A nascente preservada no fundo do quintal, no Bairro Ribeiro de Abreu, Regi�o Nordeste de Belo Horizonte, virou sinal de vida e bandeira de luta. Ao olhar para a �gua limpa brotando da terra, o aposentado Itamar de Paula reacende a esperan�a de voltar a nadar e pescar no Ribeir�o do On�a. Um dos principais afluentes do Velhas, o ribeir�o, formado pelos c�rregos Pampulha e Cachoeirinha, � o retrato da polui��o e da degrada��o de cursos d’�gua. “Tenho 55 anos, aprendi a nadar e pescar no On�a, quando ainda havia peixe. Em 40 anos, acabamos com ele. Fico muito indignado ao ver que tiramos isso dos nosso filhos e netos. N�o sei se estarei vivo, mas acredito na possibilidade de ele voltar a ser o que era.”
E para alcan�ar o objetivo, Itamar, um dos fomentadores do movimento Deixem o On�a Beber �gua Limpa, n�o se cansa de batalhar, a come�ar pelo cuidado com sua nascente. “Aqui era um brejo, sujo de lixo. Limpei, fiz uma horta e at� um laguinho com peixes. O pr�ximo passo ser� uma cascata para melhorar a oxigena��o. Essa � uma das gotinhas do On�a.” O cuidado trouxe recompensas. “H� sempre p�ssaros, as frutas do meu quintal s�o mais saborosas. A maioria da s pessoas drena e cimenta as nascentes, quando elas poderiam ser a solu��o”, afirma Itamar, que ampliou a atua��o para al�m do lote.
Um parque de todos
Perto dali, conhecimento e mobiliza��o social tamb�m se uniram para mudar a realidade no Bairro Aar�o Reis, Regi�o Norte. Em 1999, alunos e professores da Escola Municipal H�lio Pellegrino, al�m de moradores da regi�o, criaram uma for�a-tarefa que resultou na recupera��o da nascente e de um trecho do C�rrego Nossa Senhora da Piedade. Al�m da revitaliza��o do leito de aproximadamente 800 metros do curso d’�gua, que foi mantido em sua calha natural, como era desejo da comunidade, todo o entorno foi recuperado para cria��o, em 2008, do Parque Nossa Senhora da Piedade.
“Aplicamos uma pesquisa sobre a qualidade de vida dos moradores e descobrimos que o principal fator das doen�as era a presen�a de animais pe�onhentos”, conta uma das coordenadoras do projeto na �poca, Maria Jos� Zeferino, que atualmente coordena o Subcomit� de Bacias Hidrogr�ficas do Ribeir�o On�a. A partir de ent�o, iniciaram um trabalho de mobiliza��o at� que o c�rrego fosse inclu�do na pauta de recupera��o de nascentes da Prefeitura de Belo Horizonte. “Ver o c�rrego limpo e, acima de tudo, correndo em seu leito natural, � motivo de orgulho para todos.”
Ouro Azul � fonte de ideias
A comunidade do bairro abra�ou a nascente do c�rrego, a empresa implantou sistema de economia de �gua, estudantes desenvolveram tecnologia para tratar recursos h�dricos. Para valorizar iniciativas em prol da preserva��o das �guas, o Pr�mio Furnas Ouro Azul, campanha dos Di�rios Associados em parceria com a Eletrobras Furnas, destaca bons exemplos de recupera��o e conserva��o dos recursos h�dricos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
O concurso, auditado pela Walter Heuer Auditores e Consultores, chega este ano a sua 12ª edi��o e, mais que disseminar boas ideias em rela��o ao uso racional da �gua, contribui para mobilizar outras pessoas para a import�ncia da causa. Desde a cria��o do concurso, em 2002, ele j� recebeu quase 2 mil inscri��es em sete categorias, mostrando que sustentabilidade e preserva��o dos recursos h�dricos ganham cada vez mais aten��o. Exemplo disso � o n�mero de concorrentes. Em sua primeira edi��o, foram apenas oito. No ano passado, mais de 1 mil iniciativas foram inscritas.
O destaque foi a categoria Mirim – a mais recentes delas, criada em 2010. As crian�as entraram para valer no pr�mio e, no ano passado, se tornaram o grupo mais concorrido, com 934 trabalhos. Recorde no Ouro Azul, o n�mero refor�a a preocupa��o dos pequenos cedo com o futuro do planeta. J� a categoria Adultos abrange empresas privadas, empresas p�blicas, comunidade, universit�rios, p�s-graduados em n�vel de mestrado, p�s-graduados em n�vel de doutorado. Entre no site www.ouroazul.com.br e fique atento � data de inscri��o e novidades da edi��o deste ano.
Li��es de casa para preservar �gua
Mais que abra�ar causas, a defesa dos recursos h�dricos deve come�ar em casa, com a��es simples que, em conjunto, podem ser comparadas �s gotas de um oceano. Fen�menos como secas na Amaz�nia e no Pantanal, em 2005, regi�es com grande disponibilidade de �gua, deram sinal de alerta e mostraram que, al�m de ind�strias e setor agropecu�rio, o uso racional do bem natural passa pelos cidad�os. De acordo com a Copasa, uma torneira mal fechada desperdi�a, em m�dia, 2 mil litros de �gua por dia. J� um banho demorado pode consumir 37% da �gua de uso dom�stico, assim como descargas de vasos sanit�rios desreguladas.
“Sempre tivemos a preocupa��o de levar a��es de conscientiza��o com foco nos consumidores com grande demanda em seus processos produtivos. Mas, depois dessas ocorr�ncias, a situa��o mudou”, afirma o agente de saneamento da Copasa, Maur�cio de Castro, enfatizando a import�ncia da conscientiza��o de cada um. “Estamos preocupados porque o homem est� interferindo no ciclo da �gua. Temos que acabar com a deposi��o de res�duos nos cursos d’�gua, o assoreamento, tratar o esgoto”, diz.
Al�m dessas a��es, � poss�vel conciliar atitudes cotidianas. Ambientalistas defendem que a mudan�a de postura se baseie em quatro “erres”: repensar uma rela��o mais respeitosa com a �gua, reduzir o consumo, reutilizar as �guas e recicl�-las em esta��es de tratamento. A mudan�a de postura passa ainda pela rela��o com a �gua no trabalho dom�stico e nas necessidades pessoais.
Educadora ambiental na Escola da �gua, em Nova Lima, a bi�loga Larissa Ferreira Lima ressalta o papel do cidad�o e o compromisso em repensar seu estilo de vida. “Quanto mais consumistas, mais apoiamos a retirada de recursos naturais para uso no processo de produ��o.” Segundo a ONG holandesa Water Footprint, para produzir um quilo de carne s�o gastos mais de 15 mil litros de �gua.
Larissa ressalta que a conserva��o da �gua tamb�m passa por temas como a coleta seletiva, o reflorestamento e a prote��o de �reas verdes. � essa a li��o que a Escola da �gua j� ensinou, desde 2009, a mais de 3 mil estudantes dos ensinos fundamental e m�dio.