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Estado de Minas

Grande BH est� entre a mobiliza��o, a tens�o e a incerteza

Protestos se espalham pela Grande BH. Em Neves, policiais militares s�o baleados. Viol�ncia traz preocupa��o a fam�lias


postado em 22/06/2013 07:07 / atualizado em 22/06/2013 07:22

Tiago de Holanda, Mateus Parreiras, Pedro Ferreira, Landercy Hemerson, Guilherme Paranaiba, Daniel Camargos, Carolina Mansur, Paula Sarapu e Pedro Rocha Franco

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Enquanto a onda de protestos deflagrada no in�cio da semana se espalha, ganhando estradas e outros munic�pios da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, o acirramento dos �nimos nas ruas, com depreda��es, ataques e inc�ndios, faz crescer o temor entre familiares de jovens que participam dos atos. No Centro da capital, ontem foi o dia de menor mobiliza��o, mas houve protestos no Barreiro e em Venda Nova e tr�s pris�es. A maior tens�o, por�m, ocorreu na Grande BH, onde a sexta-feira foi de caos, com fechamento de pistas, como a da BR-040, em Ribeir�o das Neves, e filas quilom�tricas. Em Neves tamb�m foram registradas as ocorr�ncias mais graves at� agora associadas �s manifesta��es, com tr�s policiais militares baleados durante confrontos, a depreda��o da C�mara Municipal e a destrui��o de viaturas policiais e de um �nibus, ao qual v�ndalos atearam fogo. Epis�dios como esses fazem muitas fam�lias temerem pela seguran�a de quem pretende voltar �s ruas hoje.


Nas manifesta��es que tomam ruas de Belo Horizonte desde segunda-feira, � f�cil encontrar fam�lias inteiras, com cartazes, bandeiras do Brasil e rostos pintados. Alguns jovens participam at� mesmo estimulados pelos pais, que chegam a dar orienta��es sobre como agir diante de tumulto ou conflito com a pol�cia. Por�m, depois dos repetidos casos de viol�ncia, muita gente teme pela seguran�a dos filhos nas ruas.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
“Se meus pais soubessem que estou aqui...”, dizia uma garota, na noite de segunda-feira, enquanto corria de um confronto entre policiais e manifestantes na Avenida Ant�nio Carlos, na Pampulha. “Se meu pai souber que eu estou aqui, ele me mata”, exclamou outra, na noite de ter�a-feira, encostada �s grades do Parque Municipal Am�rico Renn� Giannetti, enquanto v�ndalos encapuzados depredavam o pr�dio da prefeitura, na Avenida Afonso Pena, Centro de BH.

� esse tipo de situa��o que impede a participa��o de jovens como �urea Ara�jo, de 16 anos, estudante do 2º ano do ensino m�dio. “Eu quis ir na quarta-feira, mas meus pais n�o deixaram. Alguns amigos meus n�o foram pelo mesmo motivo”, conta. “� muito importante participar desse movimento. Os jovens est�o mostrando sua insatisfa��o. Mas tem gente querendo fazer confus�o. Ficamos com medo”, explica o pai dela, o contador Luciano Vieira, de 42. “A causa � nobre, mas o rumo que as coisas est�o tomando � preocupante”, refor�a a m�e, a m�dica Enda Ara�jo, de 39. Ela teme tamb�m a a��o de policiais. “A PM est� despreparada para encarar o momento. � um absurdo usar bombas de g�s lacrimog�neo, balas de borracha”, considera.

Para convencer a m�e a deix�-la participar da manifesta��o de ontem, na Pra�a Sete, Centro de BH, Carolina Campos, de 16 anos, disse que iria em grupo, embora soubesse que estaria apenas com a amiga C�nthia Santos, da mesma idade. As duas s�o estudantes do 2º ano do ensino m�dio. “Muitos colegas n�o vieram porque os pais n�o deixaram”, contou C�nthia. Em casa, ela diz ser incentivada a ir aos protestos, mas sob muitas recomenda��es.

Na d�cada de 1970, a m�dica L�dia Tonon, de 58, lutou pela redemocratiza��o do pa�s. “Eu era do diret�rio acad�mico do curso de medicina da UFMG. Corri muito de pol�cia em 1977, respirei g�s lacrimog�neo. Tive v�rios colegas presos”, relata. A filha dela, a estudante de economia Giulia Tonon, de 18, foi � manifesta��o de quinta-feira e planeja participar da que est� marcada para hoje, com concentra��o a partir das 10h, na Pra�a Sete. “Sinto orgulho n�o apenas dela, mas desses jovens. � importante que se politizem. A �ltima vez que vi algo parecido foi em 1992, no Fora, Collor”, diz L�dia.

Moradores fecharam BR-040 no Bairro Veneza, em Neves, e em outros trechos da rodovia para cobrar melhorias no transporte coletivo(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
Moradores fecharam BR-040 no Bairro Veneza, em Neves, e em outros trechos da rodovia para cobrar melhorias no transporte coletivo (foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)


CONTRA OS EXCESSOS
Ontem, em BH, a maior preocupa��o dos manifestantes era tentar manter a ordem e impedir excessos. N�o houve vandalismo, o que encorajou muita gente a participar do grande ato previsto para hoje, que pretende reunir 130 mil pessoas, segundo o Movimento Vem pra Rua. De acordo com um dos organizadores, o estudante Vander Miguel do Nascimento, de 26, muita gente deixou de participar ontem para se preparar para hoje.

A t�cnica em contabilidade Eunice Pimentel, de 43, levou a filha Carolina, de 14, para a Pra�a Sete e hoje pretende voltar. “Quero um pa�s melhor para os meus filhos e netos. O vandalismo me assusta, mas em BH as pessoas est�o contra qualquer ato de viol�ncia. Vou voltar com minha filha e meus outros dois filhos”, planejava. Contudo, ela diz que pretende sair diante de qualquer ato de viol�ncia. “Quem faz arrua�a � bandido, e n�o jovem que quer mudar o Brasil”, completou.

O securit�rio Jos� Lopes Carvalho, de 46, levou o filho Brayan N�brega, de 10, para a manifesta��o de ontem, mas ficou com medo de haver confus�o. “Sou a favor da manifesta��o sem viol�ncia. Vandalismo afasta as pessoas, esvazia o movimento e n�o me faz sentir totalmente seguro com meu filho aqui”, disse. O mesmo receio tem a funcion�ria p�blica Ana Cristina Pereira, de 39 que estava acompanhada da filha Let�cia, de 10. Ela acha que as depreda��es, como as registradas ontem na Grande BH, podem levar o povo a se afastar das manifesta��es.

Policiais baleados e destrui��o em Neves

Minas viveu ontem o dia mais violento desde o in�cio da onda de manifesta��es na segunda-feira. Houve protestos generalizados em Belo Horizonte, mas os problemas mais graves ocorreram em Ribeir�o das Neves, na regi�o metropolitana, com a interdi��o da BR-040 por mais de 14 horas por moradores, �nibus queimado � tarde e ataques � C�mara Municipal e a tr�s policiais militares � noite. O tenente Amilcar Bruno informou que o protesto noturno seguia pac�fico at� come�ar a depreda��o da C�mara: “Dispersamos os v�ndalos e eles foram para a garagem da empresa Transim�o”. Na porta da garagem, eles come�aram a destruir os �nibus e os policiais reagiram. “Come�ou um corre-corre e algu�m descarregou uma arma”, informou o tenente.

A cabo Vaneza levou tiro em uma coxa e foi atendida na UPA de Neves. O soldado Reginaldo Chaves Caldeira levou tiro no t�rax, embaixo do bra�o onde o colete n�o protege e foi transferido de helic�ptero para o HPS Jo�o XXIII, em BH, e n�o corre risco de morrer. O autor dos tiros foi preso com dois rev�lveres 38, mas segundo o tenente Amilcar Bruno, ele usou uma arma de cano longo. Um terceiro militar foi baleado tamb�m, mas o tiro acertou no colete. Outros policiais foram v�timas de pedradas e tr�s viaturas foram depredadas.

Os protestos em Neves come�aram pela manh�, principalmente com bloqueio na altura do km 507 da BR-040, no Bairro Veneza, contra o transporte p�blico. No per�odo mais cr�tico, cinco pontos foram fechados num trecho de 10 quil�metros. Houve muita tens�o, com brigas, bombas, pedradas, inc�ndios e congestionamentos de mais de 30 quil�metros nos dois sentidos. V�rias pessoas passaram mal, ambul�ncias e caminh�es de cargas ficaram retidos.

A popula��o s� cedeu quando as autoridades se reuniram com os manifestantes e redigiram um documento se comprometendo a fazer melhorias no transporte p�blico de Neves. Al�m disso, a prefeita Daniela Correia (PT) anunciou redu��o de 25 centavos na tarifa dos �nibus que rodam dentro da cidade, passando de R$ 2,85 para R$ 2,60.

Tudo come�ou por volta das 6h30. Antes de ocupar a rodovia na altura do km 507, os manifestantes foram at� o estacionamento da Transim�o, no Bairro Floren�a, empresa que opera as linhas de �nibus da regi�o. Praticamente ao mesmo tempo, o km 517 foi fechado tamb�m. Uma das lideran�as, Cl�udia Oliveira, integrante da C�mara de Transportes de Neves, reclamou do tratamento que a Transim�o d� aos moradores. “A passagem � a mais cara da regi�o metropolitana. N�o h� nenhuma qualidade no transporte e n�o temos integra��o”, disse. O designer gr�fico �rico Ara�jo, de 39, morador do Bairro Vereda, afirmou que os �nibus n�o respeitam o itiner�rio. “Quando se esvaziam, voltam. N�o fazem o percurso completo. Quem est� no ponto sofre", disse.

NEGOCIA��O COMPLICADA
A Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF), com apoio de agentes de outros estados, tentou negociar com os manifestantes, mas foi dif�cil encontrar lideran�as. Dificilmente os representantes eram respeitados e sempre os acordos eram descumpridos. Por volta de 16h, com apoio da PM, o protesto do km 517 se encerrou, permanecendo apenas a interdi��o do Bairro Veneza, onde o clima esquentou e os manifestantes amea�aram confrontar os agentes da PRF, que nesse momento ficaram sozinhos, sem ajuda da PM.

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
Mesmo com a chegada do coronel Jos� Amilton Campos, comandante da 2ª Regi�o de PM, n�o houve acordo. “� muito dif�cil porque eles n�o t�m l�deres. N�o temos condi��o de negociar dessa maneira”, afirmou o militar. Nesse momento, a popula��o incendiou o mato seco �s margens da 040, cobrindo a estrada de fuma�a. Ao mesmo tempo, um �nibus da Transim�o foi incendiado numa rua secund�ria � estrada no Bairro Veneza.

“� muito complicado dizer se � certo ou errado. A gente fica prejudicado, mas eles t�m raz�o em reclamar das condi��es do transporte”, disse o empres�rio Fernando Reis Tavares Morette, de 55. Um motoqueiro tentou furar o bloqueio, mas foi contido por manifestantes. J� um caminhoneiro chegou a amea�ar passar o caminh�o por cima dos manifestantes. Uma mulher passou mal e foi retirada de maca.

Durante a reuni�o, a tens�o aumentou, porque moradores jogaram pedras nos policiais e dois chegaram a ser detidos. Com a conclus�o da reuni�o, ficou definido que em 10 dias a Transim�o vai melhorar a qualidade da frota, fazendo a manuten��o necess�ria. Al�m disso, a fiscaliza��o do DER ser� intensificada para garantir o cumprimento de hor�rios e itiner�rio. Em 60 dias, a empresa se comprometeu a aumentar a frota em 50%, colocando 25 �nibus novos em circula��o.

BR-381 Cerca de 200 manifestantes, a maioria estudantes, fecharam a BR-381, em Nova Uni�o. Segundo o agente Michelleti, da PRF, o protesto come�ou �s 15h e terminou �s 15h40, sem viol�ncia. No entanto, a manifesta��o fechou as duas pistas e provocou engarrafamento de 15 quil�metros nos dois sentidos. Manifestantes reclamaram da pol�tica econ�mica e da corrup��o, mas o mote foi o pedido de duplica��o, promessa de v�rios governos.

Avenida fechada sob tens�o


Cerca de 30 manifestantes fecharam o cruzamento da Avenida Pedro I com a Avenida Cristiano Guimar�es e a Rua Padre Pedro Pinto e Cristiano Guimar�es, em Venda Nova, no in�cio da noite de ontem. A manifesta��o reuniu jovens, na maioria, mas a cada ades�o o grupo ficava mais animado. O grupo alternava o fechamento das pistas a cada 15 minutos e a PM acompanhava de perto. O tr�nsito ficou complicado e motociclistas, impacientes, tentavam avan�ar sobre os manifestantes.

Um policial chegou a sacar a arma, para evitar atropelamentos. Com cartazes, os jovens pediam melhorias. Parado por 15 minutos no segundo protesto do dia, o motorista de �nibus Alexandre Ribeiro, de 32 anos, aplaudia e filmava tudo com o celular. “Vou postar no Facebook. Eu apoio! O Brasil precisa mudar!”

O estudante Fabr�cio Henrique da Silva, de 15 anos, participava da manifesta��o contra a vontade dos av�s, com quem mora. “Eles estavam preocupados com a viol�ncia. Aprovam as manifesta��es, mas n�o queriam que eu viesse. Mas eu tinha que estar aqui, cada um de n�s � importante para fazer volume nesse momento”, disse. A colega Ana Elisa Am�ncio, de 14, convocou a m�e para a passeata de hoje. “Nossos filhos v�o estudar isso aqui nos livros de hist�ria. Ela estava preocupada e disse para eu ficar s� um pouco, mas amanh� (hoje) estaremos na Pra�a Sete.”

Por volta das 20h, o grupo reunia mais de 60 pessoas. Quem morava pr�ximo ou sa�a do trabalho parava com os jovens para fazer suas reivindica��es. Apenas m�dicos que dariam plant�o no Hospital Risoleta Neves e pessoas que transportavam doentes eram liberados pelos jovens, que abriam caminho. Com tr�s passeatas na sua hist�ria, o empres�rio Elo�sio Gomes, de 65, disse que estava ali pelos filhos e netos. “Estive nas Diretas e no impeachment. Precisamos de um fim � corrup��o por um Brasil melhor.”

BARREIRO Cerca de 5 mil pessoas cobraram a conclus�o das obras do hospital regional do Barreiro, que come�aram em 2010 e ficaram apenas num esqueleto de concreto, e uma linha de metr� at� a regi�o. Os manifestantes se concentraram em frente � PUC Barreiro e seguiram pelas avenidas Sinfr�nio Brochado e Olinto Meireles at� chegar � Via do Min�rio, onde est� a obra do hospital.

Foram erguidas centenas de cartazes pedindo atendimento hospitalar no “padr�o Fifa” e muita gente deu gritos debochados, como: “Caiu no (sic) UPA t� morto”. Em, seguida os manifestantes deixaram o hospital e seguiram para a Esta��o Barreiro, pedindo uma linha de metr�.

Nesse momento, alguns manifestantes tentaram invadir a esta��o, mas foram impedidos por policiais, o que provocou correria. Al�m disso, v�rias bombas explodiram durante a marcha de protesto. Segundo o tenente-coronel Andr� Le�o, a opera��o contou com 200 policiais. Dois homens por estourar bomba e outro por jogar pedras em �nibus.

Jovens pedem passe livre


Contagem entrou na rota das manifesta��es e reuniu cerca de mil jovens em protesto por melhorias no transporte p�blico, sa�de e educa��o. Jovens de 15 a 25 anos marcharam da Pra�a da Gl�ria, no Eldorado, at� a trincheira da Cidade Industrial, onde fecharam a Avenida Cardeal Eug�nio Pacelli nos dois sentidos, por mais de uma hora, causando grande congestionamento.

Segundo a Guarda Municipal de Contagem e a Pol�cia Militar, a reten��o chegou a 12 quil�metros no sentido BH, ficando pr�xima � Petrobras, em Betim. No sentido S�o Paulo, o congestionamento foi menor, cerca de tr�s quil�metros. Mesmo depois do an�ncio de redu��o de R$ 0,20 na passagem de �nibus, de R$ 2,95 para R$ 2,75, os manifestantes optaram por voltar �s ruas com cartazes e faixas para pedir, principalmente, passe livre para os estudantes. A pauta apresentada pelo movimento Para Contagem prop�e ainda extens�o do metr� at� Betim, �nibus com mais hor�rios, auditoria nas licita��es de transporte, fim da dupla fun��o dos motoristas, que tamb�m cobram as passagens, entre outros pontos.

Para o gar�om e estudante Paulo Portinai, o movimento mostra que “o povo brasileiro acordou”. “Precis�vamos da for�a do movimento nacional para tamb�m ir �s ruas. Estou muito feliz com os resultados que n�o s� o Brasil, mas Contagem tamb�m tem tido.” Para o estudante de direito e um dos l�deres do movimento Diego Leandro Dias, as manifesta��es continuam at� que a pauta chegue � administra��o municipal. Nova manifesta��o est� marcada para as 10h de hoje, na Pra�a Iria Diniz, no Eldorado, onde s�o esperadas 10 mil pessoas.


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