
Detalhes sobre o relacionamento entre o delegado Geraldo do Amaral Toledo Neto e a adolescente de 17 anos, A.L, que segue internada no Hospital Jo�o XXIII ap�s levar um tiro na cabe�a, foram contados por ele em carta enviada nesta quinta-feira � Comiss�o de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). No documento, o policial, que est� preso suspeito do crime, diz que a jovem vivia em atritos familiares e que havia mencionado a hip�tese de suic�dio.
Toledo contou que conheceu a adolescente em agosto de 2010, quando a fam�lia dela se mudou para o mesmo pr�dio onde ele morava. “Sabendo que sou professor, a m�e dela solicitou que eu orientasse A.L., que estava escrevendo um livro, o que selou um forte vinculo entre todos n�s", relatou. No ano seguinte, o delegado se mudou do im�vel, por�m, a amizade entre eles se manteve.
Na mesma �poca, segundo o delegado, a adolescente teve o primeiro atrito com a fam�lia. " A amizade familiar foi rompida quando, desesperada, A.L. me procurou chorando muito, dizendo que seu padrasto a teria assediado", disse o policial. A garota, segundo a carta, foi expulsa de casa por ter contato o fato para o delegado e foi morar com os av�s em Goi�s.
Em 2012, a adolescente retornou � capital mineira e foi morar em uma rep�blica, pois a fam�lia j� estava residindo em Conselheiro Lafaiete, na Regi�o Central de Minas Gerais. Ap�s o regresso, a garota teria come�ado a consumir drogas. " A.L. come�ou a frequentar festas 'raves', a tomar ecstasy e fumar maconha. Preocupado, fui ate sua republica (Sic.) e a tirei de l�. Quando obtive forte desentendimento com suas 'amigas'", comentou Toledo na carta. No mesmo ano, os dois come�aram a manter um relacionamento, que o delegado fez quest�o de ressaltar que foi "ligeiro".
Segundo o delegado, a adolescente teria ficado com ci�mes dele, j� que n�o deixou de sair e viajar com os amigos mesmo com o relacionamento, e simulou uma gravidez. Toledo afirma que deu total apoio a ela, pois "era um sonho antigo ter mais um filho", inclusive a colocando como dependente de seu plano de sa�de.
Por�m, desconfiado, insistiu que a garota fizesse exames, que comprovaram a farsa, segundo o delegado. Os dois tiveram um desentendimento, j� que o policial n�o quis dar abrigo � jovem, j� que estava saindo de f�rias, e a garota teria simulado uma agress�o. "Ciente disso e inconformada, simulou ter sido agredida e se dirigiu at� uma delegacia solicitando minha pris�o e o impedimento de minha viagem", conta Toledo. Em seguida, a adolescente, segundo vers�o do policial, "confessou a mentira" e solicitou a desist�ncia do processo criminal. A jovem foi para Conselheiro Lafaiete, mas a amizade deles continuou.
Toledo fez quest�o de informar que estava preocupado com a adolescente, j� que ela estava em "estado depressivo". Ele conta que no m�s anterior ao desentendimento, ela havia furtado uma arma dele e dito que iria suicidar. Mas, foi acalmada por Geraldo.
Passeio em Ouro Preto
Geraldo Toledo continou com a vers�o de que a adolescente cometeu suic�dio. Segundo o delegado, no dia em que a garota foi baleada, os dois passaram a tarde juntos, pois ela queria "reviver sua inf�ncia na casa dos parentes".
Segundo relata o policial, quando os dois estavam na estrada que liga Lavras Novas a Ouro Preto, a jovem teria entrado em desespero e pedido para morar com o delegado. "Tentei consol�-la e convenc�-la de enfrentar tal situa��o. Ela se desesperou mais e come�ou a me agredir e tirou a chave do contato do carro. Sa� do veiculo, na estrada, dizendo que iria embora. Em berros ela pedia para eu voltar. Quando olhei para tr�s, ela retirou da bolsa uma pequena arma e disparou contra si mesmo, na cabe�a", conta Toledo.
O delegado afirma que ficou atordoado e a levou para o hospital. Por causa de seu estado de choque, n�o teria conseguido encontrar a delegacia de Ouro Preto. Por�m, diz que logo comunicou os seus superiores, as fam�lias dele e da garota, e uma advogada. "Durante nossa discuss�o na estrada, e a retirada da chave do ve�culo, acionei a delegacia de Ouro Preto, me identificando, o que demonstra que nada foi premeditado", explica.
O delegado usou tr�s pontos para tentar provar que n�o foi o autor dos disparos que acertou a cabe�a da jovem. " A per�cia detectou que a arma que eu carregava no posto de gasolina era um rev�lver 38 e n�o a arma que ela usou contra si mesmo. Se eu realmente quisesse mat�-la, eu n�o a levaria para o hospital. Al�m disso, usaria a arma que trazia, um 38, que tem um poder de lesividade e de destrui��o maior", disse. Tamb�m ressalta que a tomografia feita na jovem detectou que os ferimentos provocados pela bala seriam compat�veis com o suic�dio de uma pessoa destra.
Sobre os exames residuogr�ficos feitos nas m�os da adolescente que n�o encontraram nenhum vest�gio de p�lvora, Toledo diz que o laudo foi feito no dia seguinte aos fatos, o que o "torna inidonio". Por fim, diz que n�o havia nenhum motivo para desejar a morte de A.l. "Eu era o seu melhor amigo, o seu padrinho, professor e desejava um enorme futuro".

Passado complica delegado
Na audi�ncia p�blica, presidida pelo presidente da Comiss�o de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval �ngelo (PT), a delegada que investiga o caso, �gueda Bueno do Nascimento e o corregedor-geral da Pol�cia Civil de Minas, Renato Patr�cio Teixeira, deram detalhes do inqu�rito. Teixeira apontou hist�rico da conduta complicada de Toledo. Segundo o corregedor, o policial � investigado em 10 inqu�ritos, nove sindic�ncias e dois processos administrativos.
De acordo com a �gueda Bueno, a cronologia dos fatos levantada pela investiga��o mostra que Toledo, com a consci�ncia de policial, tentou atrapalhar ao m�ximo o trabalho da corpora��o. Ela apontou tr�s fatos que comprovam a tentativa de desviar aten��es dos investigadores para provas do crime. No dia do tiro, Toledo ligou para o 190 da PM pedindo o telefone da delegacia de Ouro Preto. Em contato com os colegas da unidade policial, ele pediu apoio e logo depois desistiu da ajuda dizendo que j� havia resolvido a situa��o. Como segundo fator, a delegada apontou o fato de Toledo ter abandonado a jovem no hospital sem documentos ou identifica��o. Por �ltimo, a delegada disse que a arma do crime nunca apareceu e que para dificultar a cronologia, Toledo abandonou o carro na casa de um amigo.