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Estado de Minas SIL�NCIO E ESQUECIMENTO

Assassinatos de brasileiros no Peru ficam sem solu��o

Perto de completar um ano e meio, inqu�rito sobre a morte de dois brasileiros no pa�s andino deve ser arquivado. Fam�lias cobram empenho do Itamaraty na solu��o do impasse


postado em 04/12/2012 06:00 / atualizado em 04/12/2012 07:34

Fátima Bittencourt, viúva de Mário Bittencourt, diz que há descaso da empresa e dos governos brasileiro e peruano, mas que confia plenamente na justiça de Deus(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
F�tima Bittencourt, vi�va de M�rio Bittencourt, diz que h� descaso da empresa e dos governos brasileiro e peruano, mas que confia plenamente na justi�a de Deus (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)


O inqu�rito que investiga a misteriosa morte de dois brasileiros na selva peruana, em meados de 2011, deve ser arquivado. Funcion�rios da Leme Engenharia, empresa com sede em Belo Horizonte, o engenheiro mineiro M�rio Bittencourt e o bi�logo paulista M�rio Guedes foram encontrados mortos dias depois de terem desaparecido em uma estrada � beira do Rio Mara�on, na cidade de Pi�n, Regi�o Norte do Peru, onde faziam estudos para a constru��o de uma usina hidrel�trica. Eles estavam acompanhados de dois funcion�rios da empresa peruana SZ Engenharia e desapareceram, em momentos diferentes, no dia 25 de julho do ano passado. Um advogado contratado em Lima, que acompanha as investiga��es, j� informou aos familiares que o caso deve ser arquivado pela Fiscal�a de Bagua Grande, o equivalente ao Minist�rio P�blico brasileiro, embora ainda haja pend�ncias. A Justi�a do Peru est� em greve e a Embaixada Brasileira ainda n�o foi notificada oficialmente.

Segundo Carlos Gramani Guedes, irm�o do bi�logo paulista, o fiscal que acompanhava o caso desde in�cio solicitou, no in�cio do ano, que a Leme Engenharia apresentasse o plano de trabalho dos brasileiros, informando os objetivos, os meios e os contratos assinados com a empresa peruana, que solicitou a participa��o dos profissionais brasileiros. A Fiscal�a tamb�m requereu a quebra de sigilo digital dos funcion�rios da Leme, com os e-mails recebidos e trocados no per�odo que antecedeu a viagem.

Os dois embarcaram para Lima e de l� seguiram de carro para Pi�n, cidade que vive conflito pela instala��o de usinas hidrel�tricas na regi�o de selva. Apesar de confrontos violentos entre camponeses e autoridades policiais, que resultou em mortes no fim dos anos 1990, os dois brasileiros estavam acompanhados apenas de funcion�rios peruanos, sem escolta policial. Em depoimento, um dos nativos chegou a dizer que foi expulso do lugar e precisou da ajuda da pol�cia para deixar a �rea, meses antes, durante os estudos de viabilidade para a instala��o da hidrel�trica. Os moradores n�o apoiam a constru��o.

“Eles (a Leme) disseram que estavam empenhados em descobrir o que houve com os dois, mas o estranho � que eles nem atenderam o pedido da Fiscal�a. N�s tamb�m pedimos os e-mails e o plano de trabalho e o �nico documento que temos s�o as passagens deles. Nem sabemos se havia um contrato com a empresa peruana, que solicitou funcion�rios � Leme. Houve ainda o pedido de rastreamento do GPS do carro em que estavam com os peruanos, mas o novo fiscal, que assumiu o caso, ignorou as solicita��es do colega e deve arquivar o caso assim que a greve do Judici�rio acabar. At� agora a empresa se omitiu e a verdade � que n�o houve investiga��o. Est�o empurrando com a barriga at� que caia no esquecimento, e n�s continuamos sem respostas”, afirma Carlos Guedes.

Corpos em pontos distintos

Os brasileiros desapareceram depois de 2 horas e 30 minutos de caminhada em uma estrada � beira do rio. Os corpos dos dois foram localizados dias depois, em pontos distintos, pr�ximo � estrada. O de M�rio Guedes foi encontrado de joelhos e com a testa no ch�o. Nada foi roubado e n�o havia nos corpos sinais de viol�ncia. Exames de necropsia feitos no Peru n�o puderam confirmar a causa da morte porque os cad�veres estavam em estado avan�ado de decomposi��o. Amostras de material biol�gico foram encaminhadas ao Brasil e passaram por an�lises no Instituto M�dico Legal de Bras�lia e de Belo Horizonte, mas n�o foram detectados ind�cios de envenenamento para os tipos de veneno pesquisados. A fam�lia de M�rio Guedes ainda autorizou que a Leme Engenharia encaminhasse para um laborat�rio nos Estados Unidos material biol�gico para an�lise, mas n�o tiveram resposta se isso foi feito. Carlos suspeita que os dois foram envenenados e cobra empenho do governo brasileiro. “Dois brasileiros morreram a servi�o. Nos EUA, recentemente dois cidad�os morreram na L�bia e o presidente veio a p�blico dizer que ia at� o fim. Aqui, a presidente Dilma Rousseff n�o se sensibiliza com a dor das vi�vas e com a falta de respostas. Ela esteve com o presidente do Peru semana passada e esse assunto deveria ter entrado na pauta do encontro dos dois. Eles foram assassinados e queremos saber por quem e qual o motivo, o que est� por tr�s disso”, diz o irm�o da v�tima.

Caso o arquivamento se confirme, ele pretende recorrer � Justi�a peruana para reabrir o caso, cujas investiga��es foram prorrogadas por duas vezes. O Itamaraty informou que o Minist�rio P�blico concluiu as investiga��es preliminares e que a Fiscal�a de Bagua Grande aguarda o parecer do juiz, que ainda n�o se manifestou pelo indiciamento de suspeitos ou pelo arquivamento do caso por causa da greve. Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro mant�m aten��o especial com o caso e continua o encaminhamento do inqu�rito, lembrando que a prorroga��o dos prazos foi um pedido da pr�pria embaixada.

No entanto, a vi�va de M�rio Bittencourt, F�tima, diz que h� descaso da empresa e dos governos brasileiro e peruano, mas confia na Justi�a de Deus. “Escrevi at� para a presidente, pedindo mais empenho. Se a gente n�o fica em cima, o caso cai no esquecimento. Tem muita coisa por tr�s desse mist�rio e as investiga��es parecem n�o mostrar o que realmente houve. N�o h� d�vidas de que eles foram assassinados. Por que n�o h� interesse em descobrir o que ocorreu? Mas para Deus nada � imposs�vel.”

Entenda o caso

– O ge�logo paulista M�rio Gramani Guedes, de 57 anos, e o engenheiro mineiro M�rio Augusto Soares Bittencourt, de 61, viajaram para o Peru para realizar estudos de viabilidade para a constru��o de uma usina hidrel�trica na regi�o da floresta amaz�nica peruana, na cidade de Pi�n, ao Norte do pa�s. Eles trabalhavam para a Leme Engenharia, que firmou parceria com a empresa peruana SZ Engenharia, para desenvolver este trabalho. Segundo dois peruanos que acompanhavam os brasileiros, no dia 25 de julho de 2011, o engenheiro Bittencourt sentiu dores no joelho depois de 2 horas e 30 minutos de caminhada e se afastou do grupo, que seguiu em um trecho de subida. De acordo com o relato, Guedes e os dois engenheiros peruanos, ao retornarem, j� n�o o encontraram mais.


– Os peruanos afirmam que o ge�logo paulista decidiu ficar � beira da estrada, esperando que eles descessem at� o rio para fotografar. Ainda em depoimento, os funcion�rios da empresa peruana contaram que n�o encontraram Guedes, quando voltaram para a estrada principal. Os corpos dos brasileiros foram encontrados dois dias depois, em est�gio avan�ado de putrefa��o. A Embaixada Brasileira chegou a cogitar que os dois poderiam ter passado mal, devido a rem�dios para press�o, o clima e a altitude do local, mas as fam�lias suspeitam de envenenamento.

 

– A pol�cia identificou dois suspeitos, camponeses da regi�o: Juan Zorrilla Bravo e J�sus S�nchez. O primeiro, l�der comunit�rio � frente de manifesta��es contra usinas hidrel�tricas, teria atrapalhado as equipes de busca, dando orienta��es erradas sobre o poss�vel paradeiro dos brasileiros. S�nchez, segundo as investiga��es, teria oferecido �gua ao grupo no in�cio da estrada. As autoridades peruanas chegaram a fazer uma reconstitui��o, mas os suspeitos negam envolvimento.

 

– O exame cadav�rico realizado no Peru n�o identificou a causa da morte por causa da degrada��o dos corpos. Amostras de v�sceras e tecidos das v�timas foram examinadas no Brasil, nos IMLs de Bras�lia e de BH, mas os resultados tamb�m foram inconclusivos, uma vez que o material estava em est�gio avan�ado de putrefa��o. A Fiscal�a de Bagua Grande, �rg�o que equivale ao Minist�rio P�blico, solicitou informa��es � Leme Engenharia e as fam�lias afirmam que a empresa n�o encaminhou os documentos pedidos, como plano de trabalho no Peru, contratos com a empresa peruana e quebra do sigilo digital com e-mails dos brasileiros trocados e recebidos antes da viagem.


Nota da Leme
Sobre provid�ncias da empresa em vista do poss�vel arquivamento do caso, sua assessoria informou que n�o tem conhecimento desse fato. Sabemos que est� pendente uma decis�o sobre a prorroga��o do prazo das investiga��es da Fiscal�a, mas que essa decis�o ainda n�o foi proferida. Sobre o encaminhamento �s investiga��es dos documentos pedidos pelo fiscal peruano, a Leme informou que n�o recebeu qualquer intima��o para prestar quaisquer esclarecimentos ou informa��es adicionais al�m das contribui��es que j� prestou � investiga��o. Sobre o encaminhamento, pela empresa, de amostra dos restos mortais dos dois mortos no Peru aos Estados Unidos para exames loboratoriais, a Leme afirmou que, para isso, o  material s� poderia ser retirado do IML, no Brasil, por um representante da fam�lia. A fam�lia de M�rio Bittencourt optou por n�o realizar a an�lise. A de M�rio Guedes, ainda n�o se posicionou sobre o assunto.
 


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