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Estado de Minas CART�O-POSTAL SUFOCANTE

Lagoa da Pampulha exala g�s poluente

Pesquisa aponta mais um efeito danoso do excesso de esgotos na Lagoa da Pampulha: concentra��o do g�s metano � a maior entre os 10 reservat�rios analisados e aumenta o aquecimento global


postado em 11/01/2013 06:00 / atualizado em 11/01/2013 06:47

Bolhas de gás metano, responsável por 20% do efeito estufa no planeta, se espalham por toda a lagoa, sinal do avanço da degradação ambiental. se inalada, substância pode causar asfixia, parada cardíaca e outros problemas de saúde(foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Bolhas de g�s metano, respons�vel por 20% do efeito estufa no planeta, se espalham por toda a lagoa, sinal do avan�o da degrada��o ambiental. se inalada, subst�ncia pode causar asfixia, parada card�aca e outros problemas de sa�de (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)


 

N�o bastasse a degrada��o das �guas pelo esgoto e a polui��o na paisagem do principal cart�o-postal de Belo Horizonte, a Lagoa da Pampulha tamb�m polui a atmosfera e contribui para o aquecimento global. Resultado direto da a��o de bact�rias sobre mat�ria org�nica em decomposi��o, segundo estudos para tese de doutorado desenvolvida no Laborat�rio de Limnologia, Ecotoxicologia e Ecologia Aqu�tica (Limnea) da UFMG, o reservat�rio chega a expelir uma m�dia di�ria de 413 miligramas de metano (CH4) por metro quadrado, atingindo picos de 1.852 miligramas.

O g�s � um dos piores vil�es do aumento das temperaturas mundiais, segundo os cientistas. Em compara��o com lagos muito maiores, o �ndice da Pampulha � 51% superior ao de Tr�s Marias, o segundo com mais emiss�es de metano, que chega a 273 miligramas em m�dia. A diferen�a entre os dois � que a Pampulha sofre com esgoto e Tr�s Marias com a decomposi��o da mata inundada desde sua forma��o, em 1962.

O metano � um dos principais gases do efeito estufa, produto da decomposi��o da mat�ria org�nica em rios, lagos e reservat�rios. “O potencial de aquecimento global do g�s � de 21 a 25 vezes maior que o di�xido de carbono (CO2), devido ao seu tempo de perman�ncia na atmosfera e a propriedades radiativas. A concentra��o do metano na atmosfera dobrou em 250 anos, sendo respons�vel por 20% do efeito estufa”, calcula o orientador da pesquisa cient�fica, professor de limnologia (ci�ncia que estuda as �guas interiores) Jos� Fernandes Bezerra Neto. Segundo ele, o impacto da Pampulha � comparativamente menor que os grandes lagos de barragens hidrel�tricas, mas mostra a continuidade dos danos da polui��o pelo esgoto.
 

No caso da Pampulha o esgoto est� presente em todo o espelho d’�gua de 2 quil�metros quadrados, como mostrou o Estado de Minas no �ltimo dia 14. Segundo o mais recente laudo do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) 100% das amostras coletadas para avalia��o da qualidade das �guas continham coliformes fecais acima dos par�metros tolerados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A presen�a desses micro-organismos � associada ao despejo ilegal de grande volume de esgoto diretamente nos afluentes que abastecem o lago.

Alerta ainda para a situa��o dos rios, j� que o Igam informou que 77% das amostras nos cursos d’�gua mineiros tamb�m estavam com contamina��o acima do permitido pelos mesmos motivos. “Isso � um aviso. Mostra que a polui��o n�o se resume ao rio ou lago, aos animais que l� vivem. O impacto da libera��o dos gases polui a atmosfera e ajudando a aumentar a temperatura global”, lembra o professor.

A pesquisa, iniciada pelo doutorando em ci�ncias biol�gicas Nelson Azevedo Santos Teixeira de Mello e que tem apoio da Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), come�ou em 2011 e deve se estender at� 2015.

Ilha dos amores

Para coletar amostras de metano foram usados recipientes flutuantes em forma de funil que servem para captar as bolhas do g�s liberadas pelas bact�rias que decomp�em a mat�ria org�nica depositada pelo esgoto no fundo do lago. “Essas bolhas s�o vis�veis a olho nu e se espalham por todo o espelho d’�gua. A maior concentra��o � no entorno da Ilha dos Amores, local mais assoreado onde a profundidade chega a poucos cent�metros”, afirma Mello.

Em compara��o com as emiss�es de um lago n�o polu�do, o Dom Helv�cio, no Parque Nacional do Rio Doce, a diferen�a que o esgoto faz fica n�tida. A m�dia di�ria de emiss�es de metano foi de apenas 1,51 miligrama por metro quadrado no reservat�rio sem polui��o. “O g�s � produzido e consumido naturalmente pelos ecossistemas. O que estamos mostrando � como essa inje��o de esgotos aumenta e descontrola a produ��o de metano, causando um desequil�brio”, aponta o doutorando. Se inalado, o metano causar asfixia, parada card�aca e outros problemas de sa�de.

N�o � dif�cil ver esse fen�meno. O estalar do g�s sobre a pel�cula l�quida lembra um chuvisco breve. Os locais onde esse fen�meno mais fica evidente s�o os remansos do Parque Ecol�gico da Pampulha, a poucos metros da foz dos c�rregos Sarandi e Ressaca, corpos d’�gua que mais poluem o lago. Ali, as placas grossas e malcheirosas de mat�ria org�nica e algas conseguem prender as bolhas por mais tempo, formando uma composi��o grotesca que amplia a sensa��o de degrada��o.

E a causa de tudo isso pode ser vista depositada no fundo e nas margens: sacos pl�sticos, restos de alimentos, embalagens, recipientes de limpeza, preservativos, pe�as de autom�veis e outros materiais. No meio desse lixo, esp�cies da fauna e da flora locais tentam sobreviver. P�ssaros fazem ninhos e mergulham entre as massas espessas. Capivaras se banham para espantar o calor e c�gados parecem estar se afogando na �gua polu�da e repleta de vermes.

 Lagoa pode virar ETE

A fim de impedir o lan�amento de esgotos na lagoa e interromper o desequil�brio na emiss�o de metano, a Copasa informou que trabalha em parceria com as prefeituras de BH e Contagem e “elaborou um programa com interven��es em c�rregos, vilas e favelas visando implantar redes coletoras de esgotos e interceptores, para retirar os lan�amentos indevidos de esgoto nas sub-bacias da Pampulha”. Com investimentos de R$ 102 milh�es, a expectativa � que sejam implantados mais de 40 mil metros de redes coletoras, 15 mil metros de interceptores, al�m da urbaniza��o de c�rregos. O esgoto canalizado ser� enviado � Esta��o de Tratamento de Esgoto (ETE) do On�a.

As medidas anunciadas pela prefeitura para cumprir a Meta 2014, que � tornar a �gua da Pampulha adequada para contato indireto e esportes n�uticos, no entanto, foram criticadas por transformar o lago numa grande tanque similar a uma ETE. A compara��o � do professor de limnologia da UFMG, Jos� Fernandes Bezerra Neto. “O que se pretende fazer � oxigenar a �gua com h�lices e fazer o mesmo tipo de tratamento que as ETEs fazem. Isso, qualquer engenheiro sanit�rio consegue fazer. O problema � que n�o sabemos o impacto na fauna e na flora, porque a Pampulha n�o � uma ETE, mas um lago”, afirma.

O processo programado para a Pampulha foi preparado para acelerar a despolui��o. “No Lago Parano�, em Bras�lia, houve despolui��o gradativa que levou cinco anos. Aqui estamos tomando medidas dr�sticas de impactos perigosos para a Copa do Mundo”, critica. At� este m�s, a PBH espera lan�ar o edital para dragar o fundo da lagoa. Segundo o gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental, Weber Coutinho, ser�o extra�dos 750 mil metros c�bicos de sedimentos e lixo. Depois ser� introduzido oxig�nio nas �guas por h�lices de m�quinas aeradoras. Em seguida, uma biorremedia��o, que povoar� o lago com micro-organismos que se alimentam dos poluentes. O custo � de R$ 120 milh�es. “S�o processos que n�o trar�o impactos ao ecossistema. Os micro-organismos usados s�o naturais e n�o trar�o desequil�brio”, garante.


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