(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Ex-calouros revelam bastidores do processo de admiss�o em rep�blicas de Ouro Preto

Tradi��o degradante vem de d�cadas. Mas h� tamb�m moradias que repudiam a pr�tica.


postado em 16/12/2012 00:12 / atualizado em 17/12/2012 14:03

Intenso nas festas das repúblicas, consumo de álcool movimenta também ruas e bares do Centro Histórico(foto: Beto Magalhães/EM/DA Press)
Intenso nas festas das rep�blicas, consumo de �lcool movimenta tamb�m ruas e bares do Centro Hist�rico (foto: Beto Magalh�es/EM/DA Press)


Press�o por aceita��o social, constrangimento e intimida��o s�o circunst�ncias bem conhecidas de calouros que tentam uma vaga em algumas rep�blicas estudantis de Ouro Preto. Eram novatos, ou “bichos”, como s�o pejorativamente chamados, os dois alunos da universidade federal ouro-pretana que morreram em pouco mais de um m�s, entre outubro e novembro, possivelmente por causa da ingest�o exagerada de �lcool. “Os bichos acham que t�m que beber muito para serem aceitos naquele c�rculo social”, diz Geraldo*, de 19 anos, estudante de filosofia da Ufop. No m�s passado, no restaurante principal da institui��o, ele participou de protesto contra o processo de admiss�o de moradores em algumas rep�blicas. “Quantas mortes ainda ocorrer�o at� que essa tradi��o mude ou acabe?”, questiona. O jovem n�o frequenta mais “rocks”, as festas feitas toda semana por rep�blicas. “J� fui a algumas. Em quase todas vi gente passando muito mal, vomitando, caindo no ch�o. � s� bebida, droga, pega��o”, relata.


Em uma noite de s�bado, sem saber que falava com um rep�rter, uma mo�a levemente alcoolizada disse que tinha 21 anos e morava em uma rep�blica particular feminina. “Na minha casa n�o tem trote, gra�as a Deus. Eles tratam o ‘bicho’ como se ele n�o soubesse de nada, como se fosse um retardado. As federais s�o piores que as particulares”, criticou. Para refor�ar o que dizia, citou um dos trotes praticados em resid�ncias femininas: as moradoras apanham as pe�as �ntimas da caloura e as distribuem por rep�blicas masculinas. A novata � obrigada a recolh�-las.

Em Ouro Preto, o arsenal de trotes parece ser ilimitado. � equipe do EM, estudantes contaram que neste ano, em uma noite, um grupo de “bichos” se dirigiu ao quartel-general das festas universit�rias, o Centro Acad�mico da Escola de Minas (Caem), na Pra�a Tiradentes, todos com sacos pl�sticos de lixo, com furos para a cabe�a e os bra�os, � maneira de vestidos. O bizarro cortejo era tocado por veteranos, que ordenavam: “Desfila, bich�o”.

Nas rep�blicas, uma das puni��es mais comuns � o “vento”. Os veteranos espalham as roupas do “bicho” pela casa e, �s vezes, tamb�m reviram guarda-roupas e camas. “O vento era todo dia, como um castigo para o bicho que tivesse deixado de fazer algo que eles pediam”, conta o estudante da Ufop Rafael*.

Depois de ser rejeitado para uma vaga em uma rep�blica federal, o jovem penou para continuar vivendo em Ouro Preto. Filho de lavradores aposentados, tinha pouco para gastar em aluguel. Acabou se instalando em um pequeno quarto em bairro distante do Centro, onde paga R$ 150 por m�s. “Pensei que somente a boa conviv�ncia, o fato de eu ajudar nas tarefas dom�sticas e dividir as contas seria suficiente para eu ser aceito. Mas s�o eles (os veteranos) que decidem o tanto que voc� vai beber, a hora que voc� vai e volta do rock”, diz Rafael.

Advert�ncia

Antes de se mudar para a cidade, Rafael foi alertado por um amigo de que n�o suportaria a “batalha”. Marcos*, hoje aos 24 anos, sabia do que estava falando. Ele diz que, em 2006, foi “bicho” por um m�s na moradia particular Vaticano, quando estudava engenharia de minas na Ufop. “Nos primeiros dias, eles (veteranos) d�o uma aliviada. Depois come�a o quebra-pau”, define Marcos, que tamb�m foi exortado a beber, mas resistiu.“Sempre tem bicho que obedece para agradar, contrariado”, acrescenta. Ele afirma ter ido a uns 20 rocks. “Era quase um por dia. Vi muita gente ficar b�bada, vomitar, cair no ch�o. Isso tinha sempre.”


Marcos tamb�m sofreu trotes. Uma vez, para recuperar as roupas espalhadas por rep�blicas, teria que tomar um copo de cacha�a em cada uma. “Quem n�o bebia, tomava �gua quase fervendo. Foi o que eu fiz. � at� pior do que �lcool”, diz. Em sua casa, os “bichos” precisavam arrumar o quarto quase todo dia, sob amea�a de vento. Em algumas rep�blicas, relata, calouros tiveram que sair nus � rua, de madrugada, enquanto veteranos os molhavam com �gua gelada. “N�o h� raz�o para isso, � s� sadismo”, acredita Marcos, que hoje mora em BH e � rec�m-formado em ci�ncia da computa��o.

Procurada, a rep�blica Vaticano n�o quis se manifestar. “N�o entraremos nessa pol�mica. As informa��es de voc�s s�o parciais”, justificou o morador que atendeu o telefonema.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)