(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CIDADES T�M SEDE � BEIRA DA FONTE

Polui��o na bacia do Rio Doce obriga munic�pios ribeirinhos a buscar alternativas de capta��o

Valadares, o maior deles, est� ref�m da prolifera��o de cianobact�rias que envenenam a �gua


postado em 10/07/2012 06:00 / atualizado em 10/07/2012 06:36

Cidade-polo pode ficar sem abastecimento de seu mais rico manacial(foto: fotos: marcos michelin/em/d.a press)
Cidade-polo pode ficar sem abastecimento de seu mais rico manacial (foto: fotos: marcos michelin/em/d.a press)
Governador Valadares, Jo�o Monlevade, S�o Gon�alo do Rio Abaixo e Ferros – S�o 202 munic�pios em Minas e 26 no Esp�rito Santo, em 83,4 mil quil�metros quadrados banhados por um emaranhado de c�rregos, ribeir�es e rios. Uma d�diva natural com quase tr�s vezes o tamanho da B�lgica. Mas nem mesmo a imensid�o foi capaz de impedir que a bacia do Rio Doce se transformasse numa vastid�o de �guas amargas e malcheirosas. A prolifera��o de cianobact�rias, algas capazes de produzir toxinas, comuns em ambientes polu�dos, foi a gota d’�gua da devasta��o causada pelo esgoto recebido in natura de quase 2,7 milh�es de pessoas, 90% da popula��o da bacia. O problema,  agravado pela destrui��o de nascentes, assoreamento e lan�amento de efluentes industriais, trouxe, de imediato, colapso no abastecimento na regi�o, onde, apesar da abund�ncia, j� h� cidades carentes de �gua limpa.

Por causa da contamina��o por algas, o Servi�o Aut�nomo de �gua e Esgoto (SAAE) de Governador Valadares, maior munic�pio da bacia, que capta diretamente do Rio Doce, iniciou estudos para trocar o manancial da cidade. Em outubro do ano passado, a propaga��o de cianobact�rias, que se alimentam da mat�ria org�nica presente nos dejetos, fez com que as �guas chegassem �s casas com cheiro e gosto ruins. “Temos em torno de 120 cidades acima de Valadares que jogam o esgoto no Rio Doce. Quando as cianobact�rias apareceram, aperfei�oamos o tratamento, mas, se o problema persistir, vamos ter que captar �gua em outro manancial. Uma alternativa seria o Rio Sua�u� Pequeno”, afirma o diretor do SAAE, Carlos Henrique Dias de Miranda.

Embora o SAAE garanta que o tipo de alga encontrado n�o � t�xico e tenha anunciado R$ 16 milh�es em investimentos no sistema, at� hoje a popula��o, com 263,6 mil habitantes, n�o engoliu bem a ideia de que a �gua estava pot�vel. Gerente de uma farm�cia em Valadares, Fabr�cio Garcia conta que estoques de soro e �gua mineral acabaram. “Deu muita diarreia no per�odo. Muita gente passou mal. A �gua tinha um gosto e um cheiro muito fortes”, lembra. O colapso no abastecimento n�o � exclusividade de Governador Valadares, que, a prop�sito, tamb�m lan�a todo o esgoto que produz, puro, no Rio Doce. As 40 fam�lia de S�o Sebasti�o das Laranjeiras, distrito de Galileia, a 60 quil�metros, n�o podem mais usar as �guas polu�das do C�rrego Boa Vista e ficaram ref�ns de cisternas.

Piracicaba

O plano diretor de um dos principais afluentes do Doce, o Rio Piracicaba, cuja bacia envolve 21 cidades, aponta que, caso a destrui��o n�o tenha freio, em 2015 faltar� �gua para os munic�pios. Atualmente, o Piracicaba � o que mais contribui para a polui��o do Doce. “Mesmo com os produtos qu�micos, tem ficado mais dif�cil limpar a �gua”, afirma o presidente do comit� de bacia, Iusifith Chafith, em frente ao Rio Santa B�rbara, assoreado. O tribut�rio passa pela mina de Brucutu, da Vale, a maior do mundo em capacidade inicial de produ��o.

A bacia do Piracicaba, que est� entre as quatro para as quais o governo do estado vai direcionar, no total, R$ 430 milh�es em a��es de revitaliza��o, atravessa um dos maiores complexos sider�rgicos e miner�rios da Am�rica Latina, passando por Ipatinga, Itabira e Jo�o Monlevade. Dados preliminares de um diagn�stico da Funda��o Estadual do Meio Ambiente (Feam) mostram que quase 70% dos dejetos da popula��o urbana do Piracicaba (estimada em 860 mil habitantes) s�o despejados in natura nos c�rregos. O impacto sobre a Bacia do Rio Doce n�o � somente na qualidade, mas tamb�m na quantidade dos recursos h�dricos, como alerta o presidente do Instituto Pr�-Rio Doce, Paulo C�lio de Figueiredo, o Catatau. “Estamos perdendo volume de �gua, porque nascentes est�o secando e o esgoto s� aumenta”, diz.

Contradição exposta: córrego poluído corta estação de tratamento(foto: fotos: marcos michelin/em/d.a press)
Contradi��o exposta: c�rrego polu�do corta esta��o de tratamento (foto: fotos: marcos michelin/em/d.a press)
Do alto do Pico do Ibituruna, cart�o-postal de Valadares, se tem a dimens�o exata desse problema. Os morros de pasto denunciam que a vegeta��o, fundamental para a preserva��o de nascentes, � parte do passado. Numa viagem pela bacia, al�m do pasto, planta��es de eucalipto imperam, refor�ando a estimativa do Comit� de Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce, de extin��o de 90% da cobertura vegetal nativa, originalmente composta por mata atl�ntica. “A solu��o do Doce tem necessariamente que passar pelo reflorestamento”, refor�a Catatau.

 

Ferros teme pelo seu maior tesouro


Valdivino, de 10 anos, faz o sinal da cruz e olha para Valter, de 16. � a senha para que os dois saltem da ponte sobre o Rio Santo Ant�nio, a divers�o da meninada. Mais abaixo, Sinhana, com �gua pelas canelas, deixa a roupa quarar na pedra, enquanto ensaboa outra trouxa. Na sala de casa, Geraldo de Alvarenga, o “Nem Tocador de Sanfona”, prepara a tralha de pesca. “Pescaria � dif�cil: quando tem encomenda, n�o tem peixe”, resume, contando que costuma pegar surubim, corvina, piau amarelo e um peixe branco “‘disgramado’ de gostoso”. A vida em Sete Cachoeiras, distrito de Ferros, Regi�o Central de Minas, flui na velocidade do Santo Ant�nio, afluente ainda preservado do Rio Doce. A tranquilidade do vilarejo s� � interrompida quando algu�m fala em pequenas centrais hidrel�tricas (PCHs). “Isso � palavr�o aqui”, comenta Piedade Regiane no mercadinho.

Confira o depoimento de Nem Tocador de Sanfona sobre o Rio Santo Ant�nio

 

Constam na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) pelo menos sete processos de licenciamento para PCHs – usinas com produ��o de at� 30 MW e barragem de at� tr�s quil�metros quadrados – no curso d’�gua, todas embargadas pela Justi�a, a pedido do Minist�rio P�blico (MP) estadual. “Os licenciamentos ambientais estavam sendo conduzidos de forma fragmentada, sem considerar os efeitos cumulativos de uma central hidrel�trica com outra”, afirma o promotor respons�vel pelo caso, Francisco Generoso. “Em meio ambiente, um mais um n�o � igual a dois. O Santo Ant�nio � de alt�ssima prioridade de conserva��o. O andir�, por exemplo, � um peixe restrito a esta regi�o do planeta”, afirma Generoso.

A Semad, um dos r�us da a��o, elaborou depois da interven��o judicial uma avalia��o ambiental integrada do Santo Ant�nio. Enquanto o cen�rio � de indefini��o, o temor do impacto ronda Sete Cachoeiras, cuja hist�ria se confunde com a do Rio Santo Ant�nio. O vilarejo tem cerca de 400 fam�lias e est� num trecho de menos de cinco quil�metros de onde se pretende instalar tr�s PCHs. “Tem gente que vem de longe para o nosso rio. � a maior riqueza que a gente tem. E, com essas barragens, � capaz de atrapalhar nosso lugar”, diz Nem. “O rio � meu ganha-p�o. Todo dia venho para c� lavar roupa”, conta Sinhana, nascida Ana das Gra�as Rosa e Silva, de 59.

Dona do restaurante e da hospedaria do distrito, Ana Nazar� Alves, de 44, engrossa o coro: “Aqui a gente vive com pouco. Se tirarem o rio, o que vamos fazer?” Integrante do Comit� da Sub-Bacia Hidrogr�fica do Santo Ant�nio, Felipe Ben�cio Pedro ressalta que, al�m das PCHs, a minera��o tem exercido forte press�o sobre o curso d’�gua. “Concei��o do Mato Dentro, na parte alta da bacia, est� bem amea�ada. Al�m disso, est� prevista a constru��o de tr�s minerodutos usando a �gua do Santo Ant�nio e afluentes. A quest�o � que este � dos poucos que entregam �gua limpa ao Rio Doce”, alerta.

Segundo o superintendente de Regulariza��o Ambiental da Semad, Daniel Medeiros de Souza, a avalia��o ambiental integrada do Santo Ant�nio est� pronta e, para come�ar a valer, depende de aprova��o nos conselhos regionais do Jequitinhonha e do Leste de Minas. “O principal problema apontado foi em rela��o aos peixes. Os empreendedores ter�o que se adequar em rela��o a isso”, afirma.

Nem Tocador de Sanfona e seu instrumento musical



Degrada��o

A Bacia do Rio Doce foi a que mais piorou em rela��o ao �ndice de Qualidade das �guas, que reflete a contamina��o por esgoto, segundo o Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam). As amostras com IQA bom ca�ram de 35% para 17% entre 2010 e 2011. A contamina��o por t�xicos e metais pesados tamb�m piorou. �ndices m�dio e alto subiram de 3% para 11%.


Resgate

A Ag�ncia de Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce come�a este ano a receber recursos da cobran�a pelo uso da �gua. A arrecada��o prevista � de R$ 47 milh�es nos pr�ximos quatro anos, para emprego exclusivo na bacia. Ind�strias, mineradoras e concession�rias de abastecimento pagar�o R$ 0,018 a cada mil litros de �gua retirada e R$ 0,10 por quilo de carga org�nica lan�ada.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)