
Um ataque a resid�ncia a cada dois dias em Belo Horizonte. � essa a m�dia de outubro – m�s em que seis casas j� foram assaltadas em apenas 12 dias. Em todas elas, bandidos armados fizeram moradores ref�ns, espalhando terror em bairros das regi�es Centro-Sul, Leste e Pampulha. Considerados os �ltimos 30 dias, j� s�o oito epis�dios de roubos. O mais recente deles, registrado na noite de quinta-feira, no Bairro Bra�nas, Regi�o da Pampulha, foi o d�cimo em menos de tr�s meses. Dessa vez os criminosos surpreenderam um representante comercial que abria a garagem. Com o irm�o, que j� estava em casa, ele foi mantido ref�m por cerca de 40 minutos.
Da cal�ada da casa, na Avenida Dora Tomich Laender, para dentro foram instantes de tens�o e medo. Com o port�o engui�ado, bastou um minuto de desaten��o para que o im�vel fosse tomado de assalto por tr�s ladr�es com capacetes de motoqueiros. Na v�spera do feriado, por volta das 20h30, os homens liderados pelo assaltante com pistola autom�tica amea�aram de morte a fam�lia. Guilherme Oliveira, de 34 anos, rendido quando voltava da mercearia, relata o terror: “‘Se voc� gritar, voc� morre’, amea�aram, enquanto iam entrando como se conhecessem a casa”.
Guilherme n�o esconde o desgosto com a viol�ncia. Conta que em 2007 a fam�lia vendeu a casa no Bairro Al�pio de Melo, na Regi�o Noroeste, e juntou economias para comprar o novo im�vel. “Sempre tomamos o maior cuidado. Adotamos uma s�rie de medidas, como ter sempre algu�m acordado, esperando por quem est� para chegar.” N�o adiantou. Os assaltantes levaram R$ 1 mil, al�m de aparelhos eletr�nicos e rel�gio.
Diante de maleta com segredo, novo momento de tens�o. Os ladr�es insistiram pedindo o c�digo. “Dissemos que a gente n�o sabia, porque pertence ao meu pai, que estava viajando, mas eles insistiram. Vendo que a gente n�o sabia, pegaram uma faca e come�aram a rasg�-la”, conta Guilherme. Sobre a mesa da sala, diante da imagem da padroeira do Brasil, ficou a valise destru�da, que n�o continha nada de valor. O trio de capacete, sem moto, fugiu pelo muro dos fundos.
Do lado de fora, nas casas vizinhas, repercute o sentimento de impot�ncia e revolta. Em um im�vel de esquina, a placa de “vende-se” � destaque. S�o muitas nas cercanias. O vizinho de 17 anos que ajudou a socorrer os irm�os Oliveira, na companhia do pai, comenta que, pouco antes do assalto, falou com a m�e que estranhou os tr�s homens a p�, subindo a avenida, com capacetes nos bra�os. O pai, de 36, conta ter socorrido policial em apuros a quatro quarteir�es dali, no in�cio do ano. “Tentaram assalt�-lo e ele atirou na perna de um dos bandidos. O outro conseguiu fugir.”
VERGONHA Vizinho de quadra, o artista pl�stico Fernando Pacheco � outra v�tima na regi�o. Enquanto aguardava a mulher buscar documento em um c�modo da casa, ele foi rendido e teve o carro levado, com tudo de valor que havia em casa. Inclusive o c�o Winny – um pug, preto, de estima��o. Fernando lamenta a atual situa��o da Pampulha, patrim�nio de Belo Horizonte. Para o artista, vizinho de integrantes da banda Pato Fu, a vulnerabilidade da regi�o � um desrespeito � mem�ria da cidade. “Recebemos aqui pessoas de v�rias partes do mundo. � um constrangimento ter que pedir para que nossos visitantes tomem cuidado ao chegar e ao deixar a rua”, lamenta.
Atr�s das grades fechadas por cadeado de grosso calibre, Fernando acredita na retomada da regi�o como refer�ncia cultural. Diz com tristeza ver seus amigos artistas trocando BH por Nova Lima e por Brumadinho, na Regi�o Metropolitana. Criticando a falta de seguran�a, cita a morte tr�gica da atriz Cec�lia Bizzotto. “Voc� v� o meu vizinho. Por muito pouco n�o perdeu a vida nas m�os desses marginais, como aconteceu com a nossa amiga Ci�a Bizzotto”. H� 30 anos pr�ximo � lagoa, Fernando Pacheco n�o perde a esperan�a de uma outra Pampulha, buc�lica e cultural, “como nos tempos das �rvores e dos passarinhos”.
Popula��o cobra direito � prote��o
Enquanto a a��o de bandidos que aterrorizam moradores da capital continua a desafiar a seguran�a p�blica de BH, a popula��o pede a��es r�pidas e rigorosas para retomar o sossego e a tranquilidade, objetivos b�sicos de quem escolhe uma casa para viver. O presidente da Uni�o das Associa��es de Bairros da Zona Sul da capital, Marcelo Marinho, diz que a prioridade � melhorar a situa��o da Pol�cia Civil, que tem poucas condi��es para identificar as quadrilhas. “Os bandidos continuam agindo, porque sabem que n�o ser�o presos. Temos que investigar para dar respostas r�pidas � sociedade”, diz. Ele acredita que a precariedade tamb�m atrapalha os militares. “As viaturas que poderiam estar patrulhando chegam a ficar horas na delegacia por conta de uma ocorr�ncia. Esse processo tem que ser mais c�lere.”
A onda de assaltos faz com que moradores retomem a defesa da instala��o das guaritas de seguran�a, pois a presen�a de vigias treinados pode ser um fator a mais para inibir a viol�ncia. Apesar de a estrutura encontrar obst�culos na legisla��o, direitos constitucionais j� serviram para embasar decis�o favor�vel da Justi�a de BH �s guaritas. Em 2008, a 4ª Vara da Fazenda P�blica permitiu a coloca��o dos equipamentos na Rua Carraras, Bairro Bandeirantes, na Regi�o da Pampulha, com base no artigo 5º da Constitui��o Federal, que garante a inviolabilidade do direito � vida.
A sequ�ncia de roubos a resid�ncias fez o comando das for�as de seguran�a de Minas anunciar medidas para tentar frear o �mpeto dos bandidos. Em reuni�o com a c�pula da PM, o secret�rio de Defesa Social, R�mulo Ferraz, garantiu o aumento do policiamento ostensivo nos bairros que estiverem sofrendo com a incid�ncia dos assaltos e apostou no estreitamento das rela��es entre militares e a comunidade. O objetivo � ampliar a Rede de Vizinhos Protegidos e lan�ar at� o fim do ano um policiamento mais personalizado, com a designa��o de um policial para cada bairro da cidade.
ESCALADA DO MEDO
17/7 Quatro bandidos armados invadem a casa de um engenheiro no Bairro Mangabeiras e dominam os moradores. O filho do dono do im�vel escapa e chama a PM. Quatro suspeitos, um deles menor, s�o presos.
23/7 Homens armados assaltam resid�ncia na Rua Professor Carlos Pereira da Silva, no Bairro Belvedere. Com as v�timas trancadas em um quarto, os ladr�es levam joias, telefones celulares, televisores e computadores.
15/9 Dois homens armados fazem arrast�o em pr�dio de tr�s andares na Rua Rio Verde, no Bairro Anchieta. Depois de render e trancar os moradores os criminosos fogem com dinheiro e objetos de valor.
26/9 Casa na Rua Jos� Batista Ribeiro, no S�o Bento, � invadida por quatro homens armados. Os ladr�es dominam a dona da casa e o filho dela e roubam dinheiro e joias. A pol�cia chega pouco depois e consegue prender um
dos ladr�es.
3/10 Dois homens armados rendem um jardineiro em uma casa no Bairro S�o Bento, dominam mais cinco pessoas e levam joias, dinheiro, armas antigas e um aparelho de TV de 47 polegadas.
5/10 Tr�s homens armados invadem uma casa no Condom�nio Alphaville, em Nova Lima, rendem moradores, roubam objetos de valor e levam uma mulher de 58 anos como ref�m. A v�tima � libertada pouco depois, em outra regi�o da cidade.
7/10 Tr�s homens dominam a atriz Cec�lia Bizzotto, o irm�o dela, Marcelo Bizzotto Pinto, e a namorada dele, Alexandra Silva Montes, quando as chegavam em casa, no Bairro Santa L�cia. Os criminosos invadem o im�vel e come�am a procurar objetos de valor. Um deles, ao surpreender Cec�lia ligando para a pol�cia, atira duas vezes contra ela. A v�tima morre no local e os ladr�es fogem levando tr�s celulares.
7/10 Dois homens invadem casa no Bairro Belvedere, dominam a dona da casa, duas filhas dela e um empregado, fugindo com joias, dinheiro e aparelhos eletr�nicos.
11/10 Dupla de assaltantes aproveita um port�o aberto para invadir uma casa no Bairro Sagrada Fam�lia, Regi�o Leste da capital. O dono, de 72 anos, estava fazendo o pagamento referente ao reabastecimento de g�s da resid�ncia e foi mantido ref�m com a mulher, de 65, e o prestador do servi�o. Os assaltantes contaram com a ajuda de mais duas pessoas e levaram R$ 1,7 mil, joias e celulares, al�m de R$ 150 do entregador de g�s.
11/10 Tr�s homens aproveitam a chegada de um representante comercial em casa no fim da noite de quinta-feira, no Bairro Bra�nas, Regi�o da Pampulha, para abord�-lo no momento em que abria o port�o da garagem. Com o irm�o, que j� estava em casa, ele � mantido ref�m no escrit�rio. Os ladr�es fogem com R$ 1 mil, videogames, celulares, um computador e uma c�mera fotogr�fica.