
“Se o exame dele permanecer nessa curva de crescimento , ele vai se tornar um homem baixinho e franzino. Se G. viesse de uma fam�lia de baixa estatura, mas com ossos bons, n�o haveria problema, mas n�o � esse o caso”, compara a ultrassonografista pedi�trica Maria Tereza Figueiras. Ela detectou o problema por meio de um novo exame de ultrassom (osteossonografia), capaz de prevenir altera��es �sseas a partir dos quatro anos de idade, em menos de 10 minutos. “Cerca de 90% da massa �ssea � formada at� os 20 anos e os 10% restantes at� os 35. Quem teve uma boa ‘poupan�a’ �ssea tem baixo risco de desenvolver osteoporose o futuro”, explica a m�dica.
“No meu ambulat�rio, posso afirmar que j� existem les�es ortop�dicas em crian�as provocadas pela obesidade”, denuncia a pediatra Virg�nia Resende Silva Weffort, presidente do departamento de nutrologia infantil da Sociedade Brasileira de Pediatria. Em seu trabalho no ambulat�rio do Hospital Universit�rio da Universidade Federal do Tri�ngulo Mineiro (UFTM) � comum receber crian�as obesas reclamando de dores nos joelhos. “Com o excesso de peso, as pernas v�o arqueando e os joelhos ficam voltados para dentro. Al�m da dor, a crian�a fica com as perninhas tortas e passa a ter mais dificuldade para andar”, diz a m�dica. “Ela tem mais pregui�a de fazer atividade f�sica e fica s� sentada dentro de casa, vendo tev�. Se essa crian�a � obesa e tem dificuldades alimentares, pode apresentar osteoporose na idade recente de 20 anos, que s� seria encontrada em um adulto de 60”, completa.
Comida nova

“Os pais est�o matando a sede da crian�a com suco de caixinha, que cont�m muito s�dio, al�m do a��car em excesso. Quem tem sede tem de beber �gua”, refor�a a nutricionista Ermelinda Lara, com 22 anos de experi�ncia no Hospital das Cl�nicas da UFMG. Usado para real�ar o sabor, o s�dio provoca ainda mais sede. Com isso, a crian�a pede cada vez mais o suco pronto e rejeita o natural. O excesso de suco de caixa e de carboidratos refinados (biscoitos recheados, sandu�ches e massas instant�neas) faz inchar o abd�men. O aumento da gordura abdominal, por sua vez, predisp�e ao aparecimento de doen�as degenerativas como diabetes tipo 2, hipertens�o arterial e colesterol alto. “� melhor oferecer por��es menores de frutas do que dar suco ado�ado. Uma tampinha de laranja, um gomo de mexerica ou tr�s uvas � melhor do que uma mamadeira de suco”, completa.
Uma recomenda��o da nutricionista � proporcionar condi��es para os filhos voltarem a brincar. “As m�es reclamam que o menino s� fica no computador, mas crian�a n�o joga bola sozinha. � preciso combinar com os vizinhos do pr�dio um hor�rio para as crian�as descerem para brincar ou levar para a pracinha ou ao clube ”, avalia.
Diabetes ganha for�a
Aos 10 anos, Anna Lu�za j� toma rem�dios para prevenir a diabetes mellitus tipo 2, que antes era doen�a rara na inf�ncia e s� aparecia entre adultos de meia-idade e idosos. Sua m�e, a funcion�ria p�blica Cla�dia Gomes Fonseca Panda, de 45 anos, concordou em dar entrevista com o objetivo de alertar outros pais para os maus h�bitos de muitas fam�lias. At� descobrir o diagn�stico, a menina era sedent�ria, apesar de morar no Condom�nio Ibisco, em Contagem, n�o crescia e estava oito quilos acima do peso. Tinha o costume de dormir tarde e levantar por volta das 11h, tomar um banho, almo�ar e ir direto para a aula. N�o sobrava tempo para se exercitar.
“Estou mais feliz. Fico com vontade de tomar Toddynho, mas eu bebo Gold (diet�tico), que � uma del�cia”, confessa Anna Lu�za. Ela passou a andar na esteira e a usar a bicicleta no condom�nio. Tamb�m entrou para a aula de nata��o (al�m do bal� que j� fazia), na mesma academia onde os pais se matricularam no pacote para a fam�lia inteira. Em seis meses, Anna emagreceu tr�s quilos e cresceu quatro cent�metros.
Calcula-se que, atualmente mais de 200 crian�as e adolescentes desenvolvem o diabetes mellitus tipo 2 a cada dia no mundo, em decorr�ncia da epidemia de obesidade e sedentarismo. Nos Estados Unidos, 8% a 45% dos novos casos de diabetes em crian�as s�o do tipo 2. Na �sia, em pa�ses como Taiwan, os casos de diabetes tipo 2 em crian�as j� s�o duas a seis vezes maiores do que os do tipo 1.
“As crian�as veem as propagandas e ficam malucas para experimentar as guloseimas. Estou orgulhosa da minha filha porque ela entrou de cabe�a na reeduca��o alimentar”, elogia a m�e. Anna Lu�za � acompanhada de perto por ginecologista, endocrinologista e pela educadora em nutri��o Nat�lia Fenner Pena. S� este ano Nat�lia atendeu, entre 300 pacientes, 16 crian�as e pr�-adolescentes que apresentavam taxa de glicose no limite (99, 100 e 101 mg/dL) para acompanhamento nutricional e controle do peso. A taxa de glicose normal em crian�as � de 70 a 99mg/dl. No diabetes tipo 2, o corpo n�o responde normalmente � insulina.
Miopia mais cedo
Na gera��o anterior, a idade-chave para o aparecimento da miopia costumava ficar entre 10 e 15 anos. Atualmente, os pediatras indicam o primeiro exame de vis�o para crian�as a partir dos 7 anos. A maior exig�ncia de enxergar “de perto”, justamente na fase de desenvolvimento anat�mico, est� levando a uma epidemia de miopia, segundo a m�dica paulista C�lia Nakanami, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pedi�trica. Os �ltimos dados mostram que a maior cobran�a por estudo e a mudan�a dos h�bitos de lazer – com mais atividades em locais escuros como tev� e jogos – leva ao aparecimento do grau e a sua progress�o cada vez mais cedo.
“Se existe a predisposi��o e um dos pais � m�ope, a chance aumenta muito, de 20% a 30%. Se os dois s�o m�opes, a probabilidade chega a 40%”, compara. Ela explica que o processo de acomoda��o dos olhos para enxergar de perto com boa nitidez e foco induz a um crescimento do di�metro posterior do olho. De forma leiga, o esfor�o repetitivo de prestar aten��o no game “for�a o olho”. “Os m�sculos trabalham mais para focar, o que aumenta o di�metro do globo ocular. E um olho ‘grande’ � um olho m�ope. Essa � uma das hip�teses para justificar o aumento do aparecimento da miopia nessa faixa et�ria”, completa.