar todos os condutores, inclusive taxistas, e de aplicar o teste do baf�metro sempre que houver suspeita de embriaguez.
Indigna��o nas ruas
Taxistas e passageiros se mostraram revoltados ontem com a falta de responsabilidade dos motoristas que dirigem sob efeito de �lcool. Com 25 anos de pra�a, o taxista Herculino Vieira Silva, de 54 anos, acha que beber ao volante n�o � coisa de profissional. “Quem faz isso � moleque” afirma. “A pessoa uniformizada deve zelar pela sua profiss�o e pela seguran�a do passageiro. A pr�pria cooperativa deve ter conhecimento dos seus motoristas e puni-los rigorosamente”. Ele conta que j� ouviu falar de motoristas no bar. “Tem uma turma que fica bebendo esperando passageiro. Isso � uma vergonha”, considera.
Com 72 anos, sendo 52 ao volante de um t�xi, Ad�o Bruno se diz um dos mais antigos da capital. Sorrindo e orgulhoso de sua profiss�o, afirma que � “do tempo da placa de tr�s d�gitos” enquanto mostra a identifica��o do carro, que � a mesma desde 1965. “Bebo em casa, tranquilo. Tenho a responsabilidade de levar e buscar passageiros com seguran�a. N�o posso colocar a vida dos outros em risco. Tudo tem sua hora”, lembra o motorista.
A aposentada L�cia Helena Xavier, de 53 anos, critica a situa��o dos profissionais que bebem justamente num momento de campanhas pela Lei Seca, em que as pessoas tentam mudar h�bitos e pegar t�xi para n�o dirigir quando forem beber. “Acho isso uma falta de idoneidade. Quando pe�o t�xi est� impl�cito que o motorista � confi�vel”, considera. O servidor p�blico Cassiano N�brega, de 51, classifica como absurdo condutores se aproveitarem da pouca fiscaliza��o para se embriagar. “A lei � igual para todos. Se � proibido beber e dirigir, eles devem ser punidos como todos”, critica.