Tiago de Holanda

Depois das depreda��es ocorridas durante o protesto do dia 17 em Belo Horizonte, quando houve o primeiro confronto entre manifestantes e policiais na Avenida Ant�nio Carlos, na Pampulha, comerciantes prejudicados decidiram proteger com tapumes de madeira as fachadas de seus estabelecimentos. No conflito seguinte, no dia 22, v�ndalos conseguiram romper os bloqueios em muitos locais, voltaram a quebrar vidra�as e fazer saques. Em alguns casos, os tapumes foram trocados por telhas met�licas, em uma tentativa desesperada dos lojistas de proteger o patrim�nio. Agora, depois da batalha de quarta-feira, h� quem j� pense em instalar portas de a�o. Mas os preju�zos foram tantos que, diante do temor de novas passeatas, inclusive na Copa de 2014, empres�rios j� cogitam at� mudar de endere�o.
As perdas de nove concession�rias depredadas nas tr�s manifesta��es totalizam R$ 16 milh�es, de acordo com balan�o do Sindicato dos Concession�rios e Distribuidores de Ve�culos de Minas Gerais (Sincodiv-MG). Para piorar, em algumas delas os seguros contratados n�o cobrem casos de vandalismo.
Na onda de viol�ncia que varreu a Ant�nio Carlos no �ltimo combate, o estabelecimento mais atacado foi a Automark Kia, no n�mero 7.367, quase na esquina com a Avenida Abrah�o Caram, onde o embate come�ou. Criminosos arrancaram os tapumes que protegiam o im�vel e os usaram para fazer uma fogueira. Tamb�m arrombaram portas, arrastaram um carro e um caminh�o e incendiaram o ve�culo de carga. A loja foi depredada por mais de duas horas, sem que a a��o criminosa fosse coibida. O preju�zo foi calculado em R$ 4 milh�es.
Diretor da Concession�ria Nihon, da Nissan, Eduardo Barreto tamb�m cogita transferir a loja. “Ainda n�o temos perspectiva de fechar, mas isso passa pela cabe�a”, afirma. No primeiro conflito entre manifestantes e pol�cia, vidra�as da fachada foram quebradas a pedrada. “Est�vamos aqui dentro, com 60 funcion�rios e alguns clientes. Ficamos ilhados. O medo foi grande”, lembra. Os empregados fizeram um cord�o humano e impediram que o local fosse invadido. Os tapumes de madeira erguidos para evitar nova quebradeira foram removidos na segunda-feira por v�ndalos, que estilha�aram os vidros restantes, destru�ram m�veis e equipamentos. O preju�zo foi estimado em R$ 1 milh�o.
A Nihon voltou a ser acossada no s�bado, mas os arruaceiros n�o conseguiram vencer as telhas met�licas que substitu�ram os tapumes. “Tivemos que procurar solu��es de seguran�a melhores. Se precisar p�r uma estrutura mais forte, vamos fazer isso”, diz Barreto. Os comerciantes temem que no pr�ximo ano, durante a Copa, haja ataques ainda mais violentos. “N�o sabemos o que vai acontecer. A incerteza � muito grande”, constata. Ele tamb�m se queixa da PM. “Vimos que, durante os jogos, o objetivo maior da pol�cia foi proteger o per�metro da Fifa (no entorno do Mineir�o). Se n�o houver uma defini��o do governo sobre como lidar com essa situa��o, se continuar como tem sido, n�o sei o que faremos”, ressalta.
O drama dos sem-seguro
Para lojistas da Avenida Ant�nio Carlos que n�o t�m seguro, foi ainda mais doloroso abrir as portas na quinta-feira, depois da onda de vandalismo que arrasou o com�rcio na via que liga o Centro � Pampulha. Foi o caso da Esmig, loja especializada na venda de escadas, tamb�m invadida na quarta-feira, quando a porta de correr met�lica foi derrubada. Criminosos roubaram produtos, cinco monitores de computador, duas CPUs e uma quantia em dinheiro. V�ndalos tamb�m danificaram um carro que estava estacionado no local, pertencente ao gerente, H�lio Campos. “Quebraram as vidra�as, amassaram a lataria, acabaram com ele, que era novinho”, descreve. O preju�zo ainda n�o foi calculado.
Na sexta-feira, oper�rios montavam um painel de madeirite corredi�o na entrada do estabelecimento. A ideia � instalar uma porta de a�o met�lica. “Estamos pensando em fazer seguro. Se continuar havendo protesto depois da Copa das Confedera��es, vamos avaliar se compensa ficar aqui”, acrescenta.
A Concession�ria Forlan, da Ford, tamb�m teve grande parte das vidra�as da fachada arrasada. Saqueadores roubaram computadores, impressoras, aparelhos de som, televisores e depredaram 10 carros. O preju�zo deve ultrapassar R$ 500 mil, pelas contas do gerente de vendas, Igor Figueiredo. “Al�m disso, ficamos quatro ou cinco dias fechados. Por dia, perdemos de R$ 50 mil a R$ 100 mil em faturamento”, diz Figueiredo. “Nosso seguro n�o cobre vandalismo”, acrescenta.
Para ele “a situa��o j� chegou ao limite”, mas o neg�cio n�o deve se mudar. “Acreditamos que vai haver uma solu��o, que o Estado vai dar um jeito e a pol�cia vai agir como deve”, diz. E na Copa de 2014? “N�o pensamos a t�o longo prazo assim. Acho que muita coisa vai acontecer no pa�s at� l�.”
Desde quinta-feira o policiamento foi refor�ado nas �reas onde houve depreda��es durante as manifesta��es, segundo a coronel Cl�udia Romualdo, chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC). As lojas prejudicadas foram visitadas por policiais. “Minha recomenda��o foi para que fosse levada a eles uma c�pia do boletim de ocorr�ncia que fizemos e para que fosse verificado se j� levantaram as perdas sofridas. Pedimos que entrassem em contato conosco assim que houvesse esse levantamento, para complementar o documento”, explica. “Isso foi feito tamb�m no Centro e na Savassi, onde tamb�m houve patrim�nio danificado.”