
Enviada especial do Rio de Janeiro – BRT. � bom guardar essa sigla. Na falta do metr�, as tr�s letras – do ingl�s transporte r�pido por �nibus – se tornaram, al�m da principal aposta de Belo Horizonte para resolver os problemas de mobilidade at� a Copa de 2014, uma mania nacional. Hoje h� 113 projetos do sistema em curso em 25 cidades no pa�s, totalizando 1,2 mil quil�metros de corredores exclusivos para os coletivos at� 2016, de acordo com a Associa��o Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Em linha reta, significaria percorrer a dist�ncia de BH a Salvador apenas pelo BRT, que num horizonte de quatro anos deve transportar 16 milh�es de passageiros por dia no pa�s, igual a duas vezes a popula��o da Su��a. A demanda representa um quarto dos usu�rios dos �nibus convencionais.
Somente o Minist�rio das Cidades est� aplicando, entre investimentos e financiamentos, R$ 15,1 bilh�es em 930 quil�metros de corredores de �nibus. Oito das 12 cidades sedes da Copa adotaram o BRT como op��o de transporte p�blico para atender a demanda do campeonato mundial de futebol. Apesar de prever uma das menores redes de BRT, com 26 quil�metros de pistas exclusivas, o objetivo em BH � transportar cerca de 700 mil passageiros por dia nos corredores. H� tamb�m projetos em curso em cidades de m�dio porte do interior do pa�s, como Cascavel e Maring�, no Paran�, e Uberl�ndia, no Tri�ngulo Mineiro. L�, um BRT est� em opera��o e quatro em negocia��o.
Em Belo Horizonte, a meta � come�ar a operar o sistema no fim do ano que vem, gradativamente, at� a Copa do Mundo, tirando 640 �nibus de circula��o do hipercentro e reduzindo pela metade o tempo das viagens. Com financiamento do governo federal, recursos do estado e do munic�pio, o BRT de BH conta com investimento de R$ 1,2 bilh�o em 26 quil�metros de pistas exclusivas, sendo 16 nas avenidas Ant�nio Carlos/Pedro 1, 5 na Cristiano Machado e cinco na �rea central. Criado em 1974, em Curitiba, pelo ex-prefeito da cidade Jaime Lerner, n�o � � toa que o sistema virou moda no Brasil e no mundo, onde est� presente em 35 pa�ses.
O BRT se inspira no metr� para tornar o transporte por �nibus mais eficiente. Os pontos de embarque d�o lugar a esta��es confort�veis, onde, numa tela, o passageiro pode conferir em tempo real quantos minutos faltam para o coletivo chegar. O pagamento do bilhete ocorre dentro da pr�pria esta��o e o embarque � feito no mesmo n�vel do ve�culo, sem qualquer degrau. Os �nibus trafegam em corredores segregados das pistas de carros, agilizando o percurso, e t�m um aspecto diferenciado dos convencionais. Em BH, todos os ve�culos v�o contar com ar-condicionado e espa�o para transportar bicicleta. Haver� modelos padr�es, com medida entre 13,2m e 15m, e articulados, com pelo menos 18,6m e capacidade para transportar cerca de 140 passageiros.
BARATO E R�PIDO
O principal motivo para o BRT ter ca�do na gra�a do poder p�blico est� relacionado, principalmente, ao custo e tempo de implanta��o. “Essa � uma ideia brasileira, que emplacou no mundo e, s� agora, com a retomada dos investimentos em transporte p�blico pelo governo federal, est� se disseminando pelo pa�s. O BRT chega a custar 10 vezes menos que o metr�. Al�m disso, enquanto a constru��o do corredor de trem subterr�neo demora 15 anos, o corredor de �nibus leva cerca de dois anos”, defende o presidente executivo da NTU, Ot�vio Cunha, convicto de que os corredores n�o representam a solu��o dos problemas do tr�nsito. “Para ser eficiente, um sistema de transporte tem que envolver todos os modais”, ressalta.
Embora mais barato e de execu��o mais r�pida, o BRT n�o est� livre de problemas. “O primeiro desafio � a decis�o pol�tica, pois as cidades ter�o que tirar o espa�o do autom�vel. Outro entrave s�o as desapropria��es”, lista Cunha. No Rio, onde o sistema come�a a ganhar o dia a dia na cidade, brotam cr�ticas dos motoristas quanto ao fato de duas pistas da Avenida das Am�ricas, na Barra da Tijuca, terem sido transformadas em corredores do Ligeir�o, nome local do sistema. “Eles poderiam ter constru�do o BRT no canteiro central”, reclama um taxista.
Mas quem enfrentava longas horas de supl�cio dentro do coletivo s� v� vantagens. “Antes, gastava tr�s horas de casa at� o trabalho e agora s�o s� 50 minutos. O �nibus � geladinho, estou achando �timo”, comenta a atendente M�rcia Santana, de 40 anos. “Uma pesquisa apontou 90% de satisfa��o entre os usu�rios”, afirma o secret�rio municipal de Transportes do Rio, Alexandre Sans�o. O Rio tem previs�o de implantar um total de 149 quil�metros de pistas para os Ligeir�es at� 2016. “A inten��o � atender 1,5 milh�o de passageiros e tirar a metade dos �nibus do Centro do Rio”, afirma Sans�o.
*A rep�rter viajou a convite da Fetransport
Adapta��o ao estilo mineiro
Em pouco mais de um ano, moradores de Belo Horizonte v�o poder circular num novo sistema de transporte inspirado em modelos ao redor do Brasil e do mundo. Para formatar o transporte r�pido por �nibus (BRT, na sigla em ingl�s), t�cnicos da BHTrans viajaram para Curitiba, ber�o do sistema, contrataram consultoria ga�cha e andaram no BRT carioca. Tamb�m conheceram de perto a experi�ncia do Chile, da Col�mbia e do M�xico. A mistura de todos esses sotaques come�a a circular no fim de 2013, com a inaugura��o dos corredores da Ant�nio Carlos e da Cristiano Machado. Mas o BRT belo-horizontino traz inova��es � mineira que j� est�o dando o que falar. Al�m de mesclar �nibus metropolitanos e municipais, algumas linhas do BRT v�o trafegar fora dos corredores exclusivos, como no Anel Rodovi�rio.
Para isso, o sistema contar� com modelos de �nibus diferenciados, com portas normais � direita e adaptadas ao BRT � esquerda. “Estamos usando a criatividade a favor do usu�rio”, afirma o diretor de Planejamento da BHTrans, C�lio Freitas. A manuten��o de �nibus metropolitanos nos corredores exclusivos � outra diferen�a. “O terminal de integra��o de Venda Nova, por exemplo, n�o tinha espa�o para acolher os �nibus metropolitanos. Por isso, optamos por manter as linhas, mas no modelo do BRT e com esta��es diferenciadas”, ressalta Freitas.
O presidente-executivo da Associa��o Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Ot�vio Cunha, aponta que, como se trata de uma inova��o, ela precisar� ser testada. “� um trabalho audacioso e muito diferente”, ressalta Cunha, que aponta outro diferencial do sistema de BH. “A capital mineira vai misturar �nibus articulados com os de tamanho padr�o. � uma concep��o nova de BRT e tenho a impress�o de que, nesse aspecto, perde-se um pouco da efici�ncia”, afirma. Mas, para chegar ao produto final que os belo-horizontinos conhecer�o no ano que vem, a empresa que administra o tr�nsito da cidade foi buscar experi�ncias fora dos limites da capital.
Segundo o diretor da BHTrans, as experi�ncias de outras cidades ensinaram a n�o repetir os erros. “ Em Santiago, eles come�aram a implantar todas as opera��es no mesmo dia e isso gerou um colapso. J� vimos que teremos que implantar as linhas aos poucos”, conta Freitas. Mesmo o rec�m-implantado BRT do Rio tem dado li��es a BH. “Eles promoveram visitas guiadas com pessoas de refer�ncia dos bairros e grupos de deficientes e idosos, para mostrar como o sistema iria funcionar. Vamos repetir essa experi�ncia”, conta. Em Bogot�, t�cnicos da prefeitura vislumbraram como o sistema de informa��o ao usu�rio poder� se tornar mais eficiente.
Coordenadora de projetos de transportes da Embarq Brasil, organiza��o internacional voltada para a promo��o do transporte sustent�vel, Brenda Medeiros ressalta que o BRT da capital mineira ser� exemplo em seguran�a vi�ria. “Acompanhamos o projeto e h� muita preocupa��o em rela��o � travessia segura de pedestres. O investimento para qualificar o sistema de ultrapassagens dos �nibus tamb�m faz muita diferen�a e aumenta muito a capacidade operacional”, afirma Brenda.

DEMANDA
A expectativa da BHTrans � transportar pelo menos 700 mil passageiros por dia. O corredor Ant�nio Carlos/Pedro I, que corta as regi�es Norte e Pampulha, ter� 16 quil�metros de extens�o, 25 esta��es e vai transportar 400 mil usu�rios por dia. O sistema reduzir� de 482 para 126 o n�mero de �nibus que v�o da Ant�nio Carlos em dire��o ao Centro.
J� o corredor da Cristiano Machado, com cinco quil�metros de extens�o e 10 esta��es, deve receber 300 mil passageiros por dia O BRT evitar� que 284 dos 455 �nibus que passam pela Cristiano Machado continuem a circular na �rea central, onde haver� seis esta��es. “Trabalhamos com o n�mero de 700 mil passageiros, a demanda atual, mas esperamos que motoristas deixem o carro em casa e passem a usar o BRT”, explica Freitas, que garante, no caso das linhas expressas, sem paradas, a redu��o em 50% do tempo de viagem.
TR�S PERGUNTAS PARA: Luiz Silla, gestor de opera��o do transporte coletivo de Curitiba
Como funciona o BRT em Curitiba?
Aqui, chamamos o sistema de expresso ou de canaletas. Ele foi criado em 1974 e faz parte de uma rede integrada de transportes. S�o 81 quil�metros, distribu�dos em seis corredores exclusivos, que transportam 700 mil passageiros por dia. Al�m das canaletas exclusivas, o BRT trafega por vias laterais locais e em ruas destinadas apenas para �nibus, na regi�o central de Curitiba. S�o 30 terminais e 364 esta��es tubo.
O sistema de transporte em Curitiba est� prestes a completar 40 anos. Quais desafios surgiram a partir da maturidade do modelo?
Um dos nossos desafios � manter a velocidade. Quando come�amos a operar as canaletas, os �nibus trafegavam a cerca de 22km/h. Hoje essa m�dia � de 18km/h e, em hor�rios de pico, 17km/h. Um dos problemas � n�o termos pistas de ultrapassagem e os �nibus acabam ficando em comboio.
H� projetos de revitalizar e ampliar as canaletas?
Em 2010, inauguramos o sexto corredor, que est� com seu prolongamento em obras. Al�m disso, em outra canaleta fizemos um “up grade” para permitir ultrapassagens e aumentar a velocidade operacional. Isso dobra a capacidade do corredor. Hoje j� temos circulando na cidade �nibus biarticulados, com 28 metros de extens�o e capacidade para 250 passageiros. Tamb�m estamos recuperando a velocidade operacional com um sistema de prioridade semaf�rica.
SAIBA MAIS: BRT NO MUNDO
O transporte r�pido por �nibus est� presente em 35 pa�ses, em todos os continentes do planeta. O sistema, criado na d�cada de 1970, em Curitiba, j� inspirou projetos na Col�mbia, Chile, Estados Unidos, �frica do Sul, Austr�lia, China, Fran�a, entre outros. Bogot�, na Col�mbia, recebeu o primeiro BRT de alta capacidade e mostrou que o transporte de massas poderia ser feito fora dos trilhos. De acordo com a organiza��o mundial BRT Data, os corredores exclusivos para �nibus transportam hoje no mundo 23,6 milh�es de passageiros por dia, em 146 cidades.